Tendo em vista a escassez de literaturas cientificas referentes ao conteúdo dos jogos populares (ou jogos tradicionais) que façam uma relação com a Pedagogia Crítico-emancipatória e o fato destas mesmas práticas lúdicas vivenciadas pelas gerações anteriores estarem sendo de certa forma “esquecidos” pelas gerações atuais, elaborou- se este estudo de cunho bibliográfico tendo como objetivo fazer um resgate de jogos populares nas aulas de Educação Física através de uma proposta de unidade didática de acordo com a teoria Crítico-emancipatória idealizado por Elenor Kunz. Apesar de o Jogo fazer parte da nossa cultura, os jogos populares vêm sendo um aspecto da cultura negado às crianças, isso acontece por uma series de fatores como a perda de espaço para equipamentos de alta tecnologia, a falta de segurança, falta de espaços adequados e também a idéia que muitos têm de que o jogo seja algo descartável e supérfluo. Os jogos populares vêm cada vez mais perdendo seu lugar no espaço escolar e fora dele, a aula Educação Física entra como uma das poucas oportunidades que as crianças têm de desfrutar desta cultura lúdica e conhecer mais a cultura através dos jogos populares. A possibilidade de ocorrer uma problematização sobre um determinado conteúdo em diferentes momentos da realização do jogo pelos alunos contribui para o processo de emancipação proposto por Kunz que tem como objetivo libertar os alunos das condições que limitam as suas capacidades racionais, criticas e também de todo seu agir no contexto sociocultural. Por isso selecionamos alguns jogos populares como exemplos para que depois que tenham uma melhor compreensão de como os jogos são jogados, fossem feitas reflexões sobre as características inerentes a cada um deles e depois possam pôr em prática novas possibilidades para a realização e superação dos limites presentes nos jogos populares. Unitermos: Jogos populares. Cultura popular. Pedagogia Crítico-emancipatória, Educação Física. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 189, Febrero de 2014. http://www.efdeportes.com/
Introdução As pesquisas sobre o jogo começaram a ganhar mais destaque a partir de Huizinga com a sua celebre obra “Homo Ludens”. Nessa obra, este caracteriza o jogo com elemento da cultura humana, sendo de fato mais antigo que a própria cultura e que os homens, já que é possível observar que através de suas praticas os animais também brincam. De acordo com Huizinga (2000, p.33):
Depois de Huizinga, várias outras obras importante de jogo foram desenvolvidas, com grande destaque para a “Os jogos e os homens” de Caillois (1990). Sobre isso, alguns autores brasileiros são respeitados pelas suas obras referentes ao assunto, tais como: Freire e Kishimoto, pois suas obras tem grande referência para os professores que utilizam o jogo como ferramenta pedagógica. Não pretendemos debater ou expor as características do jogo, já que este é o assunto amplamente debatido e exposto em diversos outros trabalhos, por isso, para a apropriação desse conteúdo sugerimos a própria obra de Huizinga (1980), posteriormente, Caillois (1990) e para outra dimensão da compreensão de jogo o livro de Freire (2005) intitulado “O jogo, entre o riso e o choro”. Nesse sentindo, essa é uma proposta de trabalho pedagógico com o jogo, utilizando de jogos populares. Nossa proposta é colaborar com as aulas de Educação Física a partir dos jogos populares, tomando como exemplo a inserção desse jogo e aplicando a partir da metodologia proposta pela teoria pedagógica crítico-emancipatória de Elenor Kunz (1994). A partir disso, colocaremos nossa idéia apoiada na pedagogia crítico-emancipatória para expor como os jogos populares podem contribuir com ações pedagógicas nas aulas de Educação Física. Para isso, coloremos a real situação dos jogos populares atualmente nos seus aspectos gerais, em seguida o que a teoria pedagógica critico-emancipatória propõe como ação pedagógica e, finalmente, o exemplo de possível intervenção com os jogos “Chicotinho queimado” e “Queimada”. Jogos populares aspectos negados Atualmente percebe-se que os jogos populares vêm sendo um aspecto da cultura negado para as crianças, isso acontece por uma series de fatores, entre os quais, prevalece a perda de espaço para equipamentos de alta tecnologia como vídeo games, televisores e computadores (FADELI et al. 2003). Outro fator registrado é a falta de segurança e de espaço adequado nas ruas, praças e bosques, espaços estes que eram bastante comuns em épocas passadas (ANDRADE, 2010). Considerando que os jogos populares são de suma importância para o desenvolvimento das crianças e para manutenção da cultura popular, como indica Faria Junior (1996, p. 56)
Por conta desses motivos apontados no texto à aula educação física segundo Andrade (2010) é um dos poucos momentos onde as crianças tem para brincar e conhecer mais a cultura através dos jogos populares, mas o que acontece na maioria das vezes o conteúdo das aulas são exclusivamente o esporte, e de acordo com Faria Junior (1996), podemos perceber que os jogos populares vêm cada vez mais perdendo seu lugar nas aulas de Educação Física no espaço escolar e fora dele. Segundo Silva (2009, p. 2)
