O que é resistência bacteriana qual a relação com a automedicação?

Na semana mundial de conscientização sobre o uso de antibióticos, que acontece de 18 a 24 de novembro, o Conselho Regional de Farmácia do Piauí (CRF-PI) alerta sobre o consumo irracional destes medicamentos, que administrados de forma incorreta ou excessiva, podem trazer sérios riscos à saúde da população como intoxicação, resistência bacteriana, alergias e outros.

Os riscos que os antibióticos pode oferecer é um assunto que há muito tempo se discute, mas os casos de intoxicação e o desenvolvimento de superbactérias em pacientes continuam altos. Até 2050, segundo informe da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado em 2019, a resistência microbiana (doenças resistentes a antibióticos) poderá estar associada a 10 milhões de mortes anuais, sendo que atualmente, acredita-se que pelo menos 700 mil pessoas morrem por ano devido à essa resistência microbiana.

O presidente do CRF-PI, Luiz Júnior, destaca que o maior risco do uso inadequado desses fármacos é o fato das bactérias desenvolverem resistência, criando as chamadas superbactérias. “São aquelas que, por alguma mutação, conseguem sobreviver ao princípio ativo dos bactericidas, repassando essa capacidade a seus descendentes e sendo assim, os antibióticos perdem a sua eficácia, resultando em um número muito grande de bactérias que não são combatidas pelos medicamentos existentes, levando inúmeras pessoas à morte”, explica Júnior.

Luiz Júnior, presidente do CRF-PI.

“Precisamos alertar à população que o uso de qualquer antibiótico precisa ter prescrição de um médico e orientação de um farmacêutico, pois muitas infecções que também podem ser causadas por vírus, como a maioria das doenças respiratórias, são tratadas por medicamentos inadequados, principalmente por serem automedicados pelos próprios pacientes”, revela o farmacêutico.

O presidente do Conselho de Farmácia afirma também, que é importante orientar sobre a necessidade de seguir o tratamento corretamente. “O uso do medicamento não deve ser descontinuado quando os sintomas desaparecerem. É preciso respeitar os horários das tomadas, entre outras recomendações específicas, de acordo com cada tipo de antibiótico e prescrição médica”, alerta Júnior.

Mais doenças graves, tratamentos prolongados, hospitalizações mais frequentes e por maior período, mais visitas ao médico e respectivamente, tratamentos mais caros, são algumas ocorrências que podem acontecer pelo uso excessivo ou sem necessidade de antibióticos, descreve o farmacêutico.

“O CRF promove campanhas fixas anuais sobre os riscos do uso irracional de medicamentos, além de recomendar aos profissionais que fiquem atentos aos pacientes que obtém antibióticos, sejam comprados nas farmácias ou em postos de saúde e hospitais, evitando males ainda piores”, completa Luiz Júnior.

Porém, se o medicamento não for tomado corretamente, a bactéria pode se tornar resistente a ele. Ou seja, usar antibiótico por conta própria, tomar durante um tempo e/ou em dosagem diferente da prescrita pelo médico pode fazer com que ele não tenha mais efeito nas bactérias que deveria eliminar.
A projeção é que, a partir de 2050, mais de 10 milhões de pessoas morrerão por ano por causa de superbactérias, nome dado para as que possuem resistência aos antibióticos. O número de mortes será maior do que as causadas por câncer anualmente.

O Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, instituído no dia 5 de maio, tem o objetivo de promover a conscientização e boas práticas do uso de medicamentos, além de alertar a população quantos aos riscos à saúde causados pela automedicação e ingestão inadequada de fármacos, principalmente os antibióticos. Pesquisadoras da Fiocruz advertem que a administração inadequada e o uso abusivo desse tipo de medicação têm causado, com maior frequência, um fenômeno preocupante: a resistência microbiana.

A Organização Mundial da Saúde entende como uso racional de medicamentos a prescrição de medicação apropriada para as condições clínicas de cada paciente, em doses adequadas às suas necessidades, por um período adequado e ao menor custo para si e para a comunidade. A medicalização inadequada, por sua vez, pode causar diversos eventos adversos à saúde, assim como intoxicação e dependência. 

A situação é ainda pior quando se trata de antibióticos. Também segundo a OMS, a resistência bacteriana poderá ser uma das principais causas de óbitos de pessoas no mundo até 2050. O fenômeno pode ser definido como a capacidade das bactérias se tornarem mais resistentes aos efeitos das medicações, explicou Isabel Tavares, coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz). 

