Quais as principais fontes utilizadas pelos historiadores aponte as diferenças entre elas?

Quase sempre quando nos lembramos das aulas de História (para quem já concluiu o Ensino Médio e para os alunos cursistas), pensamos na figura de um (a) professor (a) que “planejava” suas aulas com atividades de resumos intermináveis, além de datas e nomes que tínhamos de decorar.

Esse exemplo de aula citado acima se pautava em um ensino de História classificado como ‘tradicional’. Sabemos que a grande maioria dos professores atualmente já se desvencilhou dessas aulas ‘enfadonhas’, entretanto sabemos que elas ainda estão presentes na realidade de muitas escolas.  

No presente texto iremos propor a utilização de fontes históricas escritas em sala de aula. Nossa pretensão não é fazer com que os alunos analisem as fontes históricas como um historiador profissional o faz, mas propor uma aproximação com o trabalho do historiador para aguçar sua curiosidade, criatividade e capacidade de reflexão e análise.

Sabemos que a partir do surgimento da Escola dos Annales (escola historiográfica), na França, na década de 1930, o entendimento e a compreensão das fontes históricas se desenvolveram bastante e tal escola passou a utilizar pinturas, fotografias, filmes, móveis, roupas e músicas como fontes históricas. Anteriormente aos Annales, os historiadores utilizavam recorrentemente, em suas pesquisas, as fontes escritas, principalmente os documentos ditos ‘oficiais’ (documentos de governos, administrativos). Pós-Annales, a noção de documento escrito também se ampliou: passou-se a recorrer às cartas, diários íntimos, jornais, receitas culinárias, entre outros.

 A inovação das fontes históricas proposta pela Escola dos Annales ampliou o universo das pesquisas históricas realizadas pelos historiadores. Consequentemente, aumentou as possibilidades de o professor trabalhar em sala de aula com variados temas, como, por exemplo: o estudo das doenças, epidemias, a história da alimentação, as festas típicas, entre outros.

O trabalho com fontes históricas em sala de aula requer cuidados, pois todo documento histórico expressou uma versão de um determinado fato ou momento. Para utilizar boas metodologias, o professor precisa construir um roteiro de análise para os alunos.

Antes de utilizar o documento seria necessário que os alunos conhecessem o contexto histórico no qual o documento foi produzido. Para isso o professor teria que explicá-lo para os alunos ou solicitar uma pesquisa sobre o autor do documento (o professor solicitaria ou uma pesquisa para casa ou levaria os alunos para o laboratório de informática). Essa pesquisa levaria o aluno a conhecer as aspirações e visões de mundo do autor do documento.

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Após a realização dessa etapa (conhecer o contexto histórico da fonte histórica e do seu autor), o professor pode entregar o documento (cópia) para os alunos (sempre entregar o recorte do documento, ou seja, trechos do documento).

Posteriormente, o professor pode entregar também o roteiro de análise, que norteará a compreensão do documento. Para tanto, esse roteiro pode ser dividido, segundo Bittencourt (2008), em três fases:

1ª) Sobre a existência do documento: o que vem a ser o documento? O que é capaz de dizer? Como podemos recuperar o sentido do seu dizer? Por que tal documento existe? Quem o fez, em que circunstâncias e para que finalidade foi feito?

2ª) Sobre o significado do documento como objeto: como e por quem foi produzido? Para que e para quem se fez essa produção? Qual é a relação do documento com o seu contexto histórico? Qual a finalidade e o que comanda a sua existência?

3ª) Sobre o significado do documento como sujeito: por quem fala tal documento? De que história particular participou? Que ação e pensamento estão contidos em seu significado? O que fez perdurar?

Realizada a produção do roteiro de perguntas sobre o documento, o aluno expressará sua interpretação sobre o fato ou contexto histórico estudado. Depois de utilizada essa metodologia em sala de aula, o aluno irá não somente adquirir conteúdo, mas também elaborar conhecimento.

