Quando escrevemos, buscamos estratégias linguísticas que melhor exprimam nosso pensamento. Entre essas estratégias estão a escolha do gênero textual, escolha do tipo textual, escolha do tipo de linguagem (se a linguagem será literária ou não literária) e também fazemos uma cuidadosa escolha vocabular, privilegiando elementos estilísticos ou apenas os elementos linguísticos necessários para a construção de um texto mais objetivo e dinâmico. Show
Todos sabemos que a Gramática é responsável por normatizar a língua, oferecendo princípios que regem as relações de dependência ou interdependência das palavras na oração. Contudo, é interessante observar também que a mesma Gramática que rege a língua portuguesa também oferece recursos que podem interferir na sintaxe ou na construção das sentenças, provocando uma verdadeira desordem na concordância, na regência ou na colocação. Essa “desordem” pode parecer, à primeira vista, uma espécie de erro, mas saiba que, de acordo com o contexto e com a intenção de quem escreve, o erro nada mais é do que o emprego meticulosamente calculado das figuras de sintaxe ou construção. As figuras de sintaxe ou figuras de construção são uma classificação das figuras de linguagem, elementos que tornam um texto, especialmente aqueles que adotam a linguagem literária, mais expressivo e linguisticamente rico. Enquanto as figuras de pensamento subvertem o sentido real das palavras, as figuras de sintaxe promovem desvios sintáticos e concordâncias irregulares que imprimem características incomuns à construção linguística. O Mundo Educação preparou para você alguns exemplos de figuras de sintaxe mais frequentes. Fique atento e bons estudos! Principais figuras de sintaxe 1. Elipse: é a omissão de um termo que pode ser facilmente subentendido através da análise do contexto da frase, pois esse termo foi anteriormente enunciado ou sugerido na oração. Observe o exemplo de elipse na música de Edu Lobo: “(...) Onde a minha namorada... Peço apenas (Canto triste – Edu Lobo) No trecho “Onde a minha namorada”, o verbo estar ou andar está subentendido. Vale lembrar que há um caso específico de elipse, conhecido como zeugma, em que há uma omissão de um termo já citado na frase. 2. Pleonasmo: consiste na repetição de um termo já expresso ou até mesmo de uma ideia. Sua principal função, quando na linguagem literária, é conferir clareza ou ênfase. Observe um exemplo de pleonasmo na música de Chico Buarque: “ Todo dia ela faz tudo sempre igual (Cotidiano – Chico Buarque) 3. Anacoluto: consiste na quebra da estruturação gramatical da frase. Esse é um recurso muito empregado na transcrição de diálogos, técnica que procura reproduzir na escrita a língua falada. Observe um exemplo de anacoluto na frase de Almeida Garrett: ¨E o desgraçado tremiam-lhe as pernas, sufocando-o a tosse¨. (Almeida Garrett) 4. Antecipação ou prolepse: consiste no emprego de um termo que se encontra fora do lugar que gramaticalmente lhe foi convencionado. Dentro de uma narrativa, a prolepse pode surgir para antecipar um fato da história que, cronologicamente, só acontecerá depois. Observe o exemplo de antecipação em um fragmento do livro Levantando do chão, de José Saramago: “[...] Manoel Espada teve de ir guardar porcos e nessa vida pastoril se encontrou com Antônio Mau-Tempo, de quem mais tarde, em chegando o tempo próprio, virá a ser cunhado.