a) A distância percorrida aumenta significativamente os custos com a transporte, encarecendo o preço final da soja exportada.
b) O corredor Bioceânico pode reduzir significativamente a distância entre o local de produção e o porto onde a soja e embarcada para a China. Desse modo a transporte do produto passaria a ser realizado pelos portos chilenos, reduzindo os custos de produção, no entanto ainda faltam ajustes para essa rota se tornar econimicamente viável.
C) A rota pelo Canal do Panamá apresenta distância menor, parecendo uma melhor opção de transporte, pois a utilização do corredor bioceânico permitiria uma redução significativa nos custos, uma vez que os produtos sairiam do porto chileno.
Espero que ajuda.
- Nathallya
- 20/10/2020
- Geografia
- 14
Imagine que você é um grande produtor de soja em Mato Grosso, que exporta regularmente para a China, saindo do Brasil para o porto de Xangai. Responda às questões propostas a seguir consultando o mapa. a) De que modo o transporte entre o local de produção e o porto impacta nos custos finais da soja ex- portada? b) Que benefícios o Corredor Bioceânico pode trazer para a exportação da soja? Por quê?
c) Compare as duas rotas retratadas no mapa. Qual seria a mais vantajosa?
Silva, R., Kawano, B., Mores, G., & Blois, H. (2011). Exportação da soja brasileira: será o corredor bioceânico uma alternativa para o seu escoamento?. Revista Teoria E Evidência Econômica, 17(36). //doi.org/10.5335/rtee.v17i36.4248
Ouça este artigo:
O corredor bioceânico é um ambicioso projeto de engenharia em desenvolvimento englobando alguns países do Mercosul (Brasil, Paraguai, Argentina e Chile). O intuito desta obra é criar uma autovia eficiente que conecte por terra os oceanos Atlântico (desde o porto de Santos, no Brasil) e Pacífico (até o porto de Antofagasta, no Chile). Como parte dos planos da Iniciativa para a Integração Regional Sul-Americana, existem projetos já antigos com a ideia de construir uma ferrovia internacional de função semelhante.
Mapa do corredor bioceânico planejado.
O conceito inicial de criar um sistema de integração sul-americano que permitisse acesso a ambos os oceanos que banham o continente foi uma sugestão do governo Boliviano, em 2013. Tanto a Bolívia quanto o Paraguai são países completamente continentais, sem acesso ao mar. A fim de proporcionar maior escoamento de produção e permitir uma importação mais eficiente, a ideia era permitir que ambos os países possuíssem rotas de acesso direto aos principais portos sul-americanos. Buscando financiamento do governo chinês, o plano original incluía a extensão do corredor até o Peru. A primeira expedição do trajeto chegou a ser realizada, contudo, desde as fases mais iniciais, discussões políticas entraram em cena. A instabilidade política da Bolívia e a vitória de um governo com ideologia conservadora no Brasil causaram profundas repercussões no design do projeto.
Em 2017 houve a segunda delineação provisória da rota de integração latino-americana, que não inclui mais a Bolívia. Com início em Campo Grande (capital do Mato Grosso do sul) e termino na cidade portuária de Antofagasta no Chile, esta primeira etapa deve criar uma rodovia de mais de 2400km de extensão. Algumas obras chave desta primeira etapa só tem conclusão prevista para 2022. Elas incluem a construção de uma ponte entre as cidades de Porto Murtinho e Carmelo Peralta (feita em parceria pelo Brasil e Paraguai), a pavimentação de uma grande extensão de estradas de terra que atravessam o Paraguai e a duplicação e ampliação da rodovia brasileira BR-267.
Com a reestruturação do projeto, os maiores beneficiados pelo corredor bioceânico serão o Brasil e o Chile. Isto porque a obra deve agilizar as exportações de grãos e carne produzidos nos estados do Centro-Oeste brasileiro para a Ásia (principalmente China e Japão). Além disso, os portos chilenos passarão a receber estas cargas que originalmente atravessavam o Brasil e eram levadas ao porto de Santos, com encargos de exportação mais elevados.
O projeto de conexão entre os países do cone sul da América também possui um forte apelo turístico. A rota irá permitir uma viagem única por paisagens exuberantes e diversas, ligando o Pantanal brasileiro às Cordilheiras dos Andes e ao deserto do Atacama. Por um lado, um bioma completamente interdependente da água e por outro um ecossistema adaptado a aridez.
Sobre a construção de uma ferrovia internacional que conecte países sul-americanos, muitos veem este projeto como um sonho ou um jogo político. Na década de 1950, o governo brasileiro iniciou grandes obras de uma ferrovia transsulamericana que resultaram em desmatamento e muitas perdas econômicas e sociais. Devido à complexidade do projeto, ele foi subdividido em 2011 em três trechos menores que ligariam pontos estratégicos da rota imaginada, porém nenhuma obra começou oficialmente desde então. A fim de fortalecer os laços econômicos e culturais do Mercosul, seria vital que os interesses políticos se alinhassem para tirar do plano estes projetos que poderão trazer muitos benefícios para todos.
Referências:
Leiva, D., 2020. BRI and railways in Latin America: how important are domestic politics?. Asian Education and Development Studies.
Redo, D., 2012. Mapping land-use and land-cover change along Bolivia's Corredor Bioceánico with CBERS and the Landsat series: 1975–2008. International Journal of Remote Sensing, 33(6), pp.1881-1904.
da Silva, R.F., Kawano, B.R., de Vargas Mores, G. and Blois, H.D., 2011. Exportação da soja brasileira: será o corredor bioceânico uma alternativa para o seu escoamento?. Revista Teoria e Evidência Econômica, 17(36).
