Por que a greve dos caminhoneiros aconteceu

Ouça este artigo:

Entre os meses de maio e junho de 2018, os caminhoneiros fizeram greve durante onze dias devido à insatisfação com o aumento do valor do combustível, com a cobrança de pedágios e com a redução do valor do frete. Essa greve teve alto impacto no cotidiano da população brasileira, pois, segundo dados da Confederação Nacional de Transporte (CNT), 60% do transporte de cargas e 90% do transporte de passageiros são realizados por rodovias. Além disso, os fechamentos de rodovias foram feitos em áreas estratégicas como refinarias da Petrobras e o Porto de Santos, dificultando ainda mais o fluxo de mercadorias.

Por que a greve dos caminhoneiros aconteceu

Caminhoneiros em greve em São Paulo, 23 de maio de 2018. Foto: Nelson Antoine / Shutterstock.com

A greve gerou desabastecimento de produtos nos mercados, principalmente, de alimentos perecíveis como frutas e legumes. Esse desabastecimento influenciou o índice inflacionário do mês de maio de 2018 que registrou aumento de 0,40%, o dobro em relação ao mês de maio do ano anterior. O aumento da inflação incidiu, preponderantemente, sobre os alimentos perecíveis e a energia elétrica e afetou, sobretudo, as classes mais pauperizadas da população que gastam maior parcela do salário com gastos nesses produtos.

Alguns fatores contribuíram para o cenário de insatisfação dos caminhoneiros que ocasionaram a greve. Devido à recessão econômica pela qual passava o país, houve redução no volume de cargas, especialmente, da indústria e do comércio. Os caminhões passaram a circular com cerca de 60% da capacidade total e ainda 39% dos percursos eram realizados por caminhões vazios, segundo pesquisa de 2014 feita pela Empresa de Planejamento e Logística. Ademais, a frota de caminhões circulando pelo país havia aumentado por conta de financiamentos e incentivos para a compra desses transportes, causando a redução do valor do frete por haver muita oferta de caminhões em relação à demanda.

Esses fatores somaram-se aos constantes aumentos do combustível dos caminhões, o óleo diesel, aumentando os gastos dos caminhoneiros e, consequentemente, reduzindo o valor arrecadado com as viagens. O controle do valor do óleo diesel estava entre as principais reivindicações dos caminhoneiros, e atendendo a essa exigência foi criada a Medida Provisória 838 (de 30 de maio de 2018), convertida na Lei nº 13.723 (de 04 de outubro de 2018), que dispuseram sobre a subvenção econômica do óleo diesel de uso rodoviário no país. Inicialmente a subvenção foi estabelecida em R$ 0,07 por litro até o dia 7 de junho de 2018, sendo ampliada para R$ 0,30 por litro entre 8 de junho e 31 de dezembro de 2018. A subvenção ao óleo diesel e a redução de impostos federais como PIS e Cofins foram as principais medidas implementadas pelo governo presidencial de Michel Temer para refrear a greve dos caminhoneiros.

Por que a greve dos caminhoneiros aconteceu

Como consequência da greve, houve falta generalizada de combustíveis nos postos. Foto: Antonio Scorza / Shutterstock.com

Após a garantia de subvenção do óleo diesel, o estabelecimento de um piso para o valor do frete e a redução de impostos, os caminhoneiros terminaram a greve ocorrida entre 21 de maio e 1º de junho de 2018. A alta do dólar, em setembro de 2018, provocou novo aumento no valor do óleo diesel, e novamente os caminhoneiros ameaçaram fazer paralisações. Além do acréscimo ao valor do combustível, os caminhoneiros denunciavam também que o valor estabelecido para o piso do frete não estava sendo cumprido. Outras ameaças de paralisações dos caminhoneiros ocorreram em 2019, no entanto, as lideranças da categoria declinaram da proposta de nova greve após conversações com o governo de Jair Bolsonaro, que prometeu cumprir com a fiscalização da cobrança dos fretes.

Referências:

“Boletim Trimestral de Preços e Volumes de Combustíveis”. Disponível em: http://www.anp.gov.br/arquivos/publicacoes/boletins-anp/btpvc/boletim-trimestral-1.pdf. Acessado em 02 de fevereiro de 2020 às 10h e 13m.

