Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Introdução

Os fortes preconceitos relacionados à surdez se sustentam na crença, praticamente inabalável, desde o tempo de Aristóteles e reforçada por diversos estudos ao longo do tempo, de que a linguagem falada é essencial para o desenvolvimento do pensamento humano. Os estudos sobre cognição e linguagem, entretanto, efetivados pelas teorias de aprendizagem mais conhecidas, como o behaviorismo (do qual Frederic Skinner é um dos mais importantes representantes), o construtivismo genético de Jean Piaget e o sociointeracionismo (representado por Lev Vygotsky), dentre outras, além da neurociência e de teorias marcadamente linguísticas, como a abordagem gerativista (que tem Noam Chomsky como principal representante), mostraram que o importante para o desenvolvimento do pensamento é a comunicação e não a língua que se usa.

Além disso, outros estudos demonstram que crianças surdas, filhas de pais surdos, têm um desempenho escolar superior aos das crianças surdas filhas de ouvintes. Esse fato reforça a premissa anterior de que, para o desenvolvimento cognitivo, o que importa é a comunicação, e não a modalidade de língua utilizada.

Houve, portanto, um novo direcionamento nas pesquisas sobre a relação entre o pensamento e a linguagem, com a realização de diversos estudos referentes às línguas de sinais, os quais demonstraram que essas línguas desempenham, no desenvolvimento cognitivo e afetivo dos surdos, o mesmo papel das línguas orais para os ouvintes. Além disso, houve pressões resultantes de movimentos de surdos, respaldados em pressupostos de direitos humanos e, tudo isso, contribui para que as línguas de sinais assumissem posição de destaque na educação e na inclusão social de surdos.

Atualmente, as leis “da Acessibilidade” e “da Libras” garantem ao surdo o direito de ser educado em sua primeira língua, de ter atendimento jurídico, de saúde, enfim, de todos os serviços prestados pelo governo, em Libras, além de ter o direito às traduções de programas televisivos, de serviços bancários etc. Enfim, como a Libras é uma língua oficial brasileira, ela tem o mesmo status da Língua Portuguesa.

Assim, nesta Unidade I, apresentamos as línguas de sinais em geral e a Libras em particular. Para isso, organizamos cinco seções.

A primeira, intitulada “Pensamento e linguagem”, destaca que as línguas de sinais são fundamentais para o desenvolvimento cognitivo dos surdos. Na segunda seção, abordamos a “História das línguas de sinais”, mas, além da história dessas línguas, anunciada no título, há uma discussão acerca das diferenças conceituais entre linguagem, língua e fala. Na terceira seção, como o título indica, estabelecemos “Paralelos entre a Libras e a Língua Portuguesa”, a fim de facilitar a compreensão da primeira. Na quarta seção, “Línguas de sinais e Libras”, procuramos desconstruir crenças e mitos relacionados às línguas de sinais e à Libras. Finalizamos com a seção mais extensa e complexa desta Unidade I, que é o estudo dos “Aspectos linguísticos da Libras”.

Lembre-se de que os surdos “escutam com os olhos e falam com as mãos”.  Você entenderá essa fascinante forma de comunicação. Bons estudos.

Linguagem e Pensamento

A relação entre pensamento e linguagem é discutida desde os tempos mais remotos e, desde então, existe uma forte crença de que a linguagem falada é essencial para o desenvolvimento do pensamento humano. Esse fato é reforçado por pesquisas mais recentes. No século XX, Piaget estabeleceu que a linguagem é responsável pela qualidade do nosso pensamento, pois permite sairmos do estágio das operações concretas e alcançarmos o estágio lógico-formal. Entretanto, para esse estudioso, antes mesmo da linguagem, existe uma inteligência prática, característica do sensório-motor. Para Vygotsky (apud FARIA, 2011), por sua vez, a linguagem tem um papel essencial na organização das funções superiores, pois exerce papel fundamental no desenvolvimento cognitivo dos seres humanos.

