Porque os ruminantes ajudam para o aumento do efeito estufa?

Globo Rural

3 minExibição em 4 mai 2014
A produção do metano se dá no estômago de bois e vacas. O especialista explica que ele é emitido principalmente pela boca. Apenas uma pequena quantidade sai por trás, ou seja, pelo pum.ver mais

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja

A sociedade está sendo frequentemente alertada de que o Planeta Terra corre riscos de sobrevivência por causa da insustentabilidade do modelo de desenvolvimento praticado pelos cidadãos, mundo afora. O principal risco à sua sobrevivência estaria vinculado às mudanças climáticas globais causadas pela queima dos combustíveis fósseis (carvão mineral, gás natural e derivados do petróleo), os quais emitem milhões de toneladas diárias de gás carbônico (CO2) na atmosfera. Individualmente, o CO2 é um dos gases que menos polui o ambiente, mas, dadas as grandes quantidades produzidas, é considerado o principal causador do aquecimento atmosférico.

Porque os ruminantes ajudam para o aumento do efeito estufa?

Recuperação de Pastagem Degradada. Credito: Gabriel Resende Faria.

Os gases de efeito estufa (GEE) são assim denominados porque bloqueiam a passagem da radiação que busca o caminho do espaço sideral, após aquecer a terra, transformando a superfície desta numa espécie de imensa estufa. Embora a mídia geralmente associe o aquecimento atmosférico ao CO2, ele não é o único a causar este fenômeno. Há outros gases, individualmente muito mais poluentes, que não são muito lembrados porque embora mais tóxicos ao ambiente, eles ocorrem em quantidades infinitamente menores. Uma molécula do gás sulfidrila, por exemplo, utilizado na indústria do cimento, pode causar efeito estufa 20.000 vezes superior a uma molécula de CO2.

O segundo mais importante GEE na atmosfera é o metano (CH4), 25 vezes mais poluente do que o gás carbônico, mas emitido em muito menor quantidade. Ele é produzido a partir da atividade de bactérias metanogênicas e liberado pelos pântanos, lixões, detritos animais e, principalmente – acreditem – pelo rúmen dos bovinos e outros ruminantes. A atividade agropecuária é considerada uma das principais responsáveis pela emissão de CH4 e 90% deste gás provem da digestão dos bovinos.

O Brasil é detentor do segundo maior rebanho bovino do planeta (cerca de 220 milhões de cabeças), razão pela qual é questionado pela grande emissão de metano proveniente da digestão desses animais, que pode ser mais nociva para o aquecimento global do que as emissões de CO2 provenientes dos automóveis (15,4% dos bovinos contra 15,1% dos automóveis), de acordo com inventário do governo brasileiro.

Segundo divulgou-se recentemente no Fórum Econômico Mundial realizado em São Paulo, brevemente estará disponível um suplemento alimentar inibidor da biogênese do metano produzido pelos bovinos, que uma vez ingerido na alimentação desses animais é capaz de reduzir em 1/3 a emissão desse gás. Quando isto se tornar efetivo, a preocupação com as emissões dos bovinos estará reduzida em mais de 30%. Uma boa notícia já que, por decisão própria, os animais nada farão para reduzir a flatulência! No entanto, devemos lembrar que a grande maioria dos bovinos no Brasil são criados a pasto, e desta forma seria difícil a adição do referido inibidor na dieta.

Deixar de comer carne para reduzir a emissão de GEE não é a solução. Isto até pode aumentar a concentração desses gases na atmosfera, visto que a ausência de bovinos reduz a produção do pasto, cujo desenvolvimento pode sequestrar mais carbono do que o emitido pelos ruminantes.

A recuperação das pastagens degradadas é uma maneira eficiente de retirar o carbono em excesso retido na atmosfera. O governo brasileiro se comprometeu durante a 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 15), a reduzir voluntariamente as emissões de GEE entre 36% e 39% até 2020, prometendo, entre outras medidas, recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas. Desta forma o CO2, nocivo na atmosfera, estaria estocado no solo sob a forma de matéria orgânica, potencializando a produção das pastagens.

Deixemos o boi comer o capim. Nossa responsabilidade deve concentrar-se na prática de uma agropecuária sustentável, para o que, além de recuperar pastagens degradadas, precisamos aumentar o plantio de florestas, integrar a produção agrícola com a pecuária, incrementar o plantio direto na palha, promover maior inoculação das sementes de soja com bactérias fixadoras de nitrogênio (Bradyrhizobium japonicum) para reduzir a necessidade da adubação nitrogenada e aumentar o tratamento dos dejetos dos animais.