//www.salta.gov.ar/prensa/noticias/la-reunion-del-corredor-bioceanico-vial-campo-grande-norte-de-chile-se-realizara-en-salta-y-jujuy/57706
Exportação da soja brasileira: será o
corredor bioceânico uma alternativa
para o seu escoamento?
Roberto Fray da Silva
*
Bruno Rógora Kawano
**
Giana de Vargas Mores
***
Henrique Dias Blois****
Resumo
O Brasil é um dos maiores exportadores de soja do mundo. A questão da logística de trans-
porte dessa commodity, desde os locais de produção até os portos por onde é exportada, é
considerada um entrave para o aumento da competitividade da soja brasileira no cenário
mundial. Este estudo visou analisar a proposta do corredor bioceânico, considerando o
escoamento de produtos agrícolas das regiões Centro-Oeste e Sul do Brasil pelos portos
chilenos de Antofagasta e Iquique, correlacionando o custo do frete total e o transit time
total versus o cenário atual de escoamento de grãos pelos portos brasileiros do sul e sudes-
te. Os resultados indicam que o cenário atual de produção e exportação da soja em grãos
brasileira tem uma maior viabilidade em relação ao cenário estudado – de escoamento da
produção utilizando o corredor bioceânico. Entretanto, estima-se que melhorias no sistema
de transporte e investimentos em infraestrutura poderiam viabilizar a utilização desse
corredor alternativo na exportação de produtos perecíveis e de alto valor agregado.
Palavras-chave: Demanda asiática. Escoamento de soja. Portos brasileiros. Produção
agrícola. Sistemas logísticos.
*
Engenheiro agrônomo. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Sistemas Lo-gísticos,
Universidade de São Paulo. E-mail: .
**
Engenheiro agrônomo. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Planejamento de Sistemas Energéticos,
Universidade Estadual de Campinas. E-mail: .
***
Economista. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios, Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. E-mail: .
****
Administrador. Doutor em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina. Pro-fessor Titular
do curso de Administração, Universidade de Passo Fundo. E-mail: .
Recebido em: 03/08/2011. Aceito em: 28/03/2012
Teoria e Evidência Econômica - Ano 17, n. 36, p. 126-142, jan./jun. 2011
126
Introdução
Uma das principais características da atual conjuntura econômica mundial é o
aumento da demanda do continente asiático, em especial China e Índia, por insu-
mos do ocidente. Isso se deve à expansão populacional ocorrida nos países
asiáticos e à abertura da economia chinesa, entre outros fatores. Dentre os
principais produ-tos brasileiros exportados para a Ásia, destacam-se as commodities
agrícolas, como os produtos do complexo soja (grão, farelo e óleo), açúcar, etanol e
carnes (Secex/ MDIC, 2011). Atualmente, a China é o principal parceiro comercial do
Brasil, com uma corrente de comércio, considerando as exportações e importações,
de US$ 36,1 bilhões (em 2009). Os Estados Unidos assumem a segunda posição,
com valores de US$ 35,9 bilhões (em 2009) (APEX, 2010).
No Brasil, um gargalo visível nas cadeias de produtos agrícolas para exporta-
ção está relacionado à logística, como, por exemplo, o transporte precário da maté-
ria-prima entre as fontes primárias de produção para a exportação. A melhoria dos
modais rodoviário e ferroviário e o melhor aproveitamento do transporte hidrovi-ário
são essenciais e prementes para o aumento da competitividade dos produtos
brasileiros, além do aperfeiçoamento da produtividade dos portos e armazéns nacio-
nais. O país perde competitividade quando os produtos agrícolas são escoados das
propriedades rurais com custos baixos, mas chegam ao destino com elevado custo
derivado de problemas logísticos. Esses custos estão, principalmente, relacionados
ao tempo de transporte da carga do produtor agropecuário até o consumidor final e
às deficiências de infraestrutura do sistema portuário brasileiro. Tal situação agrava
a perda de competitividade dos produtos agropecuários brasileiros diante das
grandes players da exportação de soja, como os Estados Unidos e a Argentina.
Como proposta para auxiliar nos problemas relacionados ao tempo dispendido
no trânsito de mercadorias para a Ásia decorrentes da utilização de rotas marí-timas,
países da América do Sul criaram a alternativa denominada de “corredor
bioceânico”. Lima (2002) conceitua corredores bioceânicos como ligações terrestres
que permitem uma maior união entre continentes distantes. No caso do Brasil, o
corredor bioceânico aparece como uma alternativa para atravessar uma distância
menor do que a percorrida atualmente pelos produtos agrícolas exportados. Dessa
forma, o corredor contribuiria para uma redução de custos com transporte, o que,
consequentemente, refletiria em preços mais competitivos dos produtos no merca-do
mundial.
A proposta do corredor bioceânico é parte das estratégias de integração da
América do Sul e do aumento da participação dos países sul-americanos na
Teoria e Evidência Econômica - Ano 17, n. 36, p. 126-142, jan./jun. 2011
127
economia global. A proposta inicial visa a ganhos para todos os países envolvidos.
Por exemplo, investimentos conjuntos seriam feitos nos portos chilenos e a produ-
ção brasileira poderia ser escoada por estes, levando a menores custos e tempo em
trânsito dos produtos.
