A casa hill existiu mesmo

*Esse texto contém spoilers da série "A maldição da Residência Hill"*

"Nenhum organismo vivo pode existir com sanidade por longo tempo em condições de realidade absoluta; até as cotovias e os gafanhotos, pelo que alguns dizem, sonham. A Residência Hill, nada sã, erguia-se solitária em frente de suas colinas, agasalhando a escuridão em suas entranhas; existia há oitenta anos e provavelmente existiria por mais outros oitenta. Por dentro, as paredes continuavam eretas, os tijolos aderiam precisamente a seus vizinhos, os soalhos eram firmes e as portas se mantinham sensatamente fechadas; o silêncio cobria solidamente a madeira e a pedra da Residência Hill, e o que por lá andasse, andava sozinho."

Assim começa a série "A maldição da Residência Hill", da mesma maneira que o livro de Shirley Jackson, no qual foi baseada, inicia seu primeiro parágrafo. Nessas poucas palavras, estão contidos todos os principais temas da história: a menção à casa como um organismo vivo, a noção do quanto a realidade pode ser devastadora por si só e, principalmente, a idéia de andar sozinho.

A série, apesar de ser baseada no livro "A assombração da casa da colina", de Shirley Jackson, não tem com ele quase nada em comum, exceto alguns personagens e a mansão em si. No livro, apesar de a família Crain existir, o foco não é na história deles, e sim em alguns personagens que não tem relações entre si, visitando uma mansão teoricamente mal-assombrada para fazer experimentos com relação ao sobrenatural. Saber que a série seguiu um caminho tão diferente do livro foi uma informação que me fez gostar dela ainda mais, por se sustentar sozinha com a sua própria história e os seus personagens. Os criadores dessa produção conseguiram pegar um material fantástico como fonte inspiradora e transformá-lo em uma coisa nova, porém igualmente fantástica, um lindo trabalho sobre a dor, o luto e a impossibilidade de deixar o passado para trás.

A premissa central da história é a relação da residência do título com a família Crain e as marcas deixadas por esse contato em cada membro dessa família, ao longo de suas vidas. Através de uma narrativa que mistura cenas do presente e do passado, acompanhamos as histórias de Hugh e Olivia Crain e seus cinco filhos, Steve, Shirley, Theo, Luke e Nell. Já no primeiro episódio, somos levados a entender que algo de horrível aconteceu na casa há muitos anos, um incidente ao qual a mãe, Olivia, não sobreviveu, e que isso azedou permanentemente a relação do pai – única pessoa que testemunhou o ocorrido – com os filhos, que nunca souberam exatamente o que se passou. Ao longo da série, recebemos pequenas pistas do que pode ter acontecido nesse dia, que culminou com a morte da mãe e com a fuga do pai e dos filhos no meio da madrugada, mas apenas entendemos os acontecimentos completamente nos momentos finais do último episódio. Esse suspense, apesar de bem-vindo, não seria necessário para nos levar a acompanhar cada segundo da produção com a máxima atenção. Não só porque a melhor reviravolta da série acontece exatamente na metade, mas também porque o que importa de verdade nessa história é entender como um passado trágico moldou o futuro turbulento dos irmãos, e acompanhar as suas vidas povoadas de fantasmas, reais e metafóricos.

