Quais são os exemplos de adaptações que os animais da caatinga possuem para evitar a desidratação?

Quais são os exemplos de adaptações que os animais da caatinga possuem para evitar a desidratação?

Quais são os exemplos de adaptações que os animais da caatinga possuem para evitar a desidratação?

Fauna

Engana-se quem tem a visão da Caatinga como um conjunto de paisagens homogêneas, com pouca vida e diversidade. Sim, há paisagens de agreste, com terras secas e escassez de água, como mais frequentemente aparece na mídia, mas também há terras altas, frias, com mais água, assim como plantas de grande porte. O bioma possui diferentes fitofisionomias, cada qual com sua riqueza e belezas. Sua fauna é surpreendente, diversa e singular, composta por aproximadamente 1.307 espécies animais¹, dentre as quais 327 são exclusivas do bioma².

As peculiaridades da Caatinga fizeram com que, ao longo da história da evolução do bioma, os animais ali presentes apresentassem adaptações necessárias a sua sobrevivência. Adaptar-se às condições climáticas é a principal estratégia e que pode se dar em diferentes níveis, seja em termos evolutivos ou mesmo comportamentais. Por exemplo, muitos deles apresentam o hábito de se esconder do sol durante o dia, de fazer migrações no período mais intenso da seca, possuem uma couraça mais resistente à perda de água, dentre outras estratégias³.

Nessa região árida há o registro de 178 espécies de mamíferos, 590 de aves⁴, 116 de répteis⁵, 51 de anfíbios e 240 de peixes⁶. Embora o número de espécies pareça pequeno diante dos demais biomas, na Caatinga há um alto grau de endemismo e de espécies altamente adaptadas para sobreviverem nas condições de clima semiárido e com pouca disponibilidade de água. Esse é o habitat de mamíferos como: tamanduá-mirim, veado catingueiro, tatu-bola, onça-parda, jaguatirica, gato-mourisco, raposa, catitu etc. Dentre as aves destacam-se, além da famosa asa branca, símbolo do Sertão, o corrupião, o galo-de-campina, periquito-do-sertão, o canário-da-terra, o cancão e algumas ameaçadas de extinção, como a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) e arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari), em consequência do tráfico de animais silvestres.

Muitos peixes possuem também adaptações ao clima, conseguindo adiar a postura de ovos para o período das chuvas, por exemplo. Os répteis englobam espécies como lagartos, serpentes, tartarugas e jacarés, muitas delas com adaptações e hábitos que permitem sua sobrevivência. Dentre elas destaca-se o jacaré-coroa, ameaçado de extinção, a iguana, a cobra caninana e a jararaca-da-seca. No grupo dos répteis, vale lembrar que os dinossauros estiveram presentes no bioma, cujas pegadas e outros vestígios podem ser encontrados nos sítios arqueológicos, como o Monumento Natural Estadual Vale dos Dinossauros, em Sousa/ PB; e os localizados nas bacias do Araripe (CE-PE-PI), do Rio do Peixe (PB) e do Recôncavo Tucano Jatobá (BA).

Já os anfíbios, grupo de animais com grande necessidade de água, também são encontrados no bioma. Espécies como o sapo-guardinha, conhecido por ter grande tolerância a altas temperaturas, o sapo-boi, a perereca-de-capacete-da-Caatinga, e o sapo-cururu (maior espécie de sapo encontrada no nordeste). Dentre os anfíbios, chamam a atenção os sapos da espécie Pleurodema diplolistris, que ficam enterrados sem acesso a água e alimentos, durante o período das secas, de 10 a 11 meses por ano – processo chamado de estivação. Esse feito, contraria ao que costuma ocorrer com a maioria dos animais, que têm seu metabolismo aumentado com altas temperaturas e diminuído em baixas temperaturas. Por isso, o comportamento desse tipo de sapo é alvo de pesquisas, que buscam entender como essa espécie consegue diminuir o metabolismo ao ponto da inatividade, mesmo como ambiente desfavorável para isso⁷.

Na Caatinga, os invertebrados compõem um grupo especial, vasto e pouco conhecido. Eles são a base da cadeia alimentar no bioma, polinizam as plantas e servem de alimento para anfíbios, répteis, aves e pequenos mamíferos. Nesse grupo, merecem destaque as abelhas da Caatinga, que somam ao menos 187 espécies⁷, as quais possuem características bem peculiares, com diversas delas consideradas endêmicas e raras, e com interações específicas com sua flora. Um exemplo é a abelha conhecida como jandaíra (Melipona subnitida), encontrada no norte do Rio São Francisco, principalmente no Rio Grande do Norte e Ceará, cujo mel é bastante apreciado como alimento e usado na medicina popular pelas populações rurais⁹

Muito embora o bioma tenha uma rica diversidade de animais, inúmeras espécies se encontram ameaçadas de extinção, como a onça-parda, o tatu-bola e o soldadinho do Araripe. Foram contabilizadas ao menos 125 espécies ameaçadas de extinção no bioma¹, que considerando o elevado grau de endemismo da região, é tida como uma alta taxa. Como preconiza a canção de Luiz Gonzaga, “até mesmo a asa branca, bateu asas do sertão”, infelizmente, a exploração humana e o manejo inadequado da terra vêm afetando de forma crescente essa rica e peculiar biodiversidade.

