Quais os dois elementos de um ambiente instigador ao domínio sensorial do desenvolvimento humano?

A mente é um conjunto de sensações e percepções processadas através de informações adquiridas no meio no qual o indivíduo está inserido. Assim, as interações sociais estabelecidas com o professor, com os colegas e com a equipe pedagógica possibilitam a superação das dificuldades e instigam a análise dos processos educacionais para fazer valerem as habilidades dos alunos (MARTINS, 2017).

Por essa razão, o universo da sala de aula proporciona aos profissionais que trabalham no contexto escolar a possibilidade de perceber e relacionar teorias e práticas pedagógicas embasadas nas vivências do dia a dia. Um ambiente escolar estruturado com materiais que estimulam a percepção sensorial e enriquecido com propostas de atividades prazerosas favorece o aspecto social, cognitivo e emocional dos alunos.

Tal consideração torna-se ainda mais importante ao se observarem comportamentos apresentados por alunos com traços característicos do Transtorno do Espectro Autista (TEA), como isolamento social, problemas na comunicação e movimentos estereotipados, entre outros (LEMOS 2017). Estes passam a ser o desafio na formação desse aluno, visto que é própria desse transtorno a alteração comportamental no que se refere ao campo emocional da criança.

Alguns autores como Bosa (2006), Gadia (2016), Gómez e Teran (2013), Lemos (2017), Lima (2016) e Marques (2010) ressaltam outros comportamentos significativos para observação e investigação, como apatia e desinteresse pelas pessoas, dificuldade ao ser abraçado ou ao receber mimos, constante presença ou total ausência de choro, problemas com a alimentação, alteração no sono, surdez aparente e falta de desenvolvimento de padrões de comunicação prévia à linguagem, bem como o não estabelecer contato visua Assim sendo,
torna-se necessária uma observação estruturada com instrumentos próprios para o desenvolvimento sensorial da criança no contexto escolar, por meio da análise de seu comportamento sensorial, num ambiente apropriado para a estimulação e modulação desse referido comportamento.

Observando, na atualidade, indivíduos diagnosticados com TEA, percebe-se que as impressões do mundo e do corpo não são captadas e internalizadas do mesmo modo que nos indivíduos típicos.
Nas fases do desenvolvimento infantil, os sentidos tátil, vestibular e proprioceptivo são responsáveis pelas informações ao corpo sobre o próprio corpo, e os sentidos da visão, da audição, do olfato e do paladar coletam informações sobre o mundo externo ao indivíduo (CUNHA, 2014). Segundo Serrano (2016), os sentidos corporais são os responsáveis pela captação das sensações percebidas pelos seus órgãos, e a integração sensorial inconscientemente organiza essas sensações dando significado ao que vivemos e experienciamos através das informações recebidas do mundo ao redor.

De acordo com Lira (2014), a integração sensorial no ambiente escolar é bem estimulada e trabalhada quando os professores desenvolvem atividades que envolvem a integração da percepção visual, auditiva e proprioceptiva, como bater palmas e quando a propriocepção e a visual se completam, como pegar e largar um objeto. Além destas, também em atividades nas quais o sistema vestibular e o proprioceptivo se integram como pular e correr, e nas atividades que possibilitam a integração das sensações auditivas, percepção visual e proprioceptivo (produção da fala e linguagem).

A integração sensorial foi caracterizada pela primeira vez pela Dra. Jean Ayres, terapeuta ocupacional, psicóloga educacional e neurocientista, a qual definiu o termo como “o processo neurológico que organiza a sensação do próprio corpo e do ambiente, e torna possível usar o corpo eficientemente no meio.” (SERRANO,2016).
Os estudos da Dra. Ayres comprovaram que “quando o processamento das informações ocorre de maneira harmoniosa, o comportamento emitido é adequado ao contexto, e a aprendizagem ocorre sem intercorrências.”(MOMO,2011). Porém, quando são observados comportamentos inadequados às situações, caracteriza-se a imaturidade do Sistema Nervoso Central (SNC) e,como consequência, a habilidade de processar e organizar as informações torna-se totalmente deficitária.

Segundo Serrano (2016), os fatores essenciais para a maturação e consequentemente a aprendizagem estão comprometidos nas crianças autistas, pois essas não são capazes de registrar, interpretar e organizar as informações sensoriais necessárias às respostas ao meio social. Referenciando a mesma autora, o registro sensorial, o estado de alerta para a informação, a modulação sensorial, a discriminação sensorial, as competências motoras, a práxis e a organização do comportamento compõem a integração sensorial a qual auxilia os professores a entender o desenvolvimento dos alunos.

