Por que o Tratado de Methuen ficou conhecido como Tratado de panos e vinhos?

O Tratado de Methuen previa acordos comerciais entre Portugal e Inglaterra, sobretudo em torno da compra e venda de tecidos e vinhos.

Na passagem do século XVII para o século XVIII, Portugal estava recuperando-se da fase em que esteve sob dominação espanhola na chamada União Ibérica. O término da União Ibérica coincidiu com a descoberta de metais preciosos na colônia e, por consequência, com a possibilidade de o império português resgatar a sua pujança econômica. Ocorreu que, nesse processo, Portugal tornou-se economicamente dependente da Inglaterra, sobretudo quando sobreveio a crise política vivida no continente europeu em decorrência da Guerra de Sucessão Espanhola (1702-1714).

Durante a Guerra de Sucessão pelo trono espanhol, as principais casas aristocráticas do absolutismo europeu entraram em conflito. Foi nessa ocasião que as autoridades portuguesas acharam por bem firmar acordos econômicos com a Inglaterra. O principal acordo foi o chamado Tratado de Methuen, assinado em 1703. Esse tratado levou esse nome por ter sido o diplomata britânico John Methuen o responsável pela sua elaboração.

O Tratado de Methuen, também conhecido como Tratado de Panos e Vinhos, previa que a venda de tecidos aos portugueses seria facilitada pelos ingleses (que nessa época eram os principais detentores do monopólio sobre a manufatura de tecidos) e que, em contrapartida, a venda do vinho lusitano seria facilitada para os portugueses. Além disso, esse acordo comercial também se ajustava com acordos militares entre as duas nações. Em 1703, os ingleses firmaram um tratado militar com os portugueses com o objetivo de ganhar terreno estratégico no continente em meio à Guerra de Sucessão do trono espanhol. Como explica o pesquisador Felipe Batista, as cláusulas desse tratado militar:

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

“[…] decidiam o necessário para que o tabuleiro ibérico se transformasse em tabuleiro de guerra europeu. Fundamentalmente, os Aliados prometeram segurança naval e terrestre ao Estado português e requeriram direito de acesso aos portos lusitanos para que realizasse o desembarque das tropas, parte das quais se aliaria ao exército lusitano. Há, todavia, uma nítida diferença quanto à preocupação de qual componente das forças armadas os Tratados discutem. Enquanto o tratado triplo privilegia os compromissos defensivos relativos à guerra naval, no quádruplo, o planejamento da ação terrestre é o tema central.” [1]

O fato é que esse conjunto de medidas acordadas entre ingleses e portugueses acabou por limitar gravemente a economia lusitana, haja vista que os portugueses não podiam diversificar a sua agricultura e estabelecer acordos comerciais com outras nações, ao passo que o consumo em grande escala do tecido inglês tornava Portugal uma das nações mais endividadas da época.

Para maquiar o acúmulos de dívidas e sua falta de dinamismo econômico, Portugal aumentou a cobrança sobre o ouro extraído no Brasil por meio de medidas como a criação das Casas de Fundição, fato que provocou uma onda de revoltas na colônia. A situação econômica de Portugal só se regularizou com as reformas empreendidas pelo Marquês de Pombal décadas depois.

NOTAS:

[1] BATISTA, Felipe de Alvarenga. Os tratados de Methuen de 1703: Guerra, portos, panos e vinhos. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: Instituto de Economia, UFRJ, 2014. p. 90.

Videoaula relacionada:

Realizado em 1703 entre Portugal e Grã-Bretanha, ficou conhecido também como Tratado de Panos e Vinhos.


Por que o Tratado de Methuen ficou conhecido como Tratado de panos e vinhos?

John Methuen: diplomata inglês foi um dos responsáveis pelo tratado

O que foi

Também conhecido como Tratado de Panos e Vinhos, o Tratado de Methuen foi um acordo comercial assinado entre Portugal e Grã-Bretanha em 27 de dezembro de 1703.  Este acordo vigorou entre 1703 e 1836.

De acordo com o tratado, Portugal abriu sua economia à importação dos produtos britânicos (geralmente produtos manufaturados caros). Em contrapartida, os britânicos fizeram o mesmo, porém aos vinhos portugueses.