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Flora

Andar pela Caatinga pode ser uma experiência bem diferente daquela que vemos nos filmes sobre o Sertão. Muito embora haja o imaginário de um agreste único, com aquele aspecto seco, árido e espinhoso, o bioma é mais rico do que se costuma imaginar. Mesmo com o clima semiárido, podem ser encontradas paisagens distintas e uma riqueza de espécies da fauna e flora que conferem ao bioma uma beleza única. Por vezes, é possível encontrar em meio à aridez, regiões chamadas de brejos – verdadeiras ilhas de umidade, solos férteis e com mais biodiversidade. Geralmente perto de regiões mais altas e de serras, onde chove mais e de onde originam nascentes de rios que correm no bioma.¹⁰

Em geral, a flora da Caatinga tem características peculiares, apresentando uma estrutura adaptada às condições áridas, por isso são chamadas xerófitas, o que as permite resistir ao clima quente e à pouca quantidade de água. São características como: folhas miúdas, cascas grossas, espinhos, raízes e troncos que acumulam água, que são estratégias tanto para evitar a evapotranspiração intensa quanto para possibilitar o armazenamento de água. As espécies conseguem, assim, lidar com os meses de seca, rebrotando completamente após as primeiras chuvas. Por isso, a vegetação da Caatinga tem aspectos bem diferentes durante o período seco e o chuvoso.

Há cerca de 1.000 espécies vegetais no bioma, dentre as quais 318 são endêmicas, e onde se destacam plantas como cactos (mandacaru, xique-xique e facheiro), bromélias e leguminosas (catingueiras, juremas e anjicos)³. Árvores que armazenam água, como a barriguda e o umbuzeiro, também fazem parte dessa rica flora.

Embora pouco conhecidos, os frutos da Caatinga possuem uma abundância de sabores e cores, e são fonte importante de nutrição. Servem de alimento tanto para os seres humanos como para os animais, dentre eles destacam-se: umbuzeiro, o juazeiro, o umarizeiro, a quixabeira, o mandacaru, o maracujá-da-Caatinga, o cajueiro, o jenipapo e a palmeira licuri. É uma delícia tomar uma cajuína bem geladinha e comer um doce de umbu. Veja no site Cerratinga algumas possibilidades deliciosas com frutos do bioma.

Na Caatinga os cactos têm muitos usos. A coroa de frade, por exemplo, é usada para fins medicinais, na alimentação, como ingrediente para fazer bolos, doces e biscoitos, e mesmo como planta decorativa, por sua beleza peculiar. Já o mandacaru, presente na música de Luiz Gonzaga “mandacaru quando flora na seca, é o sinal que a chuva chega no sertão…”, além de fonte de poesia e música, é utilizado como nome de sítios, povoados, bairros e mesmo cidades. Essa planta ornamental, após ser processada, é também, no período de longas estiagens, um dos poucos recursos disponíveis que servem para a alimentação dos animais.

Denominada por Euclides da Cunha como a “árvore sagrada do sertão”¹¹, o umbuzeiro é outra planta de destaque no bioma. Ela é versátil, pois dela pode-se aproveitar os frutos, tanto in natura quanto beneficiados (dos quais se faz suco, sorvete, geleias e doces); suas flores são apreciadas pelas abelhas; e suas raízes acumuladoras de água são usadas na culinária e na medicina popular. Enfim, há uma extensa lista de plantas da Caatinga, cujas folhas, cascas, raízes, flores, frutos e sementes são utilizados no preparo de alimentos, ração (para criação de gado, bodes, ovelhas etc.) e remédios, como a catingueira, o jerico, o angico, a aroeira, a baraúna, a catingueira e a imburana de cheiro. A Caatinga ainda abriga espécies raras e de grande valor como o ipê roxo, o cumaru, a carnaúba e a aroeira.

A rica flora é também fonte de alimento e abrigo para as abelhas nativas de grande relevância para a conservação do bioma. As abelhas possuem relação direta com a conservação, pois são um dos agentes mais importantes para a polinização, manutenção da qualidade dos ecossistemas e, consequentemente, da qualidade de vida de todas as espécies. O Guia de Plantas visitadas por abelhas na Caatinga¹² apresenta um total de 81 espécies nativas, dentre árvores, arbustos e subarbustos, herbáceas e trepadeiras, que podem ser usadas nos jardins para essas polinizadoras.

