O que comer (e o que não comer) durante a recuperação da dengue?
A dengue é uma doença infecciosa comum em países de clima tropical. Isso porque o vírus causador da enfermidade, classificado no meio científico como um arbovírus, é transmitido pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti. A recuperação do corpo exige alguns cuidados, sobretudo no que diz respeito à alimentação. Veja, portanto, o que é bom (e o que não é) para dengue:
De acordo com o Ministério da Saúde (MS), o período do ano com maior transmissão da doença ocorre nos meses mais chuvosos de cada região, geralmente de novembro a maio. O acúmulo de água parada contribui para a proliferação do mosquito, portanto, é importante adotar medidas que evitem a questão.
Os principais sintomas são febre alta, dor no corpo e nas articulações, incômodo atrás dos olhos, mal estar, falta de apetite, dor de cabeça e manchas vermelhas no corpo. Contudo, enquanto alguns podem apresentar quadros mais graves da doença, em outras, ela pode ser assintomática.
Em casos de dor abdominal intensa e contínua, náuseas, vômitos persistentes e sangramento de mucosas, é preciso ir ao hospital o quanto antes. Isso porque os sinais indicam o extravasamento de plasma e/ou hemorragias, que podem levar o paciente a choque grave e óbito.
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Como funciona o tratamento
Em casos leves e moderados, a recuperação da dengue envolve alguns hábitos que ajudam o próprio sistema de defesa do corpo a combater o vírus. Por exemplo:
- Repouso;
- Ingestão de líquidos;
- Uso de medicamentos para controlar os sintomas;
- Alimentação adequada.
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Com relação à alimentação: O que é bom para dengue?
Um organismo bem nutrido sempre vai reagir melhor a doenças. Infelizmente, a dengue pode gerar enjoos, o que compromete o apetite do paciente. Mesmo assim, é essencial não ficar muito tempo sem comer — vale, então, ingerir porções menores a cada duas ou três horas.
De acordo com a Associação Brasileira de Nutrição (Asbran), a dieta deve ser leve e de fácil absorção e digestão. “É importante consumir hortaliças em geral e alimentos ricos em ferro, frutas e sucos ricos em vitamina C. O ferro é fundamental porque pacientes com dengue apresentam queda substancial no número de plaquetas”, afirma o site da organização.
Além disso, as proteínas de alta qualidade devem ser priorizadas — ovo, peito de frango (sem pele), leguminosas e cogumelos são alguns exemplos.
Por fim, outra questão extremamente importante: beber muitos líquidos. A Asbran recomenda dobrar o indicado para adultos saudáveis, isto é, beber de 60 a 80 ml de líquido por quilo de peso por dia. O consumo deve ser fracionado para evitar náuseas, e é possível ir além da água: sucos, água de coco, soluções isotônicas, além do soro de hidratação oral. Casos mais graves de desidratação necessitam de hidratação intravenosa — portanto, se os vômitos estiverem muito frequentes, vá ao hospital.
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O que o paciente não pode comer com dengue?
Alimentos que contêm salicilatos e os de ação antitrombótica devem ser evitados em caso de suspeita da doença. Confira: abricó, ameixa fresca, amêndoa, amora, batata, cereja, groselha, limão, maçã, melão, morango, nectarina, nozes, passas, pepino, pêssego, pimenta, tangerina, tomate, uva, alho, cebola e gengibre.
Isso porque esses ingredientes diminuem a biodisponibilidade de vitamina C e aumentam a excreção de nutrientes importantes ao organismo.
Referências:
- Alimentos que pacientes com suspeita de dengue devem evitar;
- Dengue, Ministério da Saúde.
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1. Líquidos
As pessoas acometidas de dengue requerem maior reposição hídrica. A dengue muitas vezes leva à desidratação e desde os primeiros sintomas é recomendado maior consumo de água. Esta simples medida pode impedir o agravamento do quadro.
Popularizar a informação sobre o consumo da água no tratamento de dengue salva vidas. Algumas particularidades dificultam a transmissão deste conhecimento. A desidratação no dengue ocorre por mecanismo complexo com perda de líquidos para o terceiro espaço. Os vômitos e diarréias nem sempre estão presentes.
Essa “desidratação” não é reconhecida pela população. E se diferencia da decorrente de perda líquida pelo trato digestivo que é atualmente de conhecimento popular, motivo de divulgação do Ministério da Saúde e veiculado pela mídia.
