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Olá, pessoal… Tudo bem? Sou a profª. Luana Signorelli, do Estratégia Vestibulares, e com a ajuda dos professores Fernando Andrade e Celina GIl, escrevo este artigo para comentar e resolver as questões da prova da FUVEST 2020. As questões de português da FUVEST começavam na questão 32 e terminavam na questão 47, seguindo o modelo letra V. Vocês podem baixar meus comentários em PDF também! Vamos à correção? ">Prova FUVEST Português – Resolução" class="wp-block-file__button" download>Baixar Prova FUVEST 2020Questão 32Cantiga de enganar (…)O mundo não tem sentido.O mundo e suas cançõesde timbre mais comovidoestão calados, e a falaque de uma para outra salaouvimos em certo instanteé silêncio que faz ecoe que volta a ser silênciono negrume circundante.Silêncio: que quer dizer?Que diz a boca do mundo?Meu bem, o mundo é fechado,se não for antes vazio. O mundo é talvez: e é só. Talvez nem seja talvez.O mundo não vale a pena,mas a pena não existe.Meu bem, façamos de conta.De sofrer e de olvidar,de lembrar e de fruir,de escolher nossas lembrançase revertê‐las, acasose lembrem demais em nós.Façamos, meu bem, de conta– mas a conta não existe – que é tudo como se fosse, ou que, se fora, não era. (…) Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma. Em Claro Enigma, a ideia de engano surge sob a perspectiva do sujeito maduro, já afastado das ilusões, como se lê no verso‐síntese “Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.” (“Legado”). O excerto de “Cantiga de enganar” apresenta a relação do eu com o mundo mediada (A) pela música, que ressoa em canções líricas. (B) pela cor, brilhante na claridade solar. (C) pela afirmação de valores sólidos. (D) pela memória, que corre fluida no tempo. (E) pelo despropósito de um faz‐de‐conta. Resolução Comentada
Gabarito: E TEXTOS PARA AS QUESTÕES DE 33 A 35. Os textos literários são obras de discurso, a que falta a imediata referencialidade da linguagem corrente; poéticos, abolem, “destroem” o mundo circundante, cotidiano, graças à função irrealizante da imaginação que os constrói. E prendem‐nos na teia de sua linguagem, a que devemo poder de apelo estético que nos enleia; seduz‐nos o mundo outro, irreal, neles configurado (…). No entanto, da adesão a esse “mundo de papel”, quando retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e renovada pela experiência da obra, à luz do que nos revelou, possibilita redescobri‐lo, sentindo‐o e pensando‐o de maneira diferente e nova. A ilusão, a mentira, o fingimento da ficção, aclara o real ao desligar‐se dele, transfigurando‐o; e aclara‐o já pelo insight que em nós provocou. Benedito Nunes, “Ética e leitura”, de Crivo de Papel. O que eu precisava era ler um romance fantástico, um romance besta, em que os homens e as mulheres fossem criações absurdas, não andassem magoando‐se, traindo‐se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente essas leituras já não me comovem. Graciliano Ramos, Angústia. Romance desagradável, abafado, ambiente sujo, povoado de ratos, cheio de podridões, de lixo. Nenhuma concessão ao gosto do público. Solilóquio doido, enervante. Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere, em nota a respeito de seu livro Angústia. Questão 33O argumento de Benedito Nunes, em torno da natureza artística da literatura, leva a considerar que a obra só assume função transformadora se (A) estabelece um contraponto entre a fantasia e o mundo. (B) utiliza a linguagem para informar sobre o mundo. (C) instiga no leitor uma atitude reflexiva diante do mundo. (D) oferece ao leitor uma compensação anestesiante do mundo. (E) conduz o leitor a ignorar o mundo real. Resolução Comentada