 Ressaltamos a importância de o professor utilizar sempre mais de uma fonte histórica de diferentes autores sobre o mesmo fato ou contexto histórico. Feito isso, os alunos irão compreender que a história é uma interpretação dos historiadores e que não existe uma história ‘verdadeira’, mas interpretações e versões sobre o passado.


Leandro Carvalho
Mestre em História

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Fontes históricas são vestígios do passado criados ou modificados pelo ser humano. Elas são utilizadas pelo historiador como forma de investigar eventos históricos e seus desdobramentos no presente.

Praticamente tudo pode ser uma fonte histórica. Porém, nem sempre foi assim. Os historiadores, durante o século XIX, acreditavam que apenas fontes marcadas por objetividade e neutralidade poderiam ser utilizadas para se estudar o passado. Eram essas as fontes escritas e oficiais, como arquivos públicos, documentações do Estado, cartas legislativas, entre outros.

A ampliação na gama de opções ocorreu no século XX, a partir da Escola dos Annales, importante escola francesa de historiadores.

Atualmente, são exemplos de fontes históricas: documentos, fotografias, músicas, jogos eletrônicos, revistas, páginas da internet, modificações na paisagem, estruturas arquitetônicas e qualquer outro objeto/espaço criado ou alterado pelo ser humano ao longo do tempo histórico.

Categorizações das fontes históricas

A História elenca diferentes tipos de fontes históricas, sendo eles documentos textuais, vestígios arqueológicos e fontes da cultura material, representações pictóricas e história oral.

São documentos textuais que podem ser considerados fontes históricas: cartas, jornais, revistas, registros, entre outros.

Vestígios arqueológicos são peças encontradas através de escavações em sítios arqueológicos (espaços onde ficaram preservadas evidências de ocupações humanas): peças de cerâmica, vasos, instrumentos são exemplos.

Representações pictóricas são artefatos baseados na linguagem de comunicação visual. Portanto, quadros, fotografias ou desenhos se encaixam nesse item.

Por fim, a história oral está vinculada ao depoimento oral de um indivíduo que presenciou determinado evento histórico. A construção dessa fonte histórica acontece a partir de entrevistas temáticas, onde o historiador tem a possibilidade de analisar o dito e o não dito. Uma resposta que o entrevistado se recusa a responder, por exemplo, pode ser interpretada pelo pesquisador e se tornar uma questão de sua pesquisa.

Fontes materiais e imateriais

Uma outra categorização está na existência ou não de um “suporte” para a fonte. Ao analisarmos uma fonte, devemos compreender a separação entre suporte e conteúdo.

  • Suporte: material físico que mantém a fonte. Exemplo: as páginas de um livro;
  • Conteúdo: a informação presente naquele suporte. Exemplo: a narrativa escrita naquele livro.

Assim, as fontes materiais são aquelas onde a fonte é o próprio suporte. Podemos citar como exemplo um aparelho de rádio.

Fontes imateriais são aquelas cujo suporte não é admitido ou não é essencial para sua existência enquanto fonte. Danças, gestos, culinária e expressões regionais são exemplos.

Fontes diretas e indiretas

Com relação a posição temporal, podemos classificar as fontes históricas em fontes diretas e indiretas. As diretas são as produzidas durante os eventos estudados. Já as indiretas são os materiais produzidos por historiadores a partir das fontes diretas.

Por exemplo, supondo um estudo historiográfico sobre as armas utilizadas na Segunda Guerra Mundial:

  • Fonte direta: alguma arma utilizada em um combate;
  • Fonte indireta: um livro escrito por outro pesquisador acerca desse mesmo tema a partir do uso de outras fontes históricas.

Contudo, é importante salientar que uma fonte histórica nunca será direta ou indireta de maneira absoluta. Isso irá variar conforme o tema da pesquisa a ser realizada.

Utilizando novamente o exemplo da Segunda Guerra Mundial, caso a pesquisa a ser feita pelo historiador seja acerca da história das pesquisas sobre a Segunda Guerra ao longo do tempo, o livro seria uma fonte direta.