O projeto do corredor bioceânico analisado neste trabalho inicia no Brasil, pas-
sa pela Bolívia e tem como destino final dois portos localizados ao norte do Chile, os
terminais portuários de Antofagasta e Iquique. Desses portos, os produtos em
potencial a serem exportados seriam essencialmente os básicos, de origem agrope-
cuária, como os do complexo soja (grão, farelo e óleo), algodão, milho, carnes (bovi-
na e frango), açúcar e etanol. Os produtos teriam como principal destino o mercado
consumidor asiático, com foco na China e no Japão.
Um parâmetro importante para as discussões de alternativas de transporte é o
custo do frete por tonelada praticado no país, o qual influencia diretamente nos
custos logísticos de distribuição da produção. Esses valores são indicadores
relevantes para a comparação do custo entre possíveis rotas para o escoamento de
produtos, embora não sejam os únicos parâmetros a serem avaliados, aliando-se
aos impactos ambientais envolvidos no processo logístico e aos custos de estoque.
Para analisar quais os entraves e fatores relacionados à competitividade do
escoamento da soja em grãos brasileira para o mercado asiático pelo corredor bio-
ceânico, este estudo avalia os custos de fretes rodoviário e marítimo, chamados de “frete
total”, em duas situações distintas: i) na primeira, analisa-se o custo de transporte da
soja em grãos, partindo de cinco cidades (Rondonópolis - MT, Anápo-lis - GO, Campo
Grande - MS, Guarapuava - PR e Tupanciretã - RS) até os portos de Santos - SP e
Paranaguá - PR, de onde partem os maiores volumes de soja do Brasil. Soma-se a isso
o custo do frete marítimo até o porto de Shangai, na China; ii) na segunda situação, uma
análise é feita do custo do frete da soja, partindo das cinco cidades mencionadas no item
i, passando pelo corredor bioceânico e chegando até os portos chilenos de Antofagasta e
Iquique, de onde a soja seria exportada até o porto de Shangai na China. O tempo gasto
desde o carregamento da soja nas ci-dades selecionadas até o porto de Shangai é
denominado “transit time”.
O transit time é analisado para as duas situações descritas anteriormente,
sendo dois aspectos avaliados: o custo do frete total e o transit time total em com-
paração ao cenário atual de escoamento de grãos pelos portos brasileiros do sul e
sudeste. Conforme será discutido neste trabalho, um exemplo de transit time a ser
mencionado é o de 35 dias para o transporte da soja, partindo do município de Ron-
donópolis, passando pelo porto de Paranaguá até a chegada ao porto de Shangai.
Teoria e Evidência Econômica - Ano 17, n. 36, p. 126-142, jan./jun. 2011
128
A continuação deste artigo está distribuída em cinco seções: revisão de litera-
tura, procedimentos metodológicos, análise e interpretação dos resultados, consi-
derações finais e referências bibliográficas utilizadas no decorrer do estudo.
Revisão de literatura
O Brasil possui importante papel como fornecedor de commodities agrícolas
para os países asiáticos. Dessa forma, a proposta dos corredores bioceânicos sur-
giu pela necessidade de novas formas de distribuição de produtos com rotas que
permitam uma diminuição dos custos finais dos produtos brasileiros no mercado do
extremo oriente, com uma atenção especial voltada para a China. Os principais
portos utilizados estariam localizados no Peru e no Chile, na costa do oceano Pacífi-
co (MONTILHA, 2006). O projeto de integração sul-americano permitirá viabilizar
promissoras interligações entre o Brasil e os países da América do Sul que possuem
saídas para o Pacífico, permitindo uma ligação com o continente asiático e, em es-
pecial, com a China.
Nos últimos anos, o Brasil tem aumentado o volume de suas exportações, além
de diversificá-las tanto em termos de produtos como no seu destino. Segundo dados
da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (Secex/MDIC, 2011), atualmente, a China é o maior parceiro
comercial do Brasil. O principal porto de entrada de soja na China é o porto de
Shangai, sendo escolhido para análise neste trabalho como referência para o desti-
no das exportações por meio do projeto do corredor bioceânico.
As rotas que formam os corredores bioceânicos, de acordo com Lima (2002),
em sua maioria, surgem para o transporte interno de mercadorias e, quando com-
plementadas, podem originar os grandes corredores bioceânicos que interliga-riam
sete países sul-americanos (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai, Peru e
Uruguai). No caso desta pesquisa, o corredor analisado diz respeito à ligação Brasil-
Bolívia-Chile. O Brasil, assim como a Argentina, a Bolívia, o Paraguai e o Uruguai,
não possui acesso direto ao Pacífico e a concretização dos corredores bio-ceânicos
sul-americanos permitiria mudar tal situação (LIMA, 2002). Segundo o mesmo autor,
um importante fator que diminui a necessidade de investimento nos corredores da
América do Sul é a existência do canal do Panamá e dos corredores norte-
americanos, que podem suprir o tráfego atual de mercadorias para a Ásia.
Atualmente, os produtos agrícolas destinados à China são embarcados, princi-
palmente, em Santos - SP ou Paranaguá - PR (Secex/MDIC, 2011). Segundo infor-
mações de consultorias que trabalham com importações e exportações, a utilização
Teoria e Evidência Econômica - Ano 17, n. 36, p. 126-142, jan./jun. 2011
129
do canal do Panamá (ligação com o oceano Pacífico) tem um alto custo de uso e um
tempo de espera muito elevado. Nesse sentido, o corredor bioceânico pode ser uma
alternativa de transporte para commodities. Os produtos potenciais que poderiam ser
exportados pelo corredor bioceânico são celulose, etanol, biodiesel, carnes (fran-go,
bovina e peixes), milho, produtos do complexo soja (SECEX/MDIC, 2011).
