Quais fatores contribuiram para a recuperação econômica do Japão após a Segunda Guerra mundial

COMENTÁRIOS

A economia japonesa após a crise do petróleo e as implicações nas suas relações com a América Latina

Hajime Mizuno

Professor do Instituto Iberoamericano, da Universidade Sophía, Tóquio - Japão

1. INTRODUÇÃO

A economia mundial está enfrentando o chamado "trilema" da depressão, inflação e desequilíbrio de balanço de pagamentos. Sem dúvida, isto se deve ao aumento considerável dos preços do petróleo no fim de 1973. A economia japonesa sofreu grande impacto pela crise do petróleo. Enquanto os preços têm aumentado extraordinariamente, agravou-se a depressão, devido à política de restrição do crédito para conter a inflação. Assim, a economia registrou uma taxa de crescimento negativa no ano passado, pela primeira vez depois da II Guerra Mundial. Ademais, o balanço de pagamentos sofreu um deficit considerável.

Incidentalmente, no ano passado, a novela intitulada Afundamento do Japão foi o livro mais vendido no Japão. Tão crítica era a situação, que se dizia, que era como se a economia japonesa tivesse afundado.

Não obstante, como o Governo japonês não tardou em tomar uma serie de medidas para superar a crise petrolífera e reforçar a política de restrição ao crédito, a partir de setembro de 1974, a Inflação começou a moderar-se e o balanço de pagamentos está melhorando. A recuperação econômica, contudo, é mais débil que nunca, o que conduz a argumentos acerca das perspectivas (otimista ou pessimista) da economia japonesa.

É curioso que os especialistas em assuntos nipônicos no estrangeiro são muito otimistas acerca das perspectivas da nossa economia. Por exemplo, Norman Macrae, subdiretor da revista inglesa, The Economist, que escreveu Consider Japan em 1962, e Herman Kahn, diretor do Hudson institute, que vinha insistindo em que "Século XXI será o século do Japão", acabam de publicar novos trabalhos em que ambos dizem que a economia japonesa não perdeu ainda sua vitalidade e manterá um crescimento acelerado - cerca de 10% daqui em diante.

Porém, dentro do país, ao contrário, mais comuns são as opiniões de que a economia japonesa não poderá manter seu rápido crescimento econômico, passando a uma expansão mais moderada e estável, já que vêm mudando as condições que sustentavam o crescimento acelarado até agora.

Então, quais são as perspectivas da economia japonesa?

Nesta exposição, vou esclarecer, em primeiro lugar, como a economia japonesa mudou ao entrar na década de 70, a fim de proporcionar uma visão apropriada da situação atual da nossa economia. Em seguida, vamos observar o impacto da crise do petróleo na economia japonesa, quais são suas perspectivas depois da crise de energia, e, por último, como conseqüência disto, quais as perspectivas das relações entre Japão e a América Latina.

2. CARACTERÍSTICAS DA ECONOMIA JAPONESA NA DÉCADA DE 70

2.1 Tendências Gerais

Depois da II Guerra Mundial, a economia japonesa registrou um crescimento acelerado: a taxa anual média do crescimento no período de pós-guerra foi de 10%, que corresponde a uma taxa duas vezes maior do que a dos países desenvolvidos. Em conseqüência, o Produto Nacional Bruto (PNB) real passou de 58 900 milhões de dólares americanos, em 1963, a 300 bilhões, em 1972, chegando a ser o terceiro maior do mundo, superado somente pelo dos EUA e Rússia. A renda nacional per capita em 1973 foi de 3 090 dólares americanos que correspondem a 61 % da renda nacional dos EUA e ao 12.º lugar entre a dos países da OCDE, exceto a da Inglaterra.

Também aumentou, substancialmente, a participação do Japão na produção mundial dos produtos principais. A produção de aço em lingote do Japão subiu de 28 270 milhões de toneladas (8% da produção mundial), em 1961, a pouco mais de 88,5 milhões de toneladas (15,4%), em 1971, chegando a ser a maior produção do mundo, seguida pela dos EUA e Rússia. Cabe destacar que a participação japonesa de 15,4% ê muito grande, se a compararmos ao fato de que o Japão somente ocupa 0,27% (377 mil km2) da superfície da terra e que sua população corresponde a 2,82% (108 700 mil em 1973) da população mundial.

Além disso, sua construção naval elevou-se a 11 900 milhões de toneladas em 1971, o que equivale a 48,2% da produção mundial, ou seja, quase a metade dela. A produção de receptores de televisão alcançou a cifra de 13 230 mil unidades em 1971, significando 29,6% da produção mundial. Nos anos recentes, a produção de veículos tem aumentado muito rapidamente; a de autos de passageiros passou de 250 mil unidades, em 1961, a 3 718 mil unidades, em 1971, ocupando 14,7% da produção mundial, ou seja, o segundo maior produtor depois dos EUA, e a de caminhões e ônibus chegou a 2 105 mil unidades, em 1971, ultrapassando a dos EUA, que era o primeiro produtor até então.

Na realidade, a economia japonesa passou por uma expansão substancial desde a segunda metade da década de 50, sustentada pelas inversões ativas em fabricas e equipamentos. Como se vê no quadro 1, a taxa anual de crescimento do PNB real subiu de 8,7%, no período de 1955-59, a 11,3% entre 1960-69. Com respeito às mudanças de preços, enquanto os preços por atacado se mantiveram relativamente estáveis, os do consumidor aumentaram gradativamente: na década de 60, a taxa anual de aumento dos preços por atacado foi de 1,0%, mas os preços do consumidor tiveram um incremento de 5,4%.