“Entenda a crise dos caminhoneiros”. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/09/entenda-a-crise-dos-caminhoneiros.shtml. Acessado em 02 de fevereiro de 2020 às 8h e 41m.

“Inflação por faixa de renda - maio de 2018”. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/index.php/2018/06/11/inflacao-por-faixa-de-renda-maio-de-2018/. Acessado em 02 de fevereiro de 2020 às 9h e 17m.

“Lei nº 13.723, de 4 de outubro de 2018”. Disponível em: https://legis.senado.leg.br/norma/30228575/publicacao/30228827. Acessado em 02 de fevereiro de 2020 às 10h e 21m.

Apesar dos esforços de algumas entidades do setor de transporte autônomo em promover uma paralisação neste domingo, 25, e segunda, 26, as estradas permanecem desbloqueadas em todo país, segundo informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Foram registrados apenas pequenos protestos, sem aglomerações, às margens de algumas rodovias e na entrada do porto de Santos, em São Paulo.

Nem mesmo entre as lideranças dos caminhoneiros havia unanimidade quanto à realização da greve. A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA), considerada uma das entidades mais representativas da categoria, decidiu não aderir à greve e disse, na semana passada, por meio de nota, desconhecer iniciativas de grupos relevantes nesse sentido.

Ao mesmo tempo, líderes conhecidos da greve de 2018, como Plínio Dias, que parou o país, convocavam a paralisação por meio de grupos de WhatsApp. À frente do Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC), Dias acreditava que a mobilização pelas mídias sociais poderia ajudar a promover uma paralisação nacional.

Veja também

O Ministério da Infraestrutura divulgou em nota que a CNTRC "não é entidade de classe representativa para falar em nome do setor do transporte rodoviário de cargas autônomo e que qualquer declaração feita em relação à categoria corresponde apenas à posição isolada de seus dirigentes". A pasta também destacou que as associações do setor possuem caráter difuso e fragmentado.

Veja também

Entre as principais reinvidicações da categoria estava o fim da política de preços da Petrobras para os combustíveis e o cumprimento do piso mínimo de frete. A alta mais recente ocorreu no dia 5 deste mês, quando Petrobras elevou o preço da gasolina em mais de 6%. O diesel teve um aumento de 3,7% e passou a custar 2,81 reais nas refinarias. 

Os reajustes foram acompanhandos por um aumento de 5,8% do frete rodoviário. Segundo os caminhoneiros, no entanto, a tabela dificilmente é respeitada. O preço mínimo do frete foi criado pela equipe do ex-presidente Michel Temer durante a greve de maio de 2018. A medida foi implementada pelo governo dentro do conjunto de ações para pôr fim à paralisação.

Um dos líderes dos caminhoneiros autônomos, Wallace Landim, o Chorão, disse, nesta sexta-feira (17), que, com o novo aumento no preço de combustíveis, a greve da categoria “é o mais provável”. Chorão foi um dos responsáveis pelo movimento de paralisação dos caminhoneiros em 2018. “A verdade é que, de uma forma ou de outra, mantendo-se […]

18/06/2022 16:09

Page 2

Segundo levantamento da Ticket Log, o preço médio do litro da gasolina fechou fevereiro a R$ 6,851 e manteve estabilidade em relação ao mês anterior, com baixa de 0,34%. Já o etanol apresentou recuo de 2,27% em relação a janeiro, e o valor que estava R$ 5,758, passou para R$ 5,627. “Desde dezembro, o Índice […]

03/03/2022 15:31

Page 3

São Paulo, 28 – O novo reajuste do preço do óleo diesel de 8,9%, anunciado na manhã desta terça-feira, 28, pela Petrobras, deve levar à atualização do piso mínimo do frete rodoviário. Pela legislação, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) tem de reajustar a tabela do frete a cada seis meses ou quando a […]

28/09/2021 14:27

Page 4

Desde a última sexta-feira (10), o Ministério da Infraestrutura (com informações da Polícia Rodoviária Federal) não registra interdições nas rodovias devido à greve dos caminhoneiros. Havia apenas concentrações em três Estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Rondônia. + Manifestações de 12 de setembro: 17 cidades estão confirmadas + Manifestantes se reúnem em São […]

12/09/2021 13:05