No processo interacional verbal, o sujeito também utiliza o processo cognitivo, pois, segundo Vygotsky, a palavra, por ser carregada de sentido, exige que o sujeito realize operações mentais para compreendê-la, assim como para compreender as motivações de uso dela [...]. Por intermédio dessa forma de pensar, pode-se compreender a afirmação de que a comunicação verbal exerce papel central no processo interacional (FARIA et al., 2011, p. 174).

Então, a comunicação verbal refere-se apenas à língua oral? A resposta é não. Verbal vem de verbo, que significa palavra, a qual pode ser reproduzida tanto na língua oral como na de sinais. Essa constatação de que a comunicação espaço-visual se constitui em comunicação verbal, assim como a oroauditiva, é recente.

Durante muito tempo, acreditou-se que a linguagem oral era a única responsável pelo funcionamento cognitivo humano e a dificuldade encontrada pelos surdos para falar foi considerada como, praticamente, impeditiva do desenvolvimento do pensamento. Além disso, como a língua de sinais, por muitas décadas, foi confundida com mímica, era entendida como dependente do mundo concreto, não permitindo a compreensão de conceitos abstratos e, por conseguinte, não se acreditava em suas potencialidades para o desenvolvimento cognitivo dos surdos.

A presença de surdos em instituições escolares inclusivas ou especiais, sendo educados em sua língua natural, tem contribuído muito para desconstruir a imagem de que a surdez compromete o desenvolvimento cognitivo e linguístico do indivíduo, pois conforme expõe Gesser (2009),

o surdo pode e desenvolve suas habilidades cognitivas e linguísticas (se não tiver outro impedimento) ao lhe ser assegurado o uso da língua de sinais, em todos os âmbitos sociais em que transita. Não é a surdez que compromete o desenvolvimento do surdo, e sim a falta de acesso a uma língua (GESSER, 2009, p. 76).

Com o reconhecimento de que a língua de sinais desempenha, no desenvolvimento cognitivo dos surdos, o mesmo papel que a língua oral para os ouvintes, compreendeu-se que a surdez não torna a criança um ser com menos possibilidades, mas com possibilidades diferentes.  O estudo dos surdos mostra que as capacidades humanas de linguagem, pensamento, comunicação e cultura não se desenvolvem de maneira automática, não se compõem apenas de funções biológicas, mas têm origem social e histórica. Como assevera Sacks (1998), essas capacidades são um presente – o mais maravilhoso dos presentes – de uma geração para outra, o que reforça a importância do grupo, da cultura surda para a construção da identidade e o desenvolvimento cognitivo do surdo.

Assim, ter a dificuldade de ouvir não impede o ser humano de adquirir uma língua e nem de desenvolver sua capacidade de representação. Faz, porém, o surdo criar uma maneira própria de se comunicar, utilizando uma língua de natureza visomotora. As línguas de sinais, portanto, comprovam que a surdez não impede o surdo de adquirir uma língua e nem de desenvolver sua capacidade de representação, mas isso, provavelmente, envolve mecanismos mentais diferentes dos da pessoa ouvinte.

As ações negativas quanto ao uso da língua de sinais estiveram e estão, em grande medida, atreladas aos seguidores da filosofia oralista. Muitos pesquisadores têm abolido a visão exposta, ao afirmarem justamente o inverso: é o não uso da língua de sinais que atrapalha o desenvolvimento e a aprendizagem de outras línguas pelo surdo. Considerando-se que a relação do indivíduo surdo profundo com a língua oral é de outra ordem (dado que não ouvem!), a incorporação da língua de sinais é imprescindível para assegurar condições mais propícias nas relações intra e interpessoais que, por sua vez, constituem o funcionamento das esferas cognitivas, afetivas e sociais dos seres humanos (GESSER, 2009, p. 59).

