Show SintomasOs sintomas da DPOC são a falta de ar e a tosse crónica, com ou sem expetoração. Ao longo do tempo, também podem ocorrer fadiga, anorexia e perda de peso. Uma característica fundamental da doença são os períodos de sintomas agravados, chamados exacerbações. Estas podem ser desencadeadas por infeções ou pela exposição a níveis elevados de poluição do ar. Os sintomas da DPOC agravam-se ao longo do tempo e as exacerbações podem acelerar este declínio. As pessoas com DPOC muitas vezes sofrem de outras doenças, chamadas comorbilidades. Estas doenças podem partilhar fatores de risco semelhantes, como o tabagismo, e muitas vezes contribuem para a gravidade da doença. As doenças mais frequentes que ocorrem conjuntamente com a DPOC incluem a doença cardíaca, ansiedade e depressão, osteoporose, refluxo gastroesofágico, disfunção musculoesquelética, anemia, cancro do pulmão, diabetes e síndrome metabólica. CausasA DPOC é causada por fatores que desencadeiam a inflamação dos pulmões. Incluem: FUMAR TABACOEste é o principal fator de risco para a DPOC. Cerca de 40-50% dos fumadores ao longo da vida irão desenvolver DPOC, em comparação com 10% das pessoas que nunca fumaram. Nem todos os fumadores irão desenvolver a doença, o que sugere que a genética também desempenha um papel em tornar algumas pessoas mais suscetíveis do que outras. EXPOSIÇÃO OCUPACIONALCerca de 15-20% dos casos de DPOC estão associados a exposições ocupacionais a poeiras, substâncias químicas, vapores ou outros poluentes transportados pelo ar no local de trabalho, que podem desencadear a DPOC. Saiba mais sobre os fatores de risco ocupacional. OPOLUIÇÃO DO AR INTERIOR E EXTERIORAs pessoas com DPOC encontram-se em risco elevado de agravamento dos sintomas, com níveis elevados de poluição do ar exterior. A poluição do ar interior devido à utilização de combustíveis de biomassa para cozinhar e para o aquecimento também é um fator de risco para o desenvolvimento de DPOC. Saiba mais sobre a poluição do ar exterior e interior. SOCIOECONOMIC STATUSA investigação mostrou que o risco de desenvolver DPOC está associado a níveis educacionais e de rendimentos mais baixos. Os peritos pensam que isto se deva a fatores como a nutrição, sobrelotação e poluição do ar. FATORES AMBIENTAIS E NA PRIMEIRA INFÂNCIAAs infeções pulmonares na primeira infância e as mães fumadoras são fatores de risco importantes para a DPOC. FATORES GENÉTICOSA constituição dos genes de uma determinada pessoa pode significar que é mais suscetível a desenvolver DPOC. O problema genético relacionado com a DPOC mais investigado é uma doença chamada deficiência de alfa-1 antitripsina; é uma doença hereditária na qual as pessoas têm falta de uma proteína chamada alfa-1 antitripsina. PrevençãoA identificação dos fatores de risco e a prevenção da exposição a esses fatores é o passo mais importante na prevenção da doença. Inclui:
TratamentoA DPOC é diagnosticada através de um teste de espirometria. Este teste envolve respirar para um dispositivo chamado espirómetro, que mede a quantidade de ar nos pulmões e a rapidez com que a pessoa consegue expirar. Se o teste mostrar que a quantidade de ar que a pessoa expira é baixa, isso pode indicar um estreitamento das vias respiratórias e as fases iniciais da DPOC. Não há nenhuma cura conhecida para a DPOC, mas esta pode gerir-se eficazmente para aliviar o impacto dos sintomas na qualidade de vida. A gestão da doença inclui:
As pessoas com DPOC podem ser referenciadas para programas de exercícios, chamados reabilitação pulmonar. Estes centram-se em melhorar a capacidade da pessoa para fazer exercício e em educar para ajudar a pessoa a gerir a sua própria doença. ResumoEste estudo objetivou identificar os fatores associados à Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) em idosos não institucionalizados. Trata-se de um estudo transversal conduzido a partir de inquérito domiciliar, seguido de espirometria. Pessoas com diagnóstico de DPOC foram comparadas com outras com espirometria normal, por meio de análises bivariadas seguidas de análise de regressão multivariada. Foram identificados 53 idosos com DPOC. Após análise multivariada, foram identificados os seguintes fatores associado à DPOC: tabagismo pregresso ou atual (OR:3,74; IC95%:1,65-8,46), presença