Qual o tipo de narrador do livro Triste Fim de Policarpo Quaresma?

Qual o tipo de narrador do livro Triste Fim de Policarpo Quaresma?
 domínio público/Wikimedia Commons

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Lima Barreto não conheceu notoriedade em vida. Foi preciso que o tempo lhe fizesse justiça. Triste Fim de Policarpo Quaresma, sua obra mais famosa, publicada em forma de folhetim (1911) e depois em livro (1915), se consolidou como um clássico porque nasceu de um lance de gênio e traduziu os impasses do Brasil de seu tempo.

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No romance, o major Policarpo Quaresma vive de idealismos nacionalistas. A primeira parte relata sua vida como um funcionário público que vive em seu gabinete cercado de livros, alimentando uma imagem distorcida do país; a segunda, como proprietário rural, em que percebe que as terras brasileiras não eram férteis como imaginava e que as saúvas são arrasadoras para as plantações; e a terceira, como soldado voluntário na Revolta da Armada, em 1893, quando se decepciona – em capítulo antológico – com o seu idealizado marechal Floriano Peixoto. Ao criticá-lo, é preso. Quando Quaresma se dá conta da própria postura quixotesca, está prestes a ser executado pelo Exército. Ele queria basicamente três reformas: da cultura, da agricultura e da política, mas não consegue nenhuma. Seu sonho mais singular foi oficializar o tupi-guarani como idioma brasileiro.

Certas desventuras e desencantos do protagonista poderiam até ser vistos como os do próprio autor, mas seu brilhantismo nesse romance específico passa ao largo da autobiografia. Lima Barreto nasceu em 1881, no Rio de Janeiro, cidade onde faleceu em 1922. Filho de mestiços, carregou problemas ao longo da vida. Além do preconceito racial de que foi vítima, ficou órfão de mãe aos 7 anos e mais tarde viu o pai enlouquecer; tendo de amparar a família, não conseguiu terminar o curso na Escola Politécnica.

Enfrentou depressão e alcoolismo e foi internado duas vezes no Hospício Nacional. As motivações ficcionais de Barreto deveram-se antes a um intelectual combativo que, também marginalizado no meio literário, expressava as contradições de uma sociedade que ainda vivia a transição da monarquia para a república. A ironia do escritor levou parte da crítica a aproximá-lo de Machado de Assis no retrato sarcástico desse momento histórico.

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Triste Fim de Policarpo Quaresma se insere no pré-modernismo brasileiro pela forma e temas que desenvolve. A rejeição de Barreto ao eruditismo e ao rebuscamento estilístico se explica como uma postura de oposição à chamada elite literária; com isso, seu coloquialismo antecipava características modernistas. A “apresentação pitoresca de costumes”, como aponta Antonio Candido, se filia também ao humor que a Semana de 22 defenderia.

Segundo ainda esse crítico, as obras de Lima Barreto são dirigidas contra o pedantismo, a falsa ciência, as aparências hipócritas da ideologia oficial. Exemplar desses temas é seu famoso conto O Homem que Sabia Javanês (1916). Escreveu também os romances Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909), Numa e a Ninfa (1915), Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919), Os Bruzundangas (1922), o livro de contos Histórias e Sonhos (1953) e o de memórias O Cemitério dos Vivos (1953), sobre sua passagem pelo hospício. Colaborou intensamente na imprensa com crônicas e artigos em que tratou impiedosamente da cultura, da política e dos costumes do Rio de Janeiro.

Título: Triste Fim de Policarpo Quaresma
Autor: Lima Barreto

Este texto faz parte do especial “100 Livros Essenciais da Literatura Brasileira”, publicado em 2009 pela revista Bravo!

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  • Lima Barreto
  • Literatura

Qual o tipo de narrador do livro Triste Fim de Policarpo Quaresma?

TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA: ENTRE O IDEAL E O REAL

RESUMO

     Contextualizado no fim do século XIX, no Rio de Janeiro, TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA, o principal romance de Lima Barreto, narra os ideais e frustração do funcionário público Policarpo Quaresma, homem metódico e nacionalista fanático.

     Sonhador e ingênuo, Policarpo dedica a vida a estudar as riquezas do país: a cultura popular, a fauna a flora, os rios. Sua primeira decepção se dá quando sugere a substituição do português, como língua oficial, pelo tupi. O resultado é a sua internação em um  hospício.

    Aposentado, confiante na fertilidade do solo brasileiro, dedica-se à agricultura no sítio Sossego. Contudo, depara-se com uma triste realidade: a esterilidade do solo, o ataque das saúvas, a falta de apoio ao pequeno agricultor.

    Por fim, com a eclosão da Revolta da Armada, no Rio de Janeiro, Quaresma apoia o então presidente, o marechal Floriano Peixoto, e participa do conflito como voluntário. No cargo de carcereiro, critica as injustiças que vê serem praticadas contra os prisioneiros. Em razão dessas críticas, é preso e condenado ao fuzilamento por ordem de Floriano Peixoto, seu ídolo.

