Como o futebol feminino está organizado e seus preconceitos

Carlos A. Moreno.

Rio de Janeiro, 17 abr (EFE).- As jogadoras que integraram a primeira seleção brasileira feminina de futebol tiveram que superar barreiras como a discriminação e a total falta de apoio, o que foi compensado com muita garra e amor ao esporte e à camisa.

"No começo, era muito difícil. Para chegar aonde chegamos, tivemos que enfrentar preconceitos e até nossos pais, que não queriam que mulheres jogassem futebol", disse à Agência Efe a ex-zagueira Marisa, primeira capitã da seleção.

A ex-jogadora, de 52 anos, relatou que, no começo, as jogadoras brasileiras não recebiam salário, apenas uma pequena ajuda de custo. "Nossos pais tiravam do próprio bolso para pagar a passagem de ida, mas não havia dinheiro para a volta", contou.

Outra que falou sobre o preconceito que cercava a modalidade foi Rosilane Camargo, a Fanta. Ela afirmou ter ouvido vários "nãos" durante a carreira. "A mulher não tinha espaço dentro do futebol. Tudo era negado para nós, era sempre proibido. Conseguimos, através do nosso amor pelo futebol, aos poucos, abrir espaço para a nossa modalidade", afirmou a ex-lateral, que integrou a primeira seleção feminina convocada pelo Brasil, em 1988.

Segundo a ex-jogadora, também de 52 anos, na época o simples fato de jogarem futebol já era mal visto.

"Hoje não há tanto (preconceito) quanto antes, como na época das pioneiras, mas ainda existe. Muito pouco, mas existe. Há muitos homens que não conseguem aceitar que há mulheres que jogam melhor do que eles", opinou.

O futebol feminino foi proibido no Brasil em 1941 por um decreto do então presidente, Getúlio Vargas, que vetou às mulheres "a prática de desportos incompatíveis com a natureza feminina".

O decreto só foi revogado em 1979. Pouco depois, alguns clubes no Rio de Janeiro e em São Paulo começaram a montar equipes femininas para torneios amadores, entre as quais se destacou o Radar, um dos mais bem-sucedidos da época.

O clube, cuja sede fica no bairro de Copacabana, na zona sul do Rio, conquistou o Campeonato Carioca e a Taça Brasil de Futebol Feminino de 1982 a 1988 e foi a base para representar o país em um torneio expermimental na China.

A seleção brasileira feminina, pela qual hoje brilha Marta, eleita seis vezes pela Fifa a melhor jogadora do mundo, estreou em 1º de junho de 1988 com derrota para a Austrália por 1 a 0, mas voltou para casa com a medalha de bronze da competição realizada em território chinês.

"Comecei a jogar em uma época em que tínhamos muitas dificuldades e não tínhamos o sonho de ser jogadora de futebol. Jogávamos por prazer e muito amor", declarou a ex-meia Leda Maria, que integrou a seleção que disputou o Mundial da Suécia, em 1995, e participou da estreia do futebol feminino nos Jogos Olímpicos, no ano seguinte, em Atlanta.

"Apenas depois da primeira participação do Brasil em Jogos Olímpicos conseguimos viver do futebol. Tivemos um campeonato mais organizado em 1997. A partir daí, as coisas começaram a melhorar, e a nova geração pôde viver de futebol", completou Leda Maria, que hoje é comentarista de televisão.

Apesar das dificuldades, as pioneiras garantem que no começo, os jogos de futebol feminino atraíam mais espectadores. "Não entendo por que nessa época todos os clubes tinham futebol feminino, não só os grandes, e havia apoio dentro dos estádios. Embora houvesse preconceito, havia um apoio grande da torcida para o futebol feminino, era diferente. Hoje em dia, o futebol feminino tem estrutura, mas não se vê tantas pessoas apoiando o futebol feminino nos estádios", constatou Fanta.

"Havia muita dificuldade, e não tínhamos estrutura, mas tínhamos muito amor, muita raça, muito carinho pelo país, pela camisa. Para nós, a diversão era estar lá, representar (o país) sem valor financeiro algum, mas deixando o futebol feminino em evidência, algo que não vemos nas novas gerações", completou, em tom crítico. EFE

A cada ano que passa, o futebol feminino vem brigando por mais espaço no mundo da bola. Neste artigo você poderá aumentar seus conhecimentos e entender um pouco mais sobre o preconceito no futebol feminino e o preconceito com as mulheres no esporte.

Vale lembrar que essa matéria não pretende impor nenhuma verdade absoluta sobre o preconceito no futebol feminino. Mas sim, trazer pontos importantes para esse debate.

Por que o futebol femino é tão desvalorizado no Brasil?

Muitas atletas já se queixaram da falta do reconhecimento das mulheres no futebol brasileiro.

Desde salários desiguais, até premiação das competições organizadas pelos órgãos responsáveis pelo futebol. Por qual motivo o futebol feminino é tão desvalorizado no Brasil?

Certamente, o preconceito no futebol feminino vai além das quatro linhas.

Grandes times de futebol demoraram para montar equipes de futebol feminino. 

Muitos passaram a contar com um elenco profissional feminino somente após ser uma obrigação exigida pela FIFA.

Além disso, os patrocínios envolvendo competições femininas são muito menores. 

Afinal, os campeonatos de futebol feminino não são transmitidos pelas principais emissoras do país.

Com salários mais baixos e menos incentivo do que recebem os homens, as mulheres lutam pelo fim do preconceito no futebol feminino.

Quais os preconceitos no futebol feminino

O preconceito com mulheres no futebol aparece desde cedo. Muitas meninas acabam sendo desestimuladas a praticar o esporte por “não ser coisa de mulher”.

Essas pequenas frases podem acabar com o sonho de várias garotas, além de ser um grande preconceito com as mulheres no esporte.

Certamente, você já deve ter ouvido alguém comentar que “mulher jogando bola é errado”. Entretanto, nenhum motivo plausível é apresentado para concluir a afirmação.

Nas categorias de base a dificuldade é ainda maior. Poucas oportunidades, condições precárias e, muitas vezes, nenhum salário.

Já parou para pensar quantas Martas e Formigas nós perdemos por conta do preconceito no futebol feminino?

Falando nisso, a Rainha do futebol é uma jogadora que sempre luta por mais reconhecimento das mulheres no futebol.

Um dos pontos apresentados por Marta é, justamente, o patrocínio recebido por ela, eleita seis vezes melhor jogadora do mundo, ser infinitamente menor que o do Neymar, por exemplo.

Outra atleta de alto nível que também combate o preconceito no futebol feminino ganhou os holofotes ao provocar o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, após conquistar a Copa do Mundo de 2019.

Megan Rapinoe, eleita a melhor jogadora do mundo na época, levanta pontos importantes para o debate sobre o preconceito no futebol feminino.

De acordo com a atleta, não faz sentido o futebol masculino ser mais valorizado em seu país. Afinal, elas ganharam a Copa do Mundo em quatro oportunidades.

Já o futebol masculino dos Estados Unidos nunca conseguiu grandes feitos e, certamente, nunca chegará perto das conquistas do feminino.

Então, por qual motivo o salário e prêmios pagos pelas ligas norte-americanas são maiores para os homens?

Porque as mulheres são menos valorizadas no futebol?

O que falta para o reconhecimento das mulheres no futebol chegar? Por qual motivo as mulheres são menos valorizadas?

Uma afirmação bastante comum diz que: o interesse é maior pelo futebol masculino e, portanto, as marcas irão querer investir nele e estarão dispostas a pagar um valor maior.

Outro ponto levantado é o nível de competitividade. Muitos dizem que o futebol feminino é inferior ao masculino, mesmo existindo exemplos como o levantado por Marta e Rapinoe.

Até mesmo na horar de torcer as mulheres encontram dificuldades. Existe quem pense que estádio de futebol não é lugar para garotas.

Ou então, custam a acreditar que a mulher realmente entenda sobre futebol e começam com questionamentos do tipo: “então, me fala o que é impedimento”.

Qual a importância do público feminino dentro do esporte?

Para muitos, o futebol feminino é desvalorizado devido o baixo interesse do público. Portanto, a importância das mulheres dentro do esporte, não apenas como jogadoras, é fundamental.

Com o investimento chegando aos poucos, muitas torcedoras já passam a engajar com os times de futebol feminino no Brasil.

Além disso, o esporte é um direito de todo cidadão e não pode ser privado de ninguém. Por isso que não é errado mulher jogando bola! Muito pelo contrário!

Quanto mais crianças forem mobilizadas pelo esporte, independente de qual seja, melhor será para toda a sociedade.

Por isso, é fundamental que as mulheres ocupem grandes espaços no esporte para que sejam referências aos futuros atletas e cidadãos do mundo.

Quantos times de futebol feminino existem no Brasil?

Assim como no masculino, existem muitos times de futebol feminino no Brasil. Entretanto, nem todos os clubes são profissionais, no caso das mulheres, a grande minoria funciona assim.

Para você ter uma ideia, em 2020 haviam 16 clubes disputando a Série A do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino. Deles, 10 eram considerados profissionais pela CBF.

Os outros seis clubes da primeira divisão ocupavam a categoria de times amadores, mesmo jogando na elite do futebol feminino.

Atualmente, na temporada 2021, todos os times de futebol feminino da primeira divisão são profissionais. (confirmar essa informação com alguma especialista, nenhuma matéria recente sobre o assunto).

O que um time precisa para ser considerado profissional?

Para uma equipe ser considerada profissional pela CBF, é necessário emitir contratos profissionais das jogadoras no sistema da gestora do futebol brasileiro e da FIFA.

Neste caso, é necessário registrar as atletas como funcionárias CLT, com todos os direitos incluídos e assegurados.

Há poucos anos, era uma tarefa complicada encontrar uma jogadora de futebol recebendo salários com carteira assinada. Trata-ve de um privilégio dos homens, e para poucas.

Felizmente, isso está mudando a cada temporada que passa. Contudo, falta muito para o acabar com o preconceito no futebol feminino.

Como o futebol feminino é visto pela sociedade atual?

A importância do futebol feminino para o Brasil Como foi citado anteriormente, o esporte é resistência e luta. Mas a luta, muitas vezes, não fica confinada apenas ao campo, ela está na sociedade como um todo. “[O futebol feminino] é uma forma de mostrar para a sociedade que podemos estar onde quisermos.

Quais as formas de preconceito que ainda existem no futebol?

As denúncias de racismo, homofobia e sexismo nos estádios aumentam ano após ano. De acordo com levantamento parcial do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, o número de casos registrados apresentou alta de quase 20% em 2019.

Quais são os nossos preconceitos ainda existentes em relação a participação feminina nos esportes?

Entre eles: o não reconhecimento do ser mulher atleta, ou seja, não ser reconhecida pelo seu desempenho dentro das quadras, mas pelo seu belo corpo; as relações sociais no esporte serem construídas em cima de valores sexistas, e a mulher atleta não poder viver dignamente através de seu trabalho no contexto esportivo.

Quando começou o preconceito no futebol feminino?

A sua proibição Com isso, em 14 de abril de 1994, foi criado um decreto que proibia as mulheres de praticarem esportes que fossem "contra a natureza feminina" e o futebol foi enquadrado nessa categoria.