de catarro como sintoma respiratório (OR:4,92; IC95%:2,03-11,95), oximetria de pulso em repouso ≤ 90% (OR:8,74; IC95%:1,27-60,07) e autorrelato de asma (OR:3,41; IC95%:1,01-11,57). Os resultados revelam fatores associados que destacam a necessidade de revisão dos critérios de seleção dos pacientes de risco para DPOC entre idosos. Palavras-chave AbstractThis study aimed to identify factors associated with Chronic Obstructive Pulmonary Disease (COPD) among non-institutionalized elderly people. It involved a cross-sectional study conducted on the basis of a household survey, followed by spirometry. People diagnosed with COPD were compared with those with normal spirometry, through bivariate analysis, followed by multivariate regression analysis. We identified 53 elderly people were identified with COPD. After multivariate analysis, the following factors associated with COPD were identified: past or current smoking (OR: 3.74; 95% CI: 1.65-8.46), presence of chronic sputum (OR: 4.92; 95% CI: 2.03-11.95), pulse oximetry at rest ≤ 90% (OR: 8.74; 95%CI: 1.27-60.07), self-reported asthma (OR: 3.41; 95% CI: 1.01-11.57). The results reveal associated factors that highlight the need to review the selection criteria for patients at risk of COPD among the elderly. Key words IntroduçãoDoença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é uma causa frequente de morbidade e mortalidade mundialmente conhecida11. Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD). Global strategy for the diagnosis, management and prevention of chronic obstructive pulmonary disease. [cited
2014 Apr 15]. Available from: www.goldcopd.org Na América Latina, alguns estudos descrevem
uma importante prevalência da doença e reiteram a importância de identificação de fatores de risco associados, fazendo referência ao subdiagnóstico55. Moreira GL, Manzzano BM, Gazzoti MR, Nascimento AO, Perez-Padilha R, Menezes AMB, Jardim JR. PLATINO, estudo de seguimento de nove anos sobre DPOC na cidade de São Paulo: o problema do subdiagnóstico. J Bras Pneumol 2013; 40(1):30-37.–77. Queiroz MC, Moreira
MA, Rabahi MF. Underdiagnosis of COPD at primary health care clinics in the city of Aparecida de Goiania, Brazil. J Bras Pnemol 2012; 38(6):692-699.. Dentre os fatores de risco classicamente discutidos como associados à DPOC, destacam-se o tabagismo atual ou prévio e a exposição à fumaça, como a de fogão de lenha e carvoeira11. Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD). Global strategy for the diagnosis, management and
prevention of chronic obstructive pulmonary disease. [cited 2014 Apr 15]. Available from: www.goldcopd.org É importante destacar que, muitas vezes, os sintomas da doença não são valorizados e há uma progressiva gravidade da obstrução ao fluxo aéreo, que pode ser determinada pela medida, na espirometria, do volume expiratório final forçado no primeiro segundo pós-broncodilatador (VEF1%-PBD)99. Espinosa Monteros MJ, Pena C, Soto Hurtado EJ, Jareno J, Miravitlles M. Variability of respiratory symptoms in severe COPD. Arch de Bronconeumol 2012; 48(1):3-7.. No idoso, outros fatores também são citados como possíveis complicadores e aumentam a mortalidade associada à DPOC. São eles o estado nutricional, a reduzida capacidade para realizar exercícios físicos e a presença de doenças crônicas, como osteoporose, doenças cardiovasculares, diabetes mellitus e depressão22. Incalzi RA, Scarlata S, Pennazza G, Santonico M, Pedone C. Chronic Obstructive Pulmonary Disease in the elderly. Eur J Intern Med 2014; 25(4):320-328.. É importante destacar ainda que, na população idosa, a presença de alterações cardiovasculares, osteoarticulares e neurológicas podem tornar os sintomas da DPOC subclínicos, como consequência das limitações nas atividades físicas, ou por sobreposição dos sintomas semelhantes presentes também em outras doenças crônicas. Frente ao subdiagnóstico da DPOC no idoso, destaca-se a necessidade de novos estudos para este grupo22. Incalzi RA, Scarlata S, Pennazza G, Santonico M, Pedone C. Chronic Obstructive Pulmonary Disease in the elderly. Eur J Intern Med 2014; 25(4):320-328.. Os trabalhos publicados no Brasil sobre DPOC foram realizados em capitais e cidades com população acima 500.000 habitantes77. Queiroz MC, Moreira MA, Rabahi MF.