A prescrição de líquidos como tratamento de dengue
As orientações a seguir são transcritas de documento recente (2011) do Ministério da Saúde: Dengue: diagnóstico e manejo clínico – adulto e criança e ratificadas no quadro intitulado DENGUE – Classificação de risco e manejo do paciente.
O Ministério da Saúde indica hidratação oral para os grupos A e B da classificação de risco. Em casos suspeitos de dengue iniciar de imediato.
Para crianças: orientar hidratação no domicílio, de forma precoce e abundante, com soro de reidratação oral (um terço das necessidades basais), oferecido com frequência sistemática, independentemente da vontade da criança; completar a hidratação oral com líquidos caseiros tais como água, sucos de frutas naturais, chás e água de coco; evitar uso de refrigerantes; para crianças <2 anos, oferecer 50-100 ml (¼ a ½ copo) de cada vez; para crianças >2 anos, 100-200 ml (½ a 1 copo) de cada vez; - (página 26)
As necessidades basais estão registradas na página 33, e orientam a prescrição da quantidade de líquidos a ser administrada:
- Até 10 kg: 100 ml/kg/dia;
- 10 a 20 kg: 1.000 ml+50 ml/kg/dia para cada kg acima de 10 kg;
- Acima de 20 kg: 1.500 ml+20 ml/kg/dia para cada kg acima de 20 kg
BRASIL, 2011
Adultos
Calcular o volume de líquidos de 80 ml/kg/dia, sendo 1/3 com solução salina e no início com volume maior. Para os 2/3 restantes, orientar a ingestão de líquidos caseiros (água, suco de frutas, soro caseiro, chás, água de coco etc.), utilizando-se os meios mais adequados à idade e aos hábitos do paciente. Especificar o volume a ser ingerido por dia. Por exemplo, para um adulto de 70 kg, orientar:
• 80 ml/kg/dia 6,0L:
» período da manhã: 1L de SRO e 2L de líquidos caseiros.
» período da tarde: 0,5L de SRO e 1,5L de líquidos caseiros.
» período da noite: 0,5L de SRO e 0,5L de líquidos caseiros.
BRASIL, 2011
Modificação da conduta de hidratação
Esses esquemas de hidratação são recomendados para todos os casos de dengue classificados como Grupo A e Grupo B com hematócrito normal.
A conduta se modifica se o hematócrito aumentar 10% ou apresentar os seguintes resultados: crianças >38%, mulheres >44% e homens >50%.
DENGUE – Classificação de risco e manejo do paciente
Observações relevantes acerca de alimentação e dengue:
A alimentação não deve ser interrompida durante a hidratação, mas administrada de acordo com a aceitação do paciente.
Não existe contraindicação formal para o aleitamento materno.
BRASIL, 2011
Facilitando a ingestão de líquidos
Para tratamento de dengue há necessidade de prescrição de grande quantidade de líquidos, o que pode levar a dificuldades na sua ingestão.
Vejam algumas recomendações do Instituto de Nutrição Annes Dias para facilitar a aceitação:
- Oferecer líquidos a cada meia hora.
- Para dar sabor à água colocar fatias de laranja, tangerina ou limão com casca, e previamente limpos, assim como sementes de erva doce ou galhinhos ou folhas de hortelã. Lavar as frutas e a hortelã em água corrente e colocar de molho por 30 minutos na seguinte solução: 1 colher de sopa de água sanitária para um litro de água.
- Utilizar água de coco, refrescos ou sucos de frutas frescas.
- Manter uma garrafa individual para cada pessoa da casa. Verificar e anotar o volume ingerido.
- Em caso de enjôos preferir alimentos frios e de odor suave. Uma dica é consumir pedrinhas de gelo preparadas com água de coco ou suco de frutas.
As crianças, os idosos e as gestantes merecem atenção especial. |
2. Alimentação
Sugestões para melhorar a ingestão
Mal estar e enjôos provocados por dengue alteram o apetite. É por isso que são recomendados alimentos naturais, coloridos, leves, saborosos e de fácil digestibilidade.Além disso, para atender às necessidades hídricas, contamos com a água contida nos alimentos.
Frutas, legumes e verduras, por exemplo, apresentam até 95% do seu peso em água, A indicação desses alimentos favorece a hidratação corporal e colabora para a alimentação saudável.
Para melhorar a sensação de náusea as refeições devem ser em pequenas quantidades, na consistência de melhor aceitação, cinco vezes ao dia ou se possível a cada 2 ou 3 horas.