Na primeira cena da série, testemunhamos Hugh e Steve tentando consolar a pequena Nell, que chora de medo na cama, afirmando ter visto uma "Moça do Pescoço Torto". Tanto o pai quanto o irmão mais velho da menina, apesar de simpatizarem com o seu sofrimento, entendem a aparição apenas como um pesadelo de criança, com o pai explicando que "às vezes sonhos podem vazar um pouquinho". Apesar de não saber no momento, ele está correto nessa fala, apenas se confunde um pouco ao determinar quem está sonhando e como funcionam a natureza desses sonhos específicos. A residência Hill, funcionando como um ser senciente, também sonha e fantasia. Seus sonhos, porém, vazam com extrema intensidade na realidade, envolvendo qualquer pessoa que ali entrar em um sonho permanente, se tornando eternamente ligada à mente de seus habitantes e preservando as suas essências dentro de si para sempre, mesmo depois que a matéria orgânica da qual são formados esteja há muito tempo morta. É por isso que, na minha visão, os fantasmas dessa série se comportam de maneira tão diferente de outros filmes e séries com temática sobrenatural. Uma pessoa precisa morrer dentro da casa para que seu "espírito" seja guardado ali dentro e continue vagando por entre as suas paredes indefinidamente, assim como em American Horror Story — Murder House. Porém, diferentemente da série antológica, em Residência Hill os fantasmas parecem livres para caminhar pelo mundo, aparecendo para os membros da família Crain em lugares diversos ao longo do tempo. Creio que isso acontece porque, de fato, os fantasmas não são exatamente livres: eles existem apenas na Residência Hill. Porém a Residência Hill existe dentro de todos os seus antigos moradores, para sempre alojada em algum canto da sua mente e da sua alma. Não acredito que os fantasmas presentes na casa estejam fisicamente e materialmente presentes em momento algum (muito menos que sejam capazes de ter relações sexuais com seres vivos, entres outras muitas loucuras de AHS). Eles existem em outro plano, não são visíveis através do olhar humano, mas se manifestam de outra forma que jamais teríamos a ciência para explicar. E, estando profundamente envolvidos com a família Crain, faz sentido que continuem aparecendo para eles, independente de onde estejam.

Apesar disso, a casa os quer de volta, deseja que fiquem ali para sempre, encerrados em um sonho eterno, povoando seus cômodos vazios. Em um momento chave da história, Nell, a irmã mais jovem, finalmente realiza o seu próprio destino e retorna à casa da maneira que sua mãe a ensinou quando ainda era uma garotinha de 6 anos: após a luz da varanda piscar duas vezes. A garota é encontrada morta logo depois, em um aparente suicídio, o que gera reverberações entre todos e desenterra traumas profundos da família, principalmente por terem perdido a mãe da mesma maneira, apesar de não entenderem exatamente como. Através dos episódios, acompanhamos os acontecimentos que levaram a essas duas mortes tão similares (mas tão intrinsecamente diferentes) a partir do ponto de vista de cada um dos personagens, entendendo aos poucos como os eventos se relacionam e se encaixam entre si, e o pano de fundo que leva cada um a agir da maneira que age. Nos próximos parágrafos, vou falar um pouco sobre cada um e sobre os efeitos que o convívio com os fantasmas e com a dor que eles carregam produziu em suas vidas.

Steve

O irmão mais velho da família Crain também é o personagem com o qual nos familiarizamos primeiro. No episódio de início da série, são intercaladas cenas de Steve já adulto, como um autor bem-sucedido que não acredita em fantasmas (apesar de escrever sobre eles) com cenas de Steve criança, acompanhando a noite da fuga da Residência Hill, evento que transformou a vida da família para sempre. Steve parece ser o irmão que mais ressente a falta de respostas fornecidas pelo pai para os eventos que ocorreram naquela noite, irritando-se com qualquer explicação, ainda que vaga, que sugira que forças sobrenaturais tiveram algum papel nos acontecimentos. O fato da interpretação particular do escritor sobre a morte da mãe (que ele encara como o final derradeiro de uma mente doente e transtornada, negligenciada pelo marido durante anos) contrastar tão intensamente com o conteúdo sensacionalista de seus livros, principalmente na obra em que relata as experiências da família na casa, é uma fonte constante de tensão entre Steve e seus irmãos, principalmente Shirley.

Apesar de sermos gradualmente incentivados a encará-lo como um homem frio, que vendeu e distorceu a história de sua família em troca de dinheiro e fama, que não conseguiu ajudar seus irmãos mais novos nos momentos em que mais precisavam, um homem incapaz de se conectar verdadeiramente com ninguém, nem mesmo com sua esposa; acredito que também recebemos pistas o suficientes para entender a transformação de menino curioso para homem cínico sem julgá-lo tanto assim por seus defeitos. Quando criança, Steve queria ajudar o pai a consertar os problemas da casa, construía móveis para alegrar a mãe. Qualquer sentido que ele fizesse da vida e do mundo ao seu redor provavelmente desabou quando perdeu ambos os pais no mesmo dia — um para a morte, e outro para o conselho tutelar — sem nunca entender o motivo disso. Será que agiríamos mesmo de forma tão diferente no lugar dele?