Underdiagnosis of COPD at primary health care clinics in the city of Aparecida de Goiania, Brazil. J Bras Pnemol 2012; 38(6):692-699.,1010. Menezes AM, Perez-Padilla R, Jardim JR, Muiño A, Lopez MV, Valdivia G, Montes de M, Talamo C, Hallal PC, Victora CG. Chronic obstructive pulmonary disease in five Latin American cities (the PLATINO study): a prevalence study. Lancet 2005; 366(9500):1875-1881.. São escassos os
dados sobre DPOC no interior do país. A região norte de Minas Gerais apresenta características sociodemográficas e culturais que contemplam fatores de risco para DPOC, como uso doméstico de fogão de lenha1111. Hu G, Zhou Y, Tian J, Yao W, Li J, Li B, Ran P. Risk of COPD from exposure to biomass smoke: a metaanalysis. Chest 2010; 138(1):20-31. e população numerosa de idosos, já que a idade é um fator de risco isolado para
DPOC11. Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD). Global strategy for the diagnosis, management and prevention of chronic obstructive pulmonary disease. [cited 2014 Apr 15]. Available from: www.goldcopd.org MétodosTrata-se de estudo transversal, no qual os participantes foram selecionados aleatoriamente por meio de inquérito epidemiológico domiciliar, como parte de um estudo sobre as condições de saúde do idoso no norte de Minas Gerais. A seleção dos indivíduos foi realizada dentro de uma análise ampliada das condições de saúde de idosos do município. Numa etapa inicial a seleção foi por amostragem aleatória em dois estágios. No primeiro estágio, utilizou-se como unidade amostral o setor censitário sendo selecionados aleatoriamente 42, entre os 362 setores urbanos do município. No segundo estágio, definiu-se o número de domicílios segundo a densidade populacional de indivíduos com idade ≥ 60 anos. Nesta etapa, o cálculo do número de domicílios a serem sorteados foi feito com base na média esperada de idosos por domicílio (razão pessoas/domicílio), ou seja, os setores com maior número de idosos tiveram mais domicílios alocados, de forma a produzir uma amostra mais representativa. Foram excluídos idosos cujos cuidadores/familiares avaliaram como incapazes para responderem as perguntas. Para a entrevista foi utilizado um formulário com questões de instrumentos previamente validados1010. Menezes AM, Perez-Padilla R, Jardim JR, Muiño A, Lopez MV, Valdivia G, Montes de M, Talamo C, Hallal PC, Victora CG. Chronic obstructive pulmonary disease in five Latin American cities (the PLATINO study): a prevalence study. Lancet 2005; 366(9500):1875-1881.,1212. Brasil. Mistério da Saúde (MS). Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Vigitel Brasil 2010: vigilãncia de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. Brasília: MS; 2011. que foi aplicado por equipe composta por três enfermeiras especialmente treinadas, visando identificar os indivíduos que preenchiam os critérios de seleção: 60 anos ou mais, tabagismo ou exposição à fumaça, com sintoma respiratório de tosse, chiado ou falta de ar. Foram identificados 403 idosos com os referidos critérios, a partir de uma amostra prévia de 686 idosos, e todos foram convidados a comparecer em ambulatório especializado para avaliação da função pulmonar, coleta dos dados antropométricos e oximetria de pulso. A partir dos exames de espirometria realizados, foram identificados os idosos com ou sem DPOC. A espirometria foi realizada com aparelho devidamente calibrado (KoKo®) por técnico treinado na realização das manobras, e o laudo seguiu normas da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia1313. Pereira CAC. Diretrizes para Testes de Função Pulmonar. J Bras Pneumol 2002; 28(S3):S1-82., tendo sido feito por pneumologista experiente. Todos os pacientes foram submetidos à prova broncodilatadora, tendo sido utilizado o critério para definição de obstrução fixa à presença de uma relação entre Volume Expiratório Forçado no primeiro segundo dividido pela Capacidade Vital Forçada (VEF1/CVF) abaixo