Avião que sumiu por 37 anos

No dia 16 de março de 1962 desaparecia sobre o oceano Pacífico o voo 739 da Flying Tiger Line. Esse era um voo especial que levava 107 pessoas a bordo, sendo 11 tripulantes civis e 96 militares (93 dos Estados Unidos e três do então Vietnã do Sul).

Esse sumiço é um dos maiores mistérios da aviação, e completa 60 anos nessa quarta-feira (16).

Os militares viajavam para lutar na Guerra do Vietnã (1955-1975), conflito fortemente atacado pela opinião pública e um dos mais longos nos quais os Estados Unidos já se envolveram.

A operação de busca é considerada uma das maiores de todos os tempos, com 520 mil km² de área vasculhada em busca do avião.

Até hoje, o Lockheed Constellation e seus passageiros não foram encontrados. Isso gerou, inclusive, teorias da conspiração sobre seu desaparecimento.

Escalas antes do sumiço

O voo 739 decolou da base aérea de Travis, na Califórnia (EUA), no dia 14 de março de 1962 com destino a Saigon (atual Ho Chi Minh), no Vietnã. Ele foi operado pela Flying Tiger Line, uma empresa que realizava voos de carga e fretamento para transporte militar nos Estados Unidos.

O avião, um Lockheed Constellation, inicialmente fez uma escala técnica em Honolulu (Havaí). Ali foi realizado o reabastecimento e a manutenção para reparar pequenos problemas encontrados na aeronave.

Em seguida, partiu para a ilha Wake, território dos EUA onde há uma base militar daquele país. Os passageiros foram vistos pela última vez na próxima escala, feita Guam, também território dos EUA.

Após reabastecer, o voo partiu para a base aérea de Clark, nas Filipinas, última parada antes do Vietnã, mas jamais chegaria ao destino.

Mistério sobre o mar

Após a decolagem de Guam, foram feitas algumas comunicações via rádio entre a tripulação do voo 739 e as equipes de controle de voo. Na última delas, realizada alguns minutos após a decolagem, foi informado que o avião estava a 450 km da costa do território.

Cerca de uma hora depois, naquele dia 16 de março de 1962, era aguardada uma nova comunicação via rádio para informar a posição do avião, mas isso não ocorreu. As equipes de rádio em solo passaram a tentar o contato com o voo 739, mas não conseguiram.

Diante da ausência de comunicação, a aeronave foi declarada desaparecida, dando início a uma megaoperação de busca.

Guerra do Vietnã e especulações

O desaparecimento sempre foi cercado de mistério e acompanhado de perto pela mídia à época, que observava os desdobramentos da Guerra do Vietnã. Uma das condições mais estranhas para o sumiço foi o fato de que o clima estava bom, com céu claro e mar calmo naquele momento.

Por isso, especulou-se que o Lockheed Constellation foi alvo de uma sabotagem a bordo. Isso era atribuído às fortes críticas à guerra, que teria favorecido um suposto plano para evitar que o avião chegasse ao seu destino.

Foi detectado que, nas escalas anteriores ao desaparecimento, o avião ficava em locais cuja segurança permitia que alguém de fora tivesse acesso a ele. Entretanto, nada foi comprovado.

Essa tese ainda foi reforçada à época pelo relato de tripulantes de um navio naquela região de que foram vistas luzes vindas do céu e, em seguida, caindo no mar. Em operações normais, o avião não teria como explodir daquele jeito, e acreditava-se que algo violento e repentino teria acontecido, já que a tripulação do voo sequer teria tido tempo de comunicar uma emergência.

Entretanto, nunca foram encontrados destroços na região onde a equipe do navio relatou ter visto as bolas de fogo caindo do céu.

Outra teoria é de que o voo teria sido sequestrado. Mas até hoje não há nenhum indício de que isso tenha ocorrido e ninguém reivindicou a autoria desse possível crime.

As investigações concluíram que o mais provável é que o avião foi destruído ainda em voo, mas que, devido à falta de qualquer prova, não é possível determinar o que aconteceu de verdade com o 739.

Memorial

Avião que sumiu por 37 anos

Memorial em homenagem aos 93 militares e 11 tripulantes civis do voo 739 da Flying Tiger Line

Imagem: Facebook/Wreaths Across America

Os militares e tripulantes civis que perderam a vida durante o voo com destino à missão secreta no Vietnã foram homenageados nos EUA com seus nomes inscritos em um memorial. Após anos de luta para que os nomes fossem incluídos no monumento dedicado aos veteranos da Guerra do Vietnã, em Washington (DC), os parentes dos desaparecidos conquistaram um monumento próprio.

Segundo os organizadores do espaço, o nome dos integrantes do voo não foram inseridos no memorial localizado na capital dos Estados Unidos devido à falta de informações sobre a missão que estavam cumprindo naquele dia, o que não permitiria enquadrá-los na homenagem feita pelo governo aos seus soldados.

Por isso, apenas após mais de cinco décadas, uma organização particular de apoio a veteranos conseguiu inaugurar junto aos familiares um monumento próprio.

Às 17h41 de 2 de agosto de 1947, o voo CS59 da British South American Airways entrou em contato com a torre de controle do aeroporto de Los Cerrillos, na cidade de Santiago, no Chile.

Ele informou por rádio que previa chegar à capital chilena em aproximadamente quatro minutos.

Em seguida, o avião desapareceu completamente.

Avião que sumiu por 37 anos
O mistério em torno do desaparecimento do Stardust começou a ser resolvido há 14 anos (Foto: Getty)

Não houve mais contatos por rádio nem algum sinal de socorro que alertasse sobre um possível problema.

Operações de busca foram organizadas imediatamente depois do desaparecimento do avião, um Avro Lancastrian que levava seis passageiros e cinco tripulantes desde Buenos Aires.

Mas os destroços do voo CS59 não foram encontrados.

O mistério do desaparecimento da Stardust, como havia sido batizada a aeronave, levaria mais de meio século para ser resolvido.

E, durante este tempo, a falta de informações e evidências alimentaria as mais extravagantes teorias.

Atentados e extraterrestres
Dois acidentes ocorridos poucos depois com aviões da mesma empresa aérea levaram a especulações de sabotagem.

A presença de um diplomata britânico entre os passageiros, num momento de tensão entre a Argentina e a Grã-Bretanha, fez com que alguns acreditassem na teoria de atentado, que teria sido realizado para evitar a chegada de documentos secretos à Santiago.

Enquanto isso, uma palavra estranha presente na última mensagem enviada por rádio convenceu a muitos de que extraterrestres estavam envolvidos no desaparecimento.

Em código morse, a última transmissão dizia: "ETA (tempo de chegada estimado ) Santiago 17h45 STENDEC".

Estas sete letras tornariam ainda mais misterioso o sumiço da aeronave.

E, anos depois, esta última palavra - nunca explicada satisfatoriamente - seria usada até mesmo para batizar uma revista espanhola dedicada aos ETs e ao mundo paranormal, a Stendek.

Cinco décadas de espera
Outros detalhes dignos de filme, como o passageiro palestino que estaria levando um enorme diamante costurado ao forro de sua roupa, também tornaram o Stardust um dos casos favoritos dos fãs de mistérios.

Já para os familiares dos passageiros e tripulantes, a falta de explicações foi uma tortura por décadas.

"Uma pessoa não quer chorar pela morte de alguém que pode não ter morrido", explicou Ruth Hudson, sobrinha de um dos passageiros, è BBC em novembro de 2000.

Em entrevista dada a um programa sobre o Stardust, a prima de Hudson, Stacey Marking, acrescentou: "Minha avó continuou acreditou que meu tio estava vivo até morrer, cerca de dez anos depois".

A essa época o mistério começava a ser esclarecido.

Em janeiro de 2000, restos humanos e fragmentos de uma aeronave foram encontrados por alpinistas no vulcão Tupungato, na Argentina.

E uma expedição organizada algumas semanas depois pelo Exército argentino confirmou que se tratavam dos destroços do Stardust, o que deu início a uma investigação.

Mistério desvendado
A princípio, o achado só aprofundou o mistério.

Como o avião havia ido parar a mais de 80 quilômetros do aeroporto de Santiago, onde ele estava prestes a pousar?

Além disso, a área onde estava havia sido intensamente vasculhada durante as buscas.

E, durante todo esse tempo, vários alpinistas haviam escalado o Tupungato, que tem mais de 6.500 metros de altura, sem encontrar nada, até o velho Avro Lancastrian reaparecer 53 anos depois.

Logo as análises dos destroços mostrariam que os motores ainda funcionavam, o que fez a hipótese de bomba ser descartada, porque os motores normalmente ficariam destruídos após uma explosão, e a distribuição dos destroços indicavam que tinha havido um choque direto contra a montanha.

Os investigadores acreditam que o impacto provavelmente gerou uma avalanche que escondeu o avião das primeiras equipes de resgate. A neve que caiu depois o cobriu ainda mais, mantendo-o oculto até ser arrastado pela movimentação natural do gelo que recobria a montanha até a parte mais baixa, onde reapareceu.

Erro de cálculo
A causa do acidente pode estar vinculada a um fenômeno atmosférico invisível e pouco frequente até então: o jetstream.

Essa poderosa corrente de vento produzida em grandes altitudes pode alcançar velocidades de até 160 quilômetros por hora.

Mas, em 1947, poucos aviões podiam voar tão alto e, por isso, os pilotos não estavam familiarizados com esse fenômeno, que pode alterar significativamente a velocidade de navegação e, assim, afetar os cálculos.

Os investigadores acreditam que a tripulação do Stardust decidiu subir mais de 24 mil pés para evitar o mau tempo que afetava a Cordilheira dos Andes, que separa a Argentina do Chile.

Assim, enquanto voavam às cegas entre as nuvens, o jetstream deve ter reduzido bastante sua velocidade sem que eles se dessem conta, mantendo-os do lado errado das montanhas enquanto eles pensavam estar a poucos minutos de aterrissar.

E, ao começar a descida, esperando ver Santiago por entre as nuvens, veio a colisão inevitável.

"Acredito que, no final do voo, o piloto devia estar bastante seguro do que fazia e relaxado. Os passageiros não devem ter se dado conta do que estava acontecendo em momento algum", disse Carlos Buzá, especialista responsável pela investigação feita pelo Exército argentino, à BBC.

'Não acho que seja uma forma ruim de morrer, porque num momento você está tranquilo e depois não sente mais nada', disse o homem que resolveu o mistério de uma vez por todas.

Ou, melhor dizendo, quase todo o mistério, porque ainda hoje ninguém sabe o que a tripulação do Stardust queria dizer com a palavra STENDEC.