Qual e a importância do professor

Uma pesquisa Datafolha mostra que as famílias passaram a valorizar mais a profissão de professor, tanto que 89% acreditam que, para dar aulas, é preciso mais preparo do que imaginavam antes da pandemia. Mesmo com ensino remoto, 67% dos responsáveis sentem que os professores são mais respeitados pelos alunos do que no período anterior à crise sanitária.

A expectativa é que o reconhecimento aponte para a necessária valorização do professor. Para falar sobre o trabalho de aperfeiçoamento docente contínuo, o Portal CPP entrevistou a doutora e mestre em pedagogia do Movimento pela Universidade de São Paulo (USP), a diretora pedagógica Fábia Antunes, 39 anos, da Escola Lourenço Castanho da rede privada, na zona sul de São Paulo. Ela tem pesquisa voltada para a construção curricular e aprendizagem educacional. Além de ser bacharel e licenciada em Educação Física pela USP, é especialista pela Universidade de Harvard (Bok Teaching Certificate).

 Portal CPP: Essas pesquisas que comprovam a importância da figura do professor no fator decisivo do aprendizado, e que pais e responsáveis reconhecem como algo fundamental para vocês, educadores, até que ponto são importantes para as escolas?

Fábia Antunes: O professor é a figura essencial no processo de desenvolvimento de cada criança e no acompanhamento diário desse processo. Quanto mais o professor estiver envolvido no aprendizado e desenvolvimento de cada criança, a mediação vai ser mais precisa e o acolhimento vai ser mais oportuno para o desenvolvimento dessa criança. Não é uma questão só da entrega de conteúdo. Hoje a aprendizagem envolve muito mais que isso, envolve um ambiente adequado, toda uma preparação feita pelo professor, acolhimento dessa criança para ela estar bem emocionalmente e, a partir daí, ter toda a experiência de aprendizagem o mais adequada possível. A presença do professor para cada sujeito dentro da sala de aula é um fator essencial para o desenvolvimento do aluno.

Como desenvolver um programa de formação continuada para professores? Isso é realmente fundamental no processo educacional?

É fundamental a formação continuada do professor, principalmente no Brasil, que tem uma formação básica muito longe da realidade escolar. Cada escola, a partir do seu projeto político-pedagógico, define o que quer desenvolver com cada criança, qual o tipo de aprendizagem e, a partir daí, a equipe gestora da escola precisa identificar qual o estágio em que sua equipe docente está para preparar, organizar, planejar as etapas dessa formação. Um ponto essencial nessa formação docente é que ela precisa ser no mesmo formato, com os mesmos princípios pedagógicos-educacionais que a escola quer que aconteça com seus alunos. Se a escola quer ter o aluno no centro da aprendizagem, com metodologia ativa, o momento da formação docente precisa trazer essa estratégia para que o professor vivencie essas questões. A escola não pode exigir metodologia ativa do professor em sala de aula se apenas aplica formações de entrega de conteúdo, terminologia em inglês muito usada, delivery model. Não se pode só entregar conteúdo nas formações, e na sala de aula exigir algo diferente. Tem um conceito que vem da Universidade de Harvard, que é o agenciamento crítico. O planejamento docente precisa ter uma realidade de intervenção do estudante. O estudante tem que ter espaço real na tomada de decisão nas problemáticas propostas em sala de aula e esse mesmo conceito precisa ser levado para a formação docente, para que ele viva esse espaço de tomada de decisão, esse agenciamento crítico, para que o aluno possa também tomar decisões no dia a dia, na sala de aula.
 
Fale sobre os ganhos e aprendizados para os professores com viagens e cursos fora do país.

Conhecer a realidade do outro é sempre uma etapa importante na formação continuada dos docentes, coordenadores e diretores. Identificar outras práticas, conhecer outras realidades, faz com que ressalte seus pontos positivos e conheça outras possibilidades de trabalho. Esse intercâmbio entre escolas é bem importante. Quando saímos do Brasil, precisamos entender o contexto, o país e o lugar do professor nesse país. A realidade dos professores em outros países é diferente, e o lugar que a escola ocupa também é diferente. É importante entender essas realidades e fazer esse benchmarking [estudo de concorrência] de conhecer novas práticas, novos contextos, outras possibilidades, para fortalecer boas práticas e aprimorar o que é preciso.

É um aprendizado que o professor recebe e depois retransmite em sala de aula, correto?

Nem sempre tudo o que ele observa nessas viagens e cursos ele consegue aplicar diretamente. Na escola, é necessário respeitar o contexto, a comunidade de aprendizagem em que está inserido. Normalmente, essa aplicação precisa ser adaptada para ocorrer naquele ambiente. Essas visitas e cursos muitas vezes fazem com que cada docente reveja suas práticas, reflita sobre suas práticas. É mais dessa forma que essas experiências formativas contribuem para a prática do professor.

Educadores estiveram recentemente na Finlândia. Como foi essa experiência, o que eles trouxeram dessa viagem?

O primeiro impacto da equipe que foi à Finlândia foi a formação docente. A formação inicial para o para o professor dar aula a partir do ensino fundamental na Finlândia é de mestrado completo em educação. Comparando, o Brasil exige graduação, licenciatura em pedagogia. É uma formação inicial mais robusta para a entrada na educação básica. Outro ponto observado durante a visita foi a autonomia dos estudantes dentro da escola, a tomada decisão dos alunos que precisam lidar com questões individualmente até chegar à escola e dentro da escola. Comparando novamente com o Brasil, as famílias aqui são muito presentes na escola, muitas vezes tomando a frente do aluno. Como exemplo, algumas famílias vão à escola para resolver questões do aluno antes de tentar fazer com que ele traga a solução. Essa autonomia desenvolvida dentro da escola na Finlândia também chamou a atenção. O terceiro ponto é que os finlandeses são uma das sociedades mais leitoras do mundo, e numa das visitas à biblioteca pública de Helsinki, nossa equipe se impressionou com a quantidade de pessoas no local, com suporte para desde crianças muito pequenas, até adolescentes e adultos. Espaços diferenciados para receber essas pessoas e até espaços destinados para mães amamentando, com crianças pequenas, oportunizando para a criança menor um lugar para a leitura. A biblioteca está muito presente no país no dia a dia das pessoas.

 Debater a formação de professores e métodos de avaliação é importante?

É essencial discutir a avaliação em processo de formação de professores, porque a avaliação foi vista muito tempo como um processo linear no final do período e hoje é um processo cíclico. Existe uma metodologia discutida muito nas universidades do leste norte-americano chamada back work design ou understanding by design. No momento do planejamento, o professor precisa decidir quais são as big ideas, o que ele busca naquele processo. Com a definição dos objetivos de aprendizagem, ele define como vai avaliar todo esse processo, se vai ser por prova, por trabalho em grupo, debate, rubrica de avaliação. A partir disso, ele parte para desenhar as estratégias de aprendizagem. Ao implementar toda essa lógica de planejamento, ele vai acompanhando e redesenhando a estratégia para chegar à big idea inicial. A avaliação hoje é central no processo educacional, precisa diariamente estar no olhar do professor porque, se a intencionalidade do docente está clara, ele consegue mediar para que o aluno alcance os objetivos que foram colocados. É importante que o professor, sabendo aonde quer chegar com o aluno, não precise diminuir o tamanho da escada, pode aumentar o número de degraus para chegar ao objetivo. Sabendo aonde precisa chegar, a mediação fica precisa. Discutir a avaliação e colocar isso na essência do trabalho docente valoriza muito o cotidiano escolar, lembrando que hoje a avaliação não é de um tipo, o aluno precisa ser avaliado por diversas perspectivas porque existe um sujeito ali sendo formado.

É importante que as redes pública e privada, por meio de governantes e empresários do ramo da educação, invistam em viagens pedagógicas para seus professores e educadores?

Com certeza investimento em educação é necessário, principalmente na remuneração docente e no tempo de hora para planejamento da equipe. Porque hoje a equipe de uma série, por exemplo, tem pouco tempo de planejamento em conjunto e é importante que diferentes professores que lidam com cada criança tenham tempo de conversar e debater como investir, como ajustar e mediar a aprendizagem com cada criança. Investir em viagens pedagógicas é fantástico, mas ainda temos uma lição de casa muito maior para fazer na formação docente do dia a dia com horas de planejamento, tipo de contratação do professor, com mais horas na semana para destinar ao planejamento e fazer trocas entre os outros docentes que lidam com cada criança.

Qual é a importância do professor na vida do aluno?

O papel do professor na vida dos alunos vai além de transmitir seus conhecimentos de forma didática, clara e respeitosa para seus alunos. Com a convivência e proximidade diárias, o adulto pode se tornar uma grande referência para seus pequenos.

O que é ser um professor?

O que é ser professor? Ser professor tem como maior objetivo ensinar, construir conhecimentos com os alunos, compartilhar informações, instruir, corrigir, apresentar caminhos e possibilidades. Para realizar essa tarefa, é necessário aprender a ensinar.

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