Caminhos para a representatividade feminina na política brasileira redação

Para Betinho, falecido sociólogo brasileiro, a sociedade só evoluirá ao se comprometer com, dentre outros aspectos, a igualdade. Todavia, tal compromisso nem sempre é efetivado no Brasil, onde tanto a falta de educação escolar sobre feminismo quanto a ausência de leis que garantam a igualdade de gênero na política causam a baixa representatividade feminina neste âmbito. Assim, é cabível discutir a problemática.

Diante disso, cabe ressaltar a ausência de leis que garantam a isonomia de gênero no espectro político brasileiro como fator do problema. É válido lembrar que a Constituição de 1891 não previa o voto feminino. Essa injustiça atrasou a politização de muitas mulheres e, com efeito, os homens dominaram a maior parte dos cargos políticos dali em diante. Isso gera, até hoje, a desvalorização profissional e social da mulher, visto que seus interesses políticos tiveram de ser postergados. Desse modo, são necessárias medidas eficazes que promovam a igualdade de gênero na política nacional.   

Ademais, a falta de educação escolar sobre o feminismo nas escolas brasileiras representa outro agravante. Para Schopenhauer, os limites do campo de visão de um homem determinam sua visão de mundo. Logo, a falta de conhecimento sobre feminismo nas escolas reforçam o machismo ao não ensinar que as mulheres são tão importantes e capazes quanto os homens. Por conseguinte, ocorre a naturalização da inferiorização da mulher, a qual, para os futuros eleitores, se torna menos capaz que um homem. Nessa perspectiva, é necessária a inclusão do feminismo como disciplina nas escolas do Brasil. 

Portanto, é imprescindível superar as causas dessa desigualdade. Nesse viés, o Poder Legislativo, aliado ao Ministério da Educação, deve tomar medidas que visem, respectivamente, a isonomia entre homens e mulheres na política brasileira e a valorização do papel da mulher na sociedade. Dessa maneira, O Poder Legislativo deve tornar obrigatório a ocupação de 50% das vagas de cargos políticos por mulheres por meio da criação da Lei da Isonomia Sociopolítica. Paralelamente, o Ministério da Educação deve criar a disciplina Feminismo Social — a ser obrigatória nas escolas de nível fundamental e médio —, formulada e ministrada por sociólogas e antropólogas por meio planos de cursos elaborados por essas. Nesse sentido, a sociedade estará mais próxima da igualdade que Betinho idealizara.

“Ação para a igualdade, o Desenvolvimento e a Paz”. Assim foi intitulada, de modo a unificar as nações de forma homogênea e tornar a democracia mundial igualitária entre homens e mulheres, a Conferência de Pequim, ocorrida no ano de 1995. No entanto, observa-se que, em território brasileiro, as propostas estabelecidas por este evento ficaram a apenas no papel, visto que há uma discrepância em relação ao número de pessoas do sexo feminino atuando na política em comparação ao masculino, causado, não apenas pelo machismo ainda presente na sociedade, mas também pela falta instruções por parte dos institutos de ensino.

Diante desse cenário, deve-se abordar a cultura machista que permeia no corpo social como um fator agravante da problemática. No livro “O sol é para todos”, escrito pela autora Harper Lee, é feita a descrição dos desafios enfrentados por uma menina frente a uma cidade em que os habitantes possuem uma visão extremamente preconceituosa. Na história, a protagonista é constantemente repreendida e influenciada a não seguir os caminhos de seu pai na política. Infelizmente, a realidade não se difere da ficção, tendo em vista que, com a propagação do pensamento histórico totalmente equivocado de que mulheres não são capazes de lidar com assuntos democráticos e que, em casos extremos de preconceito, devem apenas serem donas de casas, as mulheres se sentem desestimuladas a ingressar no ambiente político. Consequentemente, há a precarização de uma representatividade feminina em temas em que a mulher é a principal vítima, como a violência doméstica, abusos sexuais e outros inaceitáveis problemas que a nação brasileira abrange.

Além disso, a ineficácia escolar contribui diretamente para a continuação desse empecilho. Por qual motivo o voto é importante? Qual a diferença entre o sistema majoritário e proporcional? Essas são duas das diversas lacunas informativas que, mesmo que influenciem na vida de qualquer cidadão, as instituições responsáveis pela formação de cidadãos permitem que existem. Historicamente, os indivíduos são instruídos a aprender acerca do ciclo do carbono, porém não são ensinados com profundidade que votar não é somente uma obrigação, mas sim um direito como membro de um país democrata e que, ao praticar esse ato, a pessoa está decidindo o futuro de uma nação. Ademais, ensina-se sobre cada elemento da tabela periódica, entretanto não é passada nenhuma informação de que no sistema majoritário ganha-se quem possuir mais votos, enquanto no proporcional visa-se incluir grupos menores. Sendo assim, dificilmente haverá cidadãos que pretendem se relacionar com ciências políticas se durante toda a formação escolar não são estimuladas a obter pensamentos e opiniões políticas.   

Desse modo, graças à inércia institucional e ao preconceito entre gêneros, a representatividade da mulher na política continua sendo pouca ou nula e é preciso que haja intervenções. Portanto, faz-se necessário ao Poder Executivo, com auxílio do Ministério da Educação, promoverem a doutrinação nos ambientes escolares, por meio da inserção de assuntos como política básica nas grades curriculares, com o objetivo de desenvolver na nova geração o consentimento político. Outrossim, cabe ao Poder Legislativo, através do estabelecimento de novas normas, criar cotas que exigem um percentual mínimo de mulheres ocupando os cargos da legislação brasileira. Tais medidas objetivam aumentar a presença do público feminino na política nacional e tornar reais as ações promovidas pelos grandes países no século XX.