Quais razões levaram a Inglaterra a combater o tráfico de escravos?

“[…] Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d’amplidão!
Hoje… o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar…
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar […]”

Caro leitor, o poema e a tela que hoje venho lhe convidar para apreciar, possuem o mesmo nome: Navio Negreiro. Ambos foram criados por artistas que lutavam pelo fim da escravidão no século XIX. O poeta se chamava Castro Alves e era brasileiro, o pintor, Turner, inglês. Através de tais obras de arte podemos nos conectar com o horror do tráfico  negreiro, uma vez que tanto as pinceladas, como os versos são rodeados de desespero e sofrimento.

A história do Brasil possuí uma grande chaga, uma vez que foi o território que mais recebeu escravizados e o último país ocidental a abolir a escravidão.  Os viventes, aqui escravizados, tiveram que travar grandes batalhas de resistência e o processo para a abolição caminhou em passos de tartaruga, tanto na política interna, como na diplomática.

PRESSÃO INGLESA
A primeira pressão para o fim do tráfico negreiro veio da Inglaterra em 1810. Você deve lembrar que a corte portuguesa estava aqui, na colônia, porque veio fugida das tropas de Napoleão Bonaparte. A Inglaterra, por sua vez, ofereceu à D. João VI, rei de Portugal, proteção e auxílio. Bem… você já sabe que na política nada vem de graça, não é mesmo? Em troca, Portugal assinou o Tratado de Aliança e Amizade que não só concedia aos produtos ingleses baixas tarifas, como se comprometia com uma futura abolição do tráfico. A partir daí houve uma grade pressão inglesa que tentava, a todo custo, coagir o Brasil a abolir o tráfico, embora esse fizesse de tudo para continuar com o lucrativo comércio. Para você ter uma ideia, o tráfico atlântico no Brasil só iria ter fim em 1850.

QUAL A ORIGEM DO ABOLICIONISMO INGLÊS?
Embora a Inglaterra no século XIX tenha combatido o tráfico negreiro, foi também uma das nações que mais praticou o comércio de escravizados, fornecendo mão de obra para suas colônias, cujo lucro se destinava à metrópole. A questão é: o que fez a Inglaterra  abolir o tráfico negreiro e travar uma verdadeira cruzada contra tal comércio mundo a fora?
Para respondermos essa questão precisamos pensar como historiadores: relacionar vários acontecimentos do período que possam ter influenciado essas decisões. Vamos começar?

MOTIVAÇÕES ECONÔMICAS
A Inglaterra foi pioneira na Revolução Industrial por isso, já no século XIX, a maioria do capital da industrialização não era mais dependente do tráfico negreiro e pedia novos mercados. O fim do tráfico e da escravidão, estimularia o investimento do capital em outras áreas e aqueceria  o mercado com novos consumidores.

MOTIVAÇÕES  HUMANITÁRIAS 
O abolicionismo humanitário na Inglaterra caracterizou-se como uma luta entre vício e virtude. O tráfico negreiro fora visto como pecaminoso e desumano.

As ideias iluministas, tais como liberdade e igualdade tiveram êxito na Inglaterra, fazendo com que esses conceitos abarcasse também negros e escravizados. Dessa maneira, a participação popular foi peça chave para a decisão da abolição do tráfico na Inglaterra.

Os grupos abolicionistas contavam com participação do operariado (sobretudo de Manchester) que graças a experiência de exploração, decorrente da Revolução Industrial, mostraram-se solidários para com os escravizados. Tais grupos, puderam contar, também, com a presença maciça de mulheres que já haviam começado a luta por participação na política (essas organizações serão a semente do movimento sufragista).

No entanto, foi o discurso religioso dos quakers que incitou as primeiras petições  para pressionar o Parlamento. Apesar de não haver uma condenação à escravidão explícita nas escrituras sagradas, os quakers (protestantes) decidiram que a escravidão era incompatível com a ideia de igualdade de todos perante Deus.

A propaganda contra o tráfico foi utilizada por esses grupos como forma de protesto. Os panfletos que denunciavam os horrores da travessia e da  escravidão tiveram  forte apelo no país, endossando as petições contra o tráfico junto ao Parlamento. Desse modo, a abolição do tráfico na Inglaterra e em suas colônias ocorreu em 1807 e o fim da escravidão fora decretado em 1833.

E NO BRASIL?

Apesar do movimento abolicionista do Brasil ter sofrido influência das ideias inglêsas, a luta pelo fim da escravidão terá novos agentes (escravizados, libertos, mestiços) e precisará enfrentar diferentes obstáculos. Mas isso já é tema para outra post, não é mesmo?

DICA DE CINEMA

Thaís Teixeira

   Referências Bibliográficas:
CARDOSO, Dougals Nassif. Resenha do livro- DRESCHER, Seymour. Abolição: uma história de escravidão e do antiescravismo. Tradução Antonio Penalve Rocha. São Paulo: Editora Unesp,2011;
MARQUES, João Pedro. Uma revisão crítica das teorias sobre a abolição  do tráfico de escravos português”IN:  Penélope , 14, 1994, pp. 95-118;
NARLOCH, Leandro. Abolição da escravidão: A luz que veio da Inglaterra IN: Guia do Estudante;
WILLIAMS, Eric. Capitalismo e Escravidão. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

O que os ingleses fizeram para impedir o tráfico negreiro?

Porque a Inglaterra queria libertar os escravos no Brasil?

Qual era o principal objetivo dos ingleses em acabar com a escravidão?

Qual foi a principal motivação da Inglaterra para o combate ao tráfico de escravos no Oceano Atlântico?