Shirley

O episódio centrado em Shirley foca em como o contato com a morte, de maneiras diferentes, impactou a vida da garota e influenciou na sua escolha de trabalho quando adulta: ela dirige uma casa funerária acoplada à sua própria casa e tem a função de maquiar e vestir os mortos para seus funerais. Ainda quando criança, acompanhamos um episódio no qual a menina encontra uma ninhada de gatinhos doentes e abandonados pela mãe, e convence o pai a deixá-la levá-los para o seu quarto para tentar restaurá-los de volta à saúde. As coisas não saem como o esperado e os gatinhos acabam falecendo, deixando um rastro de traumas pelo caminho: Shirley precisa aceitar não só a morte dos bichinhos, mas também que às vezes a vida prega peças cruéis e que a natureza pode ser incrivelmente assustadora. E o pior de tudo: que às vezes os pais mentem e inventam histórias porque não sabem direito o que fazer.

Quando adulta, Shirley aparenta manter-se em um esforço contínuo de reprimir emoções e conflitos nela mesma e nos outros. Ela é a irmã que mais se entristece com o fato de Steve estar usando a história da família para construir sua carreira de escritor, e exige que os outros sigam o seu exemplo de não aceitar nenhuma participação nos lucros do livro. Por mais que ela constantemente julgue e acuse os outros de não estarem à altura do padrão moral que ela espera deles, descobrimos com o passar dos episódios que ela também carrega uma grande vergonha consigo (pelo menos, uma vergonha aos seus próprios olhos), um evento passado que a assombra rotineiramente, fazendo com que ela nunca se esqueça de que ela mesma não é tão rígida e inabalável em seus princípios.

Theo

Theo, apelido de Theodora, é com certeza uma das personagens mais fascinantes da trama. Enquanto seus irmãos mais novos têm muito mais consciência do que acontece de sobrenatural na mansão, Theo tem um poder próprio, inerente à sua pessoa e independente de qualquer motivo ligado à casa: ela consegue sentir e saber coisas através do toque. Consegue reviver cenas de abuso e violência apenas ao encostar em um sofá onde elas aconteceram, e consegue saber se uma pessoa está com medo, ou animada, ou dizendo a verdade, apenas através de suas mãos. Essa capacidade faz com que ela, desde criança, use luvas para se proteger de informações com as quais não consegue lidar, mas isso também é apenas mais um indício do quanto ela acaba se fechando dentro de si mesma e se impedindo de formar qualquer conexão com outras pessoas. Logo no primeiro episódio, ela vai para a cama com uma mulher que não conhece em uma boate, e se esquiva de qualquer tentativa mínima de se aproximar ou conhecer mais da moça, deixando claro que não quer se envolver nem através de algumas poucas palavras.

O dom de Theo de partilhar os sentimentos e sensações de outras pessoas acaba sendo para ela uma carga emocional extrema, que a sobrecarrega constantemente, e por isso ela prefere se distanciar completamente. Curiosamente, ela escolhe a profissão de psicóloga infantil, um trabalho que requer um grande envolvimento com o outro, e pela própria natureza da profissão, implica em uma grande sobrecarga emocional. De uma certa forma, ela se usa de suas habilidades para acessar coisas que as crianças ainda não tem linguagem ou estrutura para compartilhar sozinhas, colocando seu dom tão peculiar em bom uso.

Luke

Os dois gêmeos mais novos da família são certamente as pessoas cujas vidas e escolhas foram mais afetadas pelo contato com a casa, talvez porque tenham sido mais atingidos pelos elementos sobrenaturais da mesma na infância. Luke é um menino doce, porém frágil: ele é constantemente aterrorizado pelas aparições que o perseguem na casa, e que se mostram particularmente hostis com ele. A criatura no porão que o machuca e o gigante de chapéu que o segue por todos os cantos são exemplos de como a casa parece selecioná-lo, por ser tão pequeno e assustado, para envolver nas suas piores e mais cruéis armadilhas.

