O que foram os quilombos e como surgiu o Dia da Consciência Negra?

No dia 20 de novembro lembramos um período longo e triste da história do Brasil. O Dia da Consciência Negra nos leva a pensar na escravidão e todo o sofrimento que ela causou à população negra.

Infelizmente, sabemos que esse passado não está tão distante e que suas consequências da escravidão são sentidas até hoje. Às injustiças históricas, soma-se o preconceito, a marginalização e a pobreza que continuam prejudicando a população negra do nosso país. Por tudo isso, achamos importante dedicarmos um espaço aqui na nossa programação de posts para conversarmos sobre essa data tão significativa.

O Dia da Consciência Negra foi criado em 1970 por um grupo de quilombolas no Rio Grande do Sul e marca a ocasião da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. Em uma entrevista para o portal Terra, a historiadora da Fundação Cultural Palmares, Martha Rosa Queiroz, fala sobre a dimensão da data. “É o dia de lembrar o triste assassinato de Zumbi, que é considerado herói nacional por lei, e de combate ao racismo”, afirma. A lei a que ela se refere é a 12.519, de 2011, que instituiu o dia em território nacional. A adoção dos feriados, entretanto, é de responsabilidade dos municípios, por isso em alguns lugares o dia é de folga e em outros, não.

A importância de Zumbi dos Palmares e seu Quilombo

Em um vídeo sobre Zumbi, o jornalista e escritor Eduardo Bueno explica que a palavra “quilombo” quer dizer “esconderijo na mata”, na língua Bantu. Era o lugar para onde as pessoas escravizadas fugiam quando conseguiam escapar de seus cativeiros. O mais significativo e emblemático desses lugares de refúgio foi o Quilombo dos Palmares. Bueno explica que esse espaço ficava na Serra da Barriga, em Alagoas, a 90 quilômetros de onde hoje é a capital do estado, Maceió, e que na verdade não era apenas um quilombo, mas sim 12, com 200 mil habitantes e espalhados por 200 quilômetros quadrados. Dentre eles, o mais importante era chamado Quilombo do Macaco e estima-se que sua fundação tenha acontecido em 1600.

Não há muitas informações documentadas sobre as atividades nos Quilombos, é claro. A história de Zumbi dos Palmares, que assumiu a liderança do local a partir de 1670, não é certa. Ele ficou conhecido (e de fato registrado historicamente) por ter estado à frente da última batalha enfrentada pelos quilombolas. A existência dos Quilombos era uma “afronta” às autoridades e às leis da época, já que viver em liberdade e em sociedade eram direitos básicos negados à população negra. Os esconderijos eram, então, constantemente atacados, tendo resistido por décadas.

O ataque derradeiro aconteceu em 6 de fevereiro de 1694, por uma tropa de 6 mil soldados. O quilombo foi derrotado mas Zumbi conseguiu escapar. A partir daí seu nome foi ficando famoso. Eduardo Bueno explica que Zumbi tornou-se uma representação da resistência dos povos negros e que, por isso, sua captura e morte, em 20 de novembro de 1695, teria tanto valor para os senhores de escravo. Com toda essa história, “é natural que Zumbi se torne um símbolo de liberdade e de revolta”, diz Bueno no vídeo.

Porque o Dia da Consciência Negra é uma data significativa

Como disse Martha Rosa Queiroz, o Dia da Consciência Negra é uma data para falarmos do passado e do presente. As lutas dos quilombos aconteciam no contexto da escravidão. Famosamente, o Brasil foi umas das últimas nações do mundo a abolir o trabalho escravo e o tráfico de seres humanos. A lei só veio em 1888 e, a prática se arrastou, ilegalmente, por mais alguns anos. 

