Maior torcida lgbt do brasil 2022

No futebol, assim como na sociedade, o preconceito ainda existe e machuca. Mas, torcedores de Atlético-MG, América-MG e Cruzeiro têm tido iniciativas importantes para dar fim ao preconceito dentro dos estádios.

Bandeirinha do Mineirão estampa cores da bandeira LGBTQIA+ — Foto: Reprodução/ Mineirão

Um dos primeiro movimentos no estado foi a "Galo Queer", onde torcedores LGBTQIAQ+ do Atlético-MG começaram a se organizar. Depois, em 2019, veio as "Marias de Minas", ideia que partiu do Yuri Senna, torcedor fanático do Cruzeiro, que se viu sozinho e acuado depois de um episódio de homofobia, no Mineirão.

- Meu namorado me abraçou por trás para me acalmar, e neste momento fizeram uma foto. Fizeram um vídeo e dois dias depois do jogo começou a circular essa foto, esse vídeo em tons de ameaça, usando a gente como chacota. Ameaças de morte, inclusive, de que a gente não podia voltar pro estádio nem eu nem meu namorado. Ali, foi um verdadeiro inferno na nossa vida porque ali começaram a tirar nosso direito de torcedor, nossa liberdade de estar no estádio - disse Yuri.

Mais recentemente, foi a vez de torcedores do América se organizarem. O "Fora da Toca". Um coletivo para torcedores do América-MG LGBTQIAQ+, que se reúnem para assistirem juntos aos jogos do Coelho, no Independência e lutar contra o preconceito no estádio.

- Como o futebol reflete a sociedade, se a gente conseguir isso dentro do estádio, a gente vai conseguir na sociedade - disse Thiago.

Times se manifestam

Nesta terça-feira, Atlético-MG, América-MG e Cruzeiro fizeram publicações em apoio ao Dia do Orgulho LGBTQIAP+.

No Dia do Orgulho LGBTQIA+, O Contra-Ataque mapeou as torcidas que se organizaram pra ter representatividade no estádio e nas redes sociais

Por Cadumorita, Dora Scobar, Gabriel Paes, Paulo Castro, Rafaela Dionello, Raphael Dafferner, Maria Sofia Aguiar e Thomaz Cintra

“Nem herói nem mártir, eu só quero ser torcedor”

— William de Lucca, palmeirense

Essa frase não foi dita por um, nem dois, mas por vários dos entrevistados para essa pauta. Mas o quê, exatamente, isso quer dizer?

“Gira sempre em torno de privilégio: ‘ah, é privilégio o que vocês querem’. A gente quer o privilégio de fazer o que todo mundo faz. A gente quer o ‘privilégio’ de não ser assassinado por ser gay, por ser lésbica, por ser travesti. A gente quer o ‘privilégio’ de ter emprego, que muitas travestis e transexuais não têm porque são a ponta mais fraca nesse ecossistema do trabalho. A gente quer sobreviver e, para muitas pessoas, isso parece um privilégio, a gente quer ter o ‘privilégio’ de poder viver. A gente só quer fazer o que todo torcedor faz”

— William de Lucca

O futebol é um meio explicitamente machista e homofóbico, mas as pessoas não se dão conta disso. Pensam que gritar “bicha” para o goleiro adversário faz parte do jogo, é apenas mais um xingamento. Acontece que não é: se o jogador em campo releva o grito, mas o torcedor do teu lado na arquibancada se ofende, tem algo de muito errado aí.

E é exatamente desse mal estar que começam a surgir as torcidas LGBTs contemporâneas no futebol brasileiro. Depois dos anos 70, com a Coligay e a FlaGay, que não estão mais em atividade, só em 2013 outro coletivo LGBT foi criado: a Galo Queer. De lá pra cá, teve muito clube saindo do armário.

Eu jamais imaginei que ia ter a repercussão que teve. A ideia era simplesmente fazer uma página no Facebook, então eu criei sozinha, achando que isso não ia ser nenhum problema. Peguei o escudo do Galo e coloquei as cores do arco-íris. Pensei assim: ‘tô mostrando esse movimento pra gente começar essa discussão’. E a coisa viralizou” — Nathalia Duarte, fundadora da Galo Queer

Data de fundação das torcidas LGBTQIA+ no futebol brasileiro. [Arte: Sko]

Outros coletivos LGBTQIA+ foram criados em 2013, como Corinthians Livre, Cruzeiro Maria, Timbu Queer e Vitória Livre. Não as colocamos na arte porque elas foram desativadas.