Quando o conhecemos como adulto, Luke já tem um extenso histórico de vício e passagem por diversas clínicas de reabilitação, o que se torna um grande motivo de conflito entre ele e seus irmãos mais velhos, especialmente Steve e Shirley. É devastador perceber, inclusive pelas palavras do próprio Luke, o quanto ter passado tanto tempo sentindo tanto medo contribuiu para que ele se refugiasse nas drogas, buscando uma fuga de uma realidade horrível demais para se assimilar. Independente de qualquer fantasma ou aparição maligna que possa ter feito isso com Luke, o fato é que ele passou a infância inteira morrendo de medo, contando botões para distrair a cabeça por poucos segundos do terror que o cercava, com a plena consciência de que ninguém poderia ajudá-lo, por que ninguém acreditava nele.

Nell

O que pode ser mais terrível do que perceber que você se transformou no seu pior pesadelo? Que você está preso em um ciclo interminável de sofrimento, onde todas as tragédias já aconteceram e ainda vão se repetir? Que desde criança você já estava preso a um futuro tenebroso, e que tentar escapar desse destino só pode te levar de encontro a ele?

Nellie, a gêmea de Luke, uma pessoa de natureza bondosa, gentil e inocente, é a personagem que passa por essa jornada tão difícil e melancólica. Nos primeiros episódios, percebemos que a sua versão adulta é uma alguém de quem os irmãos tentam fugir, uma pessoa perturbada de alguma forma e causadora de sérios problemas para a família. Aos poucos, porém, vamos percebendo a maneira injusta com a qual ela é tratada, tendo passado a vida toda em um estado de tensão e terror absoluto, causados pelas visões que ela tinha na casa e que a acompanharam ao longo de toda a vida adulta.

Na infância, a graciosa menina era tratada com carinho quando não conseguia dormir por conta da “Moça do Pescoço Torto”; era tida como uma criança que gostava de fantasiar, que se encantava com a sua xícara de estrelas e que imaginava algumas coisas exageradamente. Conforme ela vai crescendo, porém, sua insistência de que todas as coisas que via eram reais se torna um motivo de desconforto para a sua família, sempre questionando a sua saúde mental e a tratando como um peso incômodo, incapaz de se sustentar sozinha e de seguir em frente e superar seus problemas. Nos primeiros episódios, seguindo os acontecimentos após a morte de Nellie, percebemos o impacto que isso teve na vida de seus irmãos. Eles se culpam por não terem fornecido a ajuda de que ela precisava, tendo quase todos inclusive recusado uma ligação dela no dia em que ela morreu. No seu enterro, uma ocasião na qual foi possível juntar toda a família, algo pelo qual ela ansiava quando viva, palavras duras são trocadas e todos acabam tão absortos em seus pequenos conflitos e agressividades, que quando o caixão é derrubado por uma força invisível e o seu corpo é levado ao chão, eles por um momento se mostram conscientes de que estão ignorando o verdadeiro motivo de estarem ali: para prestar os seus respeitos à sua irmã mais nova, morta ainda muito jovem. Nesse episódio, um lindo paralelo é construído com uma noite de tempestade na Residência Hill, na qual a pequena Nellie desaparece e leva a família inteira a sair em sua procura, apenas para descobrirem que ela estava no canto da sala o tempo todo.

“Eu estava bem aqui o tempo todo! Estava gritando mas vocês não conseguiam me ver”,

a menina diz, desesperada. E é esse o papel que ela acaba desempenhando para sempre: uma pessoa que pede ajuda, que tenta ser notada, que quer que acreditem nela, mas que é sempre invisível para os outros. De um jeito ou de outro, Nellie sempre foi um fantasma, se esforçando para conseguir a atenção dos vivos.