do limite inferior da normalidade após uso de broncodilatador, tendo como referência dados da população brasileira1313. Pereira CAC. Diretrizes para Testes de Função Pulmonar. J Bras Pneumol 2002; 28(S3):S1-82.. A oximetria em repouso foi realizada com aparelho de pulso portátil (Onyx II® values9550; Nonin Medical, Inc., Plymouth, MN, USA) colocado no dedo indicador por 5 minutos, para estabilização do sensor e a medida foi anotada, antes da espirometria. Nenhum paciente usava suplementação de oxigênio. Foram coletados dados sociodemográficos, presença sintomas respiratórios, tosse, chiado, catarro sem estar resfriado e falta de ar, além de informações sobre perda de peso (sim x não), vacinação anual contra gripe (sim x não), uso de mais de 5 medicamentos ou polifarmácia (sim x não), autopercepção do estado saúde (Muito ruim, Ruim, Regular x Muito Boa, Boa), presença de sintomas depressivos, aferidos pela Escala de Depressão Geriátrica, versão reduzida – Geriatric Depression Scale ou GDS-15 (presentes x ausentes), relato de internação no último ano (sim x não), realização de consulta médica no último ano (sim x não), realização prévia da espirometria (sim x não), categoria do serviço de saúde mais utilizado (Sistema Único de Saúde x convênio ou particular), autorrelato de hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, osteoporose, asma e artrite/artrose, tabagismo (fumante e exfumante x nunca fumou), exposição à fumaça de fogão de lenha, carvoeira, queima de capim/palha ou sabugo de milho (sim x não), exposição à poeira no trabalho por mais de 1 ano (sim x não), oximetria de pulso em repouso (SatO2 ≤ 90% x SatO2 > 90%). A carga quantificada da exposição cumulativa ao tabagismo foi estimada usando a relação anos/maço (número de cigarros fumado por dia multiplicado pelo número de anos de tabagismo e dividido por 20), e a carga da exposição da fumaça do fogão de lenha foi calculada com número de anos de contato com esta multiplicada pelo número de horas de exposição diária (horas/ano). A idade dos idosos foi descrita por média e desvio padrão. As variáveis categóricas ou categorizadas foram descritas por distribuição de frequências, absolutas e relativas. Análises bivariadas foram conduzidas para verificar associação entre as variáveis independentes e a variável desfecho (DPOC confirmada pela espirometria) por meio do teste qui-quadrado (χ 22. Incalzi RA, Scarlata S, Pennazza G, Santonico M, Pedone C. Chronic Obstructive Pulmonary Disease in the elderly. Eur J Intern Med 2014; 25(4):320-328.). Na análise final dos fatores associados utilizou-se modelo de regressão múltipla, tendo sido incluída nesta etapa as variáveis que apresentaram nível descritivo de até 25% (p < 0,25) na análise bivariada. Para o modelo de regressão múltiplo, adotou-se o procedimento passo atrás (Backward stepwise procedure), permanecendo no modelo final somente aquelas variáveis que apresentaram nível descritivo de até 5% (p < 0,05), registrando-se os Odds Ratios e os respectivos intervalos de confiança de 95%. Para avaliar a qualidade de ajuste do modelo, utilizou-se o teste de Hosmer & Lemeshow e o Pseudo-R22. Incalzi RA, Scarlata S, Pennazza G, Santonico M, Pedone C. Chronic Obstructive Pulmonary Disease in the elderly. Eur J Intern Med 2014; 25(4):320-328.. Todas as análises foram realizadas por meio do programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences- 18.0 (SPSS Inc., Chicago, IL, EUA). Todas as etapas do estudo seguiram os princípios éticos para pesquisa em seres humanos, com atenção à Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição sede da pesquisa. Os participantes do estudo receberam informações pertinentes e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Aqueles que não puderam/sabiam assinar, concordaram em participar da pesquisa com o registro da digital. ResultadosDos 403 idosos que preenchiam o critério para a realização da espirometria, 203 