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Conhecendo o acervo - 07/22/2020 Brasileiros na Hospedaria: A década de 1930 - Um Período de TransformaçõesNa tarde do dia 09 de novembro de 1936, a Hospedaria de Imigrantes do Brás foi, de certa forma, reinaugurada. Depois de um ano de reformas, o edifício recebeu uma fachada remodelada, novas camas para os dormitórios, instalações higiênicas, cozinha, mesas de mármore no refeitório, aparelhos recém-adquiridos para desinfecção de pessoas e bagagens, além da criação de um posto médico e a construção de um novo hospital. Estiveram presentes na cerimônia diversos jornalistas e autoridades públicas paulistas, o que indica a importância conferida ao fato.[1] As pessoas que iriam usufruir dessa Hospedaria mais moderna eram, em sua maioria, os migrantes nacionais. A década de 1930 representou a confirmação de uma mudança nas características dos fluxos migratórios para São Paulo; pela primeira vez, as entradas de brasileiros provenientes de outros estados, especialmente do Nordeste, superaram as de estrangeiros. Durante esse período, a imprensa começou, inclusive, a registrar as chegadas de navios em Santos que traziam trabalhadores nacionais. Essas notas, geralmente, apresentavam o título "Imigrantes Nordestinos para a lavoura paulista". Vejamos alguns exemplos. Em fevereiro de 1936, procedente de Belém e escalas, o vapor Rodrigues Alves aportou em Santos, com 137 migrantes.[2] Em abril de 1936, foi a vez dos vapores Itapagé, também procedente de Belém e escalas, com 273 passageiros[3], depois, o Comandante Ripper, com 169 sergipanos[4] e, novamente, o Itapagé, com mais 59 cearenses[5]. Em 1937, os desembarques se intensificaram e os números de migrantes cresceram nos navios, como no caso do Comandante Alcídio que, em fevereiro, trouxe 311 passageiros.[6] É interessante observar as rotas das embarcações, que partiam comumente do porto de Belém, no Pará, e, depois, paravam em portos dos estados nordestinos. Além disso, em algumas ocasiões, era necessária a troca do vapor no porto do Rio de Janeiro. Outra consideração importante diz respeito ao fato de que a viagem por mar não era a única maneira de chegar em São Paulo, existiam rotas terrestres. Hospedaria de Imigrantes do Brás no dia da inauguração das reformasOs migrantes citados acima foram todos direcionados para a Hospedaria de Imigrantes do Brás. É preciso destacar que a notícia sobre a reinauguração da Hospedaria menciona o trabalho de membros da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo em reafirmar a importância do edifício na acolhida de trabalhadores. Isso porque, no início da década de 1930, a Hospedaria exerceu outras funções e os migrantes que chegavam em solo paulista ficavam desassistidos. Em janeiro de 1934, um informe no jornal Correio Paulistano, apontado como "Lamentável", evidencia essa situação: "É sabido o que se passa, ali mesmo, à rua Brigadeiro Tobias: 400 e tantos retirantes do Nordeste detidos pela polícia! Espetáculo degradante. Essa gente desceu o São Francisco. Tomou o trem em Pirapora. No meio dela, vieram alguns variolosos. Aqui chegando, o governo isola esses homens em pleno coração da cidade, num velho pardieiro, sem higiene. É verdadeiramente lamentável! Não dispõe, então, o governo de meios para acolher os trabalhadores que nos procuram? Antigamente, possuía a Secretaria de Agricultura, na Mooca, uma excelente Hospedaria de Imigrantes, que, depois de 24 de outubro, foi tudo, até manicômio. Hoje, é quartel. Está entregue ao Exército. São Paulo em outros tempos nunca presenciou fatos como esse. Vários jornais já registraram, revoltados, esses tristes acontecimentos, inclusive alguns insuspeitos ao governismo. A Carta Magna limitou a imigração a 2% sobre os estrangeiros aqui fixados. Os outubristas acabaram com as magníficas instalações da Mooca. Hoje, o que se vê é isso. E São Paulo não está ameaçado de apanhar uma epidemia de varíola? Já pensaram nisso as autoridades sanitárias?" [7] O texto acima evoca diversas questões. A princípio, bastante significativa é a menção aos outros usos da Hospedaria em determinados períodos da primeira metade da década de 1930, a falta de um local adequado para acolher migrantes que chegavam na capital paulista e a percepção de que o edifício da Hospedaria estava sendo mal utilizado. Pode-se imaginar, posteriormente, uma pressão por parte da imprensa e da classe política sobre esse fato. Disso resultaram as reformas na Hospedaria em 1936. Entretanto, esse novo período durou pouco tempo. Com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a Hospedaria de Imigrante do Brás foi cedida aos militares e transformada em Escola Técnica da Aviação. Alguns anos depois do fim da guerra, a aeronáutica deixou o prédio, que voltou a ser um espaço de acolhida. Porém, as instalações da década de 1930 já não eram tão atuais e novas reformas eram necessárias, ainda mais levando em consideração o aumento exponencial das migrações nacionais e internacionais em direção a São Paulo a partir da década de 1950. É, nesse período, com a intensificação das chegadas de migrantes brasileiros em solo paulista, que alguns estereótipos, especialmente sobre nordestinos, começam a ser mais recorrentes. Alguns elementos que ajudaram na construção desses discursos preconceituosos aparecem no artigo do Correio Paulistano, como a relação de retirantes com doenças contagiosas e a falta de higiene, por exemplo. Mas isso é tema para outras publicações. Referências bibliográficas [1] Correio Paulistano, 10.11.1936. [2] Idem, 02.02.1936. [3] Idem, 20.04.1936. [4] Idem, 03.04.1936. [5] Idem, 17.04.1936 [6] Idem, 20.02.1937. [7] Correio Paulistano, 10.01.1934. Foto da chamada: Hospedaria de Imigrantes do Brás antes da reforma iniciada em 1935. Quando começou o fluxo migratório no Brasil?Migrações no Brasil nas décadas de 50 e 60
A partir dos anos 1950, o Brasil vivenciou um intenso fluxo migratório da região Nordeste para o Sudeste, uma vez que a segunda vivia o período da industrialização e, como consequência, atraía muita mão de obra.
Qual foi o período de maior fluxo migratório no Brasil?A região Sudeste do Brasil, até o final do século XX, recebeu a maior quantidade de fluxos migratórios do país, principalmente o estado de São Paulo, pelo fato de fornecer maiores oportunidades de emprego em razão do processo de industrialização desenvolvido.
Em que período da história brasileira os povos nordestinos migraram?A migração interna no Brasil possuiu dois fluxos que foram de 1935 a 1939 e de 1939 a 1950. A criação do ITM – Inspetoria de Trabalhadores Migrantes – e os acontecimentos do Estado Novo marcam a divisão deste período.
Qual foi o período em que houve maior saída de nordestinos para outra região do país?1Associada ao processo de crescimento acelerado e concentrado da economia brasileira, que aprofundou as desigualdades regionais no país, a migração de nordestinos para a Região Sudeste entre os anos 1930 e 1970 foi um dos maiores fenômenos da dinâmica demográfica no Brasil.
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