Atual líder nas intenção de votos na corrida à presidência da República, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem uma chance de 82% de vencer as eleições presidenciais no segundo turno, de acordo com um modelo que utiliza diferentes pesquisas eleitorais e o tempo que falta para o pleito para estimar o cenário mais provável para cada candidato.
O estudo foi apresentado nesta quinta-feira (25) pelas consultorias Ponteio Política e LCA Consultores. De acordo com os especialistas, apesar dos dados revelarem uma elevada probabilidade de vitória de Lula, a avaliação é que o atual presidente Jair Bolsonaro, em segundo lugar nas pesquisas, é um “outlier” (algo como ponto fora da curva), e que não está excluída a possibilidade de crescer nos próximos meses.
O primeiro turno acontece no próximo dia 2 de outubro, e o segundo no dia 30 do mesmo mês.
Bráulio Borges, economista-sênior da LCA Consultores, apresentou um modelo matemático que mostra como a situação conjuntural (como inflação, desempenho da atividade econômica e câmbio) e fatos de grande repercussão (como o mensalão ou greve dos caminhoneiros) afetam, tradicionalmente, a avaliação do governo federal em anos eleitorais.
O raciocínio é simples: cenários de atividade econômica mais forte e consumo em patamar elevado costumam estimular uma avaliação melhor, enquanto que fatos negativos tendem a piorar a lente pela qual um governo é encarado.
Borges quantificou em que proporção esses fatores costumam afetar a imagem de governos e chegou à conclusão que, se seguisse o padrão histórico, Bolsonaro deveria ter atualmente uma avaliação entre 10 e 15 pontos acima do que a atual.
“O gasto social teve um salto na primeira metade do ano, e terá novo salto agora [com o aumento no valor pago do Auxílio Brasil]. Isso deveria gerar um salto de avaliação, que em boa medida não foi capitalizado por Bolsonaro”, apontou.
Saiba mais:
Impostos, benefícios: As (muitas) dúvidas do mercado sobre o futuro da política fiscal, segundo o Itaú
Para o especialista, quando se olha somente os números, a tendência é que o atual presidente melhore sua avaliação no terceiro trimestre, mas ainda mostrando um desempenho pior em relação a governos anteriores em época de eleições.
Ele lembrou que, quando se olha eleições passadas, é fato que a avaliação do governo federal tende a melhorar no período de 13 meses antes do pleito.
“Sempre tem uma melhora, porque o incumbente é dono da máquina, e isso tende a maximizar a probabilidade do presidente ou do candidato apoiado por ele ganhar”, lembra. “No caso do Bolsonaro houve uma melhora até maior do que costuma acontecer, mas o patamar de aprovação dele estava extremamente baixo e continua baixo.”
Lula tem chance de 14% de levar no 1º turno
Rafael Magalhães, cientista político da Ponteio especializado em modelagem estatística, explicou que a consultoria criou um agregador de pesquisas para observar com maior clareza o que vem acontecendo com os levantamentos de intenções de voto.
Com base nesse agregador, ele também criou os cenários mais prováveis para os dois turnos das eleições presidenciais, e chegou à conclusão que o mais provável é que Lula e Bolsonaro disputem o segundo turno.
“Pelo nosso modelo, que é baseado em diversas pesquisas, a chance de o Lula ganhar no primeiro turno é de 14%”, apontou. “Ou seja, o cenário mais provável é que a eleição vá de fato para o segundo turno.”
Ao calcular as projeções do agregador e incluir uma outra variável, que é o tempo que resta para as eleições (isso é levado em conta pois, quanto menor o período restante, menor a chance de o cenário mudar), a conclusão é de Lula tem mais de 80% de chance de vencer.
“Em 82% dos cenários, Lula ganha no segundo turno. E o Bolsonaro, na maioria dos cenários, tem probabilidade maior de perder”, observou.
Fora do padrão
Para o cientista político Jairo Pimentel, da Ponteio, o fato de Bolsonaro ter um desempenho fora do padrão habitual em eleições não possibilita cravar nenhum cenário.
“Olhando para além dos dados, acho que não vai ser tão fácil para o Lula como parece”, avaliou Jairo Pimentel, cientista político da Ponteio. “A campanha vai ser fundamental, e tem pouco espaço para erros de um lado ou de outro. Não dá para cravar uma vitória fácil do Lula, apesar de eu considerá-lo o favorito.”