Gabarito: C Questão 34Se o discurso literário “aclara o real ao desligar‐se dele, transfigurando‐o”, pode‐se dizer que Luís da Silva, o narrador ‐ protagonista de Angústia, já não se comove com a leitura de “histórias fáceis, sem almas complicadas” porque (A) rejeita, como jornalista, a escrita de ficção. (B) prefere alienar‐se com narrativas épicas. (C) é indiferente às histórias de fundo sentimental. (D) está engajado na militância política. (E) se afunda na negatividade própria do fracassado. Resolução ComentadaAlternativa “a”: incorreta. Luis da Silva é jornalista, mas no plano temporal do passado médio, quando ele havia chegado na cidade, ele rascunhava alguns poemas e até chegavam a encomendar alguns de seus sonetos. O protagonista já chegou a trabalhar em um jornal e era consultado até como crítico literário – rapazes vinham perguntá-lo se tal autor era bom. Trabalhava com Moisés, Pimentel e seu Ivo. Metalinguagem: “É o que sei fazer, alinhar adjetivos, doces ou amargos, em conformidade com a encomenda” (RAMOS, 2010, p. 55). Alternativa “b”: incorreta. Ele até considera, sim, alguns gêneros de romance inferiores a outros, como se verifica em “romance besta”, nos quais parte-se do pressuposto que haveria alienação, já que os homens e as mulheres seriam criações fáceis, ideais, não humanas, mas esse poderia ser um romance água com açúcar, um best seller, por exemplo, não um épico. Um épico pode ser caracterizado narrativas de viagens e aventuras, sempre presentes no mundo atemporal e sem fronteiras da lenda e do romance folclórico. Os relatos são grandiosos e extensos, contando com muitas estrofes. Ilíada e Odisseia (Homero), Eneida (Virgílio) e Os Lusíadas (Luís de Camões) são os poemas épicos mais conhecidos. Alternativa “c”: incorreta. Se fosse indiferente, ele não consideraria lê-las. Ele, na sua condição de jornalista, homem letrado, e até mesmo escritor, rebaixa certos tipos de romances, embora os prefira, já que neles justamente estaria representado um mundo ideal, ao passo que a sua vida real era dura e dolorosa. Ler romances irreais representaria uma fuga da realidade, não deixando de ser uma #Estratégia. Alternativa “d”: incorreta. Atenção: o personagem engajado politicamente no livro é Moisés, um judeu preocupado com a condição de antissemitismo na Europa. Era tido como revolucionário e inteligente por Luis da Silva, além de ser um dos seus amigos mais próximos. Alternativa “e”: correta – gabarito. Luis da Silva é um perturbado psicologicamente, julgando-se constantemente impotente e covarde, comparando-se com o avô Trajano, que era um fazendeiro corajoso, à imagem de quem ele nunca consegue moldar-se. Gabarito: E Questão 35Para Graciliano Ramos, Angústia não faz concessão ao gosto do público na medida em que compõe uma atmosfera (A) dramática, ao representar as tensões de seu tempo. (B) grotesca, ao eliminar a expressão individual. (C) satírica, ao reduzir os eventos ao plano do riso. (D) ingênua, ao simular o equilíbrio entre sujeito e mundo. (E) alegórica, ao exaltar as imagens de sujeira. Resolução ComentadaAlternativa “a”: incorreta. Cuidado: há, sim, muito drama no romance e – naturalmente – angústia. Nunca um nome de livro foi tão eficaz, como costumo dizer. Porém, esse drama é interno, é pessoal, pouco levando em consideração o universo exterior. Há, sim, tensões de seu tempo, como alusões à abolição da escravidão e governo do Getúlio Vargas, mas o Alternativa “b”: incorreta. Atenção: a alusão ao lixo é grotesca, mas não “elimina a expressão individual”, uma vez que Angústia pode ser considerado um romance psicológico, isto é, essencialmente ligado ao indivíduo, escrito em primeira pessoa, pelo narrador protagonista Luis da Silva, fugindo inclusive do