E se você é da Geração Z e está acostumado a falar sobre diversidade, saiba que há pouquíssimo tempo atrás a gente nem pensava em falar sobre o assunto.

Emerson Sheik dá um selinho no amigo Izac, mas deixa claro no post: “Para você que pensou em fazer piadinha boba com a foto, da uma pesquisada no meu Instagram todo antes, só para não ter dúvida” (Foto: Instagram/10emerson10)

Isso aqui é um feed do Instagram em 2013.

Na foto, o ídolo do Corinthians Emerson Sheik, autor dos dois gols do título da Libertadores em 2012, comemora uma vitória do Timão postando esse momento de um selinho com o melhor amigo.

Sim, um selinho bobo, desses que a Hebe dá em todo mundo desde que a Rita Lee pregou essa moda nela, em 1997.

Um texto da ESPN da seção “Olha isso…” conta que o atacante “não tem medo do preconceito” e é “conhecido pelo lado polêmico”.

No post, o atacante deixa claro que é heterossexual. Por quê?

“O homem hétero que coça o saco, que cospe no chão, que é machista, que passa a mão na bunda da mulher, tem dentro desse complexo social que a gente construiu como macho, o futebol como elemento central. Se você vira pra ele e fala “agora pode viado”, ele perde um pouco da referência dessa construção de macho que ele tem. — William de Lucca em entrevista para O Contra-Ataque em parceria com o Quebrando o Tabu

O homem que se diz “macho” e forte, na verdade apresenta uma masculinidade tão frágil, que se houver algum elemento dentro desse ciclo social de virilidade, que historicamente não pertence ao grupo, ele se descontrola e parte para a agressão física ou verbal, porque é a única forma que ele encontra de brigar pelo seu território.

É por isso que torcidas LGBTs surgiram: num contexto onde é insuportável — e perigoso — estar ao lado de alguém assim dentro de um estádio.

“Eu era a única pessoa sentada no meio de um monte de macho gritando ‘Maricón’ para o goleiro adversário”, conta Nathalia Duarte, fundadora da Galo Queer. “Até amigos meus que eram ‘mente aberta’ estavam no coro, como se aquilo fosse absolutamente normal.”

Após o jogo, Nathalia foi pra casa e fez a página da Galo Queer no Facebook na intenção de se colocar como uma torcida anti-homofobia. Ela conta que a página recebeu dezenas de ameaças, dos mais variados tipos e, por isso, nunca tiveram a oportunidade de marcarem um lugar na arquibancada.

“Eu, pessoalmente, nunca vi um caso de homofobia acontecer dentro do estádio, mas porque as pessoas não se sentem seguras para serem abertamente LGBTs nesse ambiente. As pessoas perguntavam quando a Galo Queer iria para o estádio, mas recebemos tanta violência, que ninguém se sentiu à vontade”, explica Nathalia.

Logo em seguida da Galo Queer, separada por três dias, nasceu a Palmeiras Livre com o mesmo intuito da colega mineira: “Porque paixão pelo Palmeiras não tem nada a ver com intolerância.”

“Ao mesmo tempo em que se tornou o esporte mais popular do Brasil, a história do futebol por aqui foi, muitas vezes e infelizmente, construída na base da exclusão”, diz João Abel, autor do livro Bicha! Homofobia estrutural no futebol.

‘BICHA’ é um livro que analisa o cenário de homofobia no esporte mais popular do país e a luta de pessoas que querem mudar essa realidade: sejam elas jogadores profissionais, torcedores ou atletas amadores.

“O estádio se tornou o ‘templo’ dessa masculinidade tóxica, que afasta não só LGBTs, mas as mulheres também”, conclui Abel.

Intolerância nada mais é do que falta de vontade em respeitar diferenças. Então, como funciona a cabeça de uma pessoa homofóbica?

Segundo a psicóloga Caroline Palombello, podemos imaginar que temos várias gavetas que usamos para organizar conceitos, crenças, construção de sentidos e, basicamente, “tudo que possa nos ajudar a organizar quem nós somos e como pensamos”, ela explica.