Na busca de melhor aceitabilidade: união de sabor, calorias e líquidos.
Sugestões de alimentos que ajudam a melhorar o apetite
Sucos de frutas como de laranja, limão e maracujá, salada de frutas, leite ou iogurte natural batido com frutas, picolés caseiros de frutas, sopas, carnes ensopadas com legumes, doces caseiros de frutas ou de legumes.
Detalhando as recomendações
- Frutas da safra – in natura, cozidas ou assadas. Podem ser em pedaços, em saladas ou em espetinhos.
- Picolé ou sacolé de frutas ou suco de frutas - Abacaxi, morango, coco, limão, manga, goiaba, uva, maracujá, caju, entre outras.
Faça um suco concentrado da fruta de preferência. Adicione água filtrada e açúcar a gosto. Coloque em forminhas de gelo ou saquinho próprio para sacolé e leve ao congelador.
- Leite ou iogurte natural batido com frutas – maracujá, laranja, maçã, goiaba, banana, mamão, melão, abacate entre outros.
Iogurte caseiro: Ferver um litro de leite. Deixar amornar e acrescentar um copo de iogurte natural, que pode ser industrializado ou do próprio iogurte caseiro. Esperar 8 horas com a panela tampada para que o leite fique talhado. Consumir no máximo em três dias, estando conservado em geladeira.
Bata o leite ou iogurte com uma ou mais frutas, acrescente açúcar.
Pode-se ainda colocar aveia, mucilagem de milho ou arroz, cereais de trigo, entre outros.
- Sucos de frutas. O suco pode ser uma combinação de várias frutas acrescentando hortaliças. Bata os ingredientes com água filtrada e gelo. Exemplos de sucos saborosos: água de coco com maçã; banana com laranja; maçã, laranja e couve; abacaxi com hortelã; abacaxi,maçã e hortelã; manga.
Almoço e jantar
Misturar alimentos torna a refeição mais atraente, e é o que acontece com as saladas. Sugestões: salada de beterraba, laranja e agrião; maçã com salsão e batata; alface, tomate e manga.
- Refeições simples que trazem um pouco da infância: Caldo de feijão, arroz agulhinha, gema cozida e banana; chuchu, ovos e coentro.
- Sopas. Prepare sopas com legumes variados, carne ou frango. De preferência o caldo deve ser mais grosso.
·Canja de galinha
Na cultura popular brasileira essa preparação tem sentido terapêutico e vem sendo usada através dos séculos para “recuperar força” em “resguardos” e doenças. Não é à toa que há um dito popular: cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém.
Para preparar uma canja bonita e saborosa varie o corte da cenoura, utilize de preferência o arroz agulhinha, corte a batata em pedaços menores para engrossar o caldo e acrescente um pedaço de frango sem pele . Tempere com alho, pouco sal, cebola e óleo. Folhinhas de hortelã dão sabor especial à canja.
·Sopa de legumes
É também de gosto popular. E é de muitos sabores na mistura de ingredientes, que são escolhidos por preferências e disponibilidade dos gêneros.
Pode ser de um ou mais legumes como sopas de abóbora, de cenoura, de batata com agrião ou couve. Ou ainda de legumes variados, estimulando a criatividade.
Escolha um ou mais legumes, de preferência um de cada cor e algum folhoso; um pedaço de carne magra, de boi ou frango; pouco óleo e sal; temperos naturais como cebola, alho, tomate e cheiro verde.
Colocar os legumes para cozinhar com a carne e os temperos e adicionar o óleo e o sal em pouca quantidade.
Sugestões de legumes por grupos:
Cenoura, abóbora, beterraba
Chuchu, abobrinha, couve flor
Batata, inhame, batata doce, batata baroa, aipim ou mandioca.
Espinafre, couve, agrião, brócolis, acelga, chicória, repolho
Bibliografia:
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Diretoria Técnica de Gestão. Dengue: diagnóstico e manejo clínico – Adulto e Criança – Série A. Normas e Manuais Técnicos 80p. 4a edição, Brasília, 2011. ISBN NLM WC 528
BRASIL.Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Dengue: diagnóstico e manejo clínico: criança.Série A. Normas e Manuais Técnicos 52 p. Brasília, 2011.
ISBN 978-85-334-1770-0
PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro, Instituto de Nutrição Annes Dias. Água-alimento essencial à vida, 16p. Rio de Janeiro, 2009.