“A partir do uso excessivo e indiscriminado dos antibióticos, infecções bacterianas simples, podem, com o tempo, se tornar cada vez mais difíceis de serem combatidas, levando, eventualmente, a uma piora do quadro clínico e até ao óbito. O que temos visto é um aumento do número de bactérias multirresistentes e poucas opções para tratamento no mercado”, explicou Tavares.

A avaliação é reforçada por Ana Paula Assef, chefe do laboratório de pesquisa em infecção hospitalar do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). “É preciso cada vez mais conscientizar a população e a sociedade médica sobre a otimização do uso de antibióticos, devido a esse aumento da capacidade de resistência das bactérias, e a falta de novas opções terapêuticas pela indústria farmacêutica. Essas medicações devem ser bem selecionadas para cada tipo de paciente, e utilizadas no momento e na dose adequada, de forma a minimizar seus impactos”, ponderou ela. 

Dados da OMS apontam que mais de 50% de todos os medicamentos no mundo são prescritos, dispensados ou vendidos de forma inadequada, e que metade de todos os pacientes não os utiliza corretamente. Além disso, o Brasil ocupa a 17ª posição entre 65 países pesquisados em relação ao número de doses de antibióticos consumidas. 

O primeiro passo para promover o uso racional de medicações é utilizá-las apenas com orientação médica. “O paciente com alguma queixa de saúde precisa, primeiro e de forma essencial, procurar assistência médica. Apenas um profissional está habilitado para avaliar o caso e prescrever, se preciso, o antibiótico. Muitos pacientes que optam pela automedicação, fazem uso, por exemplo, de antibióticos para infecções virais, o que não só não resolve o problema, como pode gerar outros”, afirmou Tavares, especialista do INI.

Outra questão é o uso da medicação pelo tempo correto, e nos horários determinados pelo médico. A interrupção de tratamento com antibiótico acontece com frequência em pacientes com doenças como tuberculose e endocardite, por exemplo, que precisam fazer uso da medicação por longos períodos, como seis meses de duração. 

“Há pacientes que se sentem bem após certo período de uso da medicação, e param de tomá-la. A infecção, contudo, precisa de tempo para ser totalmente eliminada do organismo, mesmo que não provoque mais sintomas. A partir da paralisação do tratamento, a doença pode retornar e aquele medicamento não fazer mais efeito”, detalhou Assef, do IOC. “Já em relação aos horários, existe a duração que o antibiótico faz efeito no organismo, por isso é preciso tomar conforme prescrito para que continue matando as bactérias. Se há atraso, a concentração da medicação cai e a bactéria volta a se multiplicar”, completou.

A coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do INI, Isabel Tavares destacou, ainda, a importância da higiene para evitar a resistência microbiana em ambientes hospitalares. O dia 5 de maio também é marcado pelo Dia Mundial de Higienização das Mãos. “Em ambiente hospitalar, o que facilita a disseminação de bactérias multirresistentes é a transmissão cruzada, onde entra o conceito importante de higiene das mãos. Essa higiene, de forma adequada e nos momentos certos evita essa transmissão. As duas coisas estão intrinsecamente ligadas”, pontuou ela.

Confira outros materiais da Fiocruz sobre resistência microbiana, como a , a websérie Confissões de uma Bactéria e os podcasts do projeto Fiocruz no ar.

Como a automedicação pode influenciar na eficiência de uma infecção bacteriana?

Alguns medicamentos abalam a parede e a membrana celular da bactéria, estruturas que funcionam como muros protetores e que regulam a entrada de água e outras moléculas. Logo, se surgem buracos nelas, o micróbio fica bastante vulnerável. Os fármacos podem agir diretamente no material genético do bicho.

O que é a resistência bacteriana?

De forma resumida, podemos entender a resistência microbiana como um fenômeno caracterizado pela capacidade de microrganismos (bactérias, fungos, parasitas etc.) resistirem à ação de antimicrobianos.

Quais são os fatores que levam à resistência bacteriana?

Para um determinado período, as taxas de resistência bacteriana seriam resultado da relação dos seguintes fatores:.
uso de antimicrobianos no hospital;.
taxa de transmissão cruzada de microrganismos resistentes na instituição;.
introdução de patógenos resistentes provenientes da comunidade..

Como a automedicação pode estar relacionada ao surgimento de superbactérias?

A automedicação tem se tornado uma forte aliada na proliferação das chamadas superbactérias. Isso porque, com o passar do tempo, muitas bactérias foram ganhando resistência aos antibióticos.