compareceram. Entre estes, três não consentiram com a realização do exame após explicação do procedimento, um caso foi excluído por tratar-se de asma (com diagnóstico após a espirometria) e 20 foram excluídos por não conseguirem atingir curvas aceitáveis e reprodutíveis na espirometria. A análise de dados foi concluída, portanto, com o total de 179 idosos. A Tabela 1 apresenta a comparação entre variáveis demográficas e sociais, relacionadas à saúde e manifestações relacionadas ao sistema respiratório entre os pacientes que compareceram para a espirometria e os que não atenderam ao convite. Não foram registradas diferenças significativas entre as frequências das variáveis avaliadas, comparadas por meio do teste qui-quadrado (p > 0,05). Tabela 1 A frequência de DPOC no grupo que realizou a espirometria foi de 29,6% (n = 53), todos identificados pela relação volume expiratório forçado no primeiro segundo dividido pela capacidade vital forçada (VEF1/CVF) abaixo do limite inferior da normalidade1313. Pereira CAC. Diretrizes para Testes de Função Pulmonar. J Bras Pneumol 2002; 28(S3):S1-82.. Os demais idosos que realizaram a espirometria não apresentaram alterações obstrutivas. A Tabela 2 apresenta análises bivariadas específicas para o grupo que realizou espirometria, comparando pessoas com e sem DPOC, em relação às variáveis sociodemográficas. A média da idade do grupo foi de 69,2 anos (DP ± 7,1), variando de 60 a 93 anos, com predomínio do sexo feminino. Houve um predomínio da cor preta/parda, sendo 58,5% no grupo com DPOC e 67,5% no grupo sem a doença. A maioria da população referiu menos de 4 anos de estudo (78,8%), e aproximadamente um quarto não era alfabetizada. Quanto às condições econômicas, 53,6% recebiam aposentadoria e apresentavam renda familiar entre 1 a 2,5 salários mínimos (49,2%). Tabela 2 Na Tabela 3 são apresentadas as análises bivariadas para as condições de saúde entre pessoas com e sem DPOC. Registra-se que a maioria dos idosos apresentava uma percepção negativa sobre sua saúde. A polifarmácia foi referida por 26,8% dos respondentes. A maioria dos estudados recebia a vacina da gripe anualmente; aproximadamente 94% fizeram pelo menos uma consulta médica no último ano e cerca de 15% referiu internação hospitalar nos 12 meses precedentes ao estudo. A morbidade mais referida tanto pelo grupo com DPOC, como pelo sem a doença foi a hipertensão arterial. Tabela 3 Na Tabela 4 são apresentados os resultados das associações a partir de análises bivariadas para os sinais e sintomas pesquisados, incluindo a oximetria de pulso, enquanto a Tabela 5 apresenta as mesmas análises referentes ao tabagismo e exposição à fumaça e poeira. Tabela 4 Tabela
5 Após análise multivariada, observou-se associação dos seguintes fatores ao grupo com DPOC: tabagismo pregresso ou atual (OR = 3,74; IC95% = 1,65-8,46; p = 0,002), presença de catarro como sintoma respiratório (OR = 4,92; IC95% = 2,03-11,95; p < 0,001), oximetria de pulso em repouso ≤ 90% (OR = 8,74; IC95% = 1,27-60,07; p = 0,028), autorrelato de asma (OR = 3,40; IC95% = 1,00-11,57; p = 0,05). O relato de dispneia apresentou valores limítrofes no modelo final (OR = 2,11; IC95% = 0,95-4,69; p = 0,066). Teste Hosmer e Lemeshow (χ2 HL) com p-valor = 0,526; Pseudo-R2 = 0,306; −2logv = 174,04. DiscussãoOs resultados deste trabalho mostram a necessidade de revisão dos critérios de seleção dos pacientes de risco para DPOC entre idosos, considerando que foram identificados como fatores associados à DPOC no idoso a presença de tabagismo atual ou prévio, a expectoração (catarro) como sintoma respiratório, o autorrelato de asma e a saturação ≤ 90% à oximetria de pulso em repouso. Estudo realizado em São Paulo revelou, após análise ajustada, que os seguintes fatores independentemente se associavam à DPOC: tabagismo, cansar-se com facilidade, idade superior a 60 anos, problemas de saúde nos últimos 15 dias e falta de atividade física no tempo