Como bem disse Patativa do Assaré, “Pra gente aqui sê poeta […] basta vê no mês de maio, um poema em cada gaio e um verso em cada fulô”, assim é o sertão e suas plantas. Um bioma que apresenta suas riquezas para todos aqueles que as sabem ver.

Referências:
(1) ICMBio. Livro Vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção. Brasília, DF: ICMBio/MMA, 2018. Disponível em <www.icmbio.gov.br/portal/component/content/article/10187>. Acesso em 21 jan. 2020.
(2) Curiosidades sobre a Caatinga. WWF-Brasil. Disponível em <www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/biomas/bioma_Caatinga/bioma_Caatinga_curiosidades/>. Acesso em 21 jan. 2020.
(3) EMBRAPA. Preservação e uso da Caatinga / Embrapa Informação Tecnológica; Embrapa SemiÁrido. – Brasília, DF : Embrapa Informação Tecnológica, 2007. 39 p. : il. – (ABC da Agricultura Familiar, 16). Disponível em <ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/11949/2/00081410.pdf>. Acesso em 21 jan. 2020.
(4) Contexto, Características e Estratégias de Conservação. Caatinga. Ministério do Meio Ambiente. Disponível em <www.mma.gov.br/biomas/Caatinga/item/191.html>. Acesso em 21 jan. 2020.

(5) SENA, Liana Mara Mendes de. Conheça e conserve a Caatinga – O bioma Caatinga. Vol. 1. Fortaleza: Associação Caatinga, 2011. 54 p. Disponível em <www.terrabrasilis.org.br/ecotecadigital/images/abook/pdf/2sem2015/novembro/Nov.15.33.pdf>. Acesso em 21 jan. 2020.
(6) ROSA, Ricardo. A Diversidade e conservação dos peixes da Caatinga. Universidade Federal da Paraíba. Disponível em <ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/18278/1/Caatinga3.pdf>. Acesso em 21 jan. 2020.
(7) GUIMARÃES, Maria. Na enxurrada seca. Pesquisa Fapesp. Ed. 169. Mar. 2010. Disponível em <Pesqrevistapesquisa.fapesp.br/2010/03/27/na-enxurrada-seca/>. Acesso em 21 jan. 2020.
(8) LEAL, Inara R.; TABARELLI, Marcelo; SILVA, José Maria Cardoso da. Ecologia e conservação da Caatinga. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2003. 822 p. Disponível em <www.mma.gov.br/estruturas/203/_arquivos/5_livro_ecologia_e_conservao_da_Caatinga_203.pdf>. Acesso em 21 jan. 2020.
(9) Fortaleza do Mel de Abelha Jandaíra. Sloow Food Brasil. 29 de mar. 2017. Disponível em <www.slowfoodbrasil.com/fortalezas/fortalezas-no-brasil/1174-fortaleza-do-mel-de-abelha-jandaira>. Acesso em 21 jan. 2020.
(10) Caatinga. WWF-Brasil. Disponível em <www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/biomas/bioma_Caatinga/>. Acesso em 21 jan. 2020.
(11) CUNHA, Euclides da. Os Sertões. São Paulo: Três, 1984 (Biblioteca do Estudante). Disponível em <www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraDownload.do?select_action=&co_obra=1800&co_midia=2>. Acesso em 21 jan. 2020.
(12) MAIA-SILVA, Camila; SILVA, Cláudia Inês da; HRNCIR, Michael; QUEIROZ, Rubens Teixeira de; IMPERATRIZ-FONSECA, Vera Lucia. Guia de plantas visitadas por abelhas na Caatinga. Fortaleza, CE: Editora Fundação Brasil Cidadão, 2012. Disponível em <https://www.mma.gov.br/estruturas/203/_arquivos/livro_203.pdf>. Acesso em 21 jan. 2020.

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Notícias sobre o bioma Caatinga

Quais as adaptações dos animais da Caatinga?

A fauna da Caatinga possui grande diversidade, com espécies encontradas apenas neste bioma. Muitos animais desenvolveram habilidades para sobreviver a grandes estiagens, como mudança para hábitos noturnos, aceleração da reprodução durante o período chuvoso, migrações sazonais e capacidade de dormência durante a seca.

Como sobrevivem os animais na Caatinga?

inatividade. Durante essa época de seca, quando se anda pela Caatinga, se encontram menos animais por aí. Na verdade, tem uma quantidade muito grande de animais que se encontra debaixo da terra, com metabolismo reduzido. São milhares de indivíduos de diversas espécies que estão aguardando as chuvas.

Como os animais e vegetais são adaptados para viver na Caatinga?

A Caatinga apresenta um clima quente e seco e um solo raso e pedregoso, assim, a vegetação dessa região apresenta adaptações contra a perda de água, como a perda de suas folhas na seca e a presença de espinhos.

São adaptações contra a perda de água?

Dentre as formas de adaptações para ambientes com pouca água, podemos observar diferentes tipos de excretas, mudanças no tegumento (revestimento corporal), diferentes metabolismos e estratégias reprodutivas.