A maioria das pessoas escravizadas trazidas à força para o Brasil eram nascidas em países como Moçambique, Congo e Angola. Um grupo menor veio da Nigéria, Guiné e da “Costa do Ouro”, hoje, Gana. A agência Pública, com números do Banco de Dados do Comércio Transatlântico de Escravos, informa que mais de 4,8 milhões de negros escravizados desembarcaram no Brasil entre 1501 e 1900. Um censo realizado em 1872 registrou mais de 1,5 milhões de pessoas escravizadas, um número que corresponde a 15% da população brasileira da época.

Depois de 300 anos de escravidão e sem qualquer auxílio após o fim da prática, as consequências dessa tragédia humana são extremamente fortes na realidade atual do Brasil.

A realidade atual dos negros no Brasil

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) classifica a população do nosso país em: pretos, pardos, brancos, amarelos e indígenas. Os dois primeiros grupos formam a maioria da nossa população, 55,8% dos brasileiros são negros ou pardos. Recentemente, o IBGE divulgou que esse grupo representava a maioria dos estudantes de ensino superior no Brasil. O órgão, entretanto, também afirma que a desigualdade em comparação com a população branca ainda é um problema.

“No mercado de trabalho, os pretos ou pardos representavam 64,2% da população desocupada e 66,1% da população subutilizada. O rendimento médio mensal das pessoas brancas ocupadas (R$2.796) foi 73,9% superior ao da população preta ou parda (R$1.608). Em relação à distribuição de renda, os pretos ou pardos representavam 75,2% do grupo formado pelos 10% da população com os menores rendimentos e apenas 27,7% dos 10% da população com os maiores rendimentos”.

Dados do IBGE também mostram que, no ano de 2018, apenas 24,4% dos deputados federais eleitos se declararam negros ou pardos. Além disso, a população negra é também mais afetada pela violência. De 2012 a 2017, as taxas de homicídio entre pessoas pretas ou pardas, subiram de 37,2 para 43,4 mortes para cada 100 mil habitantes. Para a população branca, o índice ficou estável entre 15,3 e 16, informa o IBGE.

Como combater o racismo no Brasil?

Acabar com o racismo no Brasil é urgente. A solução passa por políticas públicas e questões culturais. A escritora e ativista norte-americana Angela Davis diz que não é suficiente apenas não ser racista, precisamos ser antirracistas. Em uma matéria do Jornal Nexo sobre como ser anti racismo, o jornalista e ativista Oswald Faustino cita ações como

“declarações diretas, campanhas educativas, exigência do cumprimento das leis, manifestações e, se necessário, ações judiciais”. Faustino continua: “Negros (…) ou qualquer outro grupo social atingido diariamente por ações de racismo, muitas delas fatais, necessitam de um comportamento pró-ativo e não de mera solidariedade contemplativa, um carinhoso afago na cabeça”.

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Foto utilizada no artigo: Unsplash


O que o que foram os quilombos?

Os quilombos eram comunidades formadas por africanos escravizados e seus descendentes. Essas comunidades eram formadas por escravos que fugiam da escravidão, sendo um local onde viviam em liberdade e resistiam à escravidão. Nos quilombos não viviam apenas africanos escravizados, mas também índios e brancos livres.

O que foi e como surgiu os quilombos?

A origem em comum dos remanescentes de quilombos é a ancestralidade africana de negros escravizados que fugiram da crueldade da escravidão e refugiaram-se nas matas. Com o passar do tempo, vários desses fugitivos aglomeravam-se em determinados locais, formando tribos.

Quando e como surgiu o Dia da Consciência Negra?

Por que o dia 20 de novembro? No dia 20 de novembro, é celebrado no Brasil o Dia Nacional da Consciência Negra. Essa data foi instituída oficialmente pela Lei n.º 12.519, de 10 de novembro de 2011, e remete ao dia em que foi morto o líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi, no ano de 1695.

Como surgiu o Dia da Consciência Negra com resposta?

O Dia da Consciência Negra ganhou visibilidade pela primeira vez em 1971, quando o grupo pioneiro realizou um ato evocativo à resistência negra na noite do dia 20 de novembro no clube Marcílio Dias, em Porto Alegre. O evento valorizava "o herói Zumbi dos Palmares".