livre1414. Sousa CA, César CLG, Barros MBA, Carandina L, Goldbaum M, Pereira JCR. Doença pulmonar obstrutiva crônica e fatores associados em São Paulo, SP, 2008-2009. Rev Saude Publica 2011; 45(5):887-896.. Entretanto, o referido estudo abordou a DPOC autorreferida, o que representa uma limitação importante para uma condição ainda pouco conhecida pela população em geral55. Moreira GL, Manzzano BM, Gazzoti MR, Nascimento AO, Perez-Padilha R, Menezes AMB, Jardim JR. PLATINO, estudo de seguimento de nove anos sobre DPOC na cidade de São Paulo: o problema do subdiagnóstico. J Bras Pneumol 2013; 40(1):30-37.,1515. Nascimento OA, Camelier A, Rosa FW, Menezes AMB, Pérez-Padilla R, Jardim JR, Latin American Project for the Investigation of Obstructive Lung Disease (PLATINO) Group. Chronic obstructive pulmonary disease is underdiagnosed and undertreated in São Paulo (Brazil). Results of the PLATINO Study. Braz J Med Biol Res 2007; 40:887-895.. Alguns autores destacam que mesmo entre os profissionais de saúde a DPOC é pouco conhecida, com uma relativa imprecisão para o diagnóstico diferencial entre asma e DPOC77. Queiroz MC, Moreira MA, Rabahi MF. Underdiagnosis of COPD at primary health care clinics in the city of Aparecida de Goiania, Brazil. J Bras Pnemol 2012; 38(6):692-699.,1515. Nascimento OA, Camelier A, Rosa FW, Menezes AMB, Pérez-Padilla R, Jardim JR, Latin American Project for the Investigation of Obstructive Lung Disease (PLATINO) Group. Chronic obstructive pulmonary disease is underdiagnosed and undertreated in São Paulo (Brazil). Results of the PLATINO Study. Braz J Med Biol Res 2007; 40:887-895.,1616. José BP, Camarmos PA, Cruz Filho AA, Correa RA. Diagnostic accuracy of respiratory diseases in primary health units. Rev Assoc Med Bras 2014; 60(6):599-612.. É relevante destacar ainda que o presente estudo adotou o diagnóstico de DPOC segundo o limite inferior da normalidade ao exame de espirometria, após uso de broncodilatador, tendo como referência dados da população brasileira. A utilização do limite inferior da normalidade para populações específicas tende a ser um critério adotado internacionalmente, pois evita o excesso de falsos diagnósticos para a população idosa1717. Miller MR, Mark L Levy ML. Chronic obstructive pulmonary disease: missed diagnosis versus misdiagnosis. BMJ 2015; 351:h3021.. Em estudo de avaliação de prevalência e fatores associados, também conduzido no Brasil, os autores destacaram que a DPOC se associou positivamente com idade e tabagismo e inversamente com o índice de massa corporal1818. Menezes AMB, Jardim JR, Pérez-Padilla R, Camelier A, Rosa F, Nascimento O, Hallal PC, PLATINO Team. Prevalence of chronic obstructive pulmonary disease and associated factors: the PLATINO Study in São Paulo, Brazil. Cad Saude Publica 2005; 21(5):1565-1573.. Em um estudo recente que comparou a prevalência da asma e da DPOC nos Estados Unidos, em intervalo superior a dez anos, os autores destacaram que ainda permanecem como fatores associados à DPOC o tabagismo, o baixo nível educacional, os distúrbios da nutrição e a exposição a poeiras e fumaças ocupacionais1919. Halldin CN, Doney BC, Hnizdo E. Changes in prevalence of chronic obstructive pulmonary disease and asthma in the US population and associated risk factors. Chron Respir Dis 2015; 12(1):47-60.. O tabagismo é, portanto, apontado em todos os estudos como fator intimamente associado à DPOC e representa um importante problema de saúde pública11. Global Initiative for Chronic
Obstructive Lung Disease (GOLD). Global strategy for the diagnosis, management and prevention of chronic obstructive pulmonary disease. [cited 2014 Apr 15]. Available from: www.goldcopd.org A presença de catarro como único sintoma respiratório associado à DPOC nos idosos estudados difere dos dados da literatura sobre os sintomas, já que existe uma maior ênfase para a tosse e a dispneia11. Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD).