No que tange ao complexo agroindustrial da soja, ilustra-se na Tabela 1 a
produção agrícola brasileira de grãos em milhões de toneladas para as safras de
2008/2009 e 2009/2010. Pode-se destacar que a cana-de-açúcar é o produto
agrícola mais produzido no país, porém não é comercializado internacionalmente
como ma-téria-prima para a indústria de processamento em razão da sua alta
perecibilidade e ao baixo valor agregado. Já a soja é uma commodity com grande
importância no mercado internacional, sendo exportada em grandes quantidades
para seu proces-samento em outros países (SECEX/MDIC, 2011).
Tabela 1 - Produção agrícola brasileira em mil toneladas (produtos selecionados)
Produto
2008/2009
2009/2010
Variação (%)
Grãos (total)
135.135
1.274
8,7
Algodão
1.214
1.274
5
Arroz
12.603
11.486
-8,9
Feijão
3.503
3.345
-4,5
Milho
51.004
54.185
6,2
Soja
57.166
67.865
18,7
Trigo
5.884
5.026
-14,3
Café
39.470
47.042
19,2
Cana-de-açúcar
571.434
604.514
5,8
Fonte: Elaborada pelos autores com base em Conab (2009).
Ao considerar a safra de 2010/2011, a Figura 1 traz a distribuição dos maiores
estados brasileiros produtores de soja (participação, em percentual, na produção
total do país), com destaque para Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás.
Cumpre lembrar que a produção brasileira de soja, na safra 2010/2011, foi de
70.099,70 mil toneladas. No ano de 2010, a participação da soja nas exportações
brasileiras foi de 8,5% (SECEX/MDIC, 2011). Dos principais estados brasileiros
produtores de soja, os da região Centro-Oeste (Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso
do Sul) possuem deficiências de infraestrutura para o escoamento da produção
(CNT, 2010).
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Fonte: Elaborada pelos autores com base em Brasil (2011).
Figura 1 - Principais estados brasileiros produtores de soja (% em relação à produção total do
Brasil na safra 2010/2011)
Ojima e Yamakami (2005) sinalizam que o transporte é o maior custo para a
exportação da soja brasileira, correspondendo a cerca de 30% do valor final. A
relevância da diminuição desses custos é alta para tornar o produto mais compe-
titivo no cenário mundial. Ojima e Rocha (2005) mencionam que no momento do
escoamento da produção de soja brasileira existe uma série de problemas de infra-
estrutura no transporte. Esses gargalos afetam tanto a estratégia comercial como a
política do país em relação às exportações de soja e demais produtos agrícolas.
Ojima (2006) destaca que o modal mais utilizado no cenário brasileiro é o rodo-
viário, que é muito oneroso para o complexo soja e demais produtos agrícolas. Essa
observação é confirmada no Plano Nacional de Logística e Transportes de 2009, o
qual demonstra que 58% dos produtos brasileiros são transportados utilizando esse
modal. Modais alternativos como o ferroviário ou o hidroviário correspondem,
respectivamente, a 25 e 13% do total de produtos transportados no país (BRASIL,
2009). De acordo com Lima (2002), é necessário também considerar a importância
do transporte multimodal, que pode contribuir para uma significativa redução de
custos e tempo. Outro fator que deve ser considerado é a necessidade de investi-
mento no setor de transportes brasileiro.
Teoria e Evidência Econômica - Ano 17, n. 36, p. 126-142, jan./jun. 2011
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Procedimentos metodológicos
Foram selecionadas as duas principais regiões produtoras de soja no Brasil,
Centro-Oeste e Sul, e os principais portos utilizados na exportação de sua produ-
ção: Santos - SP, Paranaguá - PR e Rio Grande - RS. A coleta de fretes terrestres e
marítimos de 2008 a 2010 para o escoamento da soja foi feita a partir dos estados
de Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul. As distân-
cias entre as regiões produtoras e os portos nacionais foram calculadas utilizando o
software Guia 4 Rodas 2007 Pro (2008) e as distâncias entre os terminais portuários
de origem e destino foram obtidas por meio do site Distances (DISTANCES, 2009).
A partir das informações, os preços médios de frete por tonelada e por quilômetro
(R$/t.km) foram calculados. Com base neles, foram estimados os fretes terrestres e
marítimos para a alternativa do corredor bioceânico. O transit time dos cenários atual
e alternativo foi estimado com base nas velocidades médias dos modais.
Para os cálculos relacionados ao custo do frete rodoviário e ao transit time nos
diferentes cenários foi feita a escolha de centroides1 ou pontos de origem. Em razão
da importância de sua produção, as cidades escolhidas como centroide foram
Rondonópolis - MT, Campo Grande - MS, Anápolis - GO, Guarapuava - PR e Tu-
panciretã - RS. Com exceção dos estados do Paraná (que exporta praticamente toda
a sua produção pelo porto de Paranaguá) e do Rio Grande do Sul (que escoa a
maior parte de sua produção pelo porto de Rio Grande), os estados escolhidos
exportam soja, tanto pelo porto de Santos - SP quanto pelo de Paranaguá - PR.
Escolheu-se o porto de Rio Grande - RS para tornar o estudo mais representativo,
uma vez que o Rio Grande do Sul é o terceiro maior produtor de soja nacional. A
revisão bibliográ-fica permitiu identificar os dois principais portos a serem utilizados
no cenário do corredor bioceânico: Antofagasta e Iquique, ambos situados no Chile.
