O que e a personalidade para o behaviorismo?

Di�logo com a comunidade - Jornal Sinal Verde

Volume 44 - 28/09/10

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Gostaria de saber como o Behaviorismo Radical entende o conceito de Personalidade e suas \"patologias\", como dupla personalidade, por exemplo. (pergunta enviada ao Jornal Sinal Verde por L�via Battaglini, estudante de Psicologia, de Mogi-Gua�� - SP)

Normalmente, a personalidade � entendida como um "lugar" ou uma "predisposi��o" de uma pessoa a se comportar de uma determinada maneira. A filosofia Behaviorista Radical, proposta por Skinner, vai ter uma vis�o diferente. Para o autor, a personalidade � um "sistema funcionalmente unificado de respostas" de uma pessoa.

Imagine um aluno em sala de aula. Ele ouve a professora enquanto ela explica, faz perguntas quando ela termina, tem um bom desempenho nas provas, realiza suas tarefas em grupo sem conversas paralelas etc. Caracterizar�amos essa pessoa como portadora de uma "personalidade respons�vel", certo?

� fevereiro, e esse mesmo aluno � convidado pelos amigos para uma festa de carnaval, em um clube de sua cidade. L� ele grita, dan�a, fica com v�rias garotas, d� risada, "arrepia" todo mundo. � interessante como ele n�o fala mais dos mesmos assuntos que est�vamos habituados a ouvi-lo falar: estudos, livros e avalia��es. Tamb�m n�o faz perguntas sobre geografia, nem tampouco discute aritm�tica. Ser� que ele tem "dupla personalidade"? Aposto que n�o dir�amos isso.

Quando descobrimos os determinantes do comportamento (antecedentes e consequentes), explica��es mentalistas se esvaem. Desmistifica-se a personalidade como entidade explicativa. Ela � retirada de dentro do organismo e colocada nas conting�ncias de refor�amento em opera��o. O quadro abaixo exemplifica isso:

A depender do ambiente, o aluno emite uma determinada resposta e produz refor�os positivos, os conseq�entes do quadro acima, e desta forma seu comportamento se mant�m. Caso ele come�asse a dan�ar em sala de aula e contar piadas, ele n�o seria refor�ado (sua professora poderia at� puni-lo). Falar sobre matem�tica e portugu�s tamb�m n�o chamaria aten��o dos seus amigos e garotas na festa de carnaval.

Mas porque chamamos algumas personalidades de "patol�gicas"? A resposta disso est� no dano que certos comportamentos t�m para a sociedade e para a pessoa que se comporta. Um indiv�duo que ataque os outros com uma faca ou se corte � chamado de "doente". "Como ele pode fazer isso com ele mesmo? Ele deve ser louco..." J� ouvimos muitas vezes coisas desse tipo. O comportamento � atribu�do a uma "doen�a mental" ou a um "dist�rbio de car�ter". A comunidade verbal classifica aquele tipo de comportamento como "patol�gico".

Patol�gico ou n�o, para a perspectiva comportamental, isso nada acrescenta ao que j� sabemos: aquela pessoa apresenta comportamentos autolesivos. Devemos investigar os determinantes de tal resposta para compreend�-la e, se poss�vel, modific�-la. Qual � o contexto em que ela procura uma faca? O que ocorre antes de se cortar? Quais consequ�ncias se seguem ap�s come�ar a se cortar? Respondendo tais quest�es, estaremos mais perto de entender o que mant�m esta "personalidade suicida".

Resumindo, qualquer comportamento � determinado pela hist�ria gen�tica e as conting�ncias de refor�amento atuais e passadas a que a pessoa foi exposta. "Personalidade" � vista como um conjunto unificado de respostas, que podem ser alteradas a depender das conting�ncias. Quando n�o sabemos os determinantes ambientais, tendemos a criar fic��es explicativas para o comportamento e caracteriz�-lo como anormal. Quando investigamos antecedentes e consequentes, percebemos que, dadas tais circunst�ncias, aquele era o �nico comportamento poss�vel de ser emitido.

Agrade�o ao prof. H�lio J. Guilhardi pelo apoio na constru��o da resposta. Mais sobre conting�ncias de refor�amento e terapia comportamental em: http://www.terapiaporcontingencias.com.br/perguntas.php

Alan Souza Aranha
CRP: 06/100599
Cursando Especializa��o em Terapia por Conting�ncias de Refor�amento - ITCR - Campinas

Aquela quest�o do "deu branco" (tipo, voc� estuda, estuda e estuda, chega na hora, d� aquele branco), acredito que tenha a ver com coer��o e tudo mais... Estou certa?? A pergunta � "simples": O que causa o branco? (pergunta enviada por Ana Carolina Spinello Consul - estudante de Psicologia - S�o Caetano do Sul - SP)

O comportamento de dar "branco na prova" pode ser compreendido como uma supress�o operante da resposta de resolver a prova. Se isso ocorre depois de comportamento de estudar, pode-se hipotetizar que o indiv�duo apresenta repert�rio adequado para a resolu��o da prova e por isso o "dar branco" n�o representa um d�ficit comportamental e est� sob controle de alguma outra conting�ncia. Essa situa��o pode ser compreendida a partir do modelo experimental do paradigma da ansiedade (Estes e Skinner, 1941), no qual a apresenta��o de um est�mulo pr�-aversivo � seguida por um choque inescap�vel. Nesse modelo, n�o h� respostas eficazes poss�veis para interromper o choque e, por isso, ocorre uma supress�o condicionada da resposta, ao mesmo tempo em que o organismo experiencia condi��es corporais de ansiedade. Na situa��o de "dar branco", a prova � um est�mulo pr�-aversivo, que sinaliza a possibilidade de uma puni��o (ex. tirar nota baixa, ficar de recupera��o, reprovar, repreens�o por parte dos pais). O indiv�duo que apresenta "branco na prova" provavelmente est�, tamb�m, ansioso e, em sua hist�ria de vida, aprendeu que n�o h� respostas eficazes para se esquivar da puni��o. Entretanto, em uma situa��o como essa, h� possibilidade de emitir respostas relacionadas � resolu��o da prova que podem impedir as consequ�ncias aversivas e � isso que o terapeuta deve analisar com o cliente. O indiv�duo precisa compreender que, diante do est�mulo pr�-aversivo prova, h� respostas que podem ser emitidas para alterar a probabilidade da ocorr�ncia da puni��o. As respostas poss�veis para lidar com o est�mulo pr�-aversivo s�o: 1) estudar adequadamente; 2) minimizar o significado da puni��o, flexibilizando mais os pr�prios crit�rios de autoavalia��o; 3) lidar de maneira direta com as ag�ncias de controle (pais, escola), questionando o rigor e a propriedade dos crit�rios de desempenho (exercer contracontrole); 4) ampliar seu repert�rio comportamental em outras �reas diferentes de estudo (por exemplo, praticando esportes, aumentando atividades de lazer etc), pois a riqueza de repert�rio produz uma intera��o construtiva de uma �rea sobre a outra. Todas essas mudan�as levam o indiv�duo a ser menos ansioso e a ver o mundo como menos amea�ador.

Marisa Richartz
CRP: 08/15002
Cursando Especializa��o em Terapia por Conting�ncias de Refor�amento - ITCR - Campinas/SP

Frase da Vez

Palavras bonitas e racioc�nio coerente n�o produzem uma verdade.

(H�lio Jos� Guilhardi)

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