Sendo a língua de sinais imprescindível para o desenvolvimento cognitivo e social do surdo, “[...] é fundamental que a criança aprenda a língua de sinais bem cedo, pois pesquisas têm mostrado que, quando a criança surda adquire linguagem desde bem pequena, o seu desempenho escolar será equivalente ao de crianças ouvintes” (REILY, 2004, p. 123). Portanto, é indispensável que a família esteja completamente envolvida nesse processo e que se disponha a fazer parte da comunidade surda.

Ora, mas as pesquisas apontam que cerca de 90% das crianças surdas são filhas de pais ouvintes que pouco ou nenhum conhecimento possuem acerca da surdez e da língua de sinais e que, muitas vezes, ainda não resgataram a serenidade emocional abalada pelo imprevisto da chegada de uma criança surda. Nesse contexto, há o papel fundamental desempenhado pelo professor, que, além de ser o profissional mais próximo da família nesse momento, tem a serenidade emocional que os pais, em especial, podem demorar para adquirir.

Mas, enquanto a família se dá conta das dificuldades de adaptação ao novo filho que lhes foi imposto, algo deve ser feito e rapidamente. A criança cresce e necessita da linguagem para poder se colocar no mundo, entender e se fazer entendida. Entra aí o papel da escola (MOURA, 2013, p. 18).

Portanto, como o professor é, na maioria dos casos, o único profissional em contato com a família, ele passa a ser o responsável pela orientação sobre a atuação da família em toda a vida do filho surdo. Por isso, esse profissional deve conhecer muito bem as implicações sociais da adoção do modelo bilíngue de educação dos surdos.

História das Línguas de Sinais e da Libras

“LIBRAS É LÍNGUA”. Foi este o título escolhido para a palestra apresentada por uma linguista em um evento cujo público-alvo era o estudante do curso de letras. Uma professora que trabalha na área da surdez, mencionando o título, fez o seguinte comentário: “De novo? Achei que essa questão já estivesse resolvida!” (GESSER, 2009, p. 9).

Embora mais de cinquenta anos já tenham se passado desde que a língua de sinais foi mundialmente reconhecida, do ponto de vista linguístico, como uma verdadeira língua, no Brasil, mesmo após a promulgação da Lei Federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que reconhece a Libras como língua oficial brasileira, ainda é necessário afirmar e reafirmar essa legitimidade. Assim, por que é preciso insistir tanto nessa questão de que a Libras é uma língua? Afinal, o que isso significa? Língua e linguagem são a mesma coisa? O surdo “fala” em Libras?

Por linguagem, designamos o sistema abstrato, articulado, fenômeno universal, independente da situação cultural, que diferencia o ser humano das demais espécies. Denominamos língua o sistema abstrato, articulado, utilizado por um grupo ou uma comunidade específica, por exemplo, a Língua Portuguesa. O modo particular e individualizado de exercitar a língua é o que denominamos fala, a qual “é o exercício material da língua levado a cabo por este ou aquele indivíduo pertencente a uma comunidade linguística específica” (BASTOS; CANDIOTTO, 2007, p. 15).

De acordo com Bastos e Candiotto (2007, p. 15), a linguagem é a capacidade do ser humano de se comunicar com os semelhantes por meio de signos. É, ao mesmo tempo, física, psicológica e social, e realizada sempre dentro do âmbito de uma língua, “inseparável de um contexto cultural específico, particular, de uma comunidade linguística”.

De acordo com essa perspectiva, é possível admitir que a Libras é uma língua, porque permite que uma comunidade linguística particular, a comunidade surda, exerça sua capacidade de comunicação. Ademais, se a fala é o modo de um elemento de uma comunidade linguística exercitar sua língua, o surdo fala em Libras.

Não foram considerações simplistas, como as feitas até aqui, que permitiram afirmar, em bases científicas, que a Libras é uma língua. Esse reconhecimento linguístico teve início com os estudos descritivos do linguista americano William Stokoe, em 1960. Antes disso, as línguas de sinais não eram vistas como uma língua verdadeira, com gramática própria.