Fontes voluntárias e involuntárias

Outra categoria importante diz respeito ao modo como a fonte foi concebida. Dividimos em dois grupos:

  • Fontes voluntárias: produzidas com a intenção de se tornar um objeto de pesquisa histórica. Exemplo: uma autobiografia de um artista.
  • Fontes involuntárias: produzidas com outro intuito e que posteriormente passaram a ser estudadas. Exemplo: um diário.

As fontes involuntárias tendem a apresentar informações que talvez não fossem apresentadas no caso de fontes voluntárias, pois não foram idealizadas por alguém que imaginou elaborá-las para uma pesquisa histórica.

Esse foi um dos motivos que levou os historiadores da Escola dos Annales a privilegiá-las em detrimento das fontes voluntárias, ou intencionais.

A Escola dos Annales e a ampliação das fontes históricas

A Revista dos Annales, de autoria de Marc Bloch e Lucien Febvre, trouxe novos sentidos e questionamentos para a produção historiográfica.

A partir dos Annales, os historiadores passaram a compreender um mundo novo de fontes a serem analisadas. Isso ocorreu também porque outras disciplinas começaram a ser adotadas como auxiliares no processo da pesquisa histórica.

A Geografia, a Linguística e a Psicologia são exemplos de novas análises que passaram a ser realizadas sobre o passado, compreendendo a paisagem, a palavra e o gesto como fontes importantes na construção da pesquisa histórica.

Se antes o foco exclusivo da historiografia estava na história política e no destaque aos grandes líderes políticos, agora a “história dos comuns” passa a ser privilegiada, aumentando a gama de possibilidades com relação às fontes históricas.

Dessa forma, uma agenda de um morador do norte paranaense do século XX é considerada uma fonte histórica a partir dos Annales. E as palavras que ele utiliza para se referir a seus clientes, um tema de pesquisa.

Veja mais

  • Cultura Material e Imaterial

Referências Bibliográficas

BARROS, José D’Assunção. Fontes Históricas: uma introdução aos seus usos historiográficos. História & Parcerias, 2019, s.d. Disponível em: https://www.historiaeparcerias2019.rj.anpuh.org/resources/anais/11/hep2019/1569693608_ARQUIVO_
bd3da9a036a806b478945059af9aa52e.pdf. Acesso em: 04 ago. 2022.

BARROS, José D’Assunção. Fontes Históricas: revisitando alguns aspectos primordiais para a Pesquisa Histórica. Mouseion, n. 12, pp.129-159, mai-ago/2012. Disponível em: https://revistas.unilasalle.edu.br/index.php/Mouseion/article/view/332. Acesso em: 04 ago. 2022.


JANOTTI, Maria de Lourdes. O livro Fontes Históricas como fonte. In: PINSKY, Carla Bassanezi. Fontes Históricas. ed. São Paulo: Contexto, 2005. pp. 9-22.

Quais as principais fontes utilizadas pelos historiadores aponte as diferenças entre elas?

Graduado em História pela Universidade Estadual de Londrina em 2018. Ministra aulas de História desde 2018 para turmas do Fundamental II e Ensino Médio.

Quais são os principais tipos de fontes históricas utilizadas pelos historiadores?

Resumo sobre fontes históricas Os tipos de fontes são: documentos textuais, vestígios arqueológicos, representações pictóricas e registros orais. Alguns exemplos de fontes: texto escrito, vídeos, fotos, áudios, resquícios de objetos históricos, quadros.

O que são fontes históricas e suas diferenças?

Fontes históricas são documentos que trazem consigo vestígios do passado que permitem com que os historiadores exerçam o seu trabalho. As pinturas rupestres são importantes representações pictóricas que servem como fontes históricas no estudo da vida do homem durante a Pré-História.

Qual é a diferença entre as fontes históricas materiais e imateriais?

As primeiras são os vestígios de civilização material: monumentos, utensílios, vestígios arqueológicos etc., assim como os documentos de diversas espécies. As fontes imateriais são os vestígios que sobrevivem nas sociedades e que são detectáveis em suas tradições, costumes, lendas, ritos e folclore.