E talvez seja por isso que a Residência Hill a escolheu ainda na infância, e quis que ela voltasse para casa, para onde ela deveria ficar para sempre, por tanto tempo. Quando ela ainda era criança, sua mãe encontrou seu nome escrito numa parede e a culpou por ter feito isso como uma brincadeira. Mais tarde é revelado que a frase inteira escrita era “Come home Nell”, uma espécie lembrete para que ela não se esquecesse nunca de que ali é o lugar onde ela pertence. Quando ela finalmente resolve enfrentar seus maiores medos e volta para a casa, é recebida com um grande baile, no qual todos os seus sonhos se realizam: sua mãe ainda está viva, seus irmãos confessam que sempre acreditaram nela, e seu marido, morto por um aneurisma, aparece para valsar com ela pelos corredores. E as palavras são finalmente mostradas por inteiro, e ela vê a mãe escrevendo na parede “Welcome home Nell”. Porque a casa a quer para si, ela é levada a acreditar nessas ilusões e é derrubada de uma pequena varanda pela mãe, que também foi absorvida pelo lugar no passado. No instante de sua morte, Nellie percebe que sempre foi a própria “Moça do Pescoço Torto”, e aparece para si mesma, olhando do outro lado, em todos os momentos de terror de sua vida, enquanto solta um grito agonizante e desconsolado. Não existia outra opção para ela: desde pequena ela iria morrer desse jeito, desde pequena seu maior pesadelo era o fantasma de si mesma. Resignada, ela aceita o seu destino de permanecer na casa, mas ainda contribui muito para que seus irmãos consigam se libertar dela.

Hugh e Olivia

Um dos aspectos mais tristes para mim nessa série é o contraste entre o passado e o futuro, entre a alegria e a esperança de quando todos eram uma família feliz morando juntos em uma nova casa, e o presente taciturno onde cada um carrega seu próprio trauma e todos mal conversam entre si. Nesse cenário, é muito desolador perceber a diferença entre os pais, antes fortes, apaixonados e carinhosos com seus filhos, e agora reduzidos a uma só unidade, que carrega uma projeção da mulher morta por aí, e é incapaz de se relacionar com o que sobrou de sua família.

Olivia, que revela em alguns momentos para as suas filhas que consegue ver as pessoas que vagam pela residência graças a um talento perceptivo único (que ela passou para todos em graus diferentes), é a primeira presa da casa, e a que é capturada com mais sucesso. Gradualmente, ela passa a acreditar nos conselhos que os fantasmas sussurram para ela, de que seus filhos estariam melhores se ficassem lá para sempre, ou seja, se ela os matasse. Uma das cenas mais devastadoras de todas, para mim, é o momento em que ela vê Luke e Nellie, ainda pequenos, contando como serão as suas vidas no futuro: ela fala que ela vai sentir uma tristeza tão grande que vai acabar morrendo, e ele diz que vai ter que colocar veneno em si mesmo para conseguir lidar com a sua dor. Como sabemos, esse é exatamente o futuro deles fora da casa. O que Olivia não sabe é que, tentando privá-los desse futuro, ela cria essa dor dentro deles, abrindo um rasgo na família que demora anos e anos para começar a cicatrizar. Completamente convencida de que o único jeito de livrá-los desse pesadelo é fazendo com que eles "acordem" para a verdadeira realidade, ou seja, o mundo interior da residência, ela elabora um plano para envenená-los, e infelizmente só consegue envenenar uma outra criança, Abigail, a filha da empregada da casa (uma criança que até o momento de sua morte, acreditamos ser um fantasma que só aparece para Luke).

Após ser interceptada pelo marido nesse exato momento, e vê-lo fugindo com seus filhos, ela se mata, permanecendo na casa para sempre, e para sempre na sua versão enlouquecida, que acredita que a morte é a única solução para salvar a família.