“Tudo o que guardamos vem de aprendizados, sejam eles passados a nós ou de experiências pessoais. Ter crescido em um ambiente homofóbico, frequentando ambientes que propagam a heteronormatividade, podem ter sido fatores que mantêm essas crenças como verdades absolutas. Isso também acontece com qualquer outra forma de discriminação. Envolve caracterizar o outro, que é diferente de mim, como inferior”, explica Palombello.

A Gabi Moreira, então repórter da ESPN, deu um pito no torcedor palmeirense que chamou o time do São Paulo de “bichas” (Vídeo: ESPN Brasil)Nada como três anos e um pouquinho de terapia. (Imagem: Galo Queer)

Mas nem tudo está perdido: se houver disposição para o diálogo, uma pessoa homofóbica pode mudar a cabeça — lembrando que homofobia não é opinião! Em 2015, um torcedor mandou um xingamento por mensagem para a Galo Queer.

Três anos depois, se arrependeu e pediu desculpas.

Segundo o sociólogo Maurício Rodrigues, em entrevista para o livro Bicha! Homofobia estrutural no futebol:

“O início da década de 2010 é o momento que marca Facebook, Twitter, YouTube e outras redes como ferramentas de mobilização. Especialmente depois da Primavera Árabe” [onda de revoltas em nações do Oriente Médio como Egito, Líbia e Síria]

A torcida Coral Pride, que batalha pela representatividade LGBTQIA+ dentro do Santa Cruz, surgiu também com ajuda das redes sociais, conforme compartilhou June, uma das fundadoras do coletivo, em entrevista ao Contra-Ataque.

“A gente surgiu quase um mês após a campanha de Santa Cruz, que foi a campanha de 106 anos e o clube pela primeira vez de forma mais ativa colocou uma bandeira LGBTQIA+ no vídeo, eu tive a honra de participar”, conta June.

Depois disso, gerou uma repercussão muito grande. Chegou em mim um rapaz e me falou que tava afim de montar junto contigo um coletivo LGBTQIA+ que paute e que busque esse espaço na arquibancada. Eu falei, olha, não sei nem como começar mas vamo. Vamo simbora.”

Imagem: Arquivo Coral Pride

Sobre as torcidas e coletivos LGBTs criados nesta década, João Abel afirma:

“Foi a pressão desses movimentos que fez com que alguns clubes passassem a olhar com mais cuidado para a bandeira LGBT. Muitas dessas torcidas existiram durante pouco tempo e acabaram perdendo sua organização e atividades por ameaças e dificuldades. Mas muitas ainda resistem: LGBTricolor, Marias de Minas, Palmeiras Livre, Fiel LGBT e tantas outras. Falta às equipes uma estrutura interna mais inclusiva e uma defesa mais contundente dessas pautas. Só assim as torcidas vão se sentir parte do clube e mais confiantes de frequentar o estádio.”

Quem deu uma bicuda nas portas do armário

A revolta de Stonewall é um grande símbolo da luta LGBT. Foi a primeira grande manifestação da população LGBT contra a invasão da polícia de Nova Iorque ao bar Stonewall. Ela acontece no 28 de junho de 1969, quando as pessoas que estavam no bar decidem resistir contra a violência policial. (Fonte: MST)

A Coligay foi a primeira torcida organizada LGBT que surgiu no Brasil, em 1977. O Grêmio vivia uma seca de oito anos sem títulos e o intuito dos torcedores que se juntaram na Coligay era apoiar o clube no estádio, cantando e incentivando até o fim. Empurrado pelos torcedores, incluindo os LGBTs, o clube gaúcho foi campeão no mesmo ano e a torcida se tornou um amuleto a cada partida do time em seu estádio.

Torcedores da Coligay em uma partida em 1977. (Imagem: Acervo Coligay)

Também no final da década de 70, foi criada a torcida Maré Vermelha. Ela representava o clube Internacional de Santa Maria, um modesto time do interior do Rio Grande do Sul.

Um dos poucos registros fotográficos da Maré Vermelha, no século passado.

Outra torcida criada na década de 70 foi a FlaGay. O grupo estreou em um Fla-Flu no qual o Fluminense venceu o jogo por 3x0 e o resultado enfureceu os torcedores do Flamengo, que atacaram a FlaGay e a acusaram de ser a responsável pela derrota do time. Dirigentes foram culpados por terem deixado aquela “praga” entrar no estádio.

Jornal estampa a fala de um dirigente do flamengo, que atribuiu a má fase do time à presença da torcida LGBT no estádio.