Num primeiro momento, foi calculada a distância em quilômetros entre os
centroides de origem e os portos de destino, tanto no cenário atual quanto no cená-
rio do corredor bioceânico, utilizando o software Guia 4 Rodas 2007 Pro (2008). A
distância foi utilizada nos cálculos dos fretes e de transit time estimados, conside-
rando uma velocidade média dos caminhões de 60 km/h, baseada em informações
obtidas numa consulta a um agente de mercado. Após essa etapa, calculou-se o
frete terrestre (R$/t) com base nos valores médios de frete de mercado dos anos de
2008, 2009 e 2010 (ESALQ-LOG, 2009-2011). Para o cálculo desses valores,
assumiu-se que os caminhoneiros trabalham oito horas por dia.
As distâncias foram calculadas entre os portos de Santos, Rio Grande, Parana-
guá, Antofagasta e Iquique e o de Shangai por meio do site Distances (DISTANCES,
Teoria e Evidência Econômica - Ano 17, n. 36, p. 126-142, jan./jun. 2011
132
2009). O transit time das diferentes rotas marítimas foi obtido por meio de consulta a
um agente no mercado de transporte marítimo. No que diz respeito ao valor do frete
marítimo para o transporte de soja dos portos brasileiros ao porto chinês, optou-se
pelo uso dos dados do grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroin-dustrial
Esalq-LOG. Com base nesses valores e na distância entre os portos, foi feita uma
estimativa do custo em R$/km no frete marítimo e a esse valor foi apli-cada a
distância obtida entre os portos do Chile e o de Shangai, a fim de se estimar o valor
do frete marítimo.
Ao final, consideraram-se os transit times e os gastos com frete totais para cada
uma das rotas e foi feita uma comparação entre a situação atual e a alternati-va,
utilizando o corredor bioceânico para os parâmetros mencionados. Em razão da
limitação da disponibilidade de dados, foi utilizado apenas o transporte rodoviário.
Apesar de ser um dos componentes do complexo soja, o óleo de soja não foi
considerado nesta análise por três motivos: não utilizar os mesmos equipamentos de
transporte que a soja em grãos, exigindo tanques para seu transporte pelos mo-dais
rodoviário e marítimo; falta de dados disponíveis quanto à sua movimentação
utilizando as mesmas rotas ao longo do período considerado; a complexidade de
seu processamento e movimentação, visto que, em alguns casos, o produto a ser
expor-tado é processado em terminais anexos ao porto e, em outros, isso ocorre no
inte-rior do país e somente depois o óleo é transportado para os terminais portuários.
A avaliação dos resultados do levantamento de dados é de natureza descritiva e a
análise dos dados secundários foi realizada por meio de abordagem quantitativa.
Análise e discussão dos resultados
Em termos de fretes e transit time totais da soja brasileira, os resultados dos
cálculos dos cenários atual e do alternativo, considerando o corredor bioceânico, são
apresentados nesta seção.
Os fretes de 2008 a 2010 das rotas estudadas estão dispostos na Tabela 2.
Observa-se que, embora o porto de Paranaguá esteja localizado a uma distância
maior do que o de Santos em relação às cidades de Rondonópolis, Anápolis e
Campo Grande, os valores de frete com esse destino são menores, o que pode ser
justificado pelo fato de que o tempo de espera dos caminhões para descarregar os
produtos no porto de Santos é maior do que em Paranaguá, local onde o fluxo de
escoamento ocorre com maior rapidez. Dessa forma, em Santos, verifica-se um
preço de frete para soja em grãos maior do que em outros portos analisados.
Teoria e Evidência Econômica - Ano 17, n. 36, p. 126-142, jan./jun. 2011
133
Tabela 2 - Valores de frete rodoviário para soja em grão de 2008 a 2010
Distância
Frete R$/t
Frete
Valor frete
Origem
Destino
médio
(km)
2008
2009
2010
(R$/km)
(R$/t)
Rondonópolis (MT)
Santos
1531
143,00
133,87
167,90
148,26
0,10
Paranaguá
1550
112,05
125,46
154,60
130,70
0,08
Santos
1057
88,00
100,28
112,84
100,37
0,09
Paranaguá
1070
87,45
96,86
98,06
94,12
0,09
Campo Grande (MS)
Santos
1048
94,09
102,16
118,11
104,79
0,10
Paranaguá
1346
83,86
96,35
116,69
98,97
0,07
Guarapuava (PR)
Paranaguá
367
35,52
47,33
50,66
44,50
0,12
Tupanciretã (RS)
Rio Grande
472
48,00
49,20
45,81
47,67
0,10
Fonte: Elaborada pelos autores com base no Anuário Esalq-LOG (2010).
Os resultados dos cálculos de frete total em R$/t e transit time total, do cen-
troide de origem ao porto de Shangai, no cenário atual, podem ser observados na
Tabela 3.
Tabela 3 - Fretes terrestre, marítimo e total e transit time estimados para as diferentes rotas
com origem nos centroides e destino a Shangai no cenário atual
Origem
Porto
Total terrestre
Total marítimo
Total
Transit time total
(R$/t)
(R$/t)
(R$/t)
(dias)
MT (Rondonópolis)
Santos
148,26
70,44
218,70
34
MT (Rondonópolis)
Paranaguá
130,70
73,82
204,52
35
MS (Campo Grande)
Santos
104,79
70,44
175,23
33
MS (Campo Grande)
Paranaguá
98,97
73,82
172,79
34
GO (Anápolis)
Santos
100,37
70,44
170,81
33
GO (Anápolis)
Paranaguá
94,12
73,82
167,94
35
PR (Guarapuava)
Paranaguá
44,50
73,82
118,32
33
RS (Tupanciretã)
Rio Grande
46,15
70,52
116,67
36
Fonte: Resultados da pesquisa, 2011.
