Porque a independência dos EUA e considerado uma revolução?

A Independência dos Estados Unidos da América, ocorrida formalmente no dia 4 de julho de 1776, foi um dos principais acontecimentos da Idade Moderna e um “divisor de águas” na história do continente americano. Isso porque os Estados Unidos foram a primeira nação de colonos das Américas a romper com sua metrópole, a Inglaterra. Além disso, foi também nos EUA que se teve a primeira experiência de um regime republicano presidencialista e federativo, inspirado no liberalismo.

  • Fim da Guerra dos Sete Anos

Para compreender bem por que a Independência dos EUA ocorreu em meados da década de 1770, é necessário entender o contexto da época.

De 1756 a 1763, houve a chamada Guerra dos Sete Anos, conflito que envolveu os principais reinos da Europa, entre eles a França e a Grã-Bretanha. Como essas duas nações possuíam colônias na América do Norte, o conflito estendeu-se também para lá. A guerra chegou ao fim com a Grã-Bretanha como uma das vencedoras. Entretanto, os custos provocados pela guerra foram altíssimos e os ingleses acabaram endividados.

Grande parte da dívida passou a ser cobrada dos colonos americanos, que, diga-se de passagem, já haviam ajudado os ingleses durante a guerra. Tal cobrança institucionalizou-se nas chamadas “Leisproibitivas”. Foi a partir da reação dos colonos a essas leis que a Independência ocorreu.

  • As leis proibitivas e a questão do chá em Boston

As leis proibitivas eram restrições fiscais, isto é, imposição de limitações às relações comerciais no território colonial. Uma dessas leis era a Lei do Selo, promulgada em 1765, que tinha como objetivo cobrar imposto sobre todos os produtos que circulavam nas colônias. A cobrança era feita por meio da obrigatoriedade da impressão do selo real nas mercadorias. Além da Lei do Selo, outras foram impostas com o mesmo objetivo: a Lei do Açúcar, a Lei da Moeda, a Lei do Aquartelamento e a Lei do imposto sobre o chá.

Essa última, a Lei do imposto sobre o chá, provocou uma revolta que se tornaria símbolo da Independência. A lei do chá desvalorizava a erva produzida nos EUA para que os colonos fossem obrigados a comprar a erva de chá produzida pela Companhia das Índias Ocidentais e negociada pelos ingleses. No ano de 1770, houve o assassinato, pela guarda inglesa, de cinco indivíduos que protestavam contra essa lei na cidade de Boston.

Em dezembro de 1773, colonos de Boston disfarçaram-se de índios, infiltraram-se em um dos navios da Companhia das Índias Ocidentais e jogaram as sacas de erva no mar. Esse gesto ficou conhecido como Festa do Chá de Boston e deu origem a um dos mais sólidos movimentos políticos conservadores dos Estados Unidos.

  • Congresso da Filadélfia e a Declaração de Independência

As reações contra a coroa inglesa começaram a ficar cada vez mais intensas após 1773. Essas reações resultaram na formação, em 1774, do Congresso Continental, ou Congresso da Filadélfia, formado por delegados das Treze Colônias. Foram os representantes desse Congresso que optaram pela ruptura com a coroa inglesa, em 2 de junho de 1776.

Essa decisão resultou na Declaração de Independência, dois dias depois, em 4 de julho, inspirada no pensamento iluminista e liberal do fim do século XVIII. Como ressalta o historiador Leandro Karnal, o teor da Declaração de Independência “é típico desse “pensamento ilustrado”, presente nas colônias no século XVIII. Em muitos aspectos lembra o panfleto de Paine, misturando elementos de pensamento racional com argumentos religiosos”. (KARNAL, Leandro. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2015. p. 86).

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O Parlamento britânico aumentou o número de soldados nas colônias. Aos olhos dos americanos, o exército real transformou-se em ameaça e afronta, o que fez aumentar primeiro a tensão e depois o número dos conflitos de rua, culminando com o chamado Massacre de Boston, em março de 1770, quando soldados britânicos abriram fogo sobre civis e mataram alguns deles.

Lei do Chá

O auge da crise deu-se com a Lei do Chá, que favorecia os comerciantes ingleses, dando-lhes o monopólio do mercado desse produto nas treze colônias. A resposta americana teve lugar em Boston, no episódio conhecido como Festa do Chá, quando americanos vestidos como índios saquearam navios ingleses, jogando ao mar sua carga de chá. Seguiram-se as chamadas Leis Intoleráveis britânicas, em 1774, e, no ano seguinte, explodiu a guerra, com as batalhas de Lexington, Concord e Bunker Hill.

As Leis Intoleráveis marcaram o fim das reivindicações econômicas dos americanos. A partir de então, a luta passou a ser nitidamente política. A cidade de Boston centralizou a necessidade de união para resistir às pressões inglesas.

Em setembro de 1774, depois da dissolução - pelo governo real - das Assembleias coloniais, preparou-se o Primeiro Congresso Continental, realizado em Filadélfia, capital da Pensilvânia, no ano seguinte. Ali, uma aliança entre Norte e Sul, radicais e moderados, comerciantes e agricultores, começou a tomar forma.

No Congresso, definiu-se uma Declaração de Direitos, princípios políticos e econômicos a serem defendi dos pelas colônias transformadas em Estados. Criou-se ali, ainda, uma força armada: as milícias patrióticas.

Divergências entre o Norte e o Sul

No Segundo Congresso Continental, em maio daquele mesmo ano de 1775, o movimento de resistência aos abusos ingleses passou a ser, de fato, um movimento voltado para a separação, com a criação do Exército Continental.

