Quem é maria conga na umbanda

Mais uma vez a família Barracão de Pai José celebrou batizados durante uma festa da casa, neste caso foram abençoados Pedro Miguel e Guilherme, filhos dos queridos Marco e Maria Carolina, durante as celebrações do dia dos Pretos Velhos.

Quem realizou a cerimônia foi a Vovó Maria Conga, preta velha que trabalha com a médium Mãe Silmara Falasco.

No Barracão já é tradição, a maioria das crianças são batizadas por ela, a Vovó tem uma história muito ligada às crianças, tanto que é ela quem comanda os trabalhos de Cosme e Damião, onde espíritos infantis se manifestam.

Conta a própria entidade que, quando da sua encarnação como escrava aqui no Brasil, seus filhos (e foram muitos) sempre eram tirados dela, vendidos ou colocados para trabalhar em outras fazendas por seus “sinhô”. A distância impedia que visse seus rebentos crescerem, guardava a lembrança deles apenas como crianças, como pequeninos. O que não tinha nada de pequena era sua dor, sua saudade.

No entanto, Vovó Maria Conga criou muitos filhos, filhos de outras escravas que passavam pelo mesmo drama, crianças que chegavam em sua senzala e ela os acolhia como se fossem os seus, estes a tinham como sua mãe verdadeira.

Parteira de primeira qualidade, a ponto de ser chamada até pelos senhores da “casa grande” quando complicações pareciam sem solução para os médicos, Vovó Maria Conga se apegava em sua fé, que era grande, salvava crianças e mães na hora do parto e sempre soube, no fundo, bem no fundo, que seus verdadeiros filhos também estavam bem e agradecia a Deus, Olorum, Zambi, por essa graça.

É dispensável dizer que no Barracão, a Vovó Maria Conga é muito procurada por casais que querem ter filhos, aqueles que ainda não querem tem até receio quando ela fala “tem criança vindo aí”, gosta de palpitar sobre o sexo das que estão para chegar e eu nunca vi ela errar, já sugeriu até nome que foi prontamente adotado por casais devotados e agradecidos.

Essa história mostra que não há entidade mais indicada para cuidar, abençoar e batizar nossas crianças e estamos bem amparados neste assunto, todos nos sentimos um pouco filhos dela.

Adorei as almas. Adorei a Vovó Maria Conga.

Fotos: Daniele Vertuan

A colheita era sempre motivo para muito trabalho e uma espécie de algazarra contagiava o lugar.

Maria Cristina Mendes

Cenas de exaustivo trabalho em plantações de cana. É nisso que Vovó Maria Conga parece estar constantemente envolvida. Gosta de doces, cocada branca em especial, mas não dá demonstrações de ter sido esta sua principal ocupação na encarnação como escrava.

Sentada em um toco de madeira no terreiro contou, certa vez, alguns fatos de sua vida em terra brasileira.

Começou dizendo que só o fato de podermos conviver com nossos filhos é uma grande dádiva. Naquele tempo as negras eram destinadas, entre outras coisas, a procriar, a gerar filhos que delas eram afastados muito cedo, até mesmo antes de serem desmamados. Outras negras alimentavam sua cria, assim como tantos outros “filhotes” foram alimentados pela Mãe Conga. Quase todas as mulheres escravas se transformavam em mães; cuidavam das crianças que chegavam à fazenda, rezando para que seus próprios filhos também encontrassem alento aonde quer que estivessem.

Os orixás africanos desempenhavam papel fundamental nesta época. Diferentes nações africanas que antes guerreavam, foram obrigadas a se unir na defesa da raça e todos os orixás passaram a trabalhar para todo o povo negro. As mães tomavam conhecimento do destino de seus filhos através das mensagens dos orixás. Eram eles que pediam oferendas em momentos difíceis e era a eles que todos recorriam para afastar a dor.

Maria Conga teve que se utilizar de algumas “mirongas” para deixar de ser uma reprodutora, e assim, pelo fato de ainda ser uma mulher forte, restou-lhe a plantação de cana. A colheita era sempre motivo para muito trabalho e uma espécie de algazarra contagiava o lugar. Enquanto as mulheres cortavam a cana, as crianças, em total rebuliço, arrumavam os fardos para que os homens os carregassem até o local indicado pelo feitor. Foi numa dessas ocasiões que Maria Conga soube que um dos seus filhos, afastado dela quando já sabia andar e falar, era homem forte, trabalhando numa fazenda próxima.

Seu coração transbordou de alegria e nada poderia dissuadi-la da idéia de revê-lo. Passou então a escapar da fazenda, correndo de sol a sol, para admirar a bel eza daquele forte negro. Nas primeiras vezes não teve meios de falar com ele, mas os orixás ouviram suas súplicas e não tardou para que os dois pudessem se abraçar e derramar as lágrimas por tanto tempo contidas. Parecia a ela que eles nunca tinham se afastado, pois o amor os mantivera unidos por todo o tempo.

Certa tarde, quase chegando na senzala, a negra foi descoberta. Apanhou bastante, mas não deixou de escapar novamente para reencontrar seu filho. Mais uma vez os brancos a pegaram na fuga, e como ela ainda insistisse uma terceira vez resolveram encerrar a questão: queimaram sua perna direita, um pouco acima da canela, para que ela não mais pudesse correr.

Impossibilitada de ver o filho, com menor capacidade de trabalho, a Vó Maria Conga passou a cuidar das crianças negras e de seus doentes. Seu coração se encheu de tristeza ao saber que haviam matado seu filho quando tentava fugir para vê-la.

Sua vida mudou. De alegre e tagarela passou a ser muito séria, cuidando do que falava até mesmo com os outros negros. Para as crianças contava histórias de reis negros em terras negras, onde não havia outro senhor. Sábia, experiente e calada, Vovó Maria Conga desencarnou.

Com lágrimas na alma ela acabou seu conto. Disse que só entendeu a medida do amor após a sua morte. Seu filho a esperava sorrindo, guardião que fora da mãe o tempo todo em que aguardava seu retorno ao mundo dos espíritos.

O que a Vovó Maria Conga faz?

Maria foi conhecida por proteger e cuidar de negros e negras que fugiam do açoite nas senzalas e fazendas, ofício ao qual se dedicou durante todos os anos de sua vida após a criação do quilombo.

Quem tem Maria Conga?

A partir desse evento, Maria do Congo passa a ser a referência na ação de liberdade de escravizados, tanto fugidos quanto alforriados, e funda o Quilombo Maria Congo. “São elas [mulheres negras] que carregam a ação cotidiana da luta e promovem o direito à memória por meio da sua própria história”.

Qual Orixa rege Maria Conga?

Maria Conga é a chefe da linha das pretas velhas, a comandante maior, junto com Pai Joaquim de Angola na linha Yorumá (pretos velhos).

Qual a falange de Vovó Maria Conga?

Espiritualmente falando, hoje Maria Conga é uma falange na Umbanda. Vários espíritos fazem parte dessa falange, descem nos terreiros e se apresentam com o nome de Maria Conga, com o respeito e autorização da primeira Maria Conga.