Como é um meteorito

Você já viu objetos atravessando o céu e iluminando, à noite? É um fenômeno bem bonito e comum. Esses corpos celestes são rochas que vagam pelo espaço sideral e encontram a Terra no meio do caminho. As rochas podem acabar se incendiando por completo ao passar pela nossa atmosfera com velocidade muito alta – esses são os meteoros ou estrelas cadentes, como já explicamos aqui no Blog, no texto “Estrela cadente? Não, tá chovendo meteoro!”.

Outros corpos celestes, por sua vez, podem sobreviver e chegar à superfície do nosso planeta. Quando uma rocha atravessa nossa atmosfera, a uma velocidade entre 11 e 72 km por segundo, ela aquece muito e perde matéria, fazendo com que menos de 5% dela atinja, de fato, a superfície da Terra. Quando isso acontece, nomeamos esta rocha de meteorito. No Brasil, não foram encontrados muitos; pouco mais de 70 foram descobertos e catalogados oficialmente. Recentemente, aconteceu uma chuva de meteoritos em Santa Filomena (PE), e as rochas desse fenômeno estão sendo procuradas. É interessante coletar e analisar esses materiais para compreender mais a respeito da formação do nosso Sistema Solar. Os meteoritos têm alto valor científico e são alvos de pesquisa para astrônomos, geólogos e biólogos. Vamos entender o porquê?

Tais rochas são fragmentos de matéria sólida formados de minerais diversos, podendo ser rochosos (aerólitos), metálicos (sideritos) ou mistos (siderólitos), uma combinação de ambos. A composição dos rochosos é semelhante à das rochas vulcânicas terrestres, e eles são os mais comuns de serem encontrados.

Como é um meteorito

Tipos de meteoritos. 

Sabemos, então, que os meteoritos são viajantes espaciais que aterrissaram, com muito ou pouco estrago, na nossa superfície. Com certeza um desses eventos mais conhecidos é o que desencadeou mudanças súbitas e desfavoráveis para a vida na Terra, há 66 milhões de anos, no período Cretáceo. Essa rocha era gigantesca e causou grande devastação da fauna e flora presente, acarretando a extinção dos dinossauros. Essas ocorrências são bem raras. A grande maioria das rochas que atingem o solo são muito pequenas e causam pouco estragos.

Por serem rochas extraterrestres, os meteoritos podem confirmar a existência de outros corpos celestes que possuem características semelhantes às da Terra. Eles representam alguns dos diversos materiais que formaram planetas, há bilhões de anos. Ao estudar a sua composição, podemos aprender sob quais condições o Sistema Solar já esteve, bem como seus processos, incluindo idade e composição de diferentes corpos celestes, e estimar até mesmo as temperaturas da superfície e no interior de asteroides. Interessante, não é mesmo?

Como é um meteorito

Maior meteorito encontrado no Brasil, em 1784.

O meteorito acima é o Bendegó, o maior já encontrado no Brasil. Ele possui 5,36 toneladas e mede 2,15m x 1,5m x 65cm. No momento de seu achado, na segunda metade do século XVIII, ele era o segundo maior do mundo. Além de robusta, a rocha tem 435cm de oxidação, o que nos dá a informação de que o meteorito estava no local encontrado há muitos anos. Bendegó estava no sertão da Bahia (região de Monte Santo) e quase foi parar em Portugal. Isso só não se concretizou porque, durante a sua locomoção, ele caiu no leito de um riacho. Somente em 1888, ele foi transportado para o Museu Nacional no Rio de Janeiro. Em 2018, houve o incêndio do museu, mas o meteorito resistiu. 

Quando se sabe de qual material o meteorito é composto, cientistas comparam essas informações com aquelas existentes no banco de registros de características que se esperam encontrar em outros planetas, na Lua ou em nosso cinturão de asteróides. Os pesquisadores podem afirmar a origem dos meteoritos por alguns métodos. Um deles é através da comparação fotográfica de quedas de meteoritos, a fim de calcular órbitas e projetar o caminho revés, até, talvez, algum cinturão de asteroides. Ou então, a comparação das composições dos meteoritos com os diferentes tipos de asteroides, ou outro astro. Algumas rochas que já caíram na Terra contêm bolsões de gás aprisionados, que correspondem a amostras de Marte. Logo, pode-se esperar que tenham vindo do planeta vermelho. Com a Lua acontece de modo semelhante. Como já temos amostra do solo lunar, podemos identificar as rochas que vieram de lá.

