Por que o solo do Cerrado é tão ácido?

Entenda os processos que fazem a produção nacional ser destaque no mundo

O Brasil possui 65 milhões de hectares ocupados com lavouras – dados da Embrapa de 2017. Mas, boa parte dessa excelente produção não seria possível, graças aos tipos de solos que temos em praticamente todas as regiões do país. Isso porque 70% são ácidos e em 40% deles, a produtividade das culturas está reduzida à metade. O professor do departamento de solos e engenharia agrícola da UFPR, Volnei Pauletti, explica que o solo é originado por rochas e, de acordo com o tempo de sua formação, passa por transformações feitas por agentes naturais, como temperatura e microrganismos. “Nosso clima tropical, com muitas chuvas, também colabora com a perda de nutrientes, pois a água faz o que chamamos lixiviação, ou seja, uma espécie de lavagem. Quando isso acontece, o solo fica apenas com hidrogênio e alumínio e limitam o desenvolvimento da agricultura”, conta Pauletti. Se o pH não é o ideal, a disponibilidade dos nutrientes para as plantas fica prejudicada. E o solo ácido geralmente tem baixo teor de cálcio e magnésio, nutrientes essenciais para o desenvolvimento das plantas, e alto de alumínio e manganês, que são tóxicos.

Para corrigir essa acidez, nos anos 60 e 70, pesquisadores passaram a estudar os benefícios da calagem, ou seja, uso de calcário no solo para torná-lo fértil e mais produtivo. A partir desse momento, a agricultura brasileira deu um grande salto. “Eu costumo dizer que no Brasil o calcário é o material mais nobre que a gente usa na agricultura. Sem corrigir o solo, de nada adianta a melhor semente, o melhor inseticida, melhor adubo. Nada disso terá efeito num solo ácido, que não tenha passado por correção”, afirma Pauletti.

O calcário é um produto industrializado de rochas carbonatadas, moídas e passadas em peneiras abaixo de 2 mm, que corrige a acidez do solo quando aplicado. Ao elevar o pH, o corretivo neutraliza os efeitos negativos do alumínio e manganês tóxicos e eleva a saturação de bases, garantindo os teores de cálcio e magnésio de que as plantas necessitam e aumentando a disponibilidade de fósforo e outros elementos macro e micronutrientes. A calagem também favorece o desenvolvimento do sistema radicular das plantas, potencializando os efeitos da adubação e aumentando a absorção de água. A calagem feita de forma técnica também melhora as propriedades físico-químicas e biológicas do solo, arejando e favorecendo a atividade de microrganismos.

Hoje, os cuidados com o solo garantem a longevidade das produções, trazem benefícios ambientais e econômicos e colocam o Brasil na rota dos maiores produtores e exportadores de grãos do mundo. Vale ressaltar que a orientação profissional é fundamental para a realização desses cuidados e indicação dos produtos adequados para cada tipo de solo e cultura. A primeira etapa é a amostragem de solo, feita com o engenheiro agrônomo e encaminhada a um laboratório para análise. O resultado dessa avaliação define a quantidade de calcário e adubo a ser aplicado. Além da análise e orientação, o acompanhamento de especialistas garante uma agricultura moderna e sustentável.

Estudos realizados pela ABRACAL (Associação Brasileira dos Produtores de Calcário) revelam uma necessidade de consumo de 70 milhões de toneladas de calcário corretivo de solos anuais. De acordo com o Plano Nacional de Mineração (PNM-2030) o consumo de calcário agrícola deverá crescer mais que os demais agrominerais. As projeções para a produção de calcário agrícola são da ordem de 34,1 Mt, em 2015, 54,8 Mt, em 2022, e 94,1 Mt, em 2030. Abundante em nosso país, o calcário se mostra como o principal e mais barato método para corrigir a acidez do solo. “Existem outras possibilidades, mas o produto mais nobre para isso é o calcário”, conta Pauletti, que é pesquisador de solos há 20 anos e afirma que os resultados da calagem são mais rápidos e possuem menor custo.

O cuidado principal é na correta avaliação do tipo e características do solo que será cultivado. No cerrado brasileiro, por exemplo, a quantidade de calcário é diferente do sul. Outro ponto importante é a definição da estratégia de plantio. De acordo com Volnei Pauletti, cada forma de manejo e plantio, cada tipo de solo e cada objetivo de produção pede uma estratégia diferente, que deve ser feita com profissionais especializados. “Quando o pH do solo é alterado, a disponibilidade de outros nutrientes também muda e pode afetar a produção. Por isso, o acompanhamento é fundamental”, finaliza.

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O que faz um solo ficar ácido?

A acidez do solo tem origem nas rochas que formam o solo, na interação do solo com o clima - principalmente em áreas onde a pluviosidade é elevada-, na absorção dos sais alcalinos pelas plantas cultivadas ou na reação de ácida de certos produtos utilizados na fertilização do solo.

Qual o tipo de solo do Cerrado?

Em geral, o Cerrado é composto por Latossolos, Argissolos, Neossolos e Quartzarênicos. A Embrapa os define como: Latossolos: mineral com alta permeabilidade à água que ocupa áreas de Cerrado que possuem chapadas ou vales.

Como estão caracterizados os solos do Cerrado brasileiro?

Em geral, os solos do Cerrado caracterizam-se pela predominância dos Latossolos e pela sua acentuada acidez. Ao todo, são mais de dois milhões de quilômetros de área sobre as quais ocupou-se a vegetação original do Cerrado, o que equivale a pouco mais de 22% da área do Brasil.

Por que o solo do Cerrado é considerado pobre em nutrientes?

Os Latossolos sob vegetação de cerrado são ácidos e pobres em nutrientes. Essa acidez (relacionada ao alumínio tóxico) e a escassez de nutrientes estão entre as principais causas do aparecimento do cerrado como vegetação natural, em vez de floresta (Lepsch, 2011).