No Brasil, conforme afirmamos anteriormente, os primeiros estudos sobre a Libras foram realizados na década de 1980, por Lucinda Ferreira Brito, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Tanya Mara Felipe, da Universidade Federal de Pernambuco e da Federação Nacional de Escolas e Instituições de Surdos (FENEIS), entidade máxima representativa dos surdos brasileiros. Atualmente, no Brasil, há estudos sobre os aspectos gramaticais e discursivos da Língua Brasileira de Sinais, produzidos, principalmente, pela Universidade Federal de Santa Catarina, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pelo Instituto Nacional de Educação e Integração dos Surdos (INES).

Devemos salientar, todavia, que a comunicação com as mãos não teve início com os surdos e nem é exclusividade deles. Existem estudos que indicam que os homens pré-históricos se comunicavam por meio de gestos. Apenas quando começaram a utilizar ferramentas, ocupando as mãos, começaram a utilizar a comunicação oral. Portanto, antes de utilizarem a palavra, os seres humanos utilizavam as mãos para interagir, demonstrando a naturalidade da comunicação por sinais. Podemos, então, afirmar que o processo inverso, isto é, a passagem da língua oral para a manual, foi reinventado pelo homem, sempre que necessário, e não somente no caso dos surdos.

Você sabia que existem várias linguagens manuais criadas em diversos momentos da história da humanidade, para uso em contextos variados, tendo em vista possibilitar a comunicação e a interação em situações em que a fala era inviável, proibida ou impossível?
Mergulhadores, por exemplo, criaram um sistema de códigos gestuais para se comunicar debaixo d’água, onde a fala não é possível. Considerando os riscos de uma comunicação equivocada em circunstâncias perigosas, fica evidente o quanto essa comunicação deve ser bem assimilada durante os cursos de mergulho para garantir a segurança no meio líquido (REILY, 2004, p. 113).

No Brasil, Lucinda Ferreira Brito, em 1982, iniciou seus estudos linguísticos acerca da língua de sinais dos índios Urubu-Kaapor da floresta amazônica brasileira, após um mês de convivência com eles, documentando em filme sua experiência. Brito constatou que essa língua se tratava de uma legítima língua de sinais. O interessante de se observar, no caso dos Urubu-Kaapor, é que os ouvintes da aldeia “falam” a língua de sinais e a língua oral, evidentemente, enquanto os surdos se restringem à língua de sinais. Assim, os ouvintes da aldeia se tornam bilíngues, enquanto os surdos se mantêm monolíngues.

De acordo com Reily (2004), os indígenas do planalto americano também desenvolveram uma língua de sinais para estabelecer uma comunicação entre tribos distintas, que não falavam a mesma língua e precisavam de uma forma convencional de comunicação. Assim, desenvolveram, ao longo do tempo, um conjunto de sinais bastante eficiente, com o qual conseguiam realizar alianças e comércios.

Um sistema de sinais também foi desenvolvido no período medieval por monges nos mosteiros europeus, que faziam o voto do silêncio, sendo que, mesmo atualmente, algumas comunidades de monges comunicam-se por gestos em suas atividades cotidianas no mosteiro. Também, concebia-se a função do silêncio no período monástico, segundo regras registradas por São Basílio Magno. Nesse contexto, a palavra só poderia ser utilizada em caso de necessidade e estando as mãos ocupadas com algum trabalho, o que permite inferir que a comunicação gestual que eles utilizavam era bastante eficiente. Observe a explicação a seguir.

É bom para os noviços também a prática do silêncio. Se dominam a língua, darão simultaneamente boa prova de temperança. Com o silêncio aprenderão junto dos que sabem usar da palavra, com concisão e firmeza, como convém perguntar e responder a cada um. Há um tom de voz, uma palavra comedida, um tempo oportuno, uma propriedade no falar, peculiares e adequados aos que praticam a piedade. Não os aprende quem não tiver abandonado aquilo a que estiver acostumado. O silêncio traz consigo o esquecimento da vida anterior, em consequência da interrupção, e proporciona lazer para o aprendizado do bem. Assim, a não ser por questão especial atinente ao bem da própria alma, ou por inevitável necessidade de um trabalho em mãos, ou por negócio urgente, guarde-se o silêncio, excetuada, é claro, a salmodia (BASÍLIO MAGNO apud REILY, 2004, p. 114).