De acordo com Silva (2009), percebe-se uma substituição dos nossos jogos populares por atividades que ultimamente vem sendo praticadas mundialmente (como por exemplo, os jogos eletrônicos e digitais), atividades estas que não conseguem trazer características próprias de nossa cultura regional, implicando em um “esquecimento” destas práticas lúdicas que são os jogos populares vivenciados pelas gerações anteriores, pois estes são transmitidos de geração sendo desenvolvidos especialmente de modo oral são considerados como parte da cultura popular e que enquanto manifestação da cultura espontânea, tem a função de perpetuar a cultura infantil e desenvolver formas de convivência social (KISHIMOTO, 2003). Nas aulas de Educação Física, o tempo que deveria ser direcionado às vivências destas práticas lúdicas acaba sendo voltado, na maioria das vezes, à iniciação ou à própria prática esportiva (SILVA, 2009). Sabemos que ao longo dos séculos, a prática dos jogos caminhou para um nível crescente de seriedade, tendendo à regulamentação e à competitividade. O jogo foi, ao longo dos séculos, se transformando em esporte: um esporte institucionalizado, regrado, mundialmente conhecido e voltado para o espetáculo. Ribeiro (2005) afirma que a nossa sociedade desenvolveu condições para que os jogos caminhassem rumo à desportivização. Segundo Ribeiro (2005, p. 1)
Segundo Huizinga (2000), espontaneamente as crianças realizam atividades lúdicas que, de caráter competitivo ou não, acontecem no ato de jogar, sendo assim, parece natural o fato de que a competição, manifestada na ação do jogo, revele a necessidade do homem perpetuar sua cultura. Apesar de a competição estar inserida na cultura humana, deve-se tentar evitar que este seja o único objetivo nas aulas de Educação Física, jogo é parte da cultura e a competição é um dos elementos que o constituem, desde as civilizações mais antigas às mais modernas (BRITO, 2006). Soares et al. (1992) adverte que o ensino das práticas corporais na Educação Física não deve restringir-se aos esportes, pois existe uma gama de conteúdos que devem ser desenvolvidos no decorrer de sua prática e várias manifestações da cultura corporal humana que precisam ser vivenciadas nas aulas de Educação Física, dentre estes, o jogo, mais especificamente os jogos populares, que é foco deste artigo. Daolio (2004 apud Silva, 2009, p. 3) afirma que
A questão da cultura popular dentro das aulas de educação física vem sendo interpretada por alguns professores como algo sem muita função, acaba sendo relegada, sendo apenas lembrada quando se aproximam as datas festivo-comemorativas festas juninas, danças folclóricas, etc. (SIQUEIRA, 2004). Sobre a questão da preservação da cultura popular nas aulas de Educação Física, Siqueira (2004) defende que só será possível quando os professores de Educação Física se conscientizarem da importância e dos benefícios adquiridos através da preservação da cultura popular por meio dos nossos jogos e brincadeiras tradicionais; quando a Educação Física na busca de sua identidade se redefina como educação assumindo compromisso com uma prática democrática, que respeite os limites, interesses e anseios dos cidadãos brasileiros; e quando acontecer de no contexto da educação, a cultura for considerada como base sobre a qual a Educação Física deva traçar seus objetivos e conteúdos, levando em consideração que o destino do homem deve ser criar e transformar o mundo, sendo sujeito de sua ação. Huizinga (2000, p. 4) afirma que “O jogo constitui uma preparação do jovem para as tarefas sérias que mais tarde a vida dele exigirá”. Ao incentivarmos a pratica de atividades lúdicas (como os jogos populares aqui propostos) para os alunos nas aulas de Educação Física e fora delas, nós estaremos estimulando-as a despertarem atitudes e conceitos de autonomia, participação, democracia, cooperação, solidariedade, fraternidade, entre outros... E também contribuindo para a formação da cidadania. O movimento renovador e a Pedagogia Critico-Emancipatória A Educação Física desde os seus primórdios no Brasil tinha o objetivo de contribuir com o sistema que era imposto para a sociedade brasileira, suas praticas pedagógicas durante esse processo eram predominantemente em uma visão mecanicista. As instituições militar, médica e esportiva influenciavam a Educação Física dentro desse processo de reprodução do modelo social hegemônico (CAPARROZ, 2007). Na década de 1980 a sociedade brasileira vive um momento de quebra de padrões, e de luta pela redemocratização do país, o pensamento critico adotado pela sociedade brasileira influencia a Educação Física, e através desse vários debates e movimentos organizados passam a tencionar as relações existentes e dentro da Educação Física, e começam a criticar o que vinha sendo imposto na área (CAPARROZ, 2007; OLIVEIRA, 1994). Como resultado desse movimento uma gama de propostas foram elaboradas para educação física brasileira, estas que atualmente se colocam como alternativa para pratica pedagógica dos professores de Educação Física no país (BRACHT, 1998). Uma dessas propostas de pratica pedagógica é a pedagogia critico-emancipatória, esta pedagogia tem como idealizador Elenor Kunz, no seu livro Transformação Didático Pedagógica do Esporte (1994) , onde Kunz faz uma serie de criticas ao esporte, em uma dessas criticas ele diz que dentro do esporte de rendimento o homem torna-se uma maquina de rendimentos, segundo Kunz (1994, p. 24)
