Em qual desses períodos da história do Brasil ocorreu a Revolta da Vacina

A Revolta da Vacina, grande revolta popular no início da década de 1900, ocorreu no contexto da reurbanização do Rio de Janeiro realizada na gestão do presidente Rodrigues Alves, sob a chefia do prefeito Pereira Passos.

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Contexto histórico da Revolta da Vacina

A capital à época tinha a alcunha de “túmulo de estrangeiros”, em virtude das mortes dos que visitavam a cidade, o que impedia investimentos estrangeiros e a vinda de maquinário e força de trabalho. Frente a isso, uma campanha sanitária foi realizada para evitar as epidemias e garantir os investimentos necessários para iniciar o desenvolvimento capitalista, já que era necessária uma força de trabalho que estivesse viva para trabalhar nas máquinas.

Havia constantes epidemias de peste bubônica, febre amarela, varíola, sarampo, tuberculose, escarlatina, difteria, coqueluche, tifo, lepra, entre outras. Para tentar sanar esta situação, o presidente Rodrigues Alves nomeou o jovem médico sanitarista Oswaldo Cruz para resolver a situação. Este pediu liberdade de ação para executar sua proposta de saneamento, no que foi atendido. O resultado foi a arbitrariedade e o autoritarismo na política sanitária sobre a população pobre, principalmente da área central da capital.

Em qual desses períodos da história do Brasil ocorreu a Revolta da Vacina
Oswaldo Cruz agiu com extremo autoritarismo ao propor sua política sanitária. [1]

Política sanitária de Oswaldo Cruz

O primeiro passo foi combater a peste bubônica. Sabendo que o principal vetor de transmissão da doença eram as pulgas dos ratos que infestavam a cidade, Cruz criou uma brigada de 50 homens que percorriam a cidade espalhando raticidas e ordenando a recolha de lixo. Criou ainda o cargo de “comprador de ratos”, um funcionário do Estado que pagava 300 réis por cada rato levado pelos moradores. Esta campanha obteve sucesso e apoio da população.

O segundo passo já não foi bem recebido. No intuito de erradicar a febre amarela, Oswaldo Cruz criou as “brigadas mata-mosquitos”, grupos de funcionário do Serviço de Saúde que, acompanhados de forças policiais, invadiam as edificações com o intuito de desinfetá-las e erradicar o mosquito transmissor da doença. Mas não eram apenas essas as atribuições. Podiam ainda decidir pela demolição das edificações e pela internação compulsória dos infectados.

No primeiro semestre de 1904 foram cerca de 110.000 visitas e mais de 600 edificações interditadas. Das 1000 mortes registradas como decorrentes de febre amarela em 1902, conseguiu-se, em 1909, chegar a zero. Oswaldo Cruz ganhou prêmio internacional pela ação e também a animosidade da população.

A reação popular à política do “general mata-mosquito” se faria sentir com mais fúria durante a campanha de vacinação contra a varíola. A vacina havia sido descoberta há quase duzentos anos. A intenção de Oswaldo Cruz era criar a Lei da Vacinação Obrigatória. Ele enviou ao Congresso Nacional uma proposta de lei que foi aprovada em 31 de outubro de 1904. O Jornal A Noite publicou sem autorização formal a notícia no dia 9 de outubro de 1910. O resultado foi uma campanha contrária à lei, realizada por diversos grupos e por diversos motivos.

Os militares florianistas jacobinos e os positivistas utilizaram a informação para fazer uma campanha contra Rodrigues Alves e, com isso, tentarem mais um golpe militar para a deposição do presidente, bem ao gosto das forças armadas brasileiras na história da República.

Em qual desses períodos da história do Brasil ocorreu a Revolta da Vacina
Bonde tombado na Praça da República, no Rio de Janeiro, durante a Revolta da Vacina.[2]

Criou-se ainda a Liga contra a Vacinação Obrigatória, reunindo grupos de oposição ao governo e sindicatos. A partir do dia 10 de outubro, as agitações populares se iniciaram no centro da cidade. A polícia foi chamada para conter a população e o fez violentamente, com tiros e cavalaria. O resultado foi a transformação das agitações em revolta popular.

Bondes e carroças foram atacados e destruídos, bem como o calçamento das ruas, houve saques em lojas. Nos morros da Gamboa e da Saúde, barricadas foram erigidas para impedir o avanço das forças policiais. Durante uma semana, a cidade do Rio de Janeiro viveu uma verdadeira guerra civil. O governo decretou estado de sítio e passou a combater a população e os militares que pretendiam o golpe.

O saldo da Revolta da Vacina não é preciso, mas cerca de 30 pessoas morreram, 100 ficaram feridas e 1000 foram presas. Metade dos presos foi enviada ao Acre para realizarem trabalhos forçados.

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Charge satirizando as ações de Oswaldo Cruz durante a Revolta da Vacina, em 1904.[2]

Causas e consequências da Revolta da Vacina

Os motivos para a revolta foram vários. O governo em nenhum momento realizou uma campanha de informação sobre a necessidade da vacinação, apenas obrigaria as pessoas a se vacinarem. As preocupações iam desde preceitos morais, como a suposta necessidade das pessoas se despirem para serem vacinadas, quanto sofrerem mutações por receberem no corpo a vacina. Porém, o principal problema era que a campanha sanitária foi utilizada como argumento para retirar do centro da capital a população pobre, expulsando-as para as áreas periféricas e morros, com o objetivo de “embelezar” a capital. De forma autoritária, o governo utilizava de um discurso de melhoria da saúde da população para moldar o espaço urbano de acordo com o interesse das classes dominantes, segregando o restante da população.