Ao iniciar-se a década de 70, entretanto, a situação mudou; enquanto o ritmo de crescimento econômico diminuía, os preços continuaram subindo. A taxa anual do crescimento do PNB real entre 1970-73 foi de 8,3%, e as taxas de incremento dos preços por atacado e dos preços do consumidor de 4,9% e 7,6%, respectivamente.

Desta maneira, a economia japonesa na década de 70 se caracteriza pelas pressões inflacionárias que se devem, em parte, à "liquidez excessiva" criada pelo aumento das reservas internacionais. De fato, a estrutura do balanço de pagamentos vem mudando desde 1965. A expansão das exportações permitiu que o balanço comercial apresentasse saldo e, em conseqüência, o Japão se converteu num país exportador de capitais. Como se vê no quadro 2, o balanço de pagamentos acusou um superavit substancial de 7 700 milhões de dólares americanos, em 1971, resultando um rãpido aumento das reservas internacionais que se elevaram de 4 400 milhões, no fim de 1970, a mais de 15 bilhões de dólares 41 americanos, no fim de 1971. Assim, o Japão passou a figurar como o segundo maior possuidor de reservas do mundo depois da Alemanha Ocidental.

Enquanto isso, nos meados de agosto de 1971, anunciou-se a nova política econômica dos EUA para defender o dólar, ou seja, o chamado "choque Nixon", que conduziu a um grande reajustamento do sistema monetário internacional, com o resultado de que as moedas dos principais países europeus entraram em livre flutuação. O Japão, por seu lado, empenhou-se quase até o fim de agosto, em defender a paridade iene-dólar que mantinha desde 1949 (360 ienes por dólar). Como resultado desta política, as compras de dólares por parte do Banco do Japão chegaram a níveis de até 1 200 milhões em um só dia (diz-se que essas compras chegaram a 4 600 milhões em 10 dias) e a reserva em dólares se elevou até mais de 12 bilhões no fim de agosto. Finalmente, esta politica teve que ser abandonada nos últimos dias de agosto, quando se permitiu a livre flutuação do iene.

Depois de longas discussões entre os paises industriais, em dezembro de 1971, chegou-se ao acordo de reajustamento monetário conhecido como Acordo Smithsoniano, com a desvalorização do dólar, com relação ao ouro, em 7,69% e a revalorização das várias moedas de paises industriais (marco em 13,5%, iene em 16,88%, etc). Assim, a taxa de câmbio do iene fixou-se em 308 ienes por dólar.

Apesar da revalorização do iene, entretanto, o balanço comercial do Japão continuou registrando saldo notável em 1972. Para reduzir as reservas, o Governo japonês adotou várias medidas dirigidas a incrementara ajuda oficial aos países em desenvolvimento e estimular o investimento privado estrangeiro. Não obstante, o balanço de pagamentos acusou um superavit de 4 700 milhões de dólares americanos em 1972, com o resultado de que as reservas alcançaram 18 bilhões de dólares, no fim do mesmo ano.

Nestas circunstâncias, ressurgiu a crise monetária internacional, gerada pela situação instável do dólar em janeiro de 1973. Para superar a crise, o dólar se desvalorizou de novo em 10% e, posteriormente, as moedas dos principais paises industriais entraram em flutuação. Deste modo, o sistema smithsoniano deixou de existir em pouco mais de um ano. Em março deste ano, o Japão também decidiu pela flutuação do iene, cuja taxa de câmbio se iniciou por 270 ienes por dólar, o que Significou uma revalorização em mais de 10%.

Como resultado da revalorização substancial do iene que se efetuou duas vezes, e também da expansão continua da economia japonesa gerada pela "liquidez excessiva", o balanço de pagamentos passou a acusar deficit em 1973. Esta tendência foi estimulada pela crise do petróleo em outubro do mesmo ano. Por fim, o balanço de pagamentos revelou um deficit considerável de 10 milhões de dólares americanos em 1973. E, em conseqüência, as reservas se reduziram a 12 200 milhões de dólares no ano de 1973.

Por outro lado, a alta fenomenal dos preços do petróleo agravou as tendências inflacionárias, gerando, assim, um aumento frenético dos preços. E o fortalecimento da politica de restrição ao crédito para conter a inflação fez com que a depressão se agravasse mais, com o resultado de que, em 1974, o PNB real experimentou uma taxa de crescimento negativa, pela primeira vez no pós-guerra.

2.2 Características principais

Como acabamos de ver, pode-se dizer que a economia japonesa, está, agora, numa fase de transição, cujas características principais são as seguintes: 1. Mais ênfase no bem-estar que no crescimento. 2. Redução da taxa de crescimento econômico potencial que se origina dos limites ao crescimento como falta de mão-de obra, escassez de recursos naturais e condição do meio ambiente. 3. Pressões inflacionárias originadas pela demanda, assim como pelo aumento dos custos. 4. Importância da cooperação internacional em virtude da elevação da posição do Japão neste meio.

Vamos ver estas quatro características da economia japonesa na década de 70.

1. Ênfase no bem-estar.

Em 1970, surgiu a expressão "abaixo com o PNB" nos jornais do Japão. Embora o Japão tenha realizado um rápido crescimento econômico no pós-guerra e, assim, se tenha tornado no terceiro maior país do mundo em termos de PNB, sua poluição ambiental aumentou consideravelmente. Por isso, a expansão do PNB não implicaria, necessariamente, a elevação do bemestar do povo. Este ê o sentido da expressão citada que ê, na realidade, uma frase de protesto do povo.