     Além da descrição política do país no início da República, a obra traça um rico painel social e humano dos subúrbio cariocas na virada do século. Aposentados, profissionais liberais, carreiristas, músicos, donas de casa. O mulato – esse é o universo retratado por Lima Barreto em sua obra TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA. Destacam-se, nesse conjunto, as personagens Ismênia, que, tendo sido educada para o casamento, enlouquece quando abandonada pelo noivo; Olga, sobrinha de Policarpo, que difere da maioria das mulheres por ser mais independente; e o violonista e cantor de modinhas Ricardo Coração-dos Outros, amigo de Policarpo.

 FOCO NARRATIVO:

   Foco narrativo em 3ª pessoa e dotado de onisciência, isto é, aquele que sabe de tudo, inclusive do que se passa na cabeça de seus personagens, por isso o narrador de vale do discurso indireto livre, como se pode perceber no fragmento abaixo, Lima Barreto constrói um narrador que nutre franca antipatia pelo marechal Floriano Peixoto e por todos aqueles que o rodeiam, com exceção do próprio Quaresma, por quem ele tem uma simpatia declarada.

     Desde os dezoito anos, que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem… O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas cousas de tupi, do folclore, das suas tentativas agrícolas… Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma!

 TEMPO  

   A história transcorre durante o governo de Marechal Floriano Peixoto e a Batalha a Armada ( ocorrida em 1893), época da chamada República Velha, entre o final do século XIX e o XX. É durante esse período que o autor procura retratar, detalhadamente, e com profunda visão crítica, os costumes tanto sociais quanto políticos o Rio de Janeiro.

 LINGUAGEM

    Utilizou uma linguagem coloquial, adquirida com a experiência de jornalista, com vícios linguísticos, entretanto carregada de humor, ironia e autenticidade.

TEMAS:

        Explorou a xenofobia – aversão a aspectos de culturas estrangeiras – como ardil para tecer dura crítica ao comportamento de uma sociedade hipócrita.

        Destacam-se, também, os seguintes temas:

  • crítica ao academicismo típicos dos escritores parnasianos;
  • crítica à tradicional burocracia dos órgãos públicos;
  • preconceito não só racial, mas social e às pessoas sem formação acadêmica;
  • crítica a falta de apoio do governo ao homem do campo.

 DIVISÃO DA OBRA

        Divide-se em três partes: a primeira retrata questões nacionalistas do major Policarpo Quaresma e da sua vida de funcionário exemplar. A segunda, tematiza a vida de Quaresma em seu sítio Sossego e a tentativa de sobreviver cultivando a terra, além de seu alistamento para, ao lado de marechal Floriano Peixoto, participar da Batalha da Armada. A terceira trata da batalha, com a vitória do Exército sobre os marinheiros que se rebelaram, tentando assumir o governo e do final trágico do major Quaresma, fuzilado por ser considerado um traidor da Pátria.

 PERSONAGENS

 POLICARPO QUARESMA: personagem quixotesco, decorrente de sua xenofobia. Profundo conhecedor da Literatura Brasileira, história, geografia, fauna, flora do Brasil. Cidadão pacato que residia no subúrbio carioca, subsecretário do arsenal de guerra, respeitado por aqueles que o conheciam. No entanto, ao propor a mudança da língua oficial, o português para o tupi-guarani, cai no descrédito popular, tornando-se alvo de pilhérias. Após sua permanência internado em um hospício, tenta viver da terra, no sítio Sossego, mas não consegue. Alista-se com a finalidade de lutar ao lado do marechal Floriano Peixoto na famosa Batalha da Armada. Após  vitória, encarrega-se de tomar conta dos prisioneiros. Entretanto, ao saber que vários desses marinheiros estavam sendo fuzilados, escreve ao marechal criticando tal atitude. é preso e fuzilado.

 RICARDO CORAÇÃO DOS OUTROS: seu nome faz alusão a uma paródia de Ricardo Coração de Leão, rei da Inglaterra que se envolveu em batalhas e conquistas durante o século XII. Há críticos literários que acreditam ser o personagem uma homenagem ao poeta e compositor popular, Catulo da Paixão Cearense (1863-1946), autor da modinha Luar do Sertão. É o professor de violão de major Quaresma. Alvo de forte preconceito, o violão era tido como um instrumento de vadios e vagabundos, porém o instrumento ocupa um lugar de destaque na obra, visto que o autor apresenta-o como o instrumento nacional.

OLGA: afilhada do major Quaresma, Olga, apesar de submeter-se a um casamento por conveniência, é diferente da moças de seu tempo. Também considera idealista, por isso pertence ao pequeno grupo do major.