romance de 30, regionalista, da época. O próprio Graciliano Ramos, em entrevista com o crítico Antonio Candido em Ficção e confissão, diz se tratar de uma obra que é um ponto fora da curva. Alternativa “c”: incorreta. Uma obra em que o riso como reação à dureza do mundo é um aspecto é importante seria Mayombe, na personagem do Comandante Sem Medo. Não em Angústia, a atitude de Luis da Silva é geralmente fugidia, lacônica, melancólica. E pode ser considerada satírica a obra de Gregório de Matos, não a de Graciliano Ramos. Alternativa “d”: incorreta. Não é ingênua, mas é egocêntrica, de modo que não há equilíbrio, mas o peso é dado ao indivíduo, ao plano individual. Alternativa “e”: correta – gabarito. Alegoria no sentido geral, não necessariamente no sentido da figura literária. Luis da Silva é perturbado, sente-se um lixo na sua vida pessoal, de modo que o mundo exterior acaba se tornando um espelho de como ele se sente internamente. Gabarito: E Questão 36Leia o trecho extraído de uma notícia veiculada na internet: “O carro furou o pneu e bateu no meio fio, então eles foram obrigados a parar. O refém conseguiu acionar a população, que depois pegou dois dos três indivíduos e tentaram linchar eles. O outro conseguiu fugir, mas foi preso momentos depois por uma viatura do 5º BPM”, afirmou o major. Disponível em https://www.gp1.com.br/. No português do Brasil, a função sintática do sujeito não possui, necessariamente, uma natureza de agente, ainda que o verbo esteja na voz ativa, tal como encontrado em: (A) “O carro furou o pneu”. (B) “e bateu no meio fio”. (C) “O refém conseguiu acionar a população”. (D) “tentaram linchar eles”. (E) “afirmou o major”. Resolução Comentada
Gabarito: A TEXTO PARA AS QUESTÕES 37 E 38 amora a palavra amoraseria talvez menos docee um pouco menos vermelhase não trouxesse em seu corpo(como um velado esplendor)a memória da palavra amora palavra amargoseria talvez mais docee um pouco menos acerbase não trouxesse em seu corpo(como uma sombra a espreitar) a memória da palavra amar Marco Catalão, Sob a face neutra. Questão 37É correto afirmar que o poema (A) aborda o tema da memória, considerada uma faculdade que torna o ser humano menos amargo e sombrio. (B) enfoca a hesitação do eu lírico diante das palavras, o que vem expresso pela repetição da palavra “talvez”. (C) apresenta natureza romântica, sendo as palavras “amora” e “amargo” metáforas do sentimento amoroso. (D) possui reiterações sonoras que resultam em uma tensão inusitada entre os termos “amor” e “amar”. (E) ressalta os significados das palavras tal como se verificam no seu uso mais corrente. Resolução Comentada
Gabarito: D Questão 38Tal como se lê no poema, (A) a palavra “amora” é substantivo, e “amargo”, adjetivo. (B) o verbo “amar” ameniza o amargor da palavra “amargo”. (C) o substantivo “corpo” apresenta sentido denotativo. (D) o substantivo “amor” intensifica o dulçor da palavra “amora”. (E) o verbo “amar” e o substantivo “amor” são intercambiáveis. Resolução ComentadaAlternativa “a” está incorreta. A palavra “amora” é realmente um substantivo, mesmo no poema, nomeia uma fruta. A palavra “amargo” no texto não é adjetivo, se fosse, ela teria que se flexionar, deveria ser “amarga” para acompanhar o substantivo “palavra”. Além disso, no poema, o “amargo” tem corpo, ou seja, a palavra foi elevada a substantivo (derivação imprópria) e passou a ser o núcleo da personificação. Alternativa “b” está incorreta. O texto diz que a palavra “amargo” seria mais doce se não fosse a “palavra amar”, ou seja, o verbo enfatiza o amargor da palavra. Alternativa “c” está incorreta. O “corpo” está relacionado ou a “amora” ou a “amargo”, tais elementos não têm corpo no sentido literal. Alternativa “d” está correta. Ao dizer que “palavra amora” talvez fosse “menos doce” se não fosse a “palavra amor”, o eu lírico dá a entender que houve intensificação da doçura. Alternativa “e” está incorreta. O “amor” se refere ao sentimento, que é doce; “amar” se refere à ação, à efetivação do amor, que é algo amargo. Gabarito: D TEXTO PARA AS QUESTÕES 39 E 40 Uma planta é perturbada na sua sesta* pelo exército que a pisa. Gonçalo M. Tavares, 1: poemas. *sesta: repouso após o almoço. Questão 39Considerando que se trata de um texto literário, uma interpretação que seja capaz de captar a sua complexidade abordará o poema como (A) uma defesa da natureza. (B) um ataque às forças armadas. (C) uma defesa dos direitos humanos. (D) uma defesa da resistência civil. (E) um ataque à passividade. Resolução Comentada
Gabarito: D Questão 40O ditado popular que se relaciona melhor com o poema é: (A) Para bom entendedor, meia palavra basta. (B) Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. (C) Quem com ferro fere, com ferro será ferido. (D) Um dia é da caça, o outro é do caçador. (E) Uma andorinha só não faz verão. Resolução Comentada
Gabarito: B Questão 41O Twitter é uma das redes sociais mais importantes no Brasil e no mundo. (…) Um estudo identificou que as fake news são 70% mais propensas a serem retweetadas do que fatos verdadeiros. (…) Outra conclusão importante do trabalho diz respeito aos famosos bots: ao contrário do que muitos pensam, esses robôs não são os grandes responsáveis por disseminar notícias falsas. Nem mesmo comparando com outros robozinhos: tanto os que espalham informações mentirosas quanto aqueles que divulgam dados verdadeiros alcançaram o mesmo número de pessoas. Super Interessante, “No Twitter, fake news se espalham 6 vezes mais rápido que notícias verdadeiras”. Maio/2019. No período “Nem mesmo comparando com outros robozinhos: tanto os que espalham informações mentirosas quanto aqueles que divulgam dados verdadeiros alcançaram o mesmo número de pessoas.”, os dois‐pontos são utilizados para introduzir uma (A) conclusão. (B) concessão. (C) explicação. (D) contradição. (E) condição. Resolução Comentada
Gabarito: C Questão 42Agora, o Manuel Fulô, este,sim! Um sujeito pingadinho, quase menino – “pepino que encorujou desde pequeno” – cara de bobo de fazenda, do segundo tipo –; porque toda fazenda tem o seu bobo, que é, ou um velhote baixote, de barba rara no queixo, ou um eterno rapazola, meio surdo, gago, glabro* e alvar**. Mas gostava de fechar a cara e roncar voz, todo enfarruscado, para mostrar brabeza, e só por descuido sorria, um sorriso manhoso de dono de hotel. E, em suas feições de caburé*** insalubre, amigavam‐se as marcas do sangue aimoré e do gálico herdado: cabelo preto, corrido, que boi lambeu; dentes de fio em meia‐lua; malares pontudos; lobo da orelha aderente; testa curta, fugidia; olhinhos de viés e nariz peba, mongol. Guimarães Rosa, “Corpo fechado”, de Sagarana. *sem pelos, sem barba **tolo ***mestiço O retrato de Manuel Fulô, tal como aparece no fragmento, permite afirmar que (A) há clara antipatia do narrador para com a personagem, que por isso é caracterizada como “bobo de fazenda”. (B) estão presentes traços de diferentes etnias, de modo a refletir a mescla de culturas própria ao estilo do livro. (C) a expressão “caburé insalubre” denota o determinismo biológico que norteia o livro. (D) é irônico o trecho “para mostrar brabeza”, pois ao fim da narrativa Manuel Fulô sofre derrota na luta física. (E) se apontam em sua fisionomia os “olhinhos de viés” para caracterizar a personagem como ingênua. Resolução ComentadaAlternativa “a” está incorreta. Nesse conto, observa-se o narrador-testemunha; que conta a história é um médico