A interação verbal entre os sujeitos é possível por meio das palavras e pode ser realizada por meio da fala e/ou da escrita. Dependendo da situação comunicativa, os usuários das línguas podem eleger qualquer um dos diferentes níveis de linguagem para interagir verbalmente com os outros. Isso significa que existem linguagens diferentes para ocasiões distintas, ou seja, em toda situação comunicativa, os falantes elegem o nível de linguagem mais adequado para que tanto o emissor quanto o receptor das mensagens possam compreender e ser compreendidos. Show Nível 1: Norma culta/padrão Como sabemos, cada língua possui sua estrutura e muitas delas possuem um conjunto de regras responsável pelo funcionamento dos elementos linguísticos. Esse conjunto de regras é conhecido como gramática normativa. Nela, os usuários da língua encontram a norma-padrão de funcionamento da língua chamada de “padrão ou culta”, a qual deve, ou pelo menos deveria, ser de conhecimento e acessível a todos os falantes da mesma comunidade linguística. Utilizar a norma culta da língua portuguesa, por exemplo, não significa comunicar-se de maneira difícil e rebuscada. Embora à língua padrão seja atribuído certo prestigio cultural e status social, o uso da linguagem culta está menos relacionado à questão estética e muito mais associado à sua democratização, já que esse é o nível de linguagem ensinado nas escolas, nos manuais didáticos, cartilhas e dicionários das línguas etc. Nível 2: Linguagem coloquial/informal/popular A linguagem coloquial é aquela utilizada de maneira mais espontânea e corriqueira pelos falantes. Esse nível de linguagem não segue a rigor todas as regras da gramática normativa, pois está mais preocupado com a função da linguagem do que com a forma. Ao utilizar a linguagem coloquial, o falante está mais preocupado em transmitir o conteúdo da mensagem do que como esse conteúdo vai ser estruturado. De maneira geral, os falantes utilizam a linguagem coloquial nas situações comunicativas mais informais, isto é, nos diálogos entre amigos, familiares etc. Nível 3: Linguagem regional/regionalismo A linguagem regional está relacionada com as variações ocorridas, principalmente na fala, nas mais variadas comunidades linguísticas. Essas variações são também chamadas de dialetos. O Brasil, por exemplo, apresenta uma imensa variedade de regionalismos na fala dos usuários nativos de cada uma de suas cinco regiões. Nível 4: Gírias A gíria é um estilo associado à linguagem coloquial/popular como meio de expressão cotidiana. Ela está relacionada ao cotidiano de certos grupos sociais e podem ser incorporadas ao léxico de uma língua conforme sua intensidade e frequência de uso pelos falantes, mas, de maneira geral, as palavras ou expressões provenientes das gírias são utilizadas durante um tempo por um certo grupo de usuários e depois são substituídas por outras por outros usuários de outras gerações. É o caso, por exemplo, de uma gíria bastante utilizada pelos falantes nas décadas de 80 e 90: “chuchu, beleza”, mas que, atualmente, está quase obsoleta. Nível 5: Linguagem vulgar A linguagem vulgar é exatamente oposta à linguagem culta/padrão. As estruturas gramaticais não seguem regras ou normas de funcionamento. O mais interessante é que, mesmo de maneira bem rudimentar, os falantes conseguem compreender a mensagem e seus efeitos de sentido nas trocas de mensagens. Podemos considerar a linguagem vulgar como sendo um vício de linguagem. Veja alguns exemplos bastante recorrentes em nossa língua:
As funções da linguagem são os papéis que a linguagem cumpre enquanto instrumento de comunicação entre dois ou mais indivíduos. Essa comunicação pode ser feita de maneiras particulares, dependendo do tipo de efeito que o remetente (isto é, quem produz um enunciado) quer passar na mensagem para o destinatário (quem recebe o enunciado). As funções da linguagem são:
Leia também: Figuras de linguagem – recursos expressivos que desviam da denotação Elementos da comunicaçãoAs funções da linguagem estão intimamente relacionadas com a comunicação e seus efeitos de sentido, já que cada elemento da comunicação está associado a uma função da linguagem. Dessa forma, não é recomendável estudá-las sem antes abordar tais elementos comunicativos. O processo de comunicação envolve alguns elementos para que se estabeleça. O linguista Roman Jakobson teorizou que, para a comunicação ocorrer, é necessário que um remetente (ou emissor) envie uma mensagem a um destinatário (ou receptor), dentro de um contexto (ou referente), por meio de um código passado via contato (ou canal). Veja o infográfico a seguir, que traz todos os elementos da comunicação preconizados por Jakobson:
