O que significa viés de comparação

Introdução

Os participantes de um estudo podem diferir sistematicamente da população de interesse. Por exemplo, os participantes incluídos em um estudo de vacina contra influenza podem ser adultos jovens e saudáveis, enquanto aqueles que têm maior probabilidade de receber a intervenção na prática podem ser idosos e ter muitas comorbidades e, portanto, podem não estarem representados no estudo.

Da mesma forma, em estudos observacionais, as conclusões obtidas a partir da população incluída podem não se aplicar a pessoas do mundo real pois o efeito observado pode ser exagerado, ou não é possível assumir um efeito para aqueles não incluídos no estudo.

O viés de seleção pode surgir nos estudos porque os grupos de participantes comparados podem ser diferentes  não apenas pelas intervenções ou exposições investigação. Quando este é o caso, os resultados do estudo são influenciados por fatores de confusão.

Exemplos

Um estudo sobre a prevalência da doença de Parkinson (DP) incluiu uma pesquisa porta-a-porta em um município dos Estados Unidos. Os autores usaram uma técnica de triagem em duas etapas, primeiro aplicando um questionário abrangente e, em seguida, encaminhando  os indivíduos com sinais e sintomas sugestivos de DP para uma avaliação neurológica. Mais de 97% dos moradores do município participaram e cerca de 15% dos exames positivos na primeira etapa recusaram o encaminhamento. Esforços intensos forneceram “informações valiosas sobre quase todas as recusas, que foram então revisadas por um neurologista para estabelecer um diagnóstico”. Os autores apresentaram evidências convincentes de que conseguiram obter um rastreamento completo dos casos de DP no município.

No dia da entrevista (1º. de janeiro de 1978), a doença foi diagnosticada em 31 dos 24.000 residentes do município. Desses, 13 nunca haviam passado por atendimento médico. Nesta pesquisa, se a abordagem para o rastreamento dos casos tivesse utilizado apenas o sistema de assistência médica, todos aqueles que não receberam cuidados (acima de 40%) não teriam sido identificados. Além disso, não haveria uma modo definitivo de caracterizar o viés introduzido se fossem utilizados apenas aqueles identificados por meio dos registros de saúde.

Outro exemplo é o efeito da terapia de reposição hormonal (TRH) na doença arterial coronariana (DAC) em mulheres. Vários estudos mostraram que a TRH reduziu a DAC, mas ensaios clínicos subsequentes mostraram que a TRH pode aumentar o risco de DAC. Nos estudos observacionais, as mulheres em uso de TRH eram mais preocupadas com a sua saúde, eram mais fisicamente ativas e eram de classes socioeconômicas mais altas do que aquelas que não usavam a TRH. Esta auto-seleção de mulheres (viés de seleção) levou à confusão e um “viés de usuário saudável”.

Em um estudo duplo-cego controlado por placebo sobre o uso de fenobarbital para prevenção de convulsões febris recorrentes, a adesão não foi tão boa quanto se esperava. As curvas de Kaplan-Meier calculadas para o desfecho “tempo livre de convulsão” não apresentaram diferença estatisticamente significativa, ao contrário do esperado. Os autores usaram várias definições de aderência e reanalisaram os resultados considerando os pacientes dentro dos grupos das intervenções realmente recebidas (análise ‘as treated’) e não para os quais foram inicialmente alocados. Os resultados baseados em uma certa definição de aderência mostraram que os indivíduos aderentes nos grupos fenobarbital e placebo tiveram um risco maior de recorrência do que aqueles que não eram aderentes. Os resultados foram, portanto, conflitantes e demonstraram viés de seleção devido ao atrito (perdas).

Estudos coorte prospectivos sobre dietas e estilo de vida exibem um “efeito participante saudável”, relatando taxas de mortalidade mais baixas entre os participantes do que na população em geral. Isto sugere que as pessoas que estão interessadas em estilos de vida saudáveis e, portanto, têm comportamentos mais saudáveis, como baixas taxas de tabagismo, são mais propensas a participarem de um estudo prospectivo do que aquelas com estilos de vida menos saudáveis. Isso também pode ser considerado um viés de amostragem.