O nome do tratado está relacionado ao nome do embaixador inglês, John Methuen, que intermediou as negociações entre os dois países.

Principais consequências do Tratado de Methuen

- O tratado foi extremamente desfavorável à economia portuguesa, pois os ingleses puderam exportar para Portugal, e sua colônia na América (Brasil), grandes quantidades de produtos têxteis de alto valor, além de outros manufaturados. Embora os vinhos portugueses tenham entrado facilmente no mercado britânico, a diferença entre exportações e importações (balança comercial) foi amplamente favorável aos ingleses.

- A expressiva desigualdade financeira, resultante das relações comerciais (estabelecidas pelo tratado) entre Portugal e Inglaterra, aprofundou a crise econômica portuguesa.

- Favoreceu o processo de Revolução Industrial na Inglaterra, que estava em gestação, ampliando a produção têxtil deste país, assim como as exportações de manufaturados. Logo, o tratado foi amplamente favorável aos interesses econômicos britânicos.

- Aumento da dependência econômica de Portugal em relação à Inglaterra.

- Aumento da dívida externa de Portugal em relação à Inglaterra. Neste contexto, grande parte do ouro, que os portugueses retiraram do Brasil no século XVIII, foi parar na Inglaterra para cobrir estas dívidas.

- O acordo dificultou e prejudicou enormemente o desenvolvimento industrial português no século XVIII. Isto ocorreu, pois os tecidos ingleses eram produzidos com qualidade superior aos portugueses. Com as vantagens fiscais, os produtos têxteis ingleses acabaram dominando o mercado de Portugal, estagnando a indústria de manufaturados portugueses que estava em processo de gestação.

- Os produtos manufaturados ingleses chegaram também ao Brasil (que era colônia de Portugal) com preços elevados. Além de ter colaborado para a inviabilização do desenvolvimento industrial do Brasil, o Tratado de Methuen gerou dificuldades de acesso de grande parte da população brasileira (em função dos altos preços) aos produtos manufaturados, pois somente os mais ricos podiam comprar.

Por que o Tratado de Methuen ficou conhecido como Tratado de panos e vinhos?

Tratado de Methuen: bom para a Grã-Bretanha, péssimo para Portugal.


atualizado em 24/07/2020

Por Jefferson Evandro Machado Ramos
Graduado em História pela Universidade de São Paulo - USP (1994).




Você também pode gostar de:

Tratado de Methuen Temas Relacionados
  • • Pacto Colonial
  • • Tratado de Versalhes
Bibliografia Indicada

Fontes de referência:

- VICENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História Geral e do Brasil, São Paulo: Editora Scipione, 2005.


- KOSHIBA, Luiz; PEREIRA, Denise Manzi Frayse. História Geral e do Brasil. São Paulo: Editora Atual, 1998.

Porque o Tratado de Methuen ficou conhecido como Tratado de panos e vinhos?

O Tratado de Methuen, também conhecido como Tratado de Panos e Vinhos, foi assinado em 27 de dezembro de 1703. Essencialmente, este regulamentou as relações comerciais entre Portugal e Inglaterra, no que tange o comércio, justamente, de panos (por parte dos ingleses) e vinhos (por parte dos portugueses).

Por que o Tratado de Methuen também conhecido como Tratado de panos e vinhos foi prejudicial à economia portuguesa?

- O tratado foi extremamente desfavorável à economia portuguesa, pois os ingleses puderam exportar para Portugal, e sua colônia na América (Brasil), grandes quantidades de produtos têxteis de alto valor, além de outros manufaturados.

Porque o Tratado dos panos e vinhos prejudicou Portugal?

Acredita-se que os resultados do tratado foram desfavoráveis a Portugal porque os panos ingleses eram fabricados com técnica apurada, muito superiores aos produzidos pela indústria portuguesa.

Como a Inglaterra se beneficiou com o Tratado de panos e vinhos?

Contudo, o que ficou mais conhecido foram os termos comerciais do tratado, a saber: os britânicos reduziriam as tarifas de importação dos vinhos portugueses, enquanto os mesmos abririam seu mercado aos têxteis britânicos, especialmente os lanifícios, muito superiores aqueles manufaturados em Portugal.