O valor coincide com o que internacionalmente é considerado extrema pobreza

6005. CORREIO BRAZILIENSE (DF): Retrato do país: Um em cada 10 brasileiros é miserável

CORREIO BRAZILIENSE (DF): Retrato do país: Um em cada 10 brasileiros é miserável Os números do Censo e do Ipea mostram o tamanho do desafio para a presidente Dilma, que prometeu combater a pobreza extrema. Mais de 16,2 milhões de pessoas sobrevivem com menos de R$ 70 por mês. O DF tem o menor percentual: pouco mais de 46 mil habitantes estão nessa faixa. Desigualdade: 16,2 milhões de miseráveis A partir de dados do Censo, governo chega ao diagnóstico de que 8,5% da população brasileira está no grupo que a presidente Dilma promete tirar das condições de extrema pobreza em quatro anos Larissa Leite A extrema pobreza atinge 16.267.197 habitantes no Brasil, ou 8,5% da população. São pessoas que sobrevivem com renda per capita familiar mensal de até R$ 70 — ou sem renda alguma e que não têm acesso a banheiro exclusivo, energia elétrica ou ligação com rede de esgoto. É para esse grupo — identificado a partir de dados do Censo Demográfico de 2010 — que o governo pretende anunciar nas próximas semanas o Plano Brasil sem Miséria, na tentativa de cumprir a principal promessa de campanha da presidente Dilma Rousseff. Silvana Ramos de Sousa, 29 anos, é potencial beneficiária das ações. Ela vive em um barraco na área de transição do Varjão. Não pode construir na área da casa provisória e as crianças brincam no chão batido na frente da habitação improvisada. Uma gravidez de seis meses dificulta a possibilidade de que conquiste um emprego. O sustento vem de R$ 130 mensais do Bolsa Família. Com o dinheiro, compra arroz, feijão, óleo e macarrão para as filhas Maria Eduarda de Sousa, de 5 anos, e Bhrenda Cristiny de Sousa, de 11. “Quem me sustenta é Deus. Sou pobre mesmo, mas me sinto humilhada em pedir cesta básica, em dar este depoimento. Minha gravidez foi um susto. Depois disso não consegui mais nada. Mas não me sinto bem em receber do governo. Quero estudar, trabalhar”, diz Silvana, que já trabalhou de vendedora, recepcionista, auxiliar de odontologia e sempre recebeu salário mínimo. A situação da dona de casa não é pontual. O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, lembra que a extrema pobreza atinge quase 1 brasileiro em cada 10: “Não estamos falando de um contingente residual. Essas pessoas vivem com renda tão baixa que não conseguem suprir necessidades mínimas”. Para Pochmann, essa “é uma das piores mazelas que acumulamos ao longo da nossa história”. Prioridade No papel, o Plano Brasil sem Miséria, em gestação no Ministério de Desenvolvimento Social, tem como meta erradicar em quatro anos essa faixa de extrema pobreza. Para isso, vai priorizar três eixos de ação: transferência de renda, acesso a serviços públicos e inclusão produtiva. De acordo com o IBGE, os 16,27 milhões de brasileiros extremamente pobres vive em 7% dos domicílios do país. Os dados apontam que 46,7% dos integrantes dessa faixa de renda moram na zona rural e que as regiões Nordeste e Norte concentram os maiores índices da população em situação de miséria: 18,1% e 16,8%, respectivamente. A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, afirmou que o plano pode expandir a quantidade de pessoas com acesso ao Bolsa Família. “Hoje, o projeto atinge cerca de 85% das pessoas que constituem o público-alvo, mas vamos buscar quem poderia estar recebendo e não recebe”. Ainda segundo a ministra, a maioria das pessoas recebem o benefício para complementar a renda — e 56% dos que recebem não constituem parte da população economicamente ativa. DF tem menor percentual Dos 16,27 milhões de brasileiros extremamente pobres, 46.588 estão em 12.516 domicílios do DF. O contingente dessa faixa de renda na capital é o menor do país em análise proporcional: 1,8% da população. O maior problema é encontrado na Bahia, que conta com 2,4 milhões de pessoas que vivem em famílias com renda de até R$ 70 per capita mensal, ou 17,1% dos habitantes. A média nacional é de 8,5%. Desigualdade em queda Gustavo Henrique Braga   A primeira década dos anos 2000 apresentou a maior queda histórica na desigualdade de renda do Brasil. Dados da Fundação Getulio Vargas mostram que, entre 2001 e 2010, o rendimento médio da população enquadrada entre os 50% mais pobres do país cresceu 67,93%, enquanto a dos 10% mais ricos aumentou 10%. Apesar do avanço, o abismo entre os extremos da pirâmide ainda preocupa. O índice de Gini brasileiro — parâmetro internacional usado para medir a desigualdade, onde quanto mais próximo de 1, maior é a distância entre ricos e pobres — é de 0,53. Se mantiver o ritmo de evolução atual, o Brasil demorará 30 anos para chegar a um nível equivalente ao dos Estados Unidos hoje, que é de 0,42. Na comparação por gênero a desigualdade também caiu. A renda das mulheres cresceu 38% na década, contra 16% dos homens. Os negros tiveram ganho de 43,1% e os pardos de 48,5% no mesmo período, contra 20,1% dos brancos. “Os anos 1970 ficaram marcados pelo milagre econômico; os 1980, pela democratização; os 1990, pela estabilidade; e os anos 2000, pela queda na desigualdade”, comparou o economista da FGV e coordenador do estudo, Marcelo Neri. O salto mais impressionante ocorreu em 2010. De janeiro a dezembro do ano passado, a proporção de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza — com renda inferior a R$ 145 por mês — caiu 16%. Recorde nos repasses Leandro Kleber   Nunca antes na história do Bolsa Família o governo investiu tanto no programa. Os gastos com o projeto no início do governo Dilma são os maiores desde o lançamento do incentivo, na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. São R$ 5 bilhões entre janeiro e abril (veja quadro). Criado nos últimos dias de 2003, o Bolsa Família beneficiava inicialmente 3,6 milhões famílias. Hoje, tornou-se o carro chefe das políticas sociais do governo e contempla 12,8 milhões de famílias, pouco mais de 50 milhões de brasileiros. O valor pago varia de R$ 32 a R$ 242, de acordo com a renda familiar por pessoa, a idade e o número de filhos. Para receber o benefício, as famílias devem assumir compromissos. Na saúde, precisam acompanhar o cartão de vacinação de crianças menores de 7 anos. As gestantes precisam fazer o pré-natal e acompanhar a saúde do bebê. Na educação, todas as crianças e adolescentes entre 6 e 15 anos devem estar regularmente matriculados e com frequência escolar mensal de 85% da carga horária. Comparativo do Bolsa Família Ano    Gastos –     Famílias     Repasse médio janeiro a abril    beneficiadas    por família 2004    R$ 1,8 bilhão    3,6 milhões    R$ 66,93    2005    R$ 2 bilhões    6,6 milhões    R$ 63,14 2006    R$ 2,2 bilhões    8,7 milhões    R$ 62,62 2007    R$ 2,9 bilhões    11 milhões    R$ 75,26 2008    R$ 3,4 bilhões    11 milhões    R$ 85,80 2009    R$ 3,8 bilhões    10,6 milhões    R$ 85,01 2010    R$ 4,7 bilhões    12,3 milhões    R$ 96 2011    R$ 5 bilhões    12,8 milhões    R$ 115 16,2 milhões de miseráveis A partir de dados do Censo, governo chega ao diagnóstico de que 8,5% da população brasileira está no grupo que a presidente Dilma promete tirar das condições de extrema pobreza em quatro anos Larissa Leite   A extrema pobreza atinge 16.267.197 habitantes no Brasil, ou 8,5% da população. São pessoas que sobrevivem com renda per capita familiar mensal de até R$ 70 — ou sem renda alguma e que não têm acesso a banheiro exclusivo, energia elétrica ou ligação com rede de esgoto. É para esse grupo — identificado a partir de dados do Censo Demográfico de 2010 — que o governo pretende anunciar nas próximas semanas o Plano Brasil sem Miséria, na tentativa de cumprir a principal promessa de campanha da presidente Dilma Rousseff. Silvana Ramos de Sousa, 29 anos, é potencial beneficiária das ações. Ela vive em um barraco na área de transição do Varjão. Não pode construir na área da casa provisória e as crianças brincam no chão batido na frente da habitação improvisada. Uma gravidez de seis meses dificulta a possibilidade de que conquiste um emprego. O sustento vem de R$ 130 mensais do Bolsa Família. Com o dinheiro, compra arroz, feijão, óleo e macarrão para as filhas Maria Eduarda de Sousa, de 5 anos, e Bhrenda Cristiny de Sousa, de 11. “Quem me sustenta é Deus. Sou pobre mesmo, mas me sinto humilhada em pedir cesta básica, em dar este depoimento. Minha gravidez foi um susto. Depois disso não consegui mais nada. Mas não me sinto bem em receber do governo. Quero estudar, trabalhar”, diz Silvana, que já trabalhou de vendedora, recepcionista, auxiliar de odontologia e sempre recebeu salário mínimo. A situação da dona de casa não é pontual. O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, lembra que a extrema pobreza atinge quase 1 brasileiro em cada 10: “Não estamos falando de um contingente residual. Essas pessoas vivem com renda tão baixa que não conseguem suprir necessidades mínimas”. Para Pochmann, essa “é uma das piores mazelas que acumulamos ao longo da nossa história”. Prioridade No papel, o Plano Brasil sem Miséria, em gestação no Ministério de Desenvolvimento Social, tem como meta erradicar em quatro anos essa faixa de extrema pobreza. Para isso, vai priorizar três eixos de ação: transferência de renda, acesso a serviços públicos e inclusão produtiva. De acordo com o IBGE, os 16,27 milhões de brasileiros extremamente pobres vive em 7% dos domicílios do país. Os dados apontam que 46,7% dos integrantes dessa faixa de renda moram na zona rural e que as regiões Nordeste e Norte concentram os maiores índices da população em situação de miséria: 18,1% e 16,8%, respectivamente. A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, afirmou que o plano pode expandir a quantidade de pessoas com acesso ao Bolsa Família. “Hoje, o projeto atinge cerca de 85% das pessoas que constituem o público-alvo, mas vamos buscar quem poderia estar recebendo e não recebe”. Ainda segundo a ministra, a maioria das pessoas recebem o benefício para complementar a renda — e 56% dos que recebem não constituem parte da população economicamente ativa. DF tem menor percentual Dos 16,27 milhões de brasileiros extremamente pobres, 46.588 estão em 12.516 domicílios do DF. O contingente dessa faixa de renda na capital é o menor do país em análise proporcional: 1,8% da população. O maior problema é encontrado na Bahia, que conta com 2,4 milhões de pessoas que vivem em famílias com renda de até R$ 70 per capita mensal, ou 17,1% dos habitantes. A média nacional é de 8,5%.