Além disso, no caso do Japão, enquanto o PNB (ou seja flow) aumentava, o capital social (ou seja stock) não crescia tão rapidamente como o PNB, ficando atrasado, quando comparado com o dos outros países industriais. É verdade que, como resultado do crescimento acelerado, o consumo privado aumentou substancialmente: a difusão dos receptores de televisão, telefones e carros de passeio no Japão alcançou o nível dos países desenvolvidos, como se indica no quadro 3. Entretanto, as condições de habitação são muito más, e o preço dos terrenos é extraordinariamente alto. Também, o serviço de saneamento está muito atrasado e, considerando a quilometragem do total de estradas, as rodovias pavimentadas ainda são relativamente poucas.

Igualmente, a previdência social do Japão é bem inferior a de outros países industriais. Por exemplo, em 1966, os subsídios da previdência social per capita no Japão foram de somente 52,3 dólares, comparados aos 258,9 dólares nos EUA, 229,1 dólares no Reino Unido, e 332,7 dólares na Alemanha Ocidental.

Embora se tenha elevado consideravelmente os subsídios de previdência social no Japão dos anos recentes, em 1971 a participação dos gastos da previdência social na receita nacional no Japão foi de 4,8% em relação a 7,4% nos EUA, 6,6% no Reino Unido, 15,5% na Alemanha Ocidental, 19,6% na França, 14,4% na Itália e 10,6% na Suécia. Isto se deve, em parte, ao fato de que o sistema de aposentadorias do Japão é ainda inferior ao de outros paises desenvolvidos.

Diante dessa situação, o Governo japonês vem realizando maiores esforços para elevar o bemestar nos últimos anos. O Plano Básico Econômico e Social (1973-77) que se anunciou em fevereiro de 1973, teve como seu subtítulo "Construção da sociedade de bem-estar com vigor" e estabeleceu metas tão importantes como a "Criação de um ambiente rico" e a "Manutenção da vida confortável e estável". De fato, o Governo japonês declarou que 1973 seria o primeiro ano do bem-estar e tomou medidas como a elevação de 50% a 70% nos subsídios da assistência médica, gratuidade da assistência médica para os velhos e aposentadoria de 50 mil ienes mensais.

Por outro lado, vem estudando um indicador, para mostrar o nível de bem-estar, dando por resultado um novo indicador chamado "NNW" (Net National Welfare). O NNW ou seja, Bem-Estar Nacional Líquido calcula-se modificando PNB como segue:

a) deduzir o importe dos danos produzidos pela poluição;

b) deduzir das despesas do governo o custo de gastos tais como de natureza militar, policial, etc;

c) deduzir do consumo privado os gastos de passageiro com passe permanente (porque o aumento desses gastos não implica incremento do bem-estar);

d) adicionar o valor dos serviços de lar que não estão incluídos no PNB;

e) adicionar o valor das horas livres;

f) adicionar o aumento do bem-estar produzido pelo incremento de bens de consumo duráveis, etc.

O NNW calculado desta maneira foi de 44 bilhões ienes (aproximadamente de 122 bilhões de dólares americanos) em 1970, que é um pouco inferior ao PNB de 48 bilhões ienes (quase 133 bilhões de dólares americanos).

Também estão sendo estudados "indicadores sociais", ou seja, o índice do nível de bem-estar que inclui não só os indicadores de valor como os que utilizam o PNB e o NNW e também os indicadores concretos da vida como saúde, educação, ociosidade, consumo, ambiente, etc. Conforme as estimativas preliminares destes "indicadores sociais", o nível de bem-estar do Japão aumentou em 34,4% durante o período de 1960-70, o que significa a taxa anual de crescimento de somente 3%, que é bastante inferior ao PNB de 11 % durante o mesmo período.

2. Redução da taxa de crescimento econômico potencial

O crescimento acelerado da economia japonesa no pós-guerra se deve a várias condições favoráveis internas e externas, das quais as mais importantes são as cinco seguintes:

a) existência de abundante mão-de-obra qualificada e comparativamente barata;

b) ativos investimentos para modernizar as fábricas executados pelas empresas e conseqüente acumulação acelerada de capital;

c) ritmo notável de inovações;

d) importação de grande quantidade, a preços comparativamente baixos, de vários recursos naturais do exterior que são escassos no Japão;

e) desenvolvimento estável da economia mundial.

Porém, estas condições mudaram rapidamente nos anos recentes. Desde meados da década de 60, tem-se destacado a falta de mão-de-obra. Quanto às ativas inversões das empresas, estas se processaram muito rapidamente e dentro de uma área limitada, o que provocou problemas tais como poluição, dificuldades de localização, conflitos com os habitantes locais, etc. Com respeito à inovações, vem se reduzindo substancialmente o technology gap (hiato tecnológico) entre o Japão e outros países industriais. Ademais, o ritmo próprio das inovações tende a moderar-se.

Por outro lado, diversos recursos naturais que sofreram excesso de exploração em todo o mundo tendem a escassear e, em conseqüência, seus preços tendem a aumentar. Também, a economia mundial que cresceu constantemente sob o sistema de Bretón Woods, atualmente está diante de uma grande crise, sofrendo o "trilema" depressão, inflação e desequilibrio de balanço de pagamentos.

Tal mudança de condições de crescimento, especialmente com relação à mão-de-obra, recursos naturais e ambiente, é responsável pela redução da taxa de crescimento econômico potencial. Em primeiro lugar, isto se reflete num rápido aumento da relação capital-produto marginal. Como se indica no quadro 4, esta relação, ou seja, o capital necessário para incrementar o PNB numa unidade, vem aumentando consideravelmente desde 1970, o que conduziu à redução da taxa de crescimento superior a 10% em 1966-70 à ordem de 7%, em 1971-75. Isto se deve a um rápido aumento dos investimentos para controlar a poluição e para economizar a mão-de-obra na primeira metade da década de 70. Por exemplo, os investimentos para controlar a poluição praticamente não existiram na segunda metade da década de 60, passando, no entanto, a ocupar 16,2% do total do investimento em 1974. Quanto às aplicações para poupar trabalho, estas se têm processado sob a forma de aumentos dos investimentos para renovar os obsoletos equipamentos labor-intensivos e também da mecanização do sistema de distribuição e comercialização.

Além disso, há problemas de bottleneck nas indústrias básicas como siderurgia, metalurgia não-ferrosa, petroquímica e energia elétrica. Nestas indústrias torna-se cada vez mais dificil aumentaras inversões e assim elevar a produção, devido a várias limitações como escassez de matérias-primas, dificuldades de localização, etc.

Para solucionar esses dois problemas: quer dizer, redução de crescimento potencial e bottleneck, o Japão terá que mudar sua estrutura industrial na qual a participação das indústrias pesadas e químicas, que consomem grande quantidade de matérias-primas, é mais alta que em outros países industriais.

3. Pressões inflacionárias

Como mencionei, a economia japonesa na década de 70 caracteriza-se pelas tendências inflacionárias. Anteriormente, a situação era a de que, enquanto os preços para consumidor subiam constantemente, os no atacado permaneciam estáveis. A isto se chama "inflação originada pelas desigualdades de produtividade". Os Índices de preços do consumidor que se compõem de produtos dos setores de baixa produtividade tais como de produtos agrícolas, produtos de pequenas e médias empresas e serviços subiram, refletindo o aumento de salários desses setores causado pela falta de mão-de-obra. Por outro lado, quedaram estáveis os preços por atacado cujos Índices se compõem principalmente de produtos de grandes empresas onde a produtividade é alta.

A partir de 1973, porém, a situação mudou. Os preços por atacado aumentaram rapidamente, continuando a subir os do consumidor. A causa fundamental desse aumento dos preços foi o excesso de demanda que somada à elevação do custo, acelerou a espiral dos preços.

No que se refere ao fator procura, podemos indicar, de modo particular, o aumento substancial de papel-moeda oriundo do saldo muito favorável do balanço de pagamentos em 1971 e uma política fiscal excessivamente ativa, estimulada pela "Reconstrução do Arquipélago do Japão", do ex-Primeiro Ministro Kakuei Tanaka. Para satisfazer tal aumento da demanda, a oferta de bens não foi suficiente, devido às limitações já mencionadas tais como falta de mão-de-obra e matérias-primas, controle de poluição, dificuldade de localização, etc. Daí resultou o desequilibrio da oferta e procura que conduziu ao aumento "frenético dos preços".

Além disso, acelerou-se a inflação dos custos. Uma das causas dessa aceleração foi o aumento dos preços das matérias-primas importadas do exterior. Esta "inflação importada" acelerou-se, particularmente, depois do aumento quádruplo dos preços de petróleo pelos países da OPEP. Outra causa foi a elevação do custo da produção gerada pelo aumento de salários. No caso das manufaturas, a partir de 1969, o aumento salarial excedeu o de produtividade do trabalho.

Tal incremento nos preços criou vários problemas. O mais sério é o de que a inflação produz uma redistribuição da renda em detrimento dos setores mais fracos economicamente, ampliando, assim, as desigualdades de renda. Por isso, o Governo japonês vem estudando o método de neutralizar a inflação, como o Brasil está fazendo, e tomou medidas para aplicar a indexação das aposentadorias.

4. Importância da cooperação internacional.

A economia japonesa cresceu rapidamente no pós-guerra, importando e processando as matérias-primas do exterior, exportando os produtos industriais aos paises estrangeiros. Em conseqüência, a estrutura industrial do Japão tem-se orientado no sentido de importar e processar cada vez mais os recursos naturais. Também, o comércio exterior do Japão tem-se baseado principalmente na divisão de trabalho vertical: importar matérias-primas e exportar produtos processados.

Isto se reflete no aumento da dependência das importações de produtos primários. Como se vê no quadro 5, nessa dependência, a importação de petróleo (99,6% em 1972), minério de ferro (98,3%), lã (99,9%) e outros produtos primários é muito elevada em relação à de outros países industriais. Também aumentou, consideravelmente, a participação japonesa nas importações mundiais desses produtos primários, ocupando ele o primeiro lugar em quase todos os produtos (40,4% em minério de ferro, 15,2% em petróleo e 32,4% em madeira).

O quadro 6 indica que aumentou, também, a participação japonesa no comércio mundial. Nossa participação nas exportações mundiais se elevou de 3,6% em 1960 a 7,6% em 1972, e, nas importações mundiais, passou de 3,8% a 6,1% durante o mesmo período.

Em 1972, as exportações do Japão chegaram a 28 600 milhões de dólares americanos, ocupando o terceiro lugar na classificação mundial, sendo superadas somente pelos EUA e Alemanha Ocidental, enquanto as importações alcançavam 23 500 milhões de dólares, colocando o país no quinto posto mundial depois dos EUA, Alemanha Ocidental, Reino Unido e França.

Por outro lado, como se indica no quadro 7, as inversões diretas privadas do Japão vêm aumentando tão rapidamente nos últimos anos que o saldo de nossos investimentos no exterior se elevou de 1 500 milhões em 1967 a 6 800 milhões de dólares americanos em 1972 (e excederão 10 bilhões em 1974). Assim, a participação japonesa nos países da DAC (Comissão de Assistência ao Desenvolvimento da OCDE) aumentou de 1,4% para 3,1 % durante o mesmo período. O saldo dos investimentos privados do Japão em 1972 foi quase equivalente ao da Alemanha Ocidental e Canadá, embora muito inferior ao dos EUA e Reino Unido.

