Como é o acesso à água na América Latina em relação à distribuição populacional?

O Brasil é considerado uma potência econômica mundial quando o assunto é a disponibilidade hídrica, haja vista que o território brasileiro concentra cerca de 12% de todas as reservas de água existentes no mundo. Mas isso não significa que o país não passe ou nunca tenha passado por crises de falta de água. E a principal razão é a questão da distribuição da água no Brasil e sua utilização.

Podemos dizer que as reservas de água encontram-se má distribuídas no país. A região Norte é a que apresenta a maior parte da disponibilidade, enquanto as regiões Nordeste e Sudeste apresentam um número menor dessas reservas, seguindo uma ordem inversamente proporcional ao número de habitantes dos respectivos lugares em questão. Observe a tabela a seguir:

Como é o acesso à água na América Latina em relação à distribuição populacional?

Disponibilidade hídrica dos estados em metros cúbicos por habitante em um ano

Como podemos perceber, o índice per capta da disponibilidade hídrica, isto é, a quantidade de recursos hídricos disponíveis em relação ao número de habitantes, é maior em estados pertencentes à região Norte e Centro-Oeste do país (exceto o Rio Grande do Sul), pois essas áreas apresentam uma menor densidade populacional e bacias hidrográficas com maiores vazões. Nos demais locais, a disponibilidade é menor que 20000 m³ para cada habitante durante o ano, chegando, em alguns locais, a níveis inferiores a 1500 m³.

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Se observarmos, por outro lado, o consumo frente à disponibilidade conforme as regiões, tal qual o gráfico a seguir nos apresenta, podemos chegar a novas conclusões a respeito desse cenário:

Como é o acesso à água na América Latina em relação à distribuição populacional?

Gráfico da distribuição de água no Brasil por regiões

Portanto, a região Norte, que concentra menos de 7% da população, possui cerca de 68% das reservas hídricas do país, enquanto o Sudeste e o Nordeste, regiões mais populosas, apresentam apenas 6% e 3% das reservas, respectivamente. Mas isso não significa, é claro, que as regiões mais abastadas de água estejam livres de uma crise de água, haja vista que, além da disponibilidade, são necessários planejamento, gestão e infraestrutura para garantir a distribuição desse recurso para todos os habitantes, o que nem sempre acontece.

Um exemplo disso é a própria região Nordeste, pois os problemas históricos relacionados com a seca não ocorreram nas áreas mais populosas, que se situam perto do litoral, mas sim na área do chamado polígono das secas, onde as densidades demográficas são menores. Isso nos revela que o problema da falta de água não necessariamente está relacionado com a quantidade de habitantes, e sim com questões políticas e administrativas que permeiam as diferentes esferas governamentais.


Por Me. Rodolfo Alves Pena

Com quase 31% dos recursos hídricos do mundo, a América Latina é a região mais rica do mundo em termos de disponibilidade de água doce por pessoa. Mesmo assim, em toda a região, a irregularidade no abastecimento de água e no saneamento básico faz com que esses serviços não cheguem a quem precisa.

Embora sempre tenham existido áreas com abundância de recursos hídricos e outras mais secas, essa desigualdade torna-se exacerbada pela falta de consciência a respeito dos reais custos da água.

“O público geralmente crê que a água da torneira não representa nenhum custo para o Estado e, portanto, deveria ser de graça para todos. Não ocorre a essas pessoas que existe um tratamento necessário para tornar a água potável e que é preciso transportá-la em caminhões-pipa”, explica Yehude Simon, assessor de comunicação do Programa de Água e Saneamento do Banco Mundial.

“Não existe uma cultura de preservação da água, e isso significa que esse recurso normalmente é desperdiçado. As pessoas ainda não se deram conta do real valor que ela tem.”

Em toda a América Latina, 100 milhões de pessoas são desprovidas de acesso a saneamento básico. E, com mais de 80% dos latino-americanos vivendo em cidades, essa desigualdade é mais sentida nas áreas rurais da região, onde a falta de água e saneamento é comum.

Com impactos na saúde, na educação, no turismo e em outras áreas, a falta de saneamento básico pode diminuir o Produto Interno Bruto (PIB) de 2% a 3%, segundo um estudo feito pelo Programa de Água e Saneamento no sul da Ásia.

E, à medida que as megacidades da América Latina se expandem, a tendência é que as políticas públicas se concentrem nas necessidades da crescente população urbana. Mas, embora o investimento em água e saneamento aumente as diferenças entre as zonas urbanas e rurais, em muitos países isso não necessariamente significa falta de recursos financeiros. O que falta é treinamento profissional para fazer a manutenção das redes.

Países comparados

Apesar de abrigar uma boa parte da água doce da região, o Brasil fica num modesto 23º lugar mundial no que diz respeito à disponibilidade de água por pessoa, atrás de muitos países latino-americanos.

No Peru, estima-se que a população em 2025 será de 35,5 milhões, número que representa uma ameaça aos recursos hídricos locais. Promover o uso responsável da água e dos serviços de saneamento básico torna-se, nessa circunstância, essencial. 

Por isso, em 2011, o Water Hackathon — uma competição mundial de especialistas em ferramentas para celulares — identificou as necessidades de educar e aumentar a conscientização sobre o tema. Na ocasião, foi lançado um concurso de aplicativos com o mote “Não entendemos a real situação dos recursos hídricos no nosso país e, por causa disso, eles são desperdiçados”. Este ano, o concurso focará na questão do saneamento básico.

No Equador, garantir a sustentabilidade do saneamento rural é o objetivo de um projeto conjunto do governo do país e do Banco Mundial. Iniciada em 2001, a iniciativa provê itens de saneamento básico — como privadas, fossas sépticas e pias — a comunidades pobres rurais.

Transparência e responsabilidade

Rica em minerais, petróleo e gás, a América Latina viu a renda desses setores aumentar 20 vezes ao longo da última década —e, com isso, o peso sobre os recursos hídricos da região.

Aqui, no entanto, uma parceria do Banco Mundial traz potencial de resultados surpreendentes. A Iniciativa pela Transparência das Indústrias Extrativas (EITI, na sigla em inglês) tem o objetivo de promover a lisura dos lucros vindos dos setores de petróleo, gás e mineração.

Mauricio Oscar Ríos, especialista em comunicações e conflito, explica que os diálogos multipartidários provocados por essa iniciativa — e a confiança que ela dá aos governos, à iniciativa privada e aos grupos da sociedade civil — podem dar origem a soluções coletivas em temas relacionados à água.

“Por meio de uma plataforma envolvendo muitas partes interessadas, é possível buscar reformas governamentais capazes de reduzir os problemas do setor”, comenta. “A EITI apresenta um espaço para o diálogo e vai além dos relatórios de lucro. Mas esse é um processo que não acontece da noite para o dia.”

Até o momento, o Peru é o único país latino-americano que participa integralmente da iniciativa. A Guatemala e Trindade & Tobago, por sua vez, já começaram o processo de adesão. Mas, segundo Ríos, embora 15 países tenham participado de um recente evento sobre o tema em Lima, a participação regional na iniciativa ainda carece de força.  

Como é a distribuição de água na América Latina?

Com quase 31% dos recursos hídricos do mundo, a América Latina é a região mais rica do mundo em termos de disponibilidade de água doce por pessoa. Mesmo assim, em toda a região, a irregularidade no abastecimento de água e no saneamento básico faz com que esses serviços não cheguem a quem precisa.

Por que existe escassez de água na América Latina?

Os problemas de superexploração e a contaminação das águas subterrâneas pelos quais estão passando países como México, Brasil, Paraguai, Argentina e Peru, exigem que se aprofundem os esforços realizados na captação e análise de informações, no desenvolvimento de ferramentas de planejamento e modelagem, e de programas ...

Qual é a situação do continente americano em relação à água?

2Na escala do continente, os recursos hídricos são bastante abundantes. As Américas, por exemplo, representam 45,5% dos fluxos fluviais acumulados no mundo, sendo que cobrem apenas 28,5% da área terrestre mundial.