Por pura sorte, ou fama de pé fria, a FlaGay não teve o mesmo sucesso que a Coligay. E não é surpreendente que décadas depois desse episódio, o torcedor machista continua sendo supersticioso a ponto de creditar a má gestão de um clube ao tipo de torcedor que ele não quer ver no estádio a seu lado.

“No ano de criação das Marias de Minas, a gente foi convidado pelo Mineirão pra assistir a um jogo entre Cruzeiro e Vasco”, conta Warley, membro da torcida LGBT celeste. “O Cruzeiro não estava bem. O Yuri [fundador da Marias de Minas] foi na beira do alambrado e começou a xingar. Aí eu cheguei perto dele e dei um abraço, pedindo pra ele ficar mais calmo, e nisso alguns torcedores filmaram. Uns dois dias depois a gente começou a receber inúmeros tweets de ameaça, gente da organizada falando que Yuri era rival fazendo gracinha.”

O silêncio ensurdecedor dos clubes de futebol parece ter chegado ao fim

E o que acontece quando a gente inclui os clubes nessa pauta da diversidade? Não são eles que deveriam tomar a frente no cuidado com todos os seus torcedores?

Antes de discutir o que os clubes podem fazer pela causa, a gente precisa entender o que eles não fizeram até agora.

“Em 2019, o Bahia lançou uma camisa e depois uma campanha que era “Levante a Bandeira”, que colocaram bandeirolas coloridas no estádio. Ali eu senti, por parte do clube e de outras iniciativas, que tinha um espaço diferenciado que estava sendo construído pra que de repente a gente propusesse algo tão ousado”, conta Onã Rudá, fundador da LGBTricolor.

Imagem: Instagram @lgbtricolor / Foto: @celomalaquias no Instagram

Quase ninguém foi tão além quanto o Bahia. Em 2020, um levantamento feito pel’O Contra-Ataque mostrou que 17 dos 20 times com as maiores torcidas do Brasil se posicionaram no dia do Orgulho LGBT e no da Luta Contra LGBTfobia.

Nessas datas, artes, notas de repúdio e os mesmos posts comemorativos de sempre preenchem a timeline das páginas dos clubes.

“Fazer posts em datas de luta e orgulho agora é a regra e não a exceção. Ótimo. Sempre defendeu-se a importância dessas mensagens. Mas elas são o primeiro passo. 2021 pode marcar o início de ações mais afirmativas: todos os 4 principais clubes do Rio mostraram um avanço ao tirar das redes sociais e levar para dentro do campo, de alguma maneira, a bandeira LGBT. É daí para mais. Avançar sempre, sem retroceder” declara João Abel. “Clubes precisam entender, desde a base, seu papel como formadores não só de atletas, mas de cidadãos. Essa educação desde a base é fundamental” ele finaliza.

Gráfico mostra a adesão de clubes, por ano, às datas que falam sobre diversidade. (Arte: João Abel)

Para Luiz Sérgio, integrante da Fiel LGBT e representante da SCCPride, isso não representa o pensamento e atitudes práticas dos clubes:

“Eu acho que fica às vezes muita coisa em rede social, para mídia, mas fazer algo que represente de fato, como criar um ambiente mais saudável para os jogadores, para os profissionais, quebrar tabus e fazer com que a gente se sinta bem-vindo dentro do estádio, junto com as outras torcidas, com o resto do público, não acontece, infelizmente. Eu acho que medidas efetivas, de fato, não são tomadas no futebol brasileiro.”

As torcidas representam seus times dentro e fora dos estádios e as LGBT têm a mesma função. O obstáculo é o de serem reconhecidas assim como as outras, e isso não apenas no Corinthians, como em grande parte dos clubes do Brasil, segundo Luiz Sérgio:

“Eu vejo que o papel de muitas torcidas é justamente agregar, unir as pessoas, e, em nome do time, é o que a gente está fazendo. Agora, o time reconhecer este coletivo, este grupo de pessoas, muito honestamente, não [acontece]”, declarou.

A essencialidade das torcidas LGBT vai além de tornar a comunidade parte do clube, dos torcedores e do futebol. Ela também é necessária para que o tema deixe de se tornar “inapropriado” entre os jogadores e os integrantes dos times.

“A gente se sente seguro, acolhido, a gente tem um sentimento de pertencimento de fato ao clube”, conta Onã Rudá sobre seu envolvimento com a diretoria do Bahia. “Eu acho que isso falta em muitos clubes de futebol: se dizer do povo, mas ser de fato.”

Imagens: Instagram @lgbtricolor

Como em um país que, atualmente, cerca de 10% da população brasileira se considera LGBT, não há nenhum jogador que se declare parte desse grupo?

A resposta pode ser encontrada em um campeonato de outro país. No ano passado, na Premier League, um atleta, que não se identificou, enviou uma carta ao The Sun dizendo que se considera homossexual, porém não se sente confortável para se assumir publicamente ao clube.

“Eu gostaria de não precisar viver dessa maneira, mas a verdade é que existe um preconceito enorme no futebol”.

Na ocasião, o jogador disse que se descobriu homossexual com 19 anos de idade, mas que assumir sua orientação sexual em público seria um enorme risco para sua carreira. Essa intensa vivência sem poder ser quem ele é acabou ainda por prejudicar até mesmo sua saúde mental, mostrando ainda mais como ser LGBTQIA + no meio do futebol, mesmo escondido, prejudica o atleta.

Na carta, o atleta conta que já pensou diversas vezes em se assumir publicamente ou até mesmo contar a alguns companheiros de equipe — até hoje, apenas familiares e alguns amigos muito próximos sabem -, mas ele sempre chega na mesma conclusão: “Por que arriscar tudo?”.

A Fundação Justin Fashanu, que leva o nome do primeiro e único jogador do campeonato inglês a se assumir homossexual, além de ter apoiado o autor da carta e mais 4 futebolistas profissionais na Inglaterra, foi a responsável por revelar ao The Sun o depoimento do atleta.

A morte precoce de um jovem brilhante

A história do futebol nos leva até a Inglaterra, em 1981. O time da vez era o poderoso Nottingham Forest, então bi-campeão da Copa do Campeões da Europa (atual Liga dos Campeões). O clube inglês fez uma contratação histórica que ficaria marcada para todos os tempos: Justin Fashanu o primeiro atleta negro a ser contratado por 1 milhão de libras. Infelizmente, essa não é uma história com final feliz.

Olha o tamanho da manchete. Depois falam que gays é que são escandalosos.

Fashanu não conseguiu repetir o sucesso que fez no Norwich City e tinha dificuldades de relacionar com seus companheiros de time. Um dos grandes motivos era que o jovem frequentava boates e bares gays e isso incomodava seus colegas. Até mesmo sua própria família tinha a mesma opinião e seu irmão, que também era jogador e não queria “manchar” a imagem, lhe ofereceu 75 mil libras para que jamais revelasse sua orientação sexual.

Sem conseguir estabilizar a carreira na bola, o jogador peregrinou por vários clubes pequenos pelos EUA, Canadá, Escócia, Nova Zelândia e na Inglaterra, mas não se firmou em nenhum deles. Pendurou as chuteiras e decidiu seguir a carreira de treinador de futebol.

Morando em Baltimore, nos EUA, Justin foi acusado por um jovem de 17 anos por estupro em 1997, depois de uma festa. Com medo de um julgamento maldoso e injusto, decidiu voltar para Inglaterra enquanto ocorriam as investigações e se escondeu por um mês. Cansado da perseguição, do racismo e da homofobia, decidiu colocar fim na própria vida, aos 37 anos de idade. A denúncia de estupro foi arquivada poucos dias depois de sua morte, por falta de provas.

“Eu percebi que já havia sido considerado culpado. Não quero mais ser uma vergonha para minha família e meus amigos. Ser gay e uma pessoa conhecida é muito difícil, mas não posso reclamar disso. Queria dizer que não agredi sexualmente o jovem. Ele teve sexo consensual comigo e, no dia seguinte, me pediu dinheiro. Quando eu recusei, ele falou: ‘espere e você vai ver só’. Se esse é o caso, eu ouço vocês dizerem, por que eu fugi? Bom, a Justiça nem sempre é justa. Senti que não teria um julgamento justo por conta da minha homossexualidade.” — Justin Fashanu em sua última carta escrita antes do suicídio.

O Brasil tem um presidente que afirmou diversas vezes ser contra homossexuais. É o país que mais mata pessoas trans e travestis do planeta. Qual a segurança que um homem gay tem hoje de sair do armário em um dos contextos mais machistas?

