O essencial é invisível aos olhos quem disse isso

Valter Machado Fonseca

Quando Antoine de Saint-Exupéry escreveu “O Pequeno Príncipe”, ele levantou uma das mais importantes reflexões que se arrastaria ao longo dos tempos e que iria fazer com que a humanidade indagasse sobre si própria. Esta célebre frase abre importante reflexão acerca das diferenças entre a essência e a aparência. Existe enorme diferença, um abismo, enfim, uma profunda distância entre “ver” e “enxergar”. 

Esta frase que nasceu com toda sua potencialidade provocadora de reflexões nos tempos pretéritos, se torna ainda mais atual nos tempos presentes. Nos tempos onde o homem cria desejos e necessidades artificiais e se esquece dos valores e das necessidades reais. Nesses tempos d’agora, o homem anula a realidade e iguala, de forma altamente cruel, a essência à aparência. Isto nos leva a buscar, outra vez, as reflexões contidas na frase de Saint-Exupéry: o que significa “ver” e o que significa “enxergar” o mundo e as coisas do mundo? Para que serve a vida se estamos sendo moldados para jamais buscar a nossa essência no mundo? Para que serve a vida afinal, se estamos sendo moldados para nos contentarmos com a aparência do mundo e das coisas do mundo, aparência construída por poucos e que está totalmente distante de nossa verdadeira essência? Querem nos fazer crer que a aparência de uns poucos tem que servir como “essência” para a maioria. Querem transformar a verdadeira essência do homem, em aparência, em coisas, é a coisificação do homem, do mundo, da vida. 

Por isso, o simples ato de “ver” está totalmente distante do nobre ato de “enxergar”. “Ver” o mundo e as coisas do mundo é simplesmente se contentar em admirar, é se estagnar na tranquila postura de observar o mundo apenas em sua aparência, recusando-se a buscar sua essência. Já o ato de “enxergar” o mundo é procurar por sua significação, é fugir da cômoda postura de simples admirador, de mero contemplador. É procurar, constantemente, por sua verdadeira função, seu real papel no mundo e, não simplesmente se contentar em admirá-lo. É também procurar a sua própria significação no “outro” que também compartilha contigo este mundo e as coisas do mundo. 

Qual é a sua relação com o outro neste mundo? Qual é a significação de nossa capacidade cognitiva, de raciocínio, de criação dentro deste mundo? Para que serve esta capacidade superior? Serve apenas para admirar o mundo e as suas coisas? Ou será que serve para atuarmos neste mundo buscando, incessantemente, transformá-lo? Diante da nossa sublime capacidade de compreensão, de criação, de transformação, o simples dom da observação mecânica, estática, perde totalmente o sentido. Por isso, o “pequeno príncipe” jamais se abdicava de suas interrogações. Por isso, ele jamais desistia de buscar suas respostas. Ele não se contentava com o simples ato mecânico de “ver” o mundo, ele queria “enxergar” o mundo. Ele jamais se contentava com a mera aparência, ele sempre perseguia a busca da verdadeira essência de “ser”, de existir neste mundo. 

Na mesma medida de sua insistência, diante de suas indagações, devemos também nós apurar os sentidos para a compreensão plena do mundo e de uma sociedade em transformação, em constante movimento. Devemos compreender a história em sua concepção dialética. Neste sentido nos é importante a percepção do enorme abismo entre o simples fato de ver e contemplar o mundo e seus fenômenos de forma estática, numa postura passiva, com o exercício fundamental de enxergar este mesmo mundo e seus fenômenos em constantes transformações em um movimento dialético e histórico. O “ver” se liga apenas à aparência, enquanto que o “enxergar” é o cimento que preenche as rachaduras das aparências para que possamos ir para além delas, de forma a compreender a complexidade e a totalidade da essência de “ser” humano.

Assim, Saint-Exupéry, num texto que muitos afirmam sua feitura para a infância, nos mostra de maneira altamente adulta que a aparência não passa do simples indício da existência de uma real essência. Que o dom de “ver” o mundo nos indica que é necessário evoluirmos para a sublime condição de “enxergar” o mundo, buscando, incansavelmente, sua transformação. Aí, nos indica que devemos abominar as afirmações tais como, “se nascemos assim é porque assim deve ser”, ou “as coisas sempre foram assim”. São posturas como essas que transmitem a alguns poucos a sensação do “poder” moldar a grande maioria, de que podem criar desejos, necessidades segundo sua própria vontade, que podem julgar e subjugar os outros à revelia. São posturas como essas que fazem com que poucos se sintam no direito de criar aparências segundo sua medíocre essência. 

Por fim, o que mais existe neste mundo são pessoas que possuem os olhos perfeitos, visões incrivelmente perfeitas, porém, não são capazes de enxergar absolutamente nada, diante do vazio de suas aparências, totalmente desprovidas de quaisquer essências.

1 – Pesquisador e Professor Adjunto II do Departamento de Educação da Universidade Federal de Viçosa (DPE/UFV). Escritor, Geógrafo, mestre e doutor em educação. Pós-doutorado em Educação do Campo, saberes populares e Agroecologia. Pós-doutorado em Ensino de História da África e afrodescendentes pelo PPGHIS/UFOP. Docente efetivo dos Programas de Pós-graduação (mestrado) em Educação (PPGE/UFV) e em Geografia (PPGeo/UFV).


Imagem de destaque: Joseluism

O que significa dizer que o essencial é invisível aos olhos?

O essencial é invisível para os olhos. - O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar. A oração sublinha que devemos deixar de fora as superficialidades e explorar o que realmente importa: aquilo que vai no interior.

Qual a frase mais famosa do Pequeno Príncipe?

“Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.” Essa é uma das frases do pequeno príncipe que se tornou mais marcantes. É preciso enxergar além das aparências para que se veja aquilo que realmente importa.

O que a raposa diz para O pequeno príncipe?

Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...”

Quem é o autor do livro O pequeno príncipe?

Antoine de Saint-ExupéryO Pequeno Príncipe / Autornull