Dessa forma, Jakobson estabelece que a linguagem apresenta seis funções, definidas com base no elemento que predomina no enunciado. Função referencial ou denotativaQuando o enunciado se centra no contexto, dizemos que a linguagem possui função referencial ou denotativa. Nesse caso, o emissor transmite a mensagem da maneira mais realista e objetiva possível. Costuma ser a função predominante em notícias de jornais e em artigos científicos. Veja um exemplo|1|:
Função poéticaNa função poética, o enunciado centra-se na mensagem. Significa que há muito mais preocupação estética e nos efeitos que a mensagem pode causar. Por isso mesmo, costuma ser um enunciado que pode gerar muitas interpretações pessoais. Tende a ser a função predominante em poemas, músicas, quadros e obras artísticas em geral. A seguir, um exemplo: Ou isto ou aquilo Ou se tem chuva e não se tem sol, Ou se calça a luva e não se põe o anel, Quem sobe nos ares não fica no chão, É uma grande pena que não se possa Ou guardo o dinheiro e não compro o doce, Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo… Não sei se brinco, não sei se estudo, Mas não consegui entender ainda (Cecília Meireles) O poema é escrito em versos e, em muitos casos, apresenta rimas ou um jogo de sons entre as palavras. Por isso, a forma é um elemento muito importante para esse tipo de comunicação, já que influencia de modo mais explícito a mensagem que se passa. A fim de aprofundar-se nessa função da linguagem, conferindo mais exemplos, leia: Função poética. Função fáticaQuando o enunciado se centra no contato (ou no canal), dizemos que a linguagem possui função fática. Nesse caso, a mensagem está sempre voltada para o contato em si, a fim de certificar-se de que o canal está aberto, funcionando eficientemente, e de prolongar a comunicação. Costuma estar presente em determinados momentos de ligações telefônicas ou contatos por escrito (cartas e e-mails), além de algumas construções orais. Veja o exemplo:
Nesse caso, a mensagem do emissor ao receptor está completamente associada ao canal através do qual estão falando (o telefone). Observe o próximo exemplo:
No exemplo, a mensagem torna-se fática quando o emissor pergunta através de qual canal o receptor está acessando a mensagem. Para obter mais detalhes sobre essa modalidade, acesse: Função fática. Função conativa ou apelativaSe o enunciado centra-se no receptor da mensagem, a linguagem possui função conativa (ou apelativa). Aqui, o enunciado procura estabelecer um vínculo muito forte com o receptor, chamando sua atenção. Por isso, muitas vezes é um enunciado na 2ª pessoa. Essa função está fortemente relacionada a anúncios publicitários. Observe o exemplo:
Nesse caso, a mensagem tem função conativa ao dirigir-se ao receptor e propor a ele a possibilidade de destacar-se (tornando-se “um dos maiores pensadores do país”). Vamos a outro exemplo:
A frase de Abílio Diniz possui função conativa, já que, além de dirigir-se diretamente ao receptor, também chama sua atenção ao estabelecer um vínculo com ele, aconselhando-o a respeito do próprio corpo. Saiba mais detalhes sobre a função de linguagem abordada acessando: Função conativa. Função emotiva ou expressivaA função emotiva, por outro lado, está centrada no próprio emissor. Assim sendo, costuma tratar-se de um enunciado repleto de lirismo e de subjetividade, comumente construído na 1ª pessoa. O eu-lírico mostra-se de maneira muito evidente. Costuma estar presente em diários e em obras artísticas narradas em 1ª pessoa ou baseadas na autorrepresentação. Leia o exemplo a seguir, retirado do livro Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus (chamamos atenção para o fato de que a escrita foge à norma padrão da língua portuguesa):
No trecho, retirado do diário de Carolina Maria de Jesus, predomina a função emotiva, visto que está em 1ª pessoa e expressa a subjetividade da autora, com seus pensamentos e sentimentos. Vejamos outro exemplo|3|:
O excerto foi retirado do livro Acre, de Lucrecia Zappi. No trecho também há predomínio da função emotiva, visto que está em 1ª pessoa e apresenta o ponto de vista da personagem Oscar, que é o narrador-personagem da obra de Lucrecia. Temos suas impressões e reflexões a respeito de alguém. Para aprofundar-se mais nesse tema, leia: Função emotiva. Função metalinguísticaQuando o código é que se mostra o centro do enunciado, trata-se da função metalinguística. Como o próprio nome diz, o enunciado foca o código por meio do qual se estabelece a mensagem, citando-o e/ou descrevendo-o explicitamente. Está presente sempre que o código é explicitado de alguma forma. Leia o trecho seguinte de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, em que o narrador escreve sobre o próprio processo de escrita do livro: O conhecimento das funções da linguagem proporciona uma comunicação mais eficiente, conforme o objetivo do locutor. Exercícios resolvidosQuestão 1 (Copeve-Ufal 2018) Cotovia Alô, cotovia! Aonde voaste, Por onde andaste, Que saudades me deixaste? – Andei onde deu o vento. Onde foi meu pensamento Em sítios, que nunca viste, De um país que não existe… Voltei, te trouxe a alegria. (Fonte: Os melhores poemas de Manuel Bandeira. SP: Global, 1994. p. 130.) Em cada mensagem, pode-se encontrar elementos correspondentes a diferentes funções da linguagem. Pela estrutura linguística, marcada tanto pelas formas verbais e pronominais quanto pelo emprego de figuras de linguagem, na estrofe predominam as funções da linguagem: a) apelativa e fática, centradas no receptor e no contato. b) emotiva e poética, centradas no emissor e na mensagem. c) referencial e apelativa, centradas no contexto e no contato. d) emotiva e metalinguística, centradas no emissor e no código. e) poética e referencial, centradas na mensagem e no contexto. Resolução Alternativa b, pois o poema é construído de modo a expressar a voz do eu-lírico (função emotiva) e pautado na lógica da métrica e da rima (função poética). Questão 2 (Enem 2018) A imagem da negra e do negro em produtos de beleza e a estética do racismo Resumo: Este artigo tem por finalidade discutir a representação da população negra, especialmente da mulher negra, em imagens de produtos de beleza presentes em comércios do nordeste goiano. Evidencia-se que a presença de estereótipos negativos nessas imagens dissemina um imaginário racista apresentado sob a forma de uma estética racista que camufla a exclusão e normaliza a inferiorização sofrida pelos(as) negros(as) na sociedade brasileira. A análise do material imagético aponta a desvalorização estética do negro, especialmente da mulher negra, e a idealização da beleza e do branqueamento a serem alcançados por meio do uso dos produtos apresentados. O discurso midiático-publicitário dos produtos de beleza rememora e legitima a prática de uma ética racista construída e atuante no cotidiano. Frente a essa discussão, sugere-se que o trabalho antirracismo, feito nos diversos espaços sociais, considere o uso de estratégias para uma “descolonização estética” que empodere os sujeitos negros por meio de sua valorização estética e protagonismo na construção de uma ética da diversidade. Palavras-chave: Estética, racismo, mídia, educação, diversidade. (SANT’ANA, J. A imagem da negra e do negro em produtos de beleza e a estética do racismo. Dossiê: trabalho e educação básica. Margens Interdisciplinar. Versão digital. Abaetetuba, n. 16, jun. 2017 (adaptado).) O cumprimento da função referencial da linguagem é uma marca característica do gênero resumo de artigo acadêmico. Na estrutura desse texto, essa função é estabelecida pela a) impessoalidade, na organização da objetividade das informações, como em “Este artigo tem por finalidade” e “Evidencia-se”. b) seleção lexical, no desenvolvimento sequencial do texto, como em “imaginário racista” e “estética do negro”. c) metaforização, relativa à construção dos sentidos figurados, como nas expressões “descolonização estética” e “discurso midiático-publicitário”. d) nominalização, produzida por meio de processos derivacionais na formação de palavras, como “inferiorização” e “desvalorização”. e) adjetivação, organizada para criar uma terminologia antirracista, como em “ética da diversidade” e “descolonização estética”. Resolução Alternativa a, pois a função referencial é caracterizada pela expressão objetiva e imparcial no enunciado, sendo o mais impessoal possível. Notas |1|Fonte:https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/11/18/taxa-oficial-de-desmatamento-e-42percent-maior-do-que-apontava-sistema-de-alertas-do-inpe.ghtml |2| Fonte: https://catracalivre.com.br/equilibre-se/como-controlar-o-seu-vicio-em-smartphone/ |3| ZAPPI, Lucrecia. Acre. São Paulo: Todavia, 2017. |