Segundo Assunção e Neto (2005) A metodologia criada por Elenor Kunz é uma proposta para a Educação Física escolar "centrada no ensino dos esportes”, visando fornecer aos professores, que atuam nessa área, elementos para que eles possam superar os modelos atuais de ensino dos esportes na escola, para fazer com que, segundo Kunz (1994) o interesse técnico do esporte seja superado para que seja assumido um ensino critico-emancipatório, pois o principal modelo de esporte desenvolvido atualmente é nos moldes do rendimento, que só pode fomentar vivencia de sucesso para minoria e fracasso pra grande maioria. De acordo com Kunz (1994) enfoque metodológico da teoria critica-emancipatória, é fazer com que a educação física não seja vista como uma disciplina que divirta os alunos, mais que a educação física seja estudada pelos mesmos. Kunz (1994) afirma que:
Para tornar a educação física um campo de conhecimento de estudos Kunz (1994), optou como estratégia didática, as categorias de ação, trabalho, interação e linguagem. Essas estratégias de ensino pretendem preparar o aluno para a competência do agir, competência essa que se resume a competência objetiva, pratica ou instrumental, competência social e competência comunicativa. A categoria de ação trabalho, segundo Kunz (1994), é a categoria que desenvolve a competência objetiva, essa categoria se divide em duas fases, a primeira fase é onde foi desenvolvida uma experimentação individual e coletiva pelos alunos, é uma fase muito importante, pois é uma fase de descoberta dos professores e dos alunos para saber quis os movimentos que os alunos já sabem, e já conseguem ou não realizar. A segunda fase da categoria trabalho acontece quando algum movimento precisa ser aprendido e para isso é preciso o treino, o objetivo desse treino e fazer com que a técnica seja executada melhor para fazer atingir com mais satisfação a solução dos problemas apresentados, e também corrigir fragilidades no condicionamento físico. Segundo Kunz (1994):
A categoria de ação interação, segundo Kunz (1994), é a que desenvolve a competência social, nessa categoria Vale que os alunos não descobrem e nem desenvolvem experiências sozinhos, mais sempre em grupos, para os alunos se auxiliarem e para superar as barreiras do medo, insegurança e falta de habilidades para algumas atividades. A categoria de ação linguagem, segundo Kunz (1994), é a categoria que desenvolve a competência comunicativa do aluno, e que ensina os alunos falar sobre as suas experiências, frustrações e sucessos, e fazer que o aluno descreva situações e problemas, expressar e encenar movimentos de forma comunicativa e criativa é extremamente fundamental para o ensino da teoria critico emancipatória. Dentro desse processo, uma aula da teoria critico emancipatória deve ter os seguintes passos segundo Oliveira (1997, p 11).
Segundo Kunz (1994) a emancipação é um processo interminável e que tem como objetivo libertar os alunos das condições que limitam as suas capacidades racionais e criticas, e também de todo seu agir no contexto sociocultural e esportivo. Unidade pedagógica, uma proposta de unidade de ensino ou situação de ensino Nesse tópico será produzida a unidade didática de transformação dos jogos populares, e teve como base o livro Didática I, mas especificamente a unidade didática da transformação da capoeira escrito por José Luiz Cirqueira Falcão, os jogos que serão transformados aqui foram escolhidos pelo fato de serem jogos violentos, e que excluem os alunos menos habilidosos, esses jogos são a queimada, chicote queimado e Pira maromba. Queimada
Chicotinho Queimado
Considerações finais Levando em consideração que os jogos populares são um aspecto da cultura que vem se perdendo durante o tempo, o presente texto teve como objetivo resgatar esses jogos e transformá-los a partir da pedagogia critico emancipatória, que tem como objetivo estudar e transforma os conteúdos da educação física. Esta é uma visão que esta sendo construída sobre o jogo na educação física, esperamos que essa visão não sirva de receita como “receita de bolo” para os professores mais que ela possa ser estudada, aplicada e ampliada, para que abranja um numero maior de jogos populares possíveis, levando assim a cultura popular para dentro das aulas de educação física, não deixando que essa cultura desapareça durante o tempo. Referências
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