Global strategy for the diagnosis, management and prevention of chronic obstructive pulmonary disease. [cited 2014 Apr 15]. Available from: www.goldcopd.org A ausência de significância estatística para a presença de dispneia associada à DPOC observada neste trabalho também foi descrita em outro estudo2727. Moreira MA, Barbosa MA, Jardim JR,
Queiroz MC, Inacio LU. Chronic obstructive pulmonary disease in women exposed to wood stove smoke. Rev Assoc Med Bras 2013; 59(6):607-613., mas não permite negligenciar a sua importância clínica. A dispneia está, em geral, presente desde as fases iniciais da doença, auxilia na busca de pacientes para o diagnóstico e apresenta correlação direta com a gravidade da doença11. Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD). Global
strategy for the diagnosis, management and prevention of chronic obstructive pulmonary disease. [cited 2014 Apr 15]. Available from: www.goldcopd.org O subdiagnóstico da DPOC tem como consequência direta o não tratamento, aumentando morbidade e riscos de complicações, uma vez que a redução da capacidade ao exercício implicada na diminuição da capacidade para atividades da vida diária, piora da qualidade de vida, podendo ser fator causal e agravante das comorbidades na DPOC como disfunções músculo esqueléticas, doenças cardiovasculares, obesidade, e síndrome metabólica2828. Remoortel H, Hornikx M, Langer D, Burtin C, Everaerts S, Verhamme P, Boonen S, Gosselink R, Decramer M, Troosters T, Janssens W. Risk Factors and Comorbidities in the Preclinical Stages of Chronic Obstructive Pulmonary Disease. Am J Respir Crit Care Med 2014; 189(1):30-38.,2929. Miravitlles M, Soriano JB, Garcia-Rio F, Muñoz L, Duran-Tauleria E, Sanchez G, Sobradillo V, Ancochea J. Prevalence of COPD in Spain: impact of undiagnosed COPD on quality of life and daily life activities. Thorax 2009; 64(10):863-868.. A associação de autorrelato de asma no grupo com DPOC permite a discussão focada na literatura atual. Asma não é incomum no idoso, seja por recorrência de quadro da infância ou por início tardio. A busca por informações sobre a história pregressa de asma, atopia, fatores desencadeantes, resposta à corticoterapia e reversão da obstrução do fluxo aéreo após a prova broncodilatadora na espirometria são dados que corroboram a presença de asma no idoso22. Incalzi RA, Scarlata S, Pennazza G, Santonico M, Pedone C. Chronic Obstructive Pulmonary Disease in the elderly. Eur J Intern Med 2014; 25(4):320-328.,3030. Abramson MJ, Perret JL, Dharmage SC, McDonald VM, McDonald CF. Distinguishing adult-onset asthma from COPD: a review and a new approach. Int J Chronic Obstruct Pulmo Dis 2014; 9(1):945-962.. Estudos recentes destacam as dificuldades de se diferenciar asma e DPOC em fumantes e ex-fumantes3030. Abramson MJ, Perret JL, Dharmage SC, McDonald VM, McDonald CF. Distinguishing adult-onset asthma from COPD: a review and a new approach. Int J Chronic Obstruct Pulmo Dis 2014; 9(1):945-962.,3131. Zeki AA, Schivo M, Chan A, Albertson TE, Louie S. The Asthma-COPD Overlap Syndrome: A Common Clinical Problem in the Elderly. J Allergy 2011; 2011:861926.. O GOLD e Global Initiative for Asthma (GINA), em 2014, definiram critérios para a síndrome de overlap, sobreposição de asma e DPOC, como a presença de dados na história pregressa que favorecem asma, em fumantes e
exfumantes com obstrução parcialmente reversível e prova broncodilatadora francamente positiva (aumento de 400ml e de 12 % no valor de VEF1 basal) na espirometria2525. Diagnosis of Diseases of Chronic Airflow Limitation: Asthma, COPD and Asthma – COPD Overlap Syndrome (ACOS). Based on the Global Strategy for Asthma Management and Prevention and the Global Strategy for the Diagnosis, Management and Prevention of Chronic Obstructive Pulmonary Disease 2014. [cited 2014