No entanto, os colonos, de acordo com seus interesses, dividiam-se quanto à posição a tomar diante da Grã-Bretanha. Se os burgueses progressistas do Norte e do Centro conseguiam a simpatia da população contra os ingleses e a Coroa, os aristocratas sulistas eram fiéis ao rei, e buscavam a conciliação.

A independência dos EUA

A Declaração de Independência somente se efetivou em julho de 1776, mais de um ano depois do começo das hostilidades entre americanos e ingleses. Mesmo depois da Declaração, a reação antibritânica não foi unânime, tendo a guerra contra o Império assumido o caráter de uma guerra civil. Os sulistas impuseram a um liberal como Thomas Jefferson, e seus partidários, a eliminação dos itens abolicionistas contidos na Declaração.

O general George Washington

No decorrer dos conflitos, o Congresso Continental, funcionando precariamente como governo central das colônias, conseguia com dificuldade que cada colônia cumprisse com suas obrigações. Enquanto isso, o general George Washington, com um exército americano pobre e desorganizado, procurava lutar como podia para manter acesa a chama da luta pela independência.

A ajuda estrangeira - afinal - permitiu um desfecho favorável aos americanos. A participação da França e, depois, da Espanha e da Holanda - cujos interesses conflitavam com os de uma Inglaterra forte -, foi decisiva para a vitória final. Também o apoio dessas potências às colônias americanas Facilitou as ações diplomáticas que levaram a um acordo de paz, assinado em Paris no ano de 1783, no qual a Grã-Bretanha reconheceu a Independência dos Estados Unidos.

A Revolução americana

A independência em relação à Grã-Bretanha não marcou o fim do processo revolucionário norte-americano nem o surgimento efetivo de uma nova nação. A fundação dos Estados Unidos da América se consolidou depois, numa série de acontecimentos visando ao surgimento de um governo central forte para todos os Estados e uma nova forma de funcionamento desse novo governo.

Desde 1776, o Congresso já ha via incitado as colônias a estabelecerem uma nova forma de governo em seus territórios. No ano seguinte, a maioria das colônias já dispunha de suas próprias constituições, promulgadas e escritas, que substituíram a lei conservadora dos governadores britânicos.

Nessas constituições, definiu-se um governo com três poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário - fiscalizando-se entre si para impedir que a autoridade de um deles prevalecesse. Essas constituições eram liberais e nelas se instituía a soberania popular, a rotatividade de cargos e as eleições livres, além de liberdade de consciência e de imprensa, julgamentos rápidos por júri, fianças moderadas e punições humanas.

Governo Central

Em 1787, reuniram-se na Filadélfia representantes de todos os Estados para debater a tese de um governo central, atribuindo-lhe o direito de criar impostos, cunhar moedas, fixar pesos e medidas e responsabilizar-se pelas relações entre os Estados Unidos e as nações estrangeiras. O cumprimento das decisões desse novo governo foi garantido com a subordinação da Justiça dos Estados a um Poder Judiciário forte e central.

As decisões daquela convenção, submetidas a convenções estaduais e aprovadas, materializaram-se na primeira Constituição dos Estados Unidos da América, em vigor até hoje. A partir daí, foram convocadas eleições para o cargo de mandatário supremo. George Washington, graças ao prestígio adquirido durante a guerra, foi eleito por unanimidade e assumiu o cargo em 1789, exercendo o poder até 1797.

Muitos historiadores consideram que a Revolução Americana não acabou nessa fase. Ela teria se prolongado até 1801, com a eleição de Thomas Jefferson para a presidência. Sob seu governo teve início a conquista do Oeste. Jefferson contribuiu para o avanço de uma economia liberal e garantiu o fortalecimento do regime democrático-republicano. Em sua pessoa, sintetizava-se a vitória dos ideais liberais herdados do Iluminismo europeu. Surgia assim o primeiro regime republicano do mundo moderno.

Leia mais

  • Colonização dos EUA (1) - Imigrantes fugiam de perseguições religiosas

  • Colonização dos EUA (2) - As trezes colônias autônomas da costa oeste

  • Colonização dos EUA (3) - Lei do Açúcar e do Selo desagradam colônias

Por que a independência dos Estados Unidos também é considerado uma revolução?

O que ficou conhecido como Revolução Americana foi iniciado pela insatisfação colonial com o aumento da exploração colonial nas Treze Colônias da América do Norte.

Por que a independência dos Estados Unidos é importante?

A independência dos Estados Unidos (4 de julho de 1776) foi a primeira grande derrota de uma potência colonial na história. Além de ser a fundação de uma futura potência econômica (os próprios Estados Unidos), ainda influenciou dezenas de outros movimentos de libertação pelo continente americano.

O que foi a Revolução Americana explique?

Também conhecida como a Independência dos Estados Unidos, a Revolução Americana ocorreu em 1776. Foi a primeira colônia da América a conquistar sua independência política. Esse processo deve ser entendido no contexto histórico da crise do antigo sistema colonial e do absolutismo europeu (Antigo Regime).

Quais são as principais características da Revolução Americana?

Resposta: A Revolução Americana, também conhecida como independência dos Estados Unidos, foi declarada pelos colonos em 4 de julho de 1776 e marcou o fim da colonização inglesa sobre as treze colônias americanas. Esse processo de independência foi amplamente influenciado pelos ideais iluministas difundidos na época.