Quais as principais causas que a energia eólica é a que mais cresce no país?

Dados foram divulgados por consultoria e fazem com que Brasil integre o ranking das dez nações mais atraentes para setor

O ano de 2014 foi muito positivo para o Brasil em relação às fontes renováveis de energia. Os últimos leilões fizeram com que o país integrasse, pela primeira vez, o ranking das dez nações mais atraentes do mundo para investimentos nesse setor, de acordo com levantamento da consultoria EY.

Fonte que mais cresce no Brasil, a energia eólica atingiu, na primeira semana de janeiro, a marca de 6 gigawatts (GW) de potência instalada e uma participação de 4,5% na matriz elétrica brasileira.

Com a entrada em funcionamento de quatro novos parques na Bahia, essa fonte renovável começa o ano com 241 parques eólicos distribuídos por 11 estados, segundo dados do último boletim do setor, divulgado no início de janeiro pela Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).

Até 2018, a expectativa é de que a participação da energia eólica na matriz energética brasileira salte para 8%, com a contratação e instalação de pelo menos 2 GW de potência a cada ano. No final de 2012, o Brasil dispunha de uma capacidade instalada de 2,5 GW. Em apenas dois anos, a potência instalada do país mais que duplicou.

Bons ventos

“Pelas perspectivas do Governo, a eólica deve atingir 22,4 GW de potência instalada em 2023, e as previsões do setor indicam um crescimento ainda maior, que alcança 25,6 GW”, avalia a presidente executiva da Abeeólica, Elbia Silva Gannoum.

Os 6 GW representam para o país mais de 90 mil empregos gerados, dez milhões de residências abastecidas mensalmente e cinco milhões de toneladas de emissões de CO2 evitadas.



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Quais as principais causas que a energia eólica é a que mais cresce no país?
Aerogeradores no Parque Eólico de Osório, no Rio Grande do Sul Itamar Aguiar/Divulgação/VEJA

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O Brasil não pode se queixar da abundância de recursos naturais que dispõe. Na geração de energia, o país sempre desfrutou das águas, uma matriz renovável, com as hidrelétricas, por terem sido as mais viáveis — e também as mais baratas — por décadas. Apesar da fartura, o Brasil já enfrentou graves crises de energia em sua história recente, afinal, os recursos hídricos são finitos, ou seja, sem planejamento e boa gestão, em algum momento a fonte, literalmente, pode secar, como ocorreu entre 2001 e 2002, em um dos períodos mais caóticos de geração de energia no Brasil: a crise do apagão. A escassez de chuvas somada à falta de organização das autoridades brasileiras deixaram o país completamente exposto e de mãos atadas ao iminente colapso energético. À época, o governo de Fernando Henrique Cardoso foi obrigado a cortar 20% do consumo de eletricidade em todo país, e fez isso estipulando metas, aplicando punições e, claro, por meio do racionamento. Sete anos depois, uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que os apagões elétricos de 2001 e 2002 custaram 45,2 bilhões de reais aos cofres públicos. A péssima gestão de energia do início do milênio escancarou a necessidade de se investir em outras fontes renováveis, abrindo um leque maior de possibilidades ao país para obter uma matriz energética mais equilibrada, reduzindo, assim, as chances de novos apagões. Os novos investimentos abriram espaço para uma série de alternativas, como a energia solar e a de biomassa, mas foi a eólica que mais surpreendeu, seja pela alta eficiência, ou por também se mostrar uma opção economicamente bastante acessível. Hoje, ela já é a energia de menor custo no país e os investimentos ajudam a desenvolver regiões mais carentes.

Para acelerar o processo, em março de 2004, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) instituiu o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), em que foram contratados 1,4 gigawatts (GW) de energia eólica. Naquela época, a fonte ainda era cinco vezes mais cara na comparação com as hidrelétricas, panorama que sofreria mudanças significativas nos anos seguintes. Apesar do contrato ter sido considerado apenas um ponto de partida, o Brasil rapidamente alcançou o chamado know-how de energia eólica, o que facilitou a entrada de novos investimentos e barateou o processo de instalação. Outro fator importante para o crescimento do setor foi a exigência, desde a primeira contratação feita com incentivos públicos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da produção ser, no mínimo, 60% nacionalizada.

A alta produtividade do vento brasileiro aliada à exigência do banco de fomento atraíram dezenas de empresas estrangeiras, que se instalaram definitivamente no país para atender a demanda pelos aerogeradores. A partir desse momento, uma série de acontecimentos marcaram o crescimento do setor no país. Em 2009, ocorreu o primeiro leilão de energia eólica, que captou 9,4 bilhões de reais em investimentos, desde então, todas as contratações desse tipo de fonte superaram a marca de 2 GW por ano. Dois anos depois, em meados de 2011, os aerogeradores passaram a ostentar a marca de segunda fonte de energia mais acessível no Brasil. Em 2013, a exigência de nacionalização passou de 60% para 80%, aumentando a geração de empregos, sobretudo na região Nordeste, o que barateou ainda mais a construção dos parques eólicos, que, em 2017, ultrapassaram as hidrelétricas e alcançaram o posto de energia mais barata do país. A queda no preço é resultado do investimento em tecnologia, todas as fontes renováveis têm ficado mais competitivas no mercado, sobretudo a eólica, por causa da natureza do vento brasileiro, que possui quase o dobro de produtividade em relação aos outros países. Ou seja, podemos esperar fortes investimentos nos ventos brasileiros para os próximos anos.