Como resultado da elevação da posição internacional do Japão, a economia japonesa tende a ser mais afetada pela economia mundial que nos anos anteriores. O exemplo tipico dessa situação è a crise do petróleo em 1973, que causou grande impacto na economia do pais, e trouxe, como resultado para o Japão, a chamada stagflation (estancamento com inflação). Mas o estancamento da economia japonesa e a conseqüente redução de suas importações de matérias-primas têm afetado bastante os paises exportadores desses produtos primários. Particularmente, os paises do sudeste da Ásia têm sido seriamente afetados pela redução das importações japonesas, jà que dependem muito do Japão nas exportações de suas matérias-primas (no caso de alguns produtos, mais da metade das exportações se destinam ao Japão).

Neste quadro, a política de restrição ao crédito do Japão tem sido criticada como "politica de empobrecer os vizinhos". No pós-guerra, a dependência japonesa dos EUA era tão grande que até se dizia: "Se os EUA espirram, o Japão se resfria." Agora se diz: "Se o Japão espirra, a Ásia se resfria."

Por outro lado, a redução das exportações japonesas de produtos industriais, particularmente produtos siderúrgicos e químicos, cuja participação nas exportações mundiais ê relativamente alta, poderia afetar os países importadores desses produtos. Por exemplo, se o Japão não puder exportar fertilizantes para os países do sudeste asiático, o fato causara um sério impacto na produção agrícola desses países.

Assim, pode-se dizer que os paises do mundo estão se tornando cada vez mais interdependentes. Particularmente, à medida que vem aumentando a participação japonesa no comércio exterior, o desenvolvimento da economia japonesa depende mais do crescimento estável da economia mundial, e por isso, da cooperação internacional.

3. ECONOMIA JAPONESA DEPOIS DO PETRÓLEO E SUAS PERSPECTIVAS

3.1 Efeitos da crise do petróleo

Nos últimos anos, a economia japonesa tem enfrentado vários problemas, dos quais o mais sério foi o da crise do petróleo no outono de 1973. De fato, esta crise foi o maior desafio no pós-guerra para o Japão.

Ao anunciar-se a redução da produção petrolífera pelos países do OPEP, no dia 17 de outubro de 1973, a vida econômica japonesa entrou no caos, os preços subiram de repente e a falta de artigos se agravou pelo monopólio. A iluminação se apagou no centro de Tóquio, e a calefação foi cortada em algumas companhias. Várias fábricas reduziram a produção em 10 a 20% por causa da falta de matérias-primas.

Em face desta situação, o Governo japonês efetuou a redução de consumo de petróleo e energia elétrica em 10% em meados de novembro de 1973. Em seguida, declarou o "estado de emergência", estabelecendo as chamadas duas leis do petróleo, "Lei sobre a adequação da demanda e oferta do petróleo" e "Lei sobre as medidas urgentes para estabilizar a vida do povo". Em março de 1974, ao aumentar os preços por atacado do petróleo, determinou o congelamento dos preços dos artigos de primeira necessidade.

Como os paises da OPEP deixaram de reduzir o fornecimento do petróleo, a situação melhorou a partir de abril de 1974. E o Governo japonês começou a extinguir, gradativamente, o congelamento dos preços que finalmente cessou no fim de agosto.

Porém, a crise de petróleo trouxe um grande impacto para a economia japonesa. Devido à quadruplicação dos preços do petróleo, a inflação se agravou e o balanço de pagamentos registrou saldo desfavorável. Além disso, o fortalecimento da politica de restrição ao crédito conduziu à redução das atividades produtivas e ao aumento das falências e ao desemprego.

Como indica o quadro 8, enquanto a produção industrial continua diminuindo desde junho de 1974, a inflação tende a moderar-se e também o balanço de pagamentos tende a melhorar desde setembro do ano passado. Por isso, se poderia dizer que se a crise do petróleo foi superada no Japão, pelo menos no que se refere aos preços e ao balanço de pagamentos.

3.2 Perspectivas da economia japonesa

A economia japonesa experimentou uma transformação sem precedentes em 1974. Registrou uma taxa de crescimento negativa, pela primeira vez no pós-guerra, e um aumento precipitado dos preços que quase equivale ao do período da Guerra Coreana em 1951. Além disso, a recuperação econômica tem sido muito mais débil que nos anos anteriores.

Quanto às perspectivas da economia japonesa no ano fiscal de 1975, as previsões do governo indicam que o PNB nominal crescerá em 15,9%, comparado com 18,7% em 1974 e o PNB real aumentará em 4,3%, comparando com -1,7% em 1974. Também se estima que os preços no atacado subirão em 7,9% no ano fiscal de 1975, com relação a 24,6% em 1974, e os do consumidor se elevarão em 11,8% em 1975, com relação a 22,0% em 1974.

Mas conforme as projeções de 18 meses (18 month forecast) do Centro de Pesquisa Econômica do Japão, divulgados em meados de março último, a economia japonesa começará a recuperar-se a partir de outubro deste ano, estimando-se que o PNB nominal, no ano fiscal de 1975, crescerá em 14,2% com relação a 17,5%, em 1974, e o PNB real se incrementará somente 2,6% em relação a -0,8%, em 1974. Estas projeções constituem previsões mais modestas que as do Governo japonês.

De modo parecido, como se vê no quadro 9, as projeções a médio e longo prazo de várias instituições indicam que o PNB real crescerá em 5 a 7%, anualmente, daqui a cinco ou 10 anos. E com referência aos preços, estima-se que continuará o aumento anual de aproximadamente 10% até a década de 80.

Cabe destacar que, enquanto várias instituições do Japão estimam uma modesta taxa de crescimento até 1980, os especialistas em assuntos nipônicos no exterior são muito otimistas acerca das perspectivas da economia japonesa.

