Como as especiarias chegaram na Europa antes das Grandes Navegações?


 

Talvez nenhum outro componente culin�rio tenha possu�do um papel t�o determinante na Hist�ria mundial como as especiarias. Por elas travaram-se guerras, floresceram e feneceram na��es, abriram-se rotas comerciais, mudaram-se os h�bitos gastron�micos

Foram os antigos latinos que primeiro atribu�am a algumas drogas e subst�ncias arom�ticas uma designa��o pr�xima do termo especiaria. Chamavam-lhes as Species, ei. Os franceses alargaram o �mbito do termo e aplicaram-no a produtos alimentares estimulantes do apetite e drogas medicinais de origem ex�tica.

Independentemente do sentido do termo, desde tempos imemoriais as especiarias foram utilizadas pelos povos do Oriente, transportadas por mar; em rotas que atravessavam os oceanos Indico e Pac�fico. Chegavam a Imperadores e ao homem do povo, quer como tempero de alimentos, quer ligadas a rituais religiosos, ou mesmo como rem�dio indicado para as mais diversas maleitas.
Durante um longo per�odo da hist�ria da humanidade, as especiarias chegavam as margens do mediterr�neo em pequenas quantidades, vendidas de imediato a pre�os elevad�ssimos. O fato s� aumentava o fasc�nio que estas exerciam sobre as civiliza��es que floresciam na regi�o. Eram produtos tidos no �mbito do quase m�gico. Vindos de terras distantes, tamb�m elas encobertas num v�u de mist�rio e alguma sedu��o.
Contudo, raz�es bem reais tornavam proibitiva a incurs�o de grandes quantidades de especiarias na Europa. Os comerciantes sentiam grandes dificuldades em as fazer atravessar os mares e os continentes desde as terras do Oriente, algumas bem long�nquas, at� � Europa. Isto agravado por impostos e taxas aplicados nos territ�rios e portos por onde passavam.

O tesouro da rainha de Sab�
N�o obstante todos os entraves recua a tempos remotos a utiliza��o das especiarias nas margens do Mediterr�neo. A B�blia traz-nos algumas refer�ncias interessantes. Jos�, filho de Jacob, ter� sido vendido, em 1729 a C., pelos seus irm�os, a uma caravana que passava e comercializava especiarias e perfumes. A rainha de Sab�, quando veio a Jerusal�m, para se encontrar com o rei Salom�o, cerca de 999 a.C., fez-se acompanhar de camelos, especiarias e pedras preciosas como sinal de fausto.
Mais fundamentada pelos relatos hist�ricos � a utiliza��o das especiarias nas pr�ticas de embalsamamento dos antigos eg�pcios.


Ainda sem o intuito de tempero dos alimentos, os m�dicos gregos, do s�culo V a..C., referiam-se a diversas especiarias orientais. Tudo isto sem conhecimento de quais as plantas de onde estas provinham, a forma como se obtinham e as poss�veis utiliza��es.
Seria um mercador e aventureiro veneziano que, s�culos mais tarde, traria ao conhecimento europeu uma nova vis�o sobre as especiarias orientais. Quando em 1271 os escritos de Marco Polo se tornam p�blicos, trazem informa��es complementares sobre as plantas produtoras das especiarias orientais.

O ouro arom�tico
Com o tempo as especiarias come�aram a utilizar-se como tempero e como conservante das carnes.
Mesmo quando recheados de abundante carne, os guisados, ou cozidos ficavam sempre incompletos se n�o houvesse ali um toque de especiaria.
O gengibre, por exemplo, origin�rio da �ndia, era o ideal para temperar a carne e o peixe e ainda para dar gosto �s saladas. Um livro de cozinha do s�culo XVI refere mesmo o gengibre como o ingrediente habitual em receitas de carnes e peixes e tamb�m nas alm�ndegas, nos past�is e em doces. A partir de certa altura, as naus come�aram inclusive a abastecer-se de biscoitos de gengibre, cujo paladar agradava aos homens do mar. Tamb�m a canela era utilizada na confec��o de biscoitos e na do�aria em geral, havendo ainda quem a utilizasse como condimento nas comidas e na prepara��o de vinho arom�tico.

Estando estes produtos apenas ao alcance das bolsas e mesas dos mais ricos, n�o admira que as especiarias fossem equiparadas, em valor, ao ouro. Assim se compreende que muitos testamentos deixassem como heran�a avultadas quantidades de especiarias.
Na Europa j� se comercializava, na �poca, a canela, as falsas canelas, o gengibre, a noz moscada, o cravo da �ndia, a pimenta e outras.
Aos poucos cresciam em opul�ncia e riqueza algumas das cidades que sustentavam no com�rcio das especiarias a sua economia. Veneza e G�nova, na It�lia, cresciam e distribu�am este bem por toda a Europa.
Contudo, outras na��es estavam prestes a eclodir como pot�ncias mundiais no com�rcio das especiarias. Entre elas, um pequeno pa�s jogado nos confins ocidentais da Europa. Portugal iria, nos s�culos posteriores, protagonizar uma verdadeira epop�ia mar�tima, assente em parte no com�rcio das especiarias. O pais correu primeiro pela ambi��o de alcan�ar as especiarias e, de seguida, na �nsia das espalhar mundo fora.

Portugal na rota das especiarias
Os portugueses que desde h� muito tempo viajavam pelo Mediterr�neo e tinham contacto com os seus povos ribeirinhos, n�o deixaram de ter conhecimento da fabulosa maneira de enriquecer atrav�s das especiarias. Conheciam igualmente as rotas destes produtos, desde o Oriente.
Pareceu ent�o natural enquadrar no empreendimento dos descobrimentos, a procura de novas fontes de especiarias orientais, nomeadamente atrav�s da procura de uma passagem mar�tima para a �ndia.
Os reis de Portugal reuniram os melhores cosm�grafos, cart�grafos, arquitetos navais e navegadores da �poca, lan�ando-se ent�o na descoberta de uma rota que, contornando �frica, permitisse chegar � �ndia. Na d�cada de 90 do s�culo XV, uma pequena armada, comandada por Vasco da Gama, fidalgo nascido em Sines, largava em dire��o � �ndia.

O regresso de Vasco da Gama a Lisboa, no Ver�o de 1499, foi motivo de grande festa no reino. Ao verem as caravelas as gentes, mesmo as mais pobres, perceberam que come�avam novos tempos. A partir de ent�o, comprar a pimenta e o gengibre do Malabar, a canela do Ceil�o, a noz-moscada e o cravinho do vasto arquip�lago indon�sio, passava a ser mais barato e simples. As refei��es passavam a ser ricamente perfumadas com o paladar das especiarias orientais, antes t�o inacess�veis. Mas n�o foi s� o povo de Lisboa a festejar o regresso do descobridor do caminho mar�timo para a �ndia. Tamb�m o rei D. Manuel I, que algu�m se lembrou de chamar o Rei da Pimenta, recebeu com alegria o sucesso da miss�o comandada por Vasco da Gama escrevendo aos monarcas espanh�is, Isabel de Castela e Fernando de Arag�o, a anunciar a boa nova.

A pimenta comprada a dois cruzados o quintal em Cochim, no Malabar, era vendida na Europa por 20 ou 30 cruzados, mesmo assim um pre�o com que nem venezianos nem �rabes podiam concorrer. Veneza enviou mesmo espi�es a Lisboa, ao mesmo tempo que os seus agentes espica�avam o sult�o do Egito a amea�ar destruir o Santo Sepulcro em Jerusal�m e converter � for�a ao Isl� os crist�os nos seus dom�nios, se o Papa n�o proibisse D. Manuel de enviar naus � �ndia. A despeito de todos esses esfor�os o monarca portugu�s continuou o lucrativo com�rcio das especiarias. Depois de passarem por Lisboa, seguiam para o Norte da Europa, para as feitorias da Flandres, como Burges e Antu�rpia.
Curioso � o fato de, em troca das especiarias, os portugueses terem doado ao patrim�nio gastron�mico indiano o vindallo, famoso condimento que n�o � mais do que a nossa vinha de alhos. � sobretudo na regi�o de Goa, possess�o portuguesa de 1511 a 1961, que a carne de porco � assim temperada antes de, inevitavelmente, lhe ser adicionada uma multiplicidade de especiarias, bem ao gosto das gentes da costa do Malabar, aquela onde Vasco da Gama aportou.

Algumas das misturas de especiarias s�o conhecidas da nossa mesa, como � o caso da paprika, uma mistura de pimenta, piment�o e sal, a "quatro �pices" francesa, composta de pimenta, cravinho, noz-moscada e gengibre, utilizada para temperar peixe e carnes fumados. Na cozinha marroquina � conhecida a "harissa", um conjunto de mais de vinte especiarias, e no Egipto � usada a "dukkah" que pode ir de uma mistura simples de pimenta, sal e hortel� em p� a formas mais compostas. Nos pa�ses �rabes, a mais conhecida mistura arom�tica � a "taklia", � base alho frito e coentros picados.

Uma das mais famosas � sem d�vida o caril, ou Curry para muitos, uma mistura de pimenta preta, piment�o, cravinho, canela, gengibre, feno grego, noz-moscada e curcuma, muito utilizada na cozinha indiana. Para a cozinha chinesa, as especiarias mais conhecidas s�o o anis, o cinamono, o cravinho, s�samo e pimenta.

Antes de temperar o seu cozinhado reflita um pouco sobre a hist�ria dos pequenos frascos que agora tem � m�o.

Como as especiarias chegavam na Europa antes das Grandes Navegações?

Estas especiarias eram levadas para Europa através da rota do Mar Mediterrâneo, dominada pelos comerciantes italianos. No século XVI, os portugueses descobriram uma rota alternativa para chegar ao Oriente, através da navegação pela costa africana.

Como os europeus conseguiam as especiarias?

Outros temperos foram descobertos pelos europeus apenas na época das Cruzadas, entre os séculos XI e XIII, durante a luta contra muçulmanos pela posse da Terra Santa. Com o fim das Cruzadas, criou-se a Rota das Especiarias, que cruzava o Oriente Médio e chegava à Europa a partir dos comerciantes venezianos.

Como as especiarias chegaram à Europa no período anterior aos descobrimentos marítimos?

Rota marítima do Cabo Durante a Idade Média comerciantes muçulmanos dominaram as rotas marítimas de especiarias no oceano Índico, dominando áreas chave e enviando as especiarias da Índia para ocidente, através do Golfo Pérsico e do mar Vermelho, a partir de onde seguiam por terra para a Europa com enormes custos.

Como as especiarias eram transportadas?

As especiarias eram transportadas por galeras (grandes embarcações movidas por dezenas de remos) armadas subsidiadas pelo Estado veneziano, que navegavam em sistema de comboio. Nem mesmo piratas, que haviam sido comuns nessas águas nos séculos passados, eram páreos para a frota veneziana.