[...]” (José Saramago - Levantado do Chão) 5. Polissíndeto/Assíndeto: As duas figuras de sintaxe possuem funções opostas. Enquanto no polissíndeto ocorre a repetição das conjunções coordenativas, no assíndeto a característica principal é a ausência delas. Observe os exemplos de polissíndeto e de assíndeto: "Vão chegando as burguesinhas pobres, / e as criadas das burguesinhas ricas / e as mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza." (Manuel Bandeira) "Não nos movemos, as mãos é que se estenderam pouco a pouco, todas quatro, pegando-se, apertando-se, fundindo-se." (Machado de Assis) 6. Antítese: consiste na oposição entre uma ou mais ideias, e justamente por isso ela se torna uma figura de sintaxe facilmente identificável em um texto. Observe o exemplo na frase de Olavo Bilac: “Residem juntamente no teu peito/um demônio que ruge e um deus que chora”. (Olavo Bilac) 7. Catacrese: é uma espécie de “metáfora desgastada”, pois apresenta uma palavra que perdeu seu sentido original. Observe o exemplo na frase de Cecília Meireles: “Um beijo seria uma borboleta afogada em mármore." (Cecília Meireles) 8. Hipérbole: consiste em exagerar uma ideia com a intenção de enfatizá-la. Observe o exemplo de hipérbole na frase de Carlos Drummond de Andrade: "Na chuva de cores / Da tarde que explode / A lagoa brilha." (Carlos Drummond de Andrade) 9. Eufemismo: é o extremo oposto da hipérbole. Nele, as ideias são suavizadas para que fiquem mais agradáveis. Observe o exemplo de eufemismo na frase de Mario Quintana: "A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer." (Mario Quintana) 10. Prosopopeia: consiste em atribuir características de seres animados a seres inanimados. Observe o exemplo no fragmento do poema “Vento”, de Cecília Meireles: “O cipreste inclina-se em fina reverência A hipérbole é uma figura de linguagem utilizada para intensificar algo, sendo bastante comum em conversas do cotidiano. Veja mais. Entenda um pouco sobre essa figura de pensamento. - Foto: Pixabay Para que um texto tenha mais qualidade e para que a sua leitura seja agradável e capaz de criar sensações e imagens mentais em quem o lê, muitas vezes é preciso fazer uso das figuras de linguagem, que são formas de repassar ideias sem ser de forma literal. Hoje, você aprenderá mais a respeito de uma das figuras de linguagem mais utilizadas na oralidade e na escrita: a hipérbole. O que é hipérbole?A hipérbole, chamada também de auxese, é uma figura de linguagem que pertence à classe das figuras de pensamento. Sua função é a de indicar um exagero ou uma ideia intensificada a respeito de coisas, assuntos, pessoas, situações etc. Embora não seja sempre sinalizada, especialmente quando utilizada na oralidade, a hipérbole é muito comum na linguagem do cotidiano — ao dizer “estou morrendo de fome”, por exemplo, o uso da hipérbole se dá justamente pelo exagero intencional da expressão, uma vez que poderia ser dito apenas “estou com muita fome”. O mesmo se aplica a muitas outras falas, como:
Origem do termo hipérboleA palavra hipérbole tem origem do grego, a partir do termo hiperbolé que, mais tarde, originou hyperbole. A análise etimológica é bastante simples: o prefixo hiper indica “sobre”, “além”, “por cima”; e “bole” é igual a “lançar”, “atirar”. Seguindo essa lógica, chegamos a algumas expressões, tais como “lançar além” e “atirar para cima”, que ilustram exatamente a intenção da hipérbole, que é criar um exagero, aumentar um significado. Atualmente, a palavra hipérbole é utilizada tanto para nomear a figura de linguagem quanto como sinônimo de “excesso”, “aumento” ou “exagero”. Uso da hipérboleComo se trata de uma figura de linguagem que é utilizada para dar ênfase a uma informação, a hipérbole aparece em situações nas quais é necessário exagerar propositalmente como maneira de enfatizar o discurso. Veja no exemplo abaixo:
Nesse caso, é óbvio que a intenção da expressão “congelando de frio” foi a de destacar que a pessoa estava com muito frio enquanto esperava ser atendida. Como isso é muito fácil de perceber, e como usamos esse tipo de hipérbole naturalmente, é correto dizer que a hipérbole é um exagero óbvio. É possível, também, que a hipérbole seja usada como argumento para convencer alguém a respeito de uma ideia. Veja como:
Aqui, entendemos que o médico é muito bom, embora seja improvável que todos os moradores da cidade o conheçam e o admirem de fato. A hipérbole serve, portanto, para convencer alguém a respeito da credibilidade do médico em questão. Hipérbole no cotidianoComo já falamos, o uso de hipérboles no cotidiano é extremamente comum e natural, tanto que muitas pessoas não conhecem a definição dessa figura de linguagem, mas a usam com frequência mesmo assim. Veja como a hipérbole é utilizada na vida cotidiana:
Hipérbole em diálogosVeja como a hipérbole pode aparecer em diálogos corriqueiros: João: E aí, cara, tudo bem? Carlos: Tirando essa mochila que estou carregando, tá tudo ótimo. Isso aqui pesa uma tonelada! João: Eita! Estou ligando para ver se você vai ao bar com a galera hoje. Carlos: Não vou, não, cara! Da última vez, fiquei uma eternidade na fila até conseguir entrar e, quando entrei, o lugar estava lotado demais, ficamos espremidos igual sardinha! João: Ah, você é mesmo um muro de lamentações, cara! Mata os amigos de desgosto! hahaha Carlos: Olha, amigo, eu sairia de casa hoje só se estivesse matando cachorro a grito! João: Ah, então deixa para a próxima! Vou correr aqui que estou verde de fome! Carlos: Se quiser passar aqui depois, minha mãe fez aquele bolo que você gosta. João: O bolo de fubá que é o melhor do mundo! Carlos: Só não demora para vir, hein, você sabe que aqui todo mundo come como leão! Hipérbole na músicaTrecho de “Epitáfio”, da banda Titãs:(...)Devia ter complicado menosTrabalhado menosTer visto o sol se pôrDevia ter me importado menosCom problemas pequenos Ter morrido de amor Trecho de “Por você”, de Frejat:(...) (...) Hipérbole na literatura“Rios te correrão dos olhos, se chorares” (Olavo Bilac) “Um quarteirão de perucas para Clodovil Pereira” (José Cândido Carvalho) Poema “Lagoa”, de Carlos Drummond de Andrade Eu não vi o mar.Não sei se o mar é bonito,não sei se ele é bravo. O mar não me importa. Eu vi a lagoa.A lagoa, sim.A lagoa é grande E calma também. Na chuva de coresda tarde que explodea lagoa brilhaa lagoa se pintade todas as cores. Eu não vi o mar. Eu vi a lagoa... Mais exemplos de hipérboleVeja mais alguns exemplos do uso da hipérbole:
Como dissemos, a hipérbole é uma figura de linguagem, ou seja, um recurso estilístico utilizado para enriquecer o texto ao fugir da forma mais comum de transmitir uma mensagem. Além da hipérbole, outras figuras de linguagem são importantes:
Vídeos sobre hipérboleFigura de linguagem: hipérboleNeste vídeo da professora Alda, temos uma explicação bem sucinta a respeito do tema, passando pelo conceito dessa figura de linguagem, usando exemplos e, ainda, resolvendo alguns exercícios sobre o assunto. Hipérbole, eufemismo e ironia: Figuras de pensamentoNo vídeo do canal Português On-line, feito pela professora Aline, temos uma explicação a respeito das figuras de pensamento, que estão dentro das classificações de figuras de linguagem. Material importante para diferenciar os tipos de figuras. Eufemismo e hipérboleAqui, temos um vídeo que mostra os conceitos de hipérbole e também de eufemismo, que é a figura de linguagem com função oposta à da hipérbole. O material é simples e didático, excelente para momentos de revisão de conteúdo. Conhecer melhor as figuras de linguagem existentes na língua portuguesa é fundamental para que possamos compreender com profundidade os mais diversos tipos de textos e, claro, para melhorar nossas capacidades em relação à escrita e a respostas de provas e concursos. Esperamos que você tenha gostado do conteúdo! Compartilhe |