que está a serviço na região e que tem simpatia pelo Manuel Fulô. Alternativa “b” está correta. No texto, o narrador descreve o aspecto físico de Manuel Fulô dizendo que são perceptíveis “as marcas do sangue aimoré e do gálico herdado”, a seguir, ele menciona vários traços e, entre eles, “os olhinhos de viés”. Essa mistura presente presentes no personagem, pode ser vista no estilo do autor que mistura linguagem culta, arcaica, regional etc. Além disso revela a cultura da região, afinal, a cultura sertaneja é resultado da mistura da cultura europeia com os costumes dos nativos e dos negros. Alternativa “c” está incorreta. Não há determinismo biológico em Guimarães Rosa, isso seria mais apropriado a O Cortiço. Alternativa “d” está incorreta. No final do da narrativa, Manuel Fulô mata o valentão Targino e se torna o valentão da região. Alternativa “e” está incorreta. No fragmento, há também essa perspectiva a da inocência. O personagem é apresentado como ingênuo, mas esse trecho sobre os olhos é antecedido por uma descrição física. Gabarito: B Questão 431O feminismo negro não é uma luta meramente identitária, até 2porque branquitude e masculinidade também são 3identidades. Pensar feminismos negros é pensar projetos 4democráticos. Hoje afirmo isso com muita tranquilidade, mas 5minha experiência de vida foi marcada pelo incômodo de uma 6incompreensão fundamental. Não que eu buscasse respostas 7para tudo. Na maior parte da minha infância e adolescência, 8não tinha consciência de mim. Não sabia por que sentia 9vergonha de levantar a mão quando a professora fazia uma 10pergunta já supondo que eu não saberia a resposta. 11Por que eu ficava isolada na hora do recreio. Por que os meninos 12diziam na minha cara que não queriam formar par com a 13“neguinha” na festa junina. Eu me sentia estranha 14inadequada, e, na maioria das vezes, fazia as coisas no 15automático, me esforçando para não ser notada. Djamila Ribeiro, Quem tem medo do feminismo negro?. O trecho que melhor define a “incompreensão fundamental” (L.6) referida pela autora é: (A) “não que eu buscasse respostas para tudo” (L.6‐7). (B) “não tinha consciência de mim” (L.8). (C) “Por que eu ficava isolada na hora do recreio” (L.10‐11). (D) “me esforçando para não ser notada” (L.15). (E) “sentia vergonha de levantar a mão” (L.8‐9). Resolução Comentada
Gabarito: B TEXTO PARA AS QUESTÕES 44 E 45 E Sofia? interroga impaciente a leitora, tal qual Orgon: Et Tartufe? Ai, amiga minha, a resposta é naturalmente a mesma, – também ela comia bem, dormia largo e fofo, – coisas que, aliás, não impedem que uma pessoa ame, quando quer amar. Se esta última reflexão é o motivo secreto da vossa pergunta, deixai que vos diga que sois muito indiscreta, e que eu não me quero senão com dissimulados. Repito, comia bem, dormia largo e fofo. Chegara ao fim da comissão das Alagoas, com elogios da imprensa; a Atalaia chamou‐lhe “o anjo da consolação”. E não se pense que este nome a alegrou, posto que a lisonjeasse; ao contrário, resumindo em Sofia toda a ação da caridade, podia mortificar as novas amigas, e fazer‐lhe perder em um dia o trabalho de longos meses. Assim se explica o artigo que a mesma folha trouxe no número seguinte, nomeando, particularizando e glorificando as outras comissárias – “estrelas de primeira grandeza”. Machado de Assis, Quincas Borba. Questão 44No excerto, o autor recorre à intertextualidade, dialogando com a comédia de Molière, Tartufo (1664), cuja personagem central é um impostor da fé. Tal é a fama da peça que o nome próprio se incorporou ao vocabulário, inclusive em português, como substantivo comum, para designar o “indivíduo hipócrita” ou o “falso devoto”. No contexto maior do romance, sugere‐se que a