O que aconteceu com a economia russa após o fim da URSS?

Resumindo a Notícia

Trinta anos se passaram desde o fim da União Soviética e, desde que o presidente Mikhail Gorbatchov renunciou, em 1991, encerrando sua missão de realizar a abertura do regime, muitos países locais ainda se ressentem de seu passado comunista. Um passado que, na Rússia, nação de maior impacto internacional entre todas as ex-repúblicas soviéticas, se encaixa à própria característica do país: a de ser comandado por regimes centralizadores. Muitas vezes, autoritários.

Veja também: Crianças fazem sucesso na internet com vídeos virais

Nem mesmo nesta nova fase democrática essa tendência deixou de existir. A Rússia, afinal, nas últimas três décadas, foi comandada praticamente por apenas dois presidentes: Bóris Yeltsin, entre 1991 e 1999, e Vladimir Putin, a partir de 2000, tirando a fase em que Dimitri Medvedev assumiu o cargo, entre 2008 e 2012. O governo Medvedev, porém, esteve atrelado às decisões de Vladimir Putin, após ele encerrar dois mandatos e ser obrigado a deixar a presidência, transformando-se em um primeiro-ministro que, na prática, ditava as regras.

Esse grau de influência, baseado na centralização do poder, vem desde o czarismo (1547-1917), transformando-se em um outro tipo de absolutismo no período comunista (1917-1991) e mantendo alguns resquícios a partir do fim da União Soviética. Neste cenário, o capitalismo russo, que entrou em cena a partir do momento em que Yeltsin, comandante da resistência a um golpe comunista em 1991, ainda não se estabeleceu plenamente.

"A iniciativa privada é fortemente regulada e segue os ditames do Estado. Dessa maneira acaba-se com uma economia em que a iniciativa privada torna-se sócia do governo que é o grande decisor econômico", afirma o economista Denis Rappaport, mestre pela Duke University (EUA).

Yeltsin iniciou um intenso processo de privatização que acabou gerando a formação de oligopólios (muito poucas empresas controlando mercados), com muitos mandatários das empresas tendo ligações fortes com o governo, o que gerou suspeitas permanentes de corrupção e evasão de divisas neste incipiente capialismo. Foi um período de inflação e desemprego no país, que ainda carrega sequelas deste choque econômico.

Para Rappaport, por mais que Yeltsin e Putin propagandearam o combate aos oligopólios, a realidade é a de que eles continuam prevalecendo no país.

"Certamente os oligopólios seguem dominando a economia russa e talvez a maior parte da economia mundial", observa.

Desta forma, apesar de já estar inserida em uma economia de mercado, a Rússia ainda carece de algumas ferramentas para ingressar de vez no capitalismo, dentro de um regime que alie a livre iniciativa à justiça social.

Concentração no Estado

Teoricamente, muitas iniciativas se voltaram para a economia de mercado. Após o período estatizante, de economia planejada, da União Soviética, a Rússia pós-comunismo entrou em processo de desestatização, com privatizações e concessões, com apoio do FMI (Fundo Monetário Internacional), criação de bancos, seguros e bolsa de valores.

Há 10 anos, a nação ingressou na OMC (Organização Mundial de Comércio). Mas, segundo o professor de Relações Internacionais, Vladimir Feijó, da Faculdade Arnaldo, com todas as inovações da segunda e terceira revoluções industriais e o crescimento e relevância da iniciativa privada, os governos na Rússia seguem tendo papel relevante no câmbio; juros; emissão de permissões e concessões; fiscalização de fronteiras e na tributação.

E, além desse histórico ligado à concentração de poder estatal, o capitalismo na Rússia se torna atípico também por causa da posição geográfica do país.

"A Rússia é peculiar por ter a maior extensão territorial entre os países, fazer fronteira com uma grande quantidade de países e ter alto potencial de inovação tecnológica", observa Feijó.

Somados a esses pontos, os recursos naturais são a principal fonte de renda russa e isso se tornou um fator determinante para o governo manter o controle sobre eles, por motivos estratégicos. A Rússia tem as maiores reservas de gás natural do mundo e um custo de produção baixo.

"O fato de seus vizinhos a oeste serem carecedores de recursos minerais e energéticos coloca  a Rússia em posição geoestratégia de aproveitar esse mercado para crescer mas também para exercer pressão sobre eles. A opção por um modelo com alta concentração econômica faz parte desse projeto geopolítico", completa Feijó.

Putin tem tentado difundir uma ideia de que a Rússia não deve apenas ser vista como um "posto de gasolina", em razão da abundância de reservas de petróleo e gás natural, que fizeram do país um ente indispensável para a economia europeia. Neste contexto, inserem-se itens como a venda de armamentos militares a aliados estratégicos, a área científica (como o desenvolvimento da vacina Sputnik V), a indústria aeroespacial e exportações agrícolas.

Mas, mesmo com Putin conseguindo estabelecer uma política de crescimento econômico, até a pandemia, a economia russa ainda está fortemente atrelada à exportação de petróleo. Nações da União Europeia utilizam 70% do petróleo e 65% do gás exportados pela Rússia, o que faz com que a instabilidade econômica russa e as ambições políticas de Putin se tornem uma ameaça.

Entretanto, ressaltando que em vários outros países corrupção e distorções na livre concorrência também são consequência da concentração de poder, Feijó acredita que o sistema russo pode ser considerado capitalista.

"Não podemos embolar a categorização de tipo de modelo econômico com tipo de modelo político. O modelo capitalista admite ainda alguma planificação governamental através de agências reguladores ou parâmetros de atuação estabelecidos via normas de ordem pública. A iniciativa privada precisa ter espaço para decisões e planejamentos de posição no mercado. As empresas oligopolistas de capital russo participam tanto interna quanto internacionalmente, hora com proximidade e hora confrontando o governo", afirma.

O economista Rappaport, porém, aponta maiores dificuldades em combater a concentração de poder em economias atreladas com intensidade às decisões do Estado.

"Combater oligopólios em um modelo de capitalismo liberal como o americano/europeu já é muito dificil. Em um modelo de capitalismo de Estado como a China ou a Rússia é impossível, pois eles são inerentes ao sistema econômico", completa.

Como ficou a economia da Rússia após o fim da União Soviética?

1998 - Após anos tentando se recuperar do colapso causado pelo fim da URSS, a Rússia sofre nova grave crise econômica, com queda de 5,3% do PIB.

O que aconteceu com a Rússia após a queda da União Soviética?

Em 25 de dezembro de 1991 tem fim a URSS, fazendo surgir 15 novos países. Além dos bálticos, ganharam a independência Rússia, Ucrânia, Bielorrússia, Moldávia, Geórgia, Armênia, Azerbaijão, Casaquistão, Turcomenistão, Tajiquistão, Uzbequistão e Quirguistão.

Como a economia russa reagiu com a desintegração da União Soviética?

Após o fim da URSS e o seu desmembramento em quinze repúblicas, a Federação Russa surge em meio a grandes problemas econômicos. Seu PIB e sua produção caiu cerca de 50%, o desemprego chegou a atingir 25%, o que gerou uma grande desmoralização russa internacionalmente.

Quais foram as consequências para a economia da URSS?

A União Soviética tornou-se uma das principais nações industriais do mundo. A produção industrial era desproporcionalmente alta na União Soviética, em comparação com as economias ocidentais. No entanto, a produção de bens de consumo foi desproporcionalmente baixa.