Um estudo sobre tabagismo e demência encontrou um potencial viés de seleção em idosos. O viés de seleção devido à censura pela morte foi uma das explicações para a menor taxa relativa de demência em fumantes com idade mais avançada.

Impacto

O viés de seleção pode ter efeitos variados, e a magnitude de seu impacto e a direção do efeito é freqüentemente difícil de determinar.(Odgaard-Jensen J et al.)

Como exemplos, um estudo meta-epidemiológico sobre impacto do viés de seleção nas estimativas de tamanho do efeito do tratamento em ensaios clínicos randomizados de intervenções de saúde bucal encontrou estimativas de efeito significativamente maiores em estudos que tiveram geração da sequência inadequada ou desconhecida (diferença no tamanho do efeito = 0,13; intervalo de confiança [IC] = 0,01 a 0,25). Um estudo posterior para determinar a sobrevida em estudos de coorte de bebês prematuros descobriu que a presença de viés de seleção superestimou a sobrevida em até 100%.

Passos para prevenção

Para avaliar o provável grau de viés de seleção, os autores devem incluir as seguintes informações em diferentes estágios do estudo:

  • Número de participantes rastreados e randomizados;
  • Comparação das características dos grupos de intervenção / exposição na linha de base (início do estudo);
  • Estimativa de quantos potenciais participantes foram re-selecionados;
  • Quais os procedimentos foram realmente implementados para impedir a predição de alocações futuras e o conhecimento de alocações anteriores;
  • Quais foram as restrições relacionadas à randomização (por exemplo, tamanho dos blocos de randomização);
  • Qualquer evidência de não cegamento.
  • Como os dados faltantes dos participantes que saíram do estudo durante o seguimento foram tratados.

A randomização de participantes em estudos de intervenção visa fornecer o método mais justo de comparar o efeito de uma intervenção com um controle, e evitar vieses de seleção é parte deste objetivo. No entanto, isso pode não ser perfeitamente alcançado. Berger e  colaboradores apresentaram argumentos claros para o papel crucial de procedimentos adequados de ocultação da alocação e de randomização para evitar vieses de seleção.

Como tudo o que acontece após a randomização pode afetar a chance de um participante do estudo ter o desfecho de interesse, é essencial que todos os participantes (mesmo aqueles que não tenham tomado o medicamento ou tenham recebido o tratamento errado de modo acidental ou intencional) sejam analisados ​​nos grupos para o qual foram alocados. A análise por intenção de tratar inclui dados de todos os participantes aleatoriamente designados para os grupos de comparação, independentemente de terem ou não recebido o tratamento para o qual foram atribuídos, mesmo que nunca tenham iniciado o tratamento, ou que tenham mudado para outro tratamento durante o estudo. Isso evita o viés causado pela quebra da equivalência das características de base estabelecida pela alocação aleatória.

Em estudos observacionais, o viés de seleção é difícil de abordar com métodos analíticos, mas métodos para lidar com dados perdidos estão disponíveis, incluindo a última observação (ou valor de referência) analisada, modelos mistos, imputação e análise de sensibilidade usando ‘cenários pessimistas’ (onde os dados faltantes representam o pior desfecho) ou ‘cenários otimistas’ (onde os dados faltantes representam o melhor desfecho). A análise dos dados considerando apenas dos participantes que permanecem no estudo até seu término, é chamada de análise dos casos completos.

Certas medidas externas podem às vezes ser usadas para calibrar os dados de um estudo, como, por exemplo, as taxas de mortalidade são padronizadas. Além disso, a ponderação da probabilidade inversa pode ser usada sob certas premissas.

Para melhorar a generalização dos achados dos estudos, a seleção da população deve ser ampla e relatada nos critérios de recrutamento / inclusão.