Nota: O valor total do frete terrestre corresponde à soma dos resultados dos modais rodoviário e ferroviário.
Infere-se que uma das explicações para a situação apresentada na Tabela 3
pode estar relacionada ao tempo de espera dos caminhões para descarregar seus
produtos no porto de Santos, que muitas vezes é maior do que em Paranaguá. De
acordo com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (2009) e considerando o
cais público, uma das razões que auxilia na explicação dessa situação é o fato
Teoria e Evidência Econômica - Ano 17, n. 36, p. 126-142, jan./jun. 2011
134
de que o porto de Paranaguá possui uma quantidade média de movimentação de
28.462 toneladas por dia (t/dia) de soja. Esse valor é muito superior ao do porto de
Santos, que é de 9.878 t/dia do referido produto. Essa movimentação possui uma
relação inversamente proporcional ao tempo de espera dos caminhões para descar-
regar a soja, o que ajuda a elucidar o porquê de os valores de frete serem maiores
para o porto de Santos. Verifica-se um maior preço de frete para a soja em grão
proveniente de Rondonópolis - MT e Campo Grande - MS com destino a Santos, em
relação a rotas originadas nessas cidades com destino a Paranaguá.
Observa-se na Tabela 3 que a rota mais barata é a de Guarapuava – PR–Para-
naguá - PR em razão da sua curta distância, correspondendo a um frete terrestre de
R$ 46,15. Entretanto, ao se considerar a movimentação total do centroide de origem
ao porto de destino na China, tem-se que a rota de Tupanciretã – RS–Shan-gai,
utilizando o porto de Rio Grande - RS, é a de menor valor, com um frete total de R$
116,67. Isso reitera o que é afirmado por Chopra e Meindl (2010): para se obter
economias na logística, os custos devem ser considerados na cadeia produtiva
como um todo, não somente em um dos seus elos.
Os menores transit time (33 dias) são observados nas rotas Campo Grande–
Santos–Shangai; Anápolis–Santos–Shangai; Guarapuava–Paranaguá–Shangai. O
maior transit time é evidenciado na rota Tupanciretã–Rio Grande–Shangai, ou seja,
de 36 dias. Outra observação a respeito (Tabela 3) é a de que o preço por tone-lada
do frete marítimo é menor em comparação ao frete rodoviário na maior parte das
rotas (as exceções são as rotas citadas de Guarapuava–Paranaguá–Shangai e
Tupanciretã–Rio Grande–Shangai). Por exemplo, no caso da rota de maior valor,
Rondonópolis–Santos–Shangai, o frete rodoviário unitário é R$ 0,0968/t.km. No caso
do frete marítimo, esse valor é de R$ 0,0034/t.km, e pode ser explicado por três
fatores: maior capacidade de transporte de carga pelos navios, eficiência no uso do
combustível e maiores distâncias percorridas com a utilização desse modal.
Configura-se na Tabela 4 a mesma análise realizada para o cenário alternati-vo
do corredor bioceânico.
Teoria e Evidência Econômica - Ano 17, n. 36, p. 126-142, jan./jun. 2011
135
Tabela 4 - Fretes terrestre, marítimo e total e transit time estimado para as diferentes rotas
com origem nos centroides e destino a Shangai: cenário alternativo do corredor
bioceâ-nico
Origem
Porto
Total terrestre
Total marítimo
Total (R$/t)
Transit time
(R$/t)
(R$/t)
total (dias)
MT (Rondonópolis)
Antofagasta
327,44
65,58
393,03
35
MT (Rondonópolis)
Iquique
342,69
64,64
407,33
35
MS (Campo Grande)
Antofagasta
281,99
65,58
347,58
34
MS (Campo Grande)
Iquique
297,24
64,64
361,88
36
GO (Anápolis)
Antofagasta
351,68
65,58
417,27
36
GO (Anápolis)
Iquique
366,93
64,64
431,57
36
PR (Guarapuava)
Antofagasta
238,72
65,58
304,30
33
PR (Guarapuava)
Iquique
253,96
64,64
318,60
33
RS (Tupanciretã)
Antofagasta
224,61
65,58
290,19
33
RS (Tupanciretã)
Iquique
239,85
64,64
304,50
33
Fonte: Resultados da pesquisa, 2011.
Na Tabela 4, os valores de frete terrestre foram estimados com base no frete
unitário médio de transporte terrestre calculado no cenário atual multiplicados pela
distância em quilômetros entre o centroide de origem e o porto chileno. Os fretes
marítimos, por sua vez, foram estimados com base no frete marítimo médio em
R$/t.km observado no cenário atual e multiplicado pela distância entre o porto
chileno em questão e o de Shangai.
Devido à grande proximidade entre os dois portos chilenos (cerca de 200 km),
pode-se observar que o transit time é pouco afetado quando os dois são comparados.
No caso dos fretes, não há grandes variações em razão do método de cálculo utiliza-do,
que é baseado em distâncias. Porém, pode-se mencionar que o frete rodoviário
corresponde, nesse cenário, em média, a 81,43% do custo total de transporte. No
cenário atual, esse valor é de 55,09%; na rota Guarapuava–Paranaguá–Shangai o frete
terrestre corresponde a 37,61% do frete total. Com base nessas característi-cas, se o
corredor bioceânico entrasse em funcionamento, provavelmente se utili-zariam o porto
de Antofagasta como porto principal e o de Iquique para reduzir o fluxo do primeiro em
momentos de pico de escoamento de produtos.