Hugh, que conseguiu impedir que seus filhos fossem todos assassinados pela mulher, não consegue revelar a ninguém que os fantasmas da casa são reais, e se recusa a conversar com eles sobre o que aconteceu nessa noite, por medo de que tenham a imagem da mãe manchada como uma assassina, responsável pela morte de uma criança. Dessa forma, ele deixa os filhos sem respostas, e eles se voltam contra ele, culpando-o pelo suicídio da mãe e por não ter percebido que ela precisava de ajuda. O que ele não entende é que todos eles já foram marcados pela casa, e estão suscetíveis à sua influência mesmo distantes dela pelo tempo e pelo espaço. Depois da morte de Nellie, ele percebe que deveria ter explicado as coisas para todos, deveria ter contado pra ela que sempre acreditou em tudo o que ela disse. No episódio final, quando todos retornam a casa, ele finalmente tem a chance de se redimir, e troca a sua presença pela dos filhos. Ele, como sua esposa, também comete suicídio para poder ficar com ela e com Nell permanentemente, se sacrificando para que seus filhos possam continuar com suas vidas, pois, como ele explica para Olivia, se eles ficarem lá dentro vão se proteger de todas as coisas ruins, mas também vão perder todas as coisas boas.

Após esse confronto dos irmãos com o seu passado e com a casa, temos indícios de que todos conseguem, de uma forma ou de outra, lidar um pouco com seus problemas e traumas. Luke se mantém sóbrio, Theo começa um relacionamento com a moça que antes desprezava, Shirley confessa sua infidelidade para o marido e Steve finalmente perde o medo de que a loucura seja passada adiante com seus genes, e engravida a esposa. Enquanto isso, e muitos anos e séculos depois disso, podemos imaginar que Nellie, sua mãe e seu pai estão na Residência Hill, com Abigail e tantos outros fantasmas, dançando pelos corredores e tomando chá em xícaras de boneca, existindo de outra forma, sobrevivendo à decomposição e às intempéries, para sempre.

"A maldição da Residência Hill", apesar de ser uma série de terror, com momentos que fariam qualquer um pular de susto e com diversos fantasmas escondidos no fundo, praticamente invisíveis nas cenas, acerta muito em explorar a humanidade e a complexidade dos personagens, fazendo com que consigamos nos conectar verdadeiramente com eles e partilhar de seus medos e esperanças. É uma série rica em pequenas metáforas e pequenos desdobramentos da personalidade de cada um (não é a toa que um dos jeitos da casa se prender a eles é fazer com que cada um veja o Quarto Vermelho da melhor maneira que lhe convém).

E a série, assim como o livro, acerta em não dar grandes explicações para o porque as coisas são desse jeito. Essa é uma casa que tem sentimentos e vontades como uma pessoa, e assim como existem pessoas essencialmente ruins, essa casa também é essencialmente ruim. Nenhuma explicação poderia fazer isso ter mais sentido do que já tem, e foi uma boa decisão não se enveredar por esse caminho. E apesar da casa em si ser a grande vilã da história, nunca nos sentimos realmente ameaçados por ela, e sim pelos próprios personagens, que agem de acordo com a sua influência. E é apenas por empatizarmos com eles que a produção funciona, por desejarmos que eles não sejam mais tão solitários, que eles se abram uns com os outros. Resumindo, não queremos mais que eles andem sozinhos.

Onde fica a Residência Hill?

No caso de A maldição da residência Hill, todo o cenário interno foi criado e gravado no estúdio EUE/Screen Gem Studios, em Atlanta.

O que aconteceu na Residência Hill?

Relembrando: inspirada no livro de mesmo nome publicado em 1959 por Shirley Jackson, A Maldição da Residência Hill acompanha a família Crain, que, no verão de 1992, se muda para a mansão Hill com a intenção de reformar a casa e vendê-la, para então usar o dinheiro para construir sua própria casa, desenhada por Olivia, ...

O que aconteceu com Olivia Crain?

O final de Olivia é o suicídio dentro da residência — onde todos que lá morrem, lá permanecem. Crescida órfã e tratada com cuidados não muito gentis por sua família, Nell lida com a depressão desde jovem.

Qual a ligação entre a Maldicao da residência Hill e Bly?

A Maldição da Mansão Bly não terá ligação direta com Residência Hill, garante criador. Nada de universo compartilhado para Mike Flanagan.