Um ambiente escolar idealizado com atividades sensoriais e lúdicas favorece a praxia, a qual envolve habilidades no desempenho das atividades, a capacidade de formar ideias e transformá-las em ações, o planejar e o agir. As atividades lúdicas formam base para a imitação, resolução de problemas e organização de comportamento. Ao brincar, o processamento sensorial das crianças recebe estímulos, os quais são modulados através da atenção, do controle do stress e da tolerância e responde ao seu exterior com a discriminação das habilidades, ideação, planejamento e execução (MOMO,2011).

O ambiente escolar preparado com experiências sensoriais serve de apoio para a construção de ferramentas específicas para o processo de aprendizagem e de comunicação. (CABRAL e MARIN, 2017). Nesse ambiente, as vivências estabelecem uma rede de relações permeadas pela rotina, rituais e inter ação com materiais e móveis que permitem segundo Horn ( 2004), ao aluno autista internalizar fatores essenciais para o desenvolvimento sensorial, motor e cognitivo.

LIZIANE PINHO BERTOLLI KRIGER

Pedagoga- Psicopedagoga Especialista em TEA e Educação Especial

REFERÊNCIAS:

BOSA, Cleonice Alves.Autismo: intervenções psicoeducacionais. Revista Brasileira de Psiquiatria = Journal of Psychiatry. V. 28, supl.1 p. 47-53. Disponível em <<www.scielo.br/scielo.php?pid=s1516-44462006000500007>> Acesso em 08/12/2018.

CABRAL, Crisitiane Soares e MARIN, Angela Helena.Inclusão escolar de crianças com transtorno do espectro autista: uma revisão sistemática da literatura. Disponível em << http://dx.doi.org/10.1590/0102-4698142079>> Edu. Ver. V. 33. Belo Horizonte 2017.Epub 06-Abr-2017.Versão impressa ISSN 0102-4698 versão on-line ISSN 1982-6621.Acesso em 08/12/2018.

CUNHA, Eugenio.Autismo e Inclusão: psicopedagogia práticas educativas na escola e na família.5 ed. Rio de Janeiro. Wak Ed. 2014.

GADIA, Carlos. Aprendizagem e Autismo.Transtornos da Aprendizagem-abordagem neurobiológica e multidisciplinar. Rotta,N. T. ; Ohlweiler, Lygia e Riesgo, Rudimar dos Santos.( organizadores). Porto Alegre. Artmed. 2016.

GÓMEZ, Ana Maria Salgado; TERÁN, Nora Espinosa. Transtornos de aprendizagem e autismo. UE. Grupo Cultural S.A. 2014.

HORN, Maria da Graça Souza. Sabores, cores, sons, aromas. A organização dos espaços na Educação Infantil.Porto Alegre. Artmed.2004

LEI Nº 13.146, DE6 DE JULHO DE 2015.Disponível em<<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm >>

LEMOS EmellyLima de Medeiros; SALOMÃO, Nádia Maria Ribeiro; AGRIPINO –RAMOS, Cibele Shirley . Inclusão de crianças autistas: um estudo sobre interações sociais no contexto escolar.Publicado em 2014. Disponível em<<http://dx.doi.org/10.1590/S1413-65382014000100009>> Revista Brasileira de Educação Especial. V.20. Marília, São Paulo.Apr/June 2014.

LIMA, Stéfanie Melo e LAPLANE, Adriana Lia Friszman de. Escolarização de alunos com autismo. Publicado em 2016. Disponível em <<http://dx.doi.org/10.1590/S1413-65382216000200009. >> Revista Brasileira de Educação Especial. V. 22. Nº 2. Marília, S.P. Apr/June 2016. Acesso em 20/05/2018 às 22h02min.

LIRA, Aureanne Villanova de Araujo Pierre. Noções de integração sensorial na escola-orientações para inclusão. Publicado em 2014. Disponível em: <> Acesso em 07/09/2018 às 10h22min.

MARQUES, Raphaela Queiroz. A Psicomotricidade no autismo infantil: trabalhando o corpo por meio da estimulação sensorial. Psicomotricidade na saúde. Ferreira & Heinsius ( organizadores). Rio de Janeiro. Wak Editora. 2010

Quais são os dois elementos de um ambiente instigador ao domínio sensorial do desenvolvimento humano?

A resposta correta é a letra D porque um ambiente instigador deve proporcionar a livre experimentação, a criação e a imaginação das crianças.

O que é um ambiente instigador do desenvolvimento infantil?

Significado de Instigador Que provoca excitação; que desperta ou estimula: filme instigante. Qualidade daquilo que provoca; danador.

Quais aspectos os ambientes construídos para as crianças e para o seu desenvolvimento devem promover?

Todos os ambientes construídos para crianças deveriam atender cinco funções relativas ao desenvolvimento infantil, no sentido de promover: identidade pessoal, desenvolvimento de competência, oportunidades para crescimento, sensação de segurança e confiança, bem como oportunidades para contato social e privacidade.

Qual a alternativa que apresenta corretamente os domínios do desenvolvimento infantil?

Resposta. Socioemocional, linguístico e sensório-motor.