Na Tabela 5 é feita uma comparação entre as duas situações em relação aos
fretes totais em R$/t.
Teoria e Evidência Econômica - Ano 17, n. 36, p. 126-142, jan./jun. 2011
136
Tabela 5 - Comparação entre as diferentes rotas no cenário atual e alternativo (frete total em
R$/t)
Origem
Frete total por
Frete total por
Frete total por
Frete total por
Frete total por
Santos (R$/t)
Paranaguá (R$/t)
Rio Grande (R$/t)
Antofagasta (R$/t)
Iquique (R$/t)
MT
218,70
204,52
x
393,03
407,33
MS
175,23
172,79
x
347,58
361,88
GO
170,81
167,94
x
417,27
431,57
PR
x
118,32
x
304,30
318,60
RS
x
x
116,67
290,19
304,50
Fonte: Resultados da pesquisa, 2011.
Na Tabela 6, a comparação que se faz é similar à realizada para a Tabela 5,
considerando o transit time em dias em vez do custo do frete.
Tabela 6 - Comparação entre
as diferentes
rotas no cenário atual e alternativo (transit
time total em dias)
Origem
Frete total por
Frete total por
Frete total por
Frete total por
Frete total por
Santos (dias)
Paranaguá (dias)
Rio Grande (dias)
Antofagasta (dias)
Iquique (dias)
MT
33
35
x
35
35
MS
34
34
x
34
34
GO
33
35
x
36
36
PR
x
33
x
33
33
RS
x
x
36
33
33
Fonte: Resultados da pesquisa, 2011.
A Tabela 5 mostra que o frete pelas rotas do corredor bioceânico é maior em to-
dos os casos se comparado ao cenário atual. No caso da rota com origem de Tupan-
ciretã - RS, o frete chega a ser maior do que o dobro do frete atual, porém com um
transit time três dias menor. Caso o tempo de entrega fosse um fator avaliado pelo
cliente, essa alternativa melhoraria a qualidade de serviço. Porém, os custos eleva-
dos envolvidos podem não ser absorvidos pelo cliente, inviabilizando a alternativa.
Pode-se observar na Tabela 6 que apenas a rota de Tupanciretã - RS aos por-
tos chilenos apresentou uma redução de tempo em trânsito em relação ao cená-rio
atual. A alternativa do corredor bioceânico foi rejeitada no que diz respeito ao tempo
em trânsito nas rotas originadas dos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Goiás e Paraná. No que tange ao custo do frete, observou-se um aumento
significativo na proposta do corredor bioceânico, o que inviabiliza o transporte de
Teoria e Evidência Econômica - Ano 17, n. 36, p. 126-142, jan./jun. 2011
137
commodities agrícolas de baixo valor agregado, como soja, milho, trigo, arroz, açú-
car e etanol.
Considerações finais
Neste estudo realizou-se uma análise da viabilidade da utilização do corredor
bioceânico para a exportação de soja em grãos brasileira com destino ao mercado
asiático, mais especificamente ao porto de Shangai, na China.
Observou-se que os preços de frete com origem nas cidades de Rondonópolis -
MT, Anápolis - GO e Campo Grande - MS e destino ao porto de Paranaguá - PR
foram menores do que os fretes com a mesma origem, porém com destino ao porto
de Santos - SP, mesmo o porto de Paranaguá - PR estando a uma distância maior
das origens do que o porto de Santos - SP. Isso pode ser justificado pelo fato de o
escoamento de grãos ser realizado com maior rapidez quando a carga do produto
chega ao porto de Paranaguá - PR, enfrentando menos filas e, assim, reduzindo o
tempo de espera e os custos com fretes, em comparação ao porto de Santos - SP.
Por sua vez, o porto de Santos - SP está atualmente sobrecarregado e com
infraestrutu-ra aquém das necessidades do país, o que evidencia a necessidade de
investimentos no setor de transportes brasileiro.
Levando em consideração que o produto estudado neste trabalho é uma com-
modity, o custo tem um peso maior para os embarcadores, se comparado ao nível
de serviço; logo, como em todos os casos, os custos são significativamente mais
altos. O corredor bioceânico, com as características analisadas neste trabalho, não é
viável para o escoamento de soja em grãos pelos portos chilenos quando
comparado com o modelo atual de exportação desse produto. No caso de produtos
altamente pere-cíveis, de produtos comercializados no mercado spot ou de produtos
de alto valor agregado, a diminuição no transit time, considerada uma vantagem
competitiva, poderia viabilizar o uso do corredor bioceânico.
O corredor bioceânico demonstrou ser uma alternativa inviável em relação ao
modelo de exportação é realizado atualmente por meio dos portos de Santos - SP,
Paranaguá - PR e Rio Grande - RS. Contudo, por meio de investimentos tanto go-
vernamentais como privados em infraestrutura do corredor bioceânico, poderiam
reduzir-se o tempo de transporte da soja entre os centros de produção e os portos
do Chile e seus respectivos custos de frete, uma vez que uma rodovia em boas con-
dições pode ser um dos fatores que tornaria isso possível.