 VICENTE COLEONI: imigrante italiano, foi por muito tempo quitandeiro ambulante, época em que conheceu o major, freguês assíduo. Passou por dificuldades financeiras e recebeu ajuda de Quaresma. Com sua quitanda prosperou, tornou-se empreiteiro e enriqueceu. Casou-se, teve uma filha, Olga, e como forma de gratidão, fez de Quaresma o padrinho da criança.

 DONA ADELAIDE: irmã mais velha de Policarpo Quaresma. Por não entender as ideias de seu irmão, não as aceita.

 GENERAL ALBERNAZ: militar incompetente e interesseiro. Pai de cinco filhas: Ismênia, Quinota, Zizi, Lalá e Vivi e de um filho, Lulu, não media esforços para asar suas filhas e conseguir um alguém que o ajudasse a admitir o filhona Escola Militar.

 ISMÊNIA: é o símbolo da moça casadoira. Noiva de Cavalcanti, porém não o amava o suficiente para se casar, mas não podia pensar na ideia de ficar para tia. No entanto, é abandonada pelo noivo após a sua formatura. Em seu leito de morte, depois de um longo período de demência e definhamento, pede para se enterrada vestida de noiva.

 CAVALCÂNTI: noivo de Ismênia, estudante de odontologia, estudo custeado pelo pai da noiva. Cavalcânti prolongou o curso por quatro anos. Não tendo como prolongar mais essa exploração, formou-se. Após a festa, deveria marcar o casamento, foge para o interior, deixando Ismênia inconsolável.

 GENELÍCIO: futuro marido de Quinota, filha do general Albernaz. Empregado do Tesouro, Genelício é bajulador, oportunista, sempre visava a conseguir um cargo melhor.

 CALDAS: contra-almirante na Marinha, fez pela Marinha o que o general Albernaz fez pelo Exército, quase nada.

 ARMANDO BORGES: esposo de Olga. Formado em medicina, é ambicioso, interesseiro e preconceituoso.

 INOCÊNCIO BUSTAMANTE: apesar de interesseiro era servil e humilde.

 DR. CAMPOS: médico, fazendeiro e chefe político do município de Curuzu, onde o major Quaresma comprara o sítio Sossego. Interesseiro e ardiloso.

 MARECHAL FLORIANO PEIXOTO: Presidente da República (presidiu o Brasil de 23 de novembro de 1891 a 15 de novembro de 1894), conhecido como “marechal de ferro”. O marechal é alvo de crítica por parte do narrador.

      O mais lido e conhecido romance de Lima Barreto é Triste fim de Policarpo Quaresma. Através dele o autor tematiza o embate entre o real e o ideal. Em Policarpo, o patriotismo é o ideal. Ele assume ares de visionário, louco por não pensar em si, por não se interessar por sua carreira ou tentar obter qualquer tipo de vantagem pessoal. Seu único objetivo é o engrandecimento do Brasil. Por isso, “o triste fim” do protagonista é a perda de todos os ideais, quando percebe que dedicou sua vida a uma causa inútil.

     A desilusão final de Policarpo é a desilusão de Lima Barreto, que morreu acreditando ser o dever dos escritores “ deixar de lado todas as velhas regras, toda a disciplina exterior dos gêneros e aproveitar de cada um deles o que puder e procurar, conforme a inspiração própria, para tentar reformar certas usanças”. Por esse motivo, o novo Brasil que surgiu nos textos pré-modernistas, marcado por grandes desigualdades sociais, não era um país que motivasse o orgulho dos leitores. Mas era um país real.

FONTE:

ABAURRE, Maria Luiza M. – Português: contexto, interlocução e sentido. São Paulo: Moderna, 2008

Qual o foco narrativo de O Triste Fim de Policarpo Quaresma?

Foco narrativo: a narrativa enfoca a trajetória de Policarpo Quaresma, personagem principal da história. Fatores externos: o cenário histórico em que o autor posiciona a história é pós-Abolição, na Primeira República e já no governo do segundo presidente do Brasil, Floriano Peixoto.

Por que o narrador afirma que a pátria de Policarpo Quaresma era um mito?

a construção de uma pátria a partir de elementos míticos, como a cordialidade do povo, a riqueza do solo e a pureza linguística, conduz à frustração ideológica. a propensão do brasileiro ao riso, ao escárnio, justifica a reação de decepção e desistência de Policarpo Quaresma, que prefere resguardar-se em seu gabinete.

Como se posiciona o narrador diante do personagem?

narrador observador: conta uma história como alguém que a percebe de fora. narrador onisciente neutro: conhece intimamente todas as personagens e expõe fatos com distanciamento. narrador onisciente intruso: conhece as emoções e pensamentos das personagens e expõe sua opinião a respeito.

Onde se passa a história de Policarpo Quaresma?

Triste fim de Policarpo Quaresma, publicado em capítulos, num jornal, em 1911, e em livro em 1915, narra uma história que se passa em 1893, ano em que acontece a Revolta da Armada, no Rio de Janeiro: a Marinha se rebela contra o presidente Floriano Peixoto, querendo derrubar o governo.