Os resultados na saúde foram positivos. As doenças foram controladas ou erradicadas, como é o caso da varíola, em que não há mais registros de sua ocorrência no mundo. Criou-se ainda o Instituto Oswaldo Cruz, referência na área de saúde no Brasil. Mas também intensificou a favelização no Rio de Janeiro e a exclusão da população pobre e explorada de amplos espaços urbanos, o que durante todo o século XX dificultou o acesso às mínimas condições de saneamento básico.

Crédito da imagem

[1] Pedro Celso Cruz de Souza / Commons

[2] Arquivo/FioCruz

A Revolta da Vacina foi uma rebelião popular contra a vacina anti-varíola, ocorrida no Rio de Janeiro, em novembro de 1904.

Resumo: Causas e Consequências

Quando o presidente Rodrigues Alves assumiu o governo, em 1902, nas ruas da cidade do Rio de Janeiro acumulavam-se toneladas de lixo.

Desta maneira, o vírus da varíola se espalhava. Proliferavam ratos e mosquitos transmissores de doenças fatais como a peste bubônica e a febre amarela, que matavam milhares de pessoas anualmente.

Decidido a reurbanizar e sanear a cidade, Rodrigues Alves nomeou o engenheiro Pereira Passos para prefeito e o médico Oswaldo Cruz para Diretor da Saúde Pública. Com isso, iniciou a construção de grandes obras públicas, o alargamento de ruas, avenidas e o combate às doenças.

A reurbanização do Rio de Janeiro, no entanto, sacrificou as camadas mais pobres da cidade, que foram desalojadas, pois tiveram seus casebres e cortiços demolidos. A população foi obrigada a mudar para longe do trabalho e para os morros, incrementando a construção das favelas.

Como resultado das demolições, os aluguéis subiram de preço deixando a população cada vez mais indignada.

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Em qual desses períodos da história do Brasil ocorreu a Revolta da Vacina

Charge: A Lei da Vacinação Obrigatória acende o pavio da revolução enquanto os políticos e Oswaldo Cruz (vestido de médico) ficam apavorados

Era necessário combater o mosquito e o rato, transmissores das principais doenças. Por isso, o intuito central da campanha era precisamente acabar com os focos das doenças e o lixo acumulado pela cidade.

Primeiro, o governo anunciou que pagaria a população por cada rato que fosse entregue às autoridades. O resultado foi o surgimento de criadores desses roedores a fim de conseguirem uma renda extra.

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Charge do Jornal do Brasil. 11 de agosto de 1904, criticando aqueles que se aproveitaram para criar ratos apenas para receber indenizações

Devido às fraudes, o governo suspendeu a recompensa pela apreensão dos ratos.

Contudo, a campanha de saneamento realizava-se com autoritarismo, onde as casas eram invadidas e vasculhadas. Não foi feito nenhum esclarecimento sobre a importância da vacina ou da higiene.

Num tempo onde as pessoas se vestiam cobrindo todo o corpo, mostrar os seus braços para tomar a vacina foi visto como "imoral". Assim, a insatisfação da população contra o governo foi generalizada, desencadeando "A Revolta da Vacina".

Vacinação obrigatória

O médico Oswaldo Cruz (1872-1917), contratado para combater as doenças, impôs vacinação obrigatória contra a varíola, para todo brasileiro com mais de seis meses de idade.

Políticos, militares de oposição e a população da cidade se opuseram à vacina. A imprensa não perdoava Oswaldo Cruz dedicando-lhe charges cruéis ironizando a eficácia do remédio.

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Charge retratando o cientista Oswaldo Cruz como "esfolador" do Zé Povo

Agitadores incitavam a massa urbana a enfrentar os funcionários da Saúde Pública que, protegidos pelos policiais, invadiam as casas e vacinavam as pessoas à força. Os mais radicais pregavam a resistência à bala, alegando que o cidadão tinha o direito de preservar o próprio corpo e não aceitar aquele líquido desconhecido.

O descontentamento se generalizou, somando aos problemas de moradia e ao elevado custo de vida, resultando na Revolta da Vacina Obrigatória. Entre 10 e 16 de novembro de 1904, as camadas populares do Rio de Janeiro saíram às ruas para enfrentar os agentes da Saúde Pública e a polícia.

O centro do Rio de Janeiro foi transformado numa praça de guerra com bondes derrubados, edifícios depredados e muita confusão na Avenida Central (atual Avenida Rio Branco). A revolta popular teve o apoio de militares que tentaram usar a massa insatisfeita para derrubar, sem sucesso, o presidente Rodrigues Alves.

O movimento rebelde foi dominado pelo governo, que prendeu e enviou algumas pessoas para o Acre. Em seguida, a Lei da Vacina Obrigatória foi modificada, tornando facultativo o seu uso.

Curiosidade sobre a Revolta da Vacina

A Revolta da Vacina inspirou novelas, minisséries e até ópera. A obra "O Cientista", do maestro brasileiro Sílvio Barbato, conta a vida de Oswaldo Cruz e dedica uma cena inteira ao acontecimento.

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