Apr 15]. Available from: http://www.goldcopd.org/uploads/users/files/AsthmaCOPDOverlap.pdf É possível assumir que o autorrelato de asma seja decorrente da percepção, por parte do idoso, de uma doença respiratória crônica, sem diagnóstico. Ou seja, os sintomas respiratórios estariam sendo assumidos pelo idoso como sintomas da asma, por desconhecimento sobre DPOC, mas sem uma definição diagnóstica precisa, situação já apontada em outro estudo22. Incalzi RA, Scarlata S, Pennazza G, Santonico M, Pedone C. Chronic Obstructive Pulmonary Disease in the elderly. Eur J Intern Med 2014; 25(4):320-328.. Estudos recentes sobre diagnóstico da DPOC sugerem a necessidade de se capacitar os integrantes da atenção primária para a busca dos pacientes de risco como ponto chave para o diagnóstico precoce66. Casas A, Rey A, Ramirez A., Varela MVL, Moreno D, Schiavi E, Jardim JR, Stirbulov R, Zabert G, Mercurio S, Aguirre CE, Di Boscio V, Montes de Oca M. COPD Under-Diagnosis And Misdiagnosis In Primary Care Population At High Risk In Four Latin America Countries: The Puma Study. Am J Respir Crit Care Med 2014; 189:A2945.,77. Queiroz MC, Moreira MA, Rabahi MF. Underdiagnosis of COPD at primary health care clinics in the city of Aparecida de Goiania, Brazil. J Bras Pnemol 2012; 38(6):692-699.,3232. Csikesz NG, Gartman EJ. New developments in the assessment of COPD: early diagnosis is the key. Int J Chronic Obstruct Pulmo Dis 2014; 9:277-286. A associação encontrada neste trabalho, entre saturação ≤ 90% na oximetria em repouso associada à DPOC no idoso, apresenta correlação com dados da literatura, sendo comum nos pacientes graves e enfisematosos11.
Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD). Global strategy for the diagnosis, management and prevention of chronic obstructive pulmonary disease. [cited 2014 Apr 15]. Available from: www.goldcopd.org Embora alguns estudos
evidenciem a exposição às fumaças e a presença de mais de um sintoma respiratório (tosse ou dispneia) como fatores associados à DPOC11. Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD). Global strategy for the diagnosis, management and prevention of chronic obstructive pulmonary disease. [cited 2014 Apr 15]. Available from: www.goldcopd.org
É relevante destacar ainda a limitação decorrente das perdas por idosos que não compareceram para realização da espirometria. Todavia, é também importante destacar que a comparação entre o grupo que realizou o exame e o que não compareceu não revelou diferenças, o que representa um contraponto à limitação das perdas ou retrata as que não são diferenciais. Os resultados deste estudo revelam fatores associados que destacam a importância de se difundir o conhecimento e a aplicabilidade dos critérios de seleção dos pacientes de risco para DPOC entre os idosos. A realização da entrevista médica para identificar fator de risco inalatório e presença de sintoma respiratório pode não ser suficiente na seleção dos idosos de risco para DPOC, considerando as particularidades na percepção e no relato de alguns sintomas respiratórios, como a dispneia, nesta faixa etária. A medida da oximetria de pulso em repouso pode ser um aliado no rastreamento dos pacientes de risco para a DPOC avançada, em especial nos idosos com poucos sintomas. Esta proposta pode contribuir na identificação precoce dos pacientes que se beneficiariam com o início imediato do tratamento e encaminhamento para a espirometria frente ao cenário atual do subdiagnóstico da DPOC. Referências
São fatores de risco para doença pulmonar obstrutiva crônica?Fatores de risco:
A exposição ao tabaco, à poluição, gases e substâncias tóxicas são os principais fatores de risco da DPOC. A prematuridade também aumenta a predisposição à doença em idades mais avançadas.
O que significa DPOC cite 2 fatores de risco?DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) é um espectro de doenças que inclui a bronquite crônica (estreitamento das vias aéreas e paralisação da atividade dos cílios) e o enfisema (danos irreversíveis nos alvéolos). O cigarro é responsável pela imensa maioria dos casos.
Quais os principais fatores de risco para doenças respiratórias crônicas?FATORES DE RISCO
O tabagismo é o principal fator de risco das doenças respiratórias crónicas. No entanto, existem outros fatores de risco, como a exposição a produtos químicos e poeiras no local de trabalho (e.g., vapores, produtos irritantes ou fumos) e a poluição exterior e interior em espaços pouco ventilados.
Qual idade é fator de risco para DPOC?Sintomas da DPOC costumam aparecer após os 40 anos de idade
Na maioria dos casos, segundo o pneumologista Igor Nery, a doença costuma se manifestar a partir dos 40 anos de idade. “A DPOC, quando relacionada ao cigarro, necessita de vários anos de tabagismo contínuo.
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