Outro potencial do corredor bioceânico seria a sua utilização como rota de
exportação para outros produtos da cadeia do agronegócio brasileiro, como açúcar,
Teoria e Evidência Econômica - Ano 17, n. 36, p. 126-142, jan./jun. 2011
138
etanol, carnes e algodão. Além disso, produtos de maior valor agregado, como os da
indústria de eletrônicos, calçados, máquinas e equipamentos, poderiam ser bene-
ficiados com o possível acesso e com menor tempo em trânsito do produto. Pode-se
também considerar a importância do corredor bioceânico para a importação de in-
sumos da cadeia do agronegócio brasileiro, principalmente aqueles que já possuem
grandes volumes de importação. Um exemplo disso é o caso dos fertilizantes, pre-
ponderantemente os potássicos, dos quais o Brasil possui uma grande dependência
externa e que, por meio do corredor, seria possível a entrada no país com preços
reduzidos.
Observou-se também a necessidade de atenção por parte do governo para a
proposta de sistemas de transporte alternativos para o escoamento da produção
agrícola. Caso o governo pretenda viabilizar o corredor bioceânico, será necessário
utilizar modais de maior eficiência energética que o modal rodoviário, como é o caso
do modal ferroviário, além de investir em parcerias público-privadas (PPPs), para a
construção e operação da infraestrutura dos corredores. Porém, por ter de cruzar
regiões montanhosas, tornam-se muito onerosas a construção e a manutenção de
vias férreas nos corredores bioceânicos sul-americanos. O uso de modais alternati-
vos também aumentaria de forma significativa o tempo em trânsito desses corredo-
res de exportação, podendo até resultar em valores maiores dos que os observados
no cenário atual.
Uma das limitações do estudo se deu pela indisponibilidade de dados, como,
por exemplo, fretes marítimos dos portos chilenos a Shangai e o tempo em trânsito
do produto nas diferentes rotas, originando-se a necessidade de estimar esses valo-
res. Problemas complexos, como o estudo do corredor bioceânico, demandam uma
quantidade maior de dados e, na ausência desses, é necessário fazer estimativas e
pressupostos que diminuirão a complexidade do problema, porém limitarão a apli-
cação da solução vista na prática.
Neste artigo, não foram considerados fatores relacionados à legislação nem
possíveis entraves do transporte terrestre de mercadorias entre os países das ro-tas
estudadas, sendo esse um dos principais pontos para estudos futuros sobre o
assunto em questão. Devido ao aumento na exportação de produtos agrícolas bra-
sileiros para os mercados asiáticos, optou-se por considerar aspectos que impactam
diretamente na tomada de decisão das empresas envolvidas: o custo do frete e o
tempo em trânsito da mercadoria. Cumpre lembrar que o assunto em questão tra-ta
de um tema contemporâneo que tem estado na pauta das políticas públicas de
melhoria da infraestrutura do transporte.
Teoria e Evidência Econômica - Ano 17, n. 36, p. 126-142, jan./jun. 2011
139
EXPORTS OF BRAZILIAN SOYBEANS: WILL
THE BIOCEANIC CORRIDOR BE AN
ALTERNATIVE TO ITS FLOW?
Abstract
Brazil is one of the world’s biggest exporters of soybeans. The transportation of this com-
modity, from production sites to the ports from which it is exported, is considered a com-
petitiveness bottleneck of Brazilian soybeans on the global scenario. This article aims to
evaluate the Bioceanic corridor proposal, correlating the total freight cost and total tran-sit
time versus the current soybean flow through the Southern and Southeastern Brazi-lian
ports, considering an alternative flow of agricultural products from the Midwest and Southern
regions to the Chilean ports of Antofagasta and Iquique. The results indicate that the current
situation in Brazil is the most feasible scenario compared to the flow of products using the
Bioceanic corridor. However, it is estimated that improvements in the transportation system
and investments in infrastructure of the Bioceanic corridor could make it viable for exporting
perishable and/or high value-added products.
Keywords: Agricultural production. Asian demand. Brazilian ports. Flow of soybeans. Lo-
gistics systems.
EXPORTACIÓN DE SOJA BRASILERA:
¿EL CORREDOR BIOCEÁNICO ES UNA
ALTERNATIVA A LA VENTA?
Resumen
Brasil es uno de los mayores exportadores de soja del mundo. El tema de la logística de
transporte de esta mercancía, desde los centros de producción a los puertos desde los que
se exporta, se considera un obstáculo para el aumento de la competitividad de la soya
brasileña en el escenario mundial. Este estudio tuvo como objetivo analizar el proyecto de
corredor Bioceánico considerando la venta de productos agrícolas del meio oeste y el sur
Brasil por los puertos chilenos de Antofagasta e Iquique, correlacionando el costo total de la
carga y el tiempo de tránsito total en comparación con el escenario actual del transpor-te de
granos usando los puertos brasileños del Sur y Sureste. Los resultados indican que la
situación actual de la producción y exportación de la soja en Brasil tiene una mayor
viabilidad en relación con el ambiente - de flujo de productos a través del corredor Bioce-
ánico. Sin embargo, se estima que las mejoras en sistemas de transporte e investimentos
en infraestructura podrían permitir el uso del corredor Bioceánico en la exportación de
perecederos y productos de valor añadido.
Palabras llave: Flujo de la soja. La demanda asiática. La producción agrícola. Los puertos
brasileños. Sistemas de logística.
Teoria e Evidência Econômica - Ano 17, n. 36, p. 126-142, jan./jun. 2011
140
Nota
1
Segundo Miranda (2008), define-se centroide como a região constituída por vários municípios com
atividades produtivas semelhantes, marcada por semelhanças fisiográficas, meteorológicas e de um
mesmo ecossistema, que tem como polo uma cidade que funciona como ponto de apoio a essas
atividades.
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