Uma das características das construções de energia eólica no país é o arrendamento de terrenos, o que acaba elevando a renda dos pequenos proprietários, em vista que a atividade econômica no Nordeste, onde está instalada a maior parte dos parques eólicos, é menor em relação aos grandes centros urbanos. Com o arrendamento, esses pequenos proprietários passam a ter garantias durante toda a extensão dos contratos, que duram, em média, 20 anos. “São famílias que estavam acostumadas a receber o Bolsa Família e que, agora, com o crescimento da energia eólica, acabam se fixando nessas regiões, gerando um efeito socioeconômico muito relevante”, explica Elbia Gannoun, presidente da  Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).

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A Statkraft, por exemplo, considerada a maior geradora de energia renovável na Europa, anunciou no último dia 28 a construção de um novo parque eólico em Ibipeba (BA), com previsão de entrega até o final de 2023. O Ventos de Santa Eugênia receberá um investimento de 2,5 bilhões de reais e mais que dobrará a capacidade instalada da empresa no Brasil, atingindo 987 megawatts (MW). “O Brasil é provavelmente um dos países mais competitivos do mundo no que diz respeito a energias renováveis. Nesse sentido, estou muito satisfeito em ver que a Statkraft é capaz de produzir um projeto de alto nível como este”, ressalta o CEO da Statkraft no Brasil, Fernando De Lapuerta.

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Demanda global

Assim como em praticamente todos os setores da economia mundial, a pandemia de coronavírus trouxe efeitos negativos para o setor, sobretudo na demanda por energia, afinal, o mercado despencou aproximadamente 20% em meados de abril, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), mas vem se recuperando gradualmente desde então. No entanto, o momento de instabilidade certamente fez alguns investidores se retraírem e postergarem importantes decisões. De toda forma, anúncios como o da Statkraft Brasil já indicam uma retomada da construção de parques eólicos no país. “A pandemia trouxe impactos de curto e médio prazo, que vão se dissipar em um ou dois anos. No curto, até interromperam algumas obras, que agora já foram retomadas. A redução da demanda por energia impactou os leilões, que neste ano serão cancelados, porque só são realizados de acordo com a necessidade de energia, que diminuiu em 2020”, analisa Gannoun. “Esperamos que a partir do terceiro e do quarto ano esse fator se modifique, até porque a carga por energia já está nos mesmos patamares de 2019. O maior desafio do setor não está propriamente no setor, mas sim na economia brasileira, é muito importante que o país volte a crescer.”

A geração eólica em 2019 representou 9,7% de toda geração injetada no Sistema Interligado Nacional (SIN), e ampliou uma das vantagens da matriz brasileira, que, após as graves crises de energia, passou a ter novas e variadas alternativas. Ou seja, quando uma fonte estiver escassa, outras poderão compensar as eventuais perdas, equilibrando o sistema. O número de residências abastecidas por energia eólica em 2019 foi de 28,8 milhões — ou 86,3 milhões de habitantes. Estima-se que 22,9 milhões de toneladas de CO2 foram evitadas, o equivalente à emissão de cerca de 21,7 milhões de automóveis.

Ao todo, são 653 parques eólicos e 7.920 aerogeradores operando no país. Em setembro de 2020, a capacidade instalada era de 16,68 GW, com previsão de que até 2024 esse número alcance impressionantes 25,5 GW, de acordo com o InfoVento, um levantamento da Abeeólica. “É um Brasil que dá certo”, finaliza Gannoun. A empregabilidade do setor está fortemente associada à expansão da própria indústria. Os investimentos devem atingir a marca de 7 bilhões de reais por ano, que vão gerar energia limpa para o país, melhorar a qualidade de vida das populações locais e contribuir para o desenvolvimento econômico das regiões em que os parques são construídos.

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Por que a energia eólica é muito utilizada em nosso país?

A energia eólica possui ainda o fator de capacidade – dado que mede a produtividade dos ventos – acima da média mundial. Segundo dados da Bloomberg New Energy Finance (BNEF), em 2019, o fator de capacidade médio mundial foi de 34%; no Brasil foi de 42,7%.

Quais os principais problemas na geração de energia eólica?

Assim o aproveitamento dos ventos para geração de energia apresenta, como toda tecnologia energética, impactos ambientais desfavoráveis como, por exemplo: impacto visual, poluição sonora, interferência eletromagnética, mudanças no clima, aumento do efeito estufa, danos à fauna.

Por que a expansão da utilização da energia eólica no Brasil e das demais fontes de energia renováveis é importante?

O Brasil tem uma ferramenta importante neste cenário global que é a energia eólica como uma fonte limpa e renovável em tempos de crise ambiental no qual o Planeta agoniza uma severa agressão de fontes energéticas maléficas ao equilíbrio ambiental e desse modo a expansão da energia eólica pode contribuir ...

Quais são as vantagens e as desvantagens da energia eólica?

Energia eólica: vantagens e desvantagens Sua fonte é um recurso inesgotável e, por isso, é uma energia renovável. Proporciona a redução da dependência dos combustíveis fósseis. Permite a diminuição da emissão dos gases do efeito estufa. Gera empregos nas regiões onde os parques eólicos são instalados.