Viés inconsciente são suposições, crenças ou atitudes aprendidas que temos, mas das quais nós não estamos necessariamente cientes. Embora a formação de “preconceitos” seja uma consequência esperada, considerando as funções cerebrais humanas, muitas vezes eles podem reforçar estereótipos sociais extremamente problemáticos, tais quais o racismo e a misoginia.

Para combatê-los, é necessário aprender sobre os diferentes tipos de preconceito, como eles podem ser revelados e como evitá-los. A vista disso, a seguir, confira com mais detalhes o que é Viés Inconsciente e como nos afeta.

O que é Viés Inconsciente

O viés inconsciente, também conhecido como viés implícito, é uma suposição, crença ou atitude adquirida que existe no subconsciente. De modo geral, todo mundo adquire preconceitos ao longo da vida e faz uso deles como atalhos mentais para processar informações mais rapidamente.

Contudo, os preconceitos implícitos se desenvolvem ao longo do tempo, à medida que acumulamos experiências de vida. Ademais, somos expostos a diferentes estereótipos. Quer percebamos ou não, nossos preconceitos inconscientes influenciam nossa vida profissional e pessoal.

Assim sendo, estamos sujeitos à influência externa desde a maneira como pensamos até a maneira como interagimos com nossos colegas. Afinal, os preconceitos inconscientes são atalhos mentais que condicionam nossas decisões enquanto o cérebro processa milhões de dados por segundo.

Viés Inconsciente: como nos afeta?

O viés inconsciente pode influenciar as pessoas de tal maneira que chega a afetar nossas crenças e comportamentos. Logo, quando o viés se espalha em nossas vidas profissionais, pode afetar a maneira como contratamos, interagimos com colegas e tomamos decisões de negócios.

Por isso, se não os abordamos adequadamente, esses preconceitos podem afetar negativamente a cultura do local de trabalho de uma empresa e a dinâmica de suas equipes.

Embora esses vieses tenham ampla aceitação, você pode reduzir seu impacto com cuidado e esforço pensando considerando cada um deles deliberadamente. Por essa razão, estar ciente de como funciona o nascimento de um preconceito e entender os diferentes tipos de preconceitos inconscientes que existem pode ajudá-lo a encontrar maneiras de combatê-los.


O que significa viés de comparação


7 Tipos e exemplos de viés inconsciente no trabalho

No geral, os preconceitos inconscientes se manifestam de maneiras diferentes e têm consequências distintas. Alguns preconceitos surgem da cultura de julgar a aparência das pessoas, enquanto alguns decorrem de noções preconcebidas e outros decorrem de falácias lógicas.

Para entender melhor cada tipo de viés inconsciente no mundo corporativo, abaixo, discutimos os tipos mais comuns de viés inconsciente em detalhes.

O preconceito de gênero

O preconceito de gênero, favorecendo um gênero em detrimento de outro, também é conhecido como sexismo. Logo, esse viés ocorre quando alguém associa inconscientemente certos estereótipos a gêneros diferentes.

Além disso, esse tipo de viés inconsciente pode afetar principalmente as práticas de contratação e a dinâmica dos relacionamentos dentro da empresa. Um exemplo desse viés durante a contratação é se o painel o cargo favorece candidatos do sexo masculino em detrimento do feminino.

Viés de percepção

Os vieses de percepção são baseados em estereótipos e suposições. Simplistas e errôneos, são preconceitos que vão impactar a forma como percebemos uma pessoa de acordo com nossas crenças e opiniões.

Na maioria dos casos, esses preconceitos geralmente se referem à idade, nome ou sexo de um indivíduo. Profundamente arraigados, são uma percepção subjetiva que pode levar à exclusão social.

Um nome que soa estrangeiro? Uma pessoa com a aparência fora do padrão? Um candidato obeso? Basta uma resposta positiva para essas perguntas e um preconceito pode tomar conta e direcionar nossas decisões. Os vieses de percepção muitas vezes causam a impressão errada.

O viés da beleza

O viés de beleza refere-se ao tratamento favorável e aos estereótipos positivos de pessoas consideradas mais atraentes. Isso também deu origem ao termo ” lookism “, que é a discriminação baseada na aparência física.