O Brasil é o maior exportador de carnes do mundo, o que corresponde a 24% da sua produção. Nosso país possuía, em 2006, cerca de 190 milhões de cabeças de gado e a demanda por carne bovina não é só externa, mas interna também. Com certeza, isso gera muitos lucros para o nosso país.

Mas, o que dizer dos impactos sobre o meio ambiente? Será que o consumo de carne agrava problemas ambientais, tais como o efeito estufa e o aquecimento global?

Estudos mostram que a pecuária bovina é responsável pela emissão de pelo menos 50% dos gases-estufa, principalmente do gás carbônico (CO2) e do metano (CH4). O aumento da concentração desses e de outros gases na atmosfera é o que intensifica o efeito estufa, pois eles absorvem uma parcela da radiação infravermelha, aumentando a temperatura do planeta e causando o chamado aquecimento global.

Mas, como é possível que o gado contribua mais do que as indústrias e os veículos automotivos para agravar o aquecimento global?

A seguir, estão as principais formas em que isso ocorre:

1. Desmatamento: As florestas são derrubadas a fim de abrir pastagens para os rebanhos. Para limpar os terrenos, são realizadas queimadas, o que emite os gases-estufa e representa o maior fator de emissão desses gases no Brasil. Em terras brasileiras, isso ocorre na Amazônia e no Cerrado, sendo que 75% do desmate na Amazônia e 56% do desmate no Cerrado estão associados à pecuária.

Além de gerar esses gases, o desmatamento destrói habitats naturais, provoca a extinção de espécies, causa a degradação ou erosão dos solos, desencadeia inundações, diminui os recursos hídricos (porque possuirá menos tamponamento florestal), diminui a ocorrência de chuvas, entre outros problemas.

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2. Queimadas: As queimadas também são realizadas periodicamente para renovar a vegetação das pastagens, emitindo mais gases-estufa.

Porque os ruminantes ajudam para o aumento do efeito estufa?

3. Digestão dos animais: A fermentação entérica, isto é, a formação de gases no sistema digestivo do boi, emite metano para a atmosfera, por via oral e fecal.

Porque os ruminantes ajudam para o aumento do efeito estufa?

4.Outros: Existem outros fatores que são mais difíceis de serem mensurados, mas que também contribuem em muito para o aquecimento global, tais como o transporte da carne, do gado, de rações para os rebanhos, emissões dos solos de pastagens degradadas ou mal manejadas, emissões vindas da produção da ração, emissões do processamento industrial primário da carne que será consumida e assim por diante.

Porque os ruminantes ajudam para o aumento do efeito estufa?

Tudo isso representou um total de 812,9 toneladas de CO2 emitidos pela pecuária brasileira no ano de 2008.

Assim, quanto maior for o consumo de carne, maior será o rebanho criado e, consequentemente, maior o prejuízo para o meio ambiente.

Então, faça uma autoanálise sobre os seus hábitos alimentares e se pergunte:

“Será que eu poderia diminuir o meu consumo de carne?”

Uma ação positiva sobre essa questão não só ajudará o meio ambiente, mas também fará bem à sua saúde, porque o consumo excessivo de carne pode levar ao desenvolvimento de algumas doenças, como doenças cardiovasculares e obesidade.

Porque os ruminantes ajudam para o aumento do efeito estufa?

Por que os bovinos vêm contribuindo para o aumento do efeito estufa?

Esse processo natural, chamado de fermentação entérica, tem como subproduto o metano (CH4), um potente gás de efeito estufa, que é liberado na atmosfera pelo arroto e estrume dos bichos. E é principalmente por conta disso que grande parte das emissões de GGE na agropecuária veio da criação de gado nos últimos anos.

O que os ruminantes tem a ver com o efeito estufa?

Segundo o Inventário Nacional, o gado bovino responde por 15,4% dos gases de efeito estufa lançados na atmosfera, enquanto a queima de combustíveis fósseis gera 15,1%.

É verdade que o gado contribui com o efeito estufa?

O gás metano (CH4) é emitido pelos bovinos devido à fermentação entérica que ocorre no processo digestivo dos animais. Assim como o gás carbônico (CO2) e o óxido nitroso (N2O), é responsável pelo efeito estufa, que intensificado, gera o aquecimento global.

Como o gado afeta o efeito estufa?

No processo de digestão de capim e outros alimentos, o boi libera gás metano. Em 2020, as emissões da agropecuária brasileira aumentaram 2,5% em relação a 2019 por uma razão contraintuitiva ligada ao "arroto do boi". O consumo de carne no país diminuiu por causa da pandemia e a crise econômica.