Por exemplo, a revista inglesa, The Economist, de 4 de janeiro de 1975, publicou o artigo especial intitulado "Pacific Century 1975-2075", que é um novo trabalho sobre o Japão de Norman Macrae, subdiretor da revista. Segundo ele, depois do século inglês (1775-1875) da Primeira Revolução do Transporte (ou seja a estrada de ferro) e do século estadunidense (1875-1975) da Segunda Revolução do Transporte (ou seja automóveis), virá o século japonês, ou pacífico (1975-2075) que se caracterizará pela Revolução das Teleco municações. Macrae estima que o Japão manterá seu rápido crescimento econômico daqui em diante, por duas razões: o alto nível da tecnologia e a organização das empresas orientada para a consciência de tribo.

Em dezembro de 1974, Herman Kahn publicou outro trabalho intitulado Japan's role in the world, no qual se estima que a economia japonesa manterá sua taxa de crescimento real de cerca de 10% nos próximos 10 anos e que, na década de 80, poderá tornar o Japão a segunda potência mundial, superando a Rússia.

Além disso, em setembro de 1974, a companhia estadunidense de consultores, Boston Consulting Group, dirigida por J. C. Abbeglen, publicou o projeto intitulado "Japan in 1980", qüe prevê idêntica taxa de crescimento na próxima década, visto que não se alterarão as condições de crescimento, tais como mão-de-obra, progresso tecnológico, recursos naturais, etc.

Estas são as projeções de famosos especialistas em assuntos japoneses. Por isso, não se pode descuidar de sua influência. Todavia, parece-me que não são projeções realistas, porque estimam demasiadamente pouco os limites de crescimento como recursos naturais, poluição, etc. a que está sujeita a economia japonesa.

De fato, depois da crise do petróleo, surgiu no Japão o consenso nacional de que a economia do pais precisa mudar de rota: do crescimento rápido para o crescimento estável. Isto é mostrado claramente no primeiro informe do governo do Primeiro-Ministro Takeo Miki, no dia 24 de janeiro de 1975:

"A economia japonesa precisa mudar de rota: da expansão quantitativa à abundância qualitativa. Há que transformar suavemente a rota de crescimento acelerado em crescimento estável e em melhoria do bem-estar.

As condições internas e externas que sustentam o rápido crescimento econômico deixaram de existir. Terminou o período em que se podia comprar a preço baixo qualquer quantidade de matérias-primas, combustíveis e alimentos.

No país, mudou a situação do trabalho: aumentou o salário e diminuiu a hora de trabalho. A localização das indústrias tem sido limitada severamente pelo meio-ambiente. Acho que é impossível e também injusto voltar a situação anterior."

Nestas perspectivas, o Governo japonês está preparando um novo plano qüinqüenal (1976-80), em que se mostrará uma nova imagem da economia e da sociedade do Japão.

Em todo caso, para se conhecer as perspectivas da economia japonesa, consideram-se importantes os seguintes fatores:

1. Como converter, com os menores atritos possíveis, a estrutura industrial orientada para o rápido crescimento em outra, orientada para o crescimento estável e a melhora do bem-estar?

2. Que quantidade de energia e recursos naturais pode importar do exterior?

3. Continuará a economia mundial crescendo a um ritmo estável e constante? E, particularmente, que quantidade de moeda do petróleo (óleo-dinheiro) recirculará nos paises consumidores do petróleo?

4. SITUAÇÃO ATUAL E O FUTURO DAS RELAÇÕES ENTRE O JAPÃO E A AMÉRICA LATINA

4.1 Estreitamento das relações econômicas

Que efeitos trará às relações entre o Japão e a América Latina a transformação da economia japonesa do crescimento rápido para o crescimento estável? Antes de considerar este problema, vamos examinar resumidamente a situação atual de nossas relações.

Como assinalou a visita oficial ao México e Brasil do ex-Primeiro-Ministro Kakuei Tanaka em setembro de 1974, aumentou, apreciadamente, o interesse pela América Latina no Japão. De sua parte, nos paises latino-americanos, observou-se um grande interesse pelo crescimento acelerado do Japão que é o único país industrial fora da área dos países ocidentais. Refletindo o incremento do interesse em ambos os lados, estão-se tornando cada vez mais estreitas as relações econômicas entre o Japão e a América Latina.

Recentemente, tem-se incrementado constantemente o intercâmbio comercial entre o Japão e a América Latina. Como se vê no quadro 10, o comércio do Japão com a América Latina aumentou oito vezes, de cerca de 600 milhões de dólares americanos para 4 800 milhões, durante o período de 1960-73. Este é um aumento considerável, levando-se em conta que o comércio exterior da América Latina apenas triplicou durante o mesmo período. Além disso, nosso intercâmbio comercial alcançou cerca de 7 bilhões de dólares americanos, de janeiro a novembro de 1974.

Em conseqüência, a participação do Japão no comércio exterior da América Latina mais que duplicou durante o último decênio. Segundo o informe anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em 1973, a participação do Japão nas exportações latino-americanas passou de 2,8% em 1960-62 a 5,9% em 1970-72. Enquanto isso, a participação desse país nas importações latino-americanas aumentou de 3,3% a 7,3% durante o mesmo período. Estas cifras contrastam com a redução constante da participação dos EUA e CEE no comércio exterior da América Latina.

Além disso, se considerarmos o comércio exterior da América Latina por produtos, pode-se notar que a participação do Japão é maior em alguns produtos (ver quadro 2.) Em 1971, o Japão recebeu 28% do total das exportações de matérias-primas da América Latina, ocupando também 22% do total de importações de têxteis e 15% do total de importações de material de transporte desse continente. Particularmente, cabe destacar o aumento apreciável da participação do Japão nas importações de ferro e aço desta região, que cresceu de 18% em 1965 a 44% em 1971. Isto quer dizer que, em 1971, quase a metade das importações de produtos siderúrgicos da América era proveniente do Japão.