Como ainda é muito caro realizar missões espaciais até outros planetas, cometas ou asteroides, a fim de desvendarmos um pouco mais do cosmos, a coleta e a análise de meteoritos contribuem muito para os estudos da origem e da evolução do Sistema Solar. Caso você encontre um meteorito, guarde-o bem e mostre-o a um cientista! A seguir, estão algumas dicas de como reconhecê-lo, mas é importante fazer esta análise com a ajuda de uma lupa:

  • O formato é irregular, com bordas arredondadas;
  • É mais pesado que uma rocha terrestre;
  • É denso, sem poros ou buracos em seu interior;
  • Possui uma crosta de fusão, que é uma camada fina (de 1 a 2mm), em geral preta e brilhante, mas podendo ser cinza, marrom ou verde;
  • Tem linhas de fluxo, que são ondulações formadas pela fusão ou derretimento durante a passagem pela atmosfera, semelhantes a marcas de dedos em massinhas de modelar.

É claro que, para ter a confirmação e ser reconhecida oficialmente como um meteorito, a rocha precisa ser analisada por profissionais em laboratório.

Fique atento ao céu (e ao chão)! Quem sabe você se depara com um meteorito?

[Texto de autoria de Samantha Jully, estagiária do Núcleo de Astronomia]

Você não precisa somente olhar para o céu para buscar conhecimentos sobre o universo. Aqui mesmo, na Terra, existem materiais que podemos pesquisar para encontrar respostas sobre o Sistema Solar, por exemplo. Um desses materiais são os meteoritos, e eles fornecem informações úteis sobre corpos celestes que passam perto da Terra, tais como asteroides e cometas.

Embora sejam um tanto difíceis de encontrar, não é impossível se deparar com um meteorito, principalmente se você souber onde procurar. Os melhores lugares para se achar um meteorito são aqueles onde outros já foram encontrados. Esses locais são chamados de “campos de dispersão”. É que os corpos que passam pela atmosfera terrestre “explodem” e se fragmentam, e os detritos se dispersam a uma distância limitada a alguns quilômetros.

No Brasil poucos meteoritos foram encontrados — apenas pouco mais de 70 já foram descobertos e catalogados oficialmente —, logo, há poucos campos de dispersão. Isso significa que provavelmente não existem muitos lugares perto da sua casa para procurá-los, mas sempre pode acontecer o inesperado. Por exemplo, em maio de 2017 um meteorito de 1 kg caiu em uma estrada próxima a um sítio na zona rural no município de Palmas de Monte Alto, sudoeste da Bahia. Por pouco não atingiu uma casa e, por isso, foi fácil encontrá-lo.

Como saber se uma rocha é um meteorito?

Como é um meteorito
Fragmento do meteorito "Tissint", encontrado no Marrocos. A colocação mais comum de meteoritos que caíram há pouco tempo na Terra será um preto brilhante. Outros podem oxigar e ter a cor marrom (Foto: Carl B. Agee/AFP/VEJA)

Se você encontrar uma rocha e suspeitar que ela veio do espaço, poderá buscar por um certificado de autenticidade emitido por um perito reconhecido por lei ou instituição científica. Mas, antes, você terá que saber diferenciar um meteorito das demais rochas terrestres.

Para isso, será preciso não apenas conhecer a aparência típica dos meteoritos, mas também suas propriedades físicas. Não existe uma característica específica que lhe dirá com certeza se a rocha é ou não um meteorito, e muitos minerais e rochas terrestres são semelhantes aos detritos espaciais e são facilmente confundidos. Então, além de observar bem os detalhes aparentes, é importante realizar vários testes. A boa notícia é que todos eles são simples e você pode fazê-los por conta própria.

Crosta de fusão

Durante a passagem pela atmosfera, as camadas externas do meteorito se fundem e vaporizam. Ao atingir o solo, ele terá apenas uma fina camada deste material fundido, em geral de 1 a 2 mm. Essa é a crosta de fusão, e em geral é preta, mas em alguns casos mais raros pode apresentar colorações como cinza, marrom e verde. Todo meteorito recém caído terá uma crosta de fusão evidente, mas com o passar do tempo em ambiente terrestre ela mudará de tonalidade.

Caso a rocha que você encontrou seja um meteorito que caiu na Terra há pouco tempo, ela será preta e brilhante. Essa é a coloração que provavelmente você encontrará. Após algum tempo no planeta, o metal contido no meteorito vai oxidar e a rocha ficará marrom, com um aspecto enferrujado. Essa ferrugem começa com pequenos pontos vermelhos e laranjas na superfície do meteorito e, com o tempo, se expandirá até cobrir partes cada vez maiores da rocha. De qualquer forma, você ainda será capaz de ver a crosta preta, com algumas variações como um preto azulado, Se a rocha não tiver a cor próxima do preto ou do marrom, não é um meteorito.

Além disso, a crosta de fusão geralmente é lisa e pode conter algumas ondulações e gotículas, formadas pelo movimento da pedra derretida que, em seguida, se solidificou. Mesmo assim será lisa, semelhante a uma casca de ovo preta que cobre a rocha.

Formato irregular

A maioria dos meteoritos possui formato irregular, e não arredondado. Seus lados variam de tamanho e de forma, mesmo que alguns possam ter um formato cônico. Apesar disso, suas extremidades são arredondadas, e não pontiagudas ou afiadas.

Se a rocha que você encontrou tiver formato esférico e ainda parecer suspeita, pode ser um tipo de meteorito menos comum. Continue a observar as próximas características.

Linhas de fluxo

Como é um meteorito
Exemplo de regmalitos bastante nítidos. Essas marcas parecem quando apertamos massinha de modelar (Foto: Jon Taylor/CC2.0)

Lembra que a crosta de fusão pode apresentar algumas ondulações formadas pelo derretimento enquanto o material ainda estava em movimento? Pois bem, procure por essas ondulações, ou linhas de fluxo. Se você encontrar várias ao longo de algo que parece uma crosta de fusão, há grandes chances de que seja um meteorito.

Linhas de fluxo podem ser pequenas ou não visíveis a olho nu, porque elas podem estar quebradas ou apresentar formatos inesperados. Use uma lupa ao procurar por linhas de fluxo na superfície de uma rocha.

Procure também por alguns “buracos” na superfície, ou recuos, mais ou menos parecidos com marcas de dedos quando apertamos uma massinha de modelar. Meteoritos ferrosos são mais suscetíveis à fusão irregular e, por isso, apresentarão essas cavidades bem definidas, chamadas regmaglitos.

A rocha é porosa ou cheia de buracos?

Cavidades na superfície podem sim indicar que se trata de um meteorito, mas as rochas espaciais não têm buracos em seu interior. Meteoritos são densos, e nunca serão porosos ou algo similar. Se tiver buraquinhos na superfície ou parecer cheio de bolhas, não é um meteorito.

Densidade

Geralmente meteoritos são um pouco - ou muito - mais pesados do que uma rocha terrestre do mesmo tamanho, porque a maioria deles tem ferro e níquel em sua composição, e os metálicos são ainda mais densos do que os rochosos. Então, pegue uma rocha comum de tamanho similar e veja se há muita diferença entre ela e o suposto meteorito.

Magnetismo

Como é um meteorito
Meteorito do Bendegó, o maior já encontrado no Brasil, exposto no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Seu interior revela a sua composição de ferro e níquel.

Se a maioria dos meteoritos contém uma quantidade considerável de ferro, usar um ímã para testar a propriedade magnética da rocha é uma boa ideia. Se o ímã não for atraído pela sua rocha, ela provavelmente não é um meteorito.

Lembre-se que muitas rochas terrestres também são magnéticas, então esse teste de maneira isolada não lhe dará uma resposta definitiva. Por outro lado, um meteorito ferroso será muito mais magnético do que um meteorito rochoso.

Você também pode raspar a superfície da rocha para encontrar pontos prateados brilhantes de metal, que geralmente podem ser vistos a olho nu por baixo da crosta de fusão. Esse teste exigirá uma lima diamantada e isso poderá dar algum trabalho. Nos meteoritos do tipo metálico, o interior será inteiramente prateado como aço.

Presença de côndrulos

Como é um meteorito
Exemplo de côndrulos, pequenas esferas metálicas no interior da rocha (Foto: Jon Taylor/CC2.0)

Os meteoritos rochosos do tipo condrito são os mais comuns, e uma de suas características são os côndrulos - pequenas esferas ovais ou elipsoidais de minerais. Dependendo do tipo de condrito, os côndrulos podem ser bem definidos ou pouco definidos. Caso não haja erosão na superfície da rocha que lhe permita procurar por côndrulos, você precisará abri-la.

É um meteorito! E agora?

Para ser reconhecido oficialmente como meteorito, a rocha precisa ser analisada por profissionais em um laboratório autenticado. Infelizmente, há poucos laboratórios no mundo para esse tipo de trabalho e, no Brasil, quem prestava esse serviço gratuitamente era o Museu Nacional do Rio de Janeiro — sim, aquele que sofreu um incêndio devastador no ano passado, sendo quase que totalmente destruído. O meteorito de Bendegó, no entanto, pôde ser preservado.

De qualquer maneira, antes da tragédia as recomendações para se avaliar uma rocha com suspeita de ser um meteorito eram a de que a pessoa deveria enviar uma amostra de 100 gramas, ou 30% do material (o que for menor) para o museu. Uma parte da amostra ficarava depositada no museu outra parte era utilizada para as análises.

Depois de uma análise em laboratório, caso sua rocha seja mesmo um meteorito, ela será então enviada à Meteoritical Society (Sociedade Meteorítica), um comitê que se reúne algumas vezes ao ano e analisa os pedidos de aprovação de nomes. Ao ser aprovado, todas as informações do seu meteorito passam a constar na página do Meteoritical Bulletin, que é um banco de dados com informações de todos os meteoritos oficialmente catalogados no mundo.