tartufice (A) se cola à imagem da leitora, indiscreta quanto aos amores alheios. (B) é ação isolada de Sofia, arrivista social e benemérita fingida. (C) diz respeito ao filósofo Quincas Borba, o que explica o título do livro. (D) se produz na imprensa, apesar de esta se esquivar da eloquência vazia. (E) se estende à sociedade, na qual o cinismo é o trunfo dos fortes. Resolução ComentadaAlternativa “a”: incorreta. A partir do trecho “Se esta última reflexão é o motivo secreto da vossa pergunta, deixai que vos diga que sois muito indiscreta, e que eu não me quero senão com dissimulados” (grifo meu), podemos verificar uma relação sintática de condição. Não que as leitoras fossem necessariamente indiscretas. Alternativa “b”: correta – gabarito. Cuidado: a afirmação é correta, pois diz respeito ao comportamento oportunista de Sofia; porém, não se trata de uma atitude isolada dela, mas de vários personagens no romance, como seu próprio marido, Cristiano Palha, o típico arrivista (vimos isso na nossa revisão!). Outra benemérita – não sabemos se exatamente fingida ou não, Machado de Assis deixa ambíguo, não deixa claro – é Dona Fernanda, constantemente benévola com Rubião, por exemplo, mas cuja benevolência é malvista pelo alienista Doutor Falcão acha que ela está interessada no Rubião. Alternativa “c”: incorreta. O trecho se dirige diretamente à personagem de Sofia. A essa altura do campeonato, o filósofo Quincas Borba já tinha morrido. Além disso, não é certeza se é o nome dele propriamente dito ou se é o de seu cachorro, cujo nome é homônimo, se dá nome ao livro. Alternativa “d”: incorreta. Pelo contrário, a imprensa não se esquiva da eloquência vazia, rende-se a ela, o que podemos verificar no trecho “o artigo que a mesma folha trouxe no número seguinte, nomeando, particularizando e glorificando as outras comissárias” (grifo meu). Alternativa “e”: incorreta. O trecho se remete à Sofia e, a partir dela, da hipocrisia da sociedade no geral. Gabarito: E Questão 45Considerando o contexto, o trecho “E não se pense que este nome a alegrou, posto que a lisonjeasse” (L.10‐11) pode ser reescrito, sem prejuízo de sentido, da seguinte maneira: E não se pense que este nome a alegrou, (A) apesar de lisonjeá‐la. (B) antes a lisonjeou. (C) porque a lisonjeava. (D) a fim de lisonjeá‐la. (E) tanto quanto a lisonjeava. Resolução Comentada
Gabarito: A Questão 46Hoje fizeram o enterro de Bela. Todos na Chácara se convenceram de que ela estava morta, menos eu. Se eu pudesse não deixaria enterrá‐la ainda. Disse isso mesmo a vovó, mas ela disse que não se pode fazer assim. Bela estava igualzinha à que ela era no dia em que chegou da Formação, só um pouquinho mais magra. Todos dizem que o sofrimento da morte é a luta da alma para se largar do corpo. Eu perguntei a vovó: “Como é que a alma dela saiu sem o menor sofrimento, sem ela fazer uma caretinha que fosse?”. Vovó disse que tudo isso é mistério, que nunca a gente pode saber essas coisas com certeza. Uns sofrem muito quando a alma se despega do corpo, outros morrem de repente sem sofrer. Helena Morley, Minha Vida de Menina. Perguntas Numa incerta hora friaperguntei ao fantasma que força nos prendia, ele a mim, que presumoestar livre de tudoeu a ele, gasoso,(…)No voo que desferesilente e melancólico,rumo da eternidade,ele apenas responde(se acaso é responder a mistérios, somar‐lhes um mistério mais alto): Amar, depois de perder. Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma. As perguntas da menina e do poeta versam sobre a morte. É correto afirmar que (A) ambos guardam uma dimensão transcendente e católica, de origem mineira. (B) ambos ouvem respostas que lhes esclarecem em definitivo as dúvidas existenciais. (C) a menina mostra curiosidade acerca da morte como episódio e o poeta especula o sentido filosófico da morte. (D) a menina está inquieta por conhecer o destino das almas, enquanto o poeta critica o ceticismo. (E) as duas respostas reforçam os mistérios da vida ao acolherem crenças populares. Resolução ComentadaAlternativa “a”: incorreta. Helena veio de uma família protestante, mas a sua religião é católica, frequentando bastante as missas, os cultos e as festas religiosas. A FUVEST já cobrou que Helena se situava entre a coexistência de dois mundos. Não só isso, Helena não aceita passivamente a religião católica, mas sim demonstra senso crítico em relação a ela. Certa vez ela questiona, por exemplo, por que as crianças precisavam rezar um tempão pela alma de pessoas mortas que elas sequer conheciam. Já a lírica de Drummond não tem dimensão religiosa, embora algumas vezes se valha de algumas metáforas religiosas, como Babilônia. Há inclusive um poema chamado “Morro de Babilônia”, mas que está em outro livro, Sentimento de mundo (1940). Alternativa “b”: incorreta. Nenhum deles recebe resposta totalmente satisfatória; a avó de Helena dá uma resposta volta para sabedoria popular, aspecto que inclusive marca bastante o diário. No poema de Drummond, por sua vez, há os versos “ele apenas responde /(se acaso é responder (…)”, o que gera hipótese quanto a essa resposta. Alternativa “c”: correta – gabarito. Enquanto pré-adolescente de espírito e personalidade em formação, ela demonstra a sua curiosidade. Já o eu lírico de Drummond é mais calejado na vida; já conhecendo a morte, sua dúvida em relação a ela é mais metafísica, filosófica. Alternativa “d”: incorreta. Segundo o dicionário Houaiss, ceticismo significa doutrina segundo a qual o espírito humano não pode atingir nenhuma certeza a respeito da verdade, o que resulta em um procedimento intelectual de dúvida permanente e na abdicação, por inata incapacidade, de uma compreensão metafísica, religiosa ou absoluta do real. A primeira parte da alternativa até pode estar certa, mas de acordo com essa concepção, o poeta não critica o ceticismo. Alternativa “e”: incorreta. Cuidado: apenas no diário de Helena verifica-se a presença de crenças populares. Gabarito: C Questão 47A certa personagem desvanecida Um soneto começo em vosso gabo*:Contemos esta regra por primeira,Já lá vão duas, e esta é a terceira, Já este quartetinho está no cabo. Na quinta torce agora a porca o rabo;A sexta vá também desta maneira:Na sétima entro já com grã** canseira, E saio dos quartetos muito brabo. Agora nos tercetos que direi?Direi que vós, Senhor, a mim me honrais Gabando‐vos a vós, e eu fico um rei. Nesta vida um soneto já ditei;Se desta agora escapo, nunca mais: Louvado seja Deus, que o acabei. Gregório de Matos *louvor **grande Tipo zero Você é um tipo que não tem tipoCom todo tipo você se pareceE sendo um tipo que assimila tanto tipo Passou a ser um tipo que ninguém esquece Quando você penetra num salãoE se mistura com a multidãoVocê se torna um tipo destacadoDesconfiado todo mundo ficaQue o seu tipo não se classifica Você passa a ser um tipo desclassificado Eu até hoje nunca vi nenhumTipo vulgar tão fora do comumQue fosse um tipo tão observadoVocê ficou agora convencidoQue o seu tipo já está batido Mas o seu tipo é o tipo do tipo esgotado Noel Rosa O soneto de Gregório de Matos e o samba de Noel Rosa, embora distantes na forma e no tempo, aproximam‐se por ironizarem (A) o processo de composição do texto. (B) a própria inferioridade ante o retratado. (C) a singularidade de um caráter nulo. (D) o sublime que se oculta na vulgaridade. (E) a intolerância para com os gênios. Resolução Comentada
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