Quais fatores contribuiram para a recuperação econômica do Japão após a Segunda Guerra mundial

De outra parte, os investimentos privados do Japão na América Latina tendem a aumentar. Como se nota no quadro 12, o total acumulado destas aplicações chegou a 1 811 milhões de dólares americanos em fins de 1973, comparados aos poucos 380 milhões em fins de 1967. Em 1973, a participação da América Latina no total acumulado das inversões privadas do Japão foi de 18%, comparada aos 24% da América do Norte e 23% da Ásia. Embora os investimentos privados do Japão no exterior sejam bastante menores que os dos EUA, Reino Unido e Alemanha Ocidental, no Brasil, que recebeu cerca de 60% dos investimentos japoneses no ultramar, nossa participação nas inversões privadas estrangeiras aumentou tão rapidamente que ocupa agora o terceiro lugar vindo após os EUA e a Alemanha Ocidental.

Há várias razoes pelas quais as relações econômicas entre o Japão e a América Latina se tornaram tão estreitas recentemente. Entre elas quero enfatizar as três seguintes:

Em primeiro lugar, as relações econômicas entre o Japão e a América Latina são bem complementares. Japão está importando da América Latina recursos naturais e alimentos abundantes na região e, em troca, exporta produtos industriais, particularmente equipamentos e máquinas. Também o Japão fornece à América Latina capitais e tecnologia que são relativamente escassos nessa área, contribuindo, assim, para o desenvolvimento dos paises latino-americanos.

Em segundo lugar, à medida que a economia japonesa se internacionaliza, o Japão precisa diversificar suas relações comerciais. Para manter estável o abastecimento dos produtos primários do exterior, é indispensável que o Japão diversifique os mercados de importação. De outra parte, o Japão precisa diversificar os mercados de exportação para evitar a excessiva concentração das exportações nos Estados Unidos e sudeste asiático. Nestas circunstâncias, tem aumentado a importância da América Latina que é a região mais avançada entre os chamados paises em desenvolvimento e que também está dotada de recursos naturais por explorar.

Em terceiro lugar, do lado da América Latina se observa a tendência de reduzir a dependência com relação aos Estados Unidos e diversificar as relações exteriores. Particularmente, depois do chamado "choque Nixon" em agosto de 1971, nos paises latino-americanos tem sido sentida a necessidade de diversificar os mercados para seus produtos. Cresceu então o interesse pelo Japão que atualmente é o maior importador de matér/ias-primas e alimentos do mundo. Tem também aumentado o interesse dos latinoamericanos pela experiência do rápido crescimento econômico do Japão, de modo especial por sua politica de promoção de exportações, assim como por sua maneira de importar a tecnologia.

Em resumo, o estreitamento das relações entre o Japão e a América Latina se deve ao fato de que, além da complementação, criou-se um novo ambiente que estreita suas relações em ambos os lados.

4.2 Problemas e perspectivas

A meu ver, os problemas das relações entre o Japão e a América Latina são as seguintes:

1. Quanto ao intercâmbio comercial, à medida que aumenta a participação do Japão no comércio exterior da América Latina, está crescendo a influência da economia japonesa nos paises latino-americanos, ainda que em escala menor que nos países asiáticos. Por exemplo, no ano passado, os fabricantes de metais não-ferrosos do Japão deixaram de importar minério de cobre por causa da depressão nó país, o que causou um grande impacto nos paises latino-americanos exportadores de cobre como o Chile e o Peru. Por isso, o Japão, terá que estabelecer um diálogo mais estreito com os países latino-americanos para evitar atritos.

2. Também há p problema de desequilíbrio do comércio entre o Japão e a América Latina. Como se indicou no quadro 10, até 1970, o comércio entre o Japão e a América Latina foi favorável aos países dessa região, mas, a partir deste ano, em troca, aumentou o saldo favorável ao Japão, que, no período de janeiro a novembro de 1974, alcançou 2 bilhões de dólares. Esta tendência parece refletir o aumento da demanda pelos produtos industriais japoneses por parte dos países latinoamericanos, particularmente do Brasil, em virtude do desenvolvimento econômico recente neste Pais. Isto deve-se, em parte, sem dúvida, ao aumento moderado das exportações latinoamericanas ao Japão, resultando na redução da participação da América Latina nas importações do Japão que passou de 7,7%, em 1969, a 4,3% em 1974.

Por conseguinte, os países latino-americanos terão que envidar mais esforços para aumentar suas exportações ao Japão. Para isso, precisam elevar gradativamente a divisão de trabalho horizontal entre o Japão e a América Latina. O Japão deveria importar não somente matérias-primas, mas também produtos processados da América Latina. Por sua vez, os países latino-americanos precisariam tornar seus produtos mais competitivos comparados com os de outros países.

3. Com referência às inversões privadas, na América Latina hâ preocupações de que o Japão está exportando a contaminação para os paises estrangeiros. Estas preocupações parecem basear-se no fato de que a participação dos investimentos na exploração de recursos naturais, no total das aplicações privadas japonesas, é maior do que em outros países industriais. Por isso, as empresas japonesas terão que tomar medidas adequadas para evitar a contaminação, tal como o fizeram no Japão.

Outra preocupação seria a de que o Japão está seguindo o mesmo caminho que os EUA em matéria de inversões privadas na América Latina. A este respeito, pode-se dizer que os investimentos privados do Japão são mais flexíveis acerca da participação do capital que os de outros países industriais. De fato, têm aumentado os casos em que as empresas japonesas têm constituído joint-ventures com as congêneres latino-americanas com participação minoritária do Japão. Além disso, o Japão poderá cooperar com os países latino-americanos no ramo da transferência de tecnologia às pequenas e médias empresas na América Latina.

4. Por último, para a promoção das relações econômicas, deveríamos incrementar mais o intercâmbio cultural, entre o Japão e a América Latina, para melhor compreensão da cultura de ambos os lados. A este respeito, como foi efetuado entre o Japão e o México desde quatro anos atrás, seria necessário promover o intercâmbio de professores e estudantes entre o Japão e os países latino-americanos. Assim, deveríamos envidar mais esforços para fomentar os estudos latino-americanos no Japão, assim como os estudos japoneses nos países da América Latina.

Portanto, quais são as perspectivas das relações entre o Japão e a América Latina? Em conclusão, pode-se dizer que nossas relações econômicas continuarão expandindo-se não somente em matéria de comércio, como também de colaboração econômica, pelas seguintes razões:

1. O Japão irá transformar sua estrutura industrial orientada para o consumo de recursos naturais, mas levará bastante tempo para realizar essa transformação. Por isso, o Japão terá que continuar importanto grande quantidade de matérias-primas. Além disso, no momento, o Japão não poderá libertar-se da carga de fornecer produtos siderúrgicos e químicos aos países estrangeiros, particularmente aos países em desenvolvimento.

2. Para evitar os atritos que têm ocorrido por concentrar seu comércio e investimentos nos EUA e nos países asiáticos, o Japão precisa diversificar cada vez mais suas relações econômicas. Nestas perspectivas, aumentará a importância da América Latina que ê a região mais avançada dos países em desenvolvimento.

3. Desde 1970, a economia latino-americana tem crescido a uma taxa anual de 7%, em termos reais. Seu ritmo de crescimento continuará em vista do descobrimento de novas jazidas petrolíferas e da expansão das exportações de produtos manufaturados.

Não obstante, já que a taxa de crescimento econômico do Japão irá reduzir-se a 6-7%, as importações japonesas não aumentarão tão rapidamente como nos últimos anos, crescendo provavelmente a uma taxa um pouco menor que a taxa de crescimento econômico nominal. Em troca, as exportações continuarão crescendo, refletindo as pressões da exportação no Japão, do que resultará o aumento da balança comercial favorável ao Japão com a América Latina.

De outra parte, as inversões privadas japonesas na América Latina continuarão aumentando, pelas seguintes razões:

1. À medida que se desenvolve a sua economia, os paises latino-americanos necessitarão de mais capital e tecnologia estrangeiros.

2. Seria cada vez mais difícil localizar as fábricas, particularmente no setor de indústrias básicas, no Japão.

3. Para continuar fornecendo os produtos ou insumos industriais para os países estrangeiros, é necessário que o Japão localize as fábricas desses produtos no exterior.

Segundo as projeções do Ministério do Comércio Internacional e Indústria (MITI), estima-se que o saldo das inversões privadas japonesas no exterior chegará a 45 bilhões de dólares americanos em 1980. Se a participação da América Latina for de 20% do total, o saldo de nossos investimentos nessa região se elevará a 9 bilhões de dólares, cinco vezes a cifra de 1 800 milhões de dólares americanos em 1973.

Para finalizar, podemos concluir o seguinte:

Há alguns anos, Herman Kahn mencionou que o século XXI seria o do Japão. Porém, eu quero dizer que o século XXI será o da América Latina. Porque, além da redução do ritmo de crescimento econômico causada pelas várias limitações já mencionadas, dentro de duas décadas, a sociedade japonesa será muito parecida, em termos da estrutura populacional, à européia com o aumento da participação dos velhos na população total.

De outro lado, é possível que os paises latino-americanos continuem crescendo a ritmo elevado, já que no momento não há limites em matéria de recursos naturais e mão-de-obra. Contudo, o problema, para os países latinoamericanos é como conseguir o capital e tecnologia. Se se puder solucionar estes problemas, ê propâvel que o século XXI seja o da América Latina.

Quais fatores contribuiram para a recuperação econômica do Japão após a Segunda Guerra mundial

Quais fatores contribuíram para a recuperação do Japão após a Segunda Guerra Mundial?

A partir de uma parceria econômica entre Estados Unidos e Japão, a reestruturação da nação japonesa foi possível. Além disso, durante a ocupação americana, os Estados Unidos não permitiram que tropas soviéticas ocupassem parte do território japonês, o que acabou afastando qualquer tipo de influência soviética no Japão.

Quais foram os principais fatores que contribuíram para a rápida recuperação econômica após a Segunda Guerra Mundial?

Resposta. A ajuda financeira dos EUA, com o plano colombo; os grandes investimentos em educação, que resultaram na formação de uma classe trabalhadora qualificada e eficiente, além do grande investimento en pesquisa e infra-estrutura.

Quais fatores contribuíram para a consolidação da economia do Japão?

A Guerra Russo-Japonesa (1904-5), Segunda Guerra Mundial (1914-1918), a Guerra da Coreia (1950-53) e a Segunda Guerra Indochinesa (1954-1975) trouxeram expansões econômicas para o Japão. Além disso, um tratamento benigno pelos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial facilitou a reconstrução e crescimento do país.

Como o Japão conseguiu se reerguer após a Segunda Guerra Mundial?

As características distintivas da economia japonesa durante a "reconstrução econômica" foram: a estreita colaboração de empresas, fabricantes, fornecedores, distribuidores e bancos em grupos chamados keiretsu, os sindicatos de poderosas empresas chamados shuntō; relações estreitas com burocratas do governo, e a ...