Um exemplo de viés de beleza seria o de um gerente de contratação tendendo a contratar candidatos que ele acha que são bonitos. No entanto, as decisões de contratação devem ser baseadas em habilidades, experiência e compatibilidade cultural, e não na aparência física.

Efeito halo

O efeito halo é um termo cunhado pelo psicólogo Edward Thorndike na década de 1920. Ele se dá quando desenvolvemos uma impressão geral positiva de alguém por causa de uma de suas qualidades ou atributos.

Leia Também:  Vício em açúcar: como a psicologia explica e trata?

De modo geral, esse efeito pode nos levar a colocar as pessoas em um pedestal sem perceber. Isso porque estamos construindo uma imagem de uma pessoa com base em informações limitadas.

Um exemplo desse efeito no recrutamento é quando um gerente de contratação vê que um candidato se formou em uma escola de prestígio. Por essa razão, esse gerente assume que se trata de um profissional competente e tira conclusões que podem não corresponder à realidade.

Viés de confirmação

O viés de confirmação é a tendência de buscar e usar informações que confirmem os próprios pontos de vista de um indivíduo e as expectativas que essa pessoa tem. Em outras palavras, trata-se da tendência de selecionar informações para validar hipóteses.

No entanto, esse viés afeta nossa capacidade de pensar de forma crítica e objetiva. Por consequência, pode levar a termos interpretações tendenciosas de informações e ignorar pontos de vista opostos.

Tome como exemplo um desenvolvedor de produto que apresenta uma ideia de produto para o mercado esportivo. Embora a pesquisa de mercado mostre que há pouco interesse no produto, ele tenta validar a ideia entrando em contato com seus amigos atletas que ele sabe que apoiaram a ideia. Por mais que seja gratificante validar uma ideia atual, é importante considerar a recepção do produto no mercado, que não parece promissora.

Viés de conformidade

O viés de conformidade, também conhecido como “pressão dos pares”, faz com que um indivíduo se conforme com a opinião dominante. Decorre desse medo de sermos mal percebidos se pensamos diferente dos outros e, portanto, nos torna suscetíveis à influência.

Durante um processo de recrutamento, os vieses de conformidade aparecem regularmente, especialmente ao escolher um candidato. Se a maioria escolher X, mas nós preferirmos Y, seguiremos a tendência e concordamos com a opinião geral.

O efeito de contraste

Muitas vezes fazemos julgamentos fazendo comparações. Como resultado, nossas opiniões podem mudar dependendo do padrão com o qual comparamos o que pensamos. Isso é conhecido como efeito de contraste.

Por exemplo, um membro da equipe fica feliz em receber a classificação “atende às expectativas” em sua avaliação de desempenho. No entanto, você começa a se sentir desconfortável quando descobre que a maioria de seus colegas recebeu uma classificação “excede as expectativas”. A comparação faz o que parecia bom não ser tão bom assim.

Mesmo tendo uma nota razoável, o integrante da equipe se julga de forma mais crítica, já que seu padrão de comparação é o resultado de seus colegas. Também pode haver efeitos de contraste positivos, que ocorrem quando algo é percebido como melhor do que o normal porque é comparado a algo pior.

Considerações finais sobre viés inconsciente

Como vimos, o viés inconsciente pode dificultar a tomada de decisões do indivíduo, afetar a dinâmica da equipe e os estilos de liderança de uma empresa. Isso, por sua vez, pode reduzir a igualdade de oportunidades para membros da equipe e candidatos.

No entanto, lidar com vieses ou preconceitos inconscientes pode ajudar a resolver esses problemas, além de melhorar o nível de diversidade. Por fim, vale destacar que a maioria de nossas decisões, emoções e comportamentos são controlados por mecanismos inconscientes.

Se você deseja aprofundar seus conhecimentos e saber como funciona o viés inconsciente da psique humana, se inscreva em nosso curso online de psicanálise clínica. Através do nosso curso, você poderá compreender melhor as relações humanas e se desenvolver individualmente e profissionalmente.