“A gente precisava antes de uma postura da CBF que desse essa segurança”, afirma Onã Rudá. “Quando essa segurança existir, não tenha dúvida, tem muita gente que não aguenta mais viver duas vidas, ou esconder quem é, e vai se assumir. Mas eu quero que tenha um ambiente para esse ‘primeiro’ poder aparecer e existir.

Pra ele aparecer e depois e o matarem por ser quem ele é, eu prefiro que ele fique como está.”

O estádio não é um lugar de todo mundo

“Um dos membros do nosso coletivo precisou correr e foi bem hostilizado porque tentou defender um casal que já estava sendo atacado. Foi logo no começo da nossa torcida, isso assustou um pouco a gente. Em pouquíssimo tempo, com pouquíssimas pessoas, a gente teve casos de homofobia, então agora a gente tem muita gente e esse número pode, infelizmente, acabar aumentando. Mas é um negócio que a gente agora já está preparado pra lidar.” — Higor, Furacão LGBTQ

Um novo boom de criação de torcidas LGBTs se deu em 2019, muito em razão do contexto repressivo que vivemos desde a eleição do Bolsonaro, em 2018. Esses torcedores não passaram a acompanhar o time nessa época: sempre estiveram no estádio, só não têm a oportunidade de marcar presença junto de um grupo. Por isso, a atuação nas redes sociais é fundamental para a manutenção da pauta da diversidade nos clubes de futebol e nove torcidas LGBTs surgiram de lá pra cá.

Desde que a pandemia começou, ao menos mais nove torcidas LGBTs foram criadas, o que nos mostra como é importantíssima a ferramenta das redes sociais para reforçar o direito de apoiar e viver o cotidiano dos clubes que esses torcedores têm.

A Canarinhos Arco-íris é uma articulação nacional de todos os coletivos de torcedores LGBTQIA+ brasileiros. São elas:

LGBTricolor (Bahia)

Furacão LGBT (Athletico-PR)

Vozão Pride (Ceará)

Paraná LGBTQ+ (Paraná)

Palmeiras Livre (Palmeiras)

Marias de Minas (Cruzeiro)

Coral Pride (Santa Cruz)

Frasqueira LGBT (ABC)

Coxa LGBTQ+ (Coritiba)

Orgulho Rubro Negro LGBT (Vitória)

Fiel LGBT (Corinthians)

Papão Livre (Paysandu)

Vasco LGBTQ+ (Vasco).

Esse movimento é importantíssimo para espalharmos a mensagem e o calor dessas torcidas LGBTs por aí e ganharmos força para exigir cada vez mais ações afirmativas por parte dos clubes, pois isso deveria ser apenas mais um braço na atuação de cada instituição no futebol brasileiro. Enquanto isso, resistimos.

O Contra-Ataque celebra o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ e resiste para que o esporte seja cada dia mais inclusivo. Para contribuir com o nosso jornalismo independente, apoie-nos:

Qual a maior torcida LGBT do Brasil 2022?

Veja os primeiros 20 colocados do ranking:.
1) Flamengo: 21,8%.
2) Corinthians: 15,5%.
3) São Paulo: 8,2%.
4) Palmeiras: 7,4%.
5) Vasco: 4,2%.
6) Grêmio: 3,2%.
7) Cruzeiro: 3,1%.
8) Inter: 2,2%.

Qual a torcida com mais LGBT do Brasil?

Gaivotas Fiéis foi um projeto de torcida LGBT, tendo sido fundada pelo jornalista Felipeh Campos.

Qual foi a primeira torcida LGBT no Brasil?

A Coligay foi uma torcida organizada do Grêmio que existiu entre 1977 a 1983. Criada por Valmor Santos, gerente da boate Coliseu, seu nome é uma mistura do nome da casa noturna com o termo "gay". Integrada somente por homossexuais, foi a primeira torcida do tipo no Brasil.

Qual é a torcida organizada mais violenta do Brasil?

Top 10 torcidas mais violentas do mundo.
Atlético Nacional. ... .
Al-Masry. ... .
Galatasaray. ... .
Millwall. ... .
PAOK. ... .
Partizan. ... .
Palmeiras. A terceira torcida, é uma brasileira, a do Palmeiras. ... .
Newell´s Old Boys. Já o segundo time que possui uma das torcidas mais violentas, seria o Newell´s Old Boys da Argentina..