No século XVI, o médico e filósofo italiano Girolamo Cardano, utilizou a língua de sinais e a escrita para ensinar seu filho, que era surdo. No mesmo século, Pedro Ponce de Leon estabeleceu um método para a educação de surdos, em que combinava datilologia, escrita e oralização, entretanto, como na época era comum se guardar segredo dos métodos, após a morte de Ponce de Leon, seu método caiu no esquecimento.

Na interface dos séculos XVI e XVII, na Espanha, Juan Pablo Bonet educava nobres surdos por intermédio de sinais, treinamento da fala e alfabeto datilológico, alcançando enorme sucesso, tendo sido, em razão disso, nomeado Marquês pelo Rei Henrique IV. Bonet publicou o primeiro livro que se tem notícia sobre a educação de surdos, no qual está exposto seu método que, apesar de ser oralista, defende o ensino do alfabeto manual aos surdos, o mais precocemente possível.

A língua de sinais que conhecemos hoje no Brasil, utilizada pelos surdos, teve origem na sistematização realizada por religiosos franceses, desenvolvida a partir de 1760, particularmente pelo abade L’Épée, que foi o primeiro a reconhecer a necessidade de usar sinais como ponto de partida para o ensino. L’Épée se interessou pelos surdos quando deu prosseguimento à educação religiosa de duas irmãs gêmeas surdas, que estavam sendo educadas utilizando gravuras. Ele decidiu mudar a metodologia utilizada anteriormente, porque acreditava que a compreensão das meninas ficaria restrita ao significado físico da imagem, sendo impossível transmitir por figuras o sentido mais profundo da fé. Desse modo,

resolveu ensinar linguagem pelos olhos, em vez de pelos ouvidos, apontando os objetos com uma mão e escrevendo o nome correspondente numa lousa, com a outra. [...] logo as meninas estavam lendo e escrevendo os nomes das coisas. No entanto, esse sistema não permitia maiores avanços, porque não contemplava nenhuma gramática, nem sentidos abstratos, essenciais para o ensino religioso, restringindo-se à nomeação de objetos presentes, visíveis, perceptíveis pelos sentidos. [...] porém, deu-se conta de que as meninas já deveriam possuir um sistema gramatical, pois elas se comunicavam entre si com muita fluência (REILY, 2004, p. 115).

L’Épée aprendeu os sinais com suas alunas surdas. Também, observou que os surdos das ruas de Paris desenvolviam uma comunicação gestual bastante satisfatória e os levou para residir no convento. Com esse conjunto de sinais estabelecido, fez adaptações e acrescentou outros, desenvolvendo um método para aproximar os sinais à Língua Francesa, o qual ficou conhecido como Sinais Metódicos.

Em 1775, L’Epée fundou uma escola para surdos, a primeira desse tipo, com aulas coletivas, nas quais os professores e os alunos usavam os chamados sinais metódicos. A proposta educativa da escola era que os professores deveriam aprender tais sinais para se comunicarem com os surdos. Assim, eles aprendiam com os surdos e, com essa forma de comunicação, ensinavam o francês falado e escrito.

Diferente de outros professores que escondiam seus métodos, L'Epée divulgava seus trabalhos em reuniões periódicas e propunha-se a discutir seus resultados. Em 1776, publicou um livro no qual divulgava suas técnicas, intitulado “A verdadeira maneira de instruir surdos-mudos”, em que divulgou seus sinais metódicos, as regras sintáticas e o alfabeto manual criado por Bonet. Quando faleceu, em 1789, L’Epée havia fundado 21 escolas para surdos na Europa. O Abade Roch-Ambroise Sicard continuou o trabalho de De L’Epée, inclusive, complementando seu livro.

Os alunos dessas escolas usavam bem a escrita e muitos deles tornaram-se, mais tarde, professores de outros surdos. Nesse período, alguns surdos puderam destacar-se e ocupar posições importantes na sociedade de seu tempo, além de terem escrito vários livros, relatando suas dificuldades de comunicação e os problemas causados pela surdez.

No século XIX, o americano Thomas Hopkins Gallaudet tomou conhecimento do método de Sicard e levou um professor surdo para os Estados Unidos, começando um trabalho educacional seguindo essa metodologia. Em 1864, seu filho Edward Gallaudet fundou a primeira universidade para surdos, importante instituição, que resistiu ao banimento das Línguas de Sinais pelo Congresso de Milão.

Em 2018, visitamos a Gallaudet University, em Washington D.C., e foi uma experiência fascinante. São mais de 1.300 estudantes universitários surdos oriundos de diferentes países do mundo e que moram na instituição. No local, há uma estátua de Thomas Gallaudet ensinando a letra “a” para uma menina surda. A estátua foi um presente da comunidade surda dos Estados Unidos para comemorar o centenário de seu nascimento, em 1887. Em todo o campus, os postes de luz têm um banner com a frase “There is no other place like this in the world”, que significa “Não existe outro lugar no mundo como este”. De fato, essa é a única instituição que atende surdos desde a mais tenra idade até o doutorado.

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

A escolarização do surdo brasileiro teve seu início ainda no período imperial, em 1855, com a chegada do professor surdo francês E. Huet. Em 26 de setembro de 1857, foi fundado o Instituto Nacional de Surdos-Mudos, atual Instituto Nacional de Educação do Surdo (INES), que adotava a língua de sinais. Essa língua deu origem à Libras e, constitui-se, naturalmente, pela interação da língua de sinais francesa (LSF), já constituída em seus aspectos gramaticais, com o conjunto de sinais utilizados pelos surdos brasileiros.

Assim, tanto a língua de sinais Americana (ASL), quanto a língua de sinais brasileira (Libras) foram influenciadas pela língua de sinais Francesa. Com o passar dos tempos, essas línguas adquiriram características culturais próprias de seu país e acabaram se diferenciando.

Em 1870, Alexander Graham Bell iniciou uma “verdadeira cruzada” contra as Línguas de Sinais, argumentando que elas não proporcionavam o desenvolvimento intelectual dos surdos. Além disso, criticava as escolas especializadas, sob a alegação de que promoviam o isolamento dos surdos. Ele publicou vários artigos defendendo suas ideias e foi fundamental para a proibição das Línguas de Sinais pelo Congresso de Milão, em 1880. No Brasil, em 1957, o INES proibiu oficialmente o uso das Línguas de Sinais nas salas de aula, mas os alunos continuaram utilizando essa forma de comunicação, escondido dos professores e funcionários.

Conta a história que a língua de sinais no Brasil sobreviveu principalmente graças a esses surdos que estudavam no INES em regime de internato. As conversas em Libras só eram possíveis longe dos olhos de professores e vigilantes, à noite, à luz de velas, embaixo das camas e das mesas, nos refeitórios, banheiros ou corredores (FENEIS, 2011, p. 13).

Para encerrar essa breve apresentação histórica, a seguir, há um resumo da história da Libras, realizado por Góes e Campos (2013, p. 71):

Percebe-se que a história sofreu mudanças e foi muitas vezes influenciada por diferentes grupos em diversos momentos e contextos. Partiu-se da descoberta da comunicação natural de pessoas surdas, para tentativas de oralização com o intuito de “normalizar” os surdos, até o reconhecimento da Libras como língua de comunicação de pessoas surdas em nosso país. Houve a proibição da língua de sinais, o que prejudicou a evolução da educação de surdos e também o progresso de pesquisas e produções científicas em relação aos estudos linguísticos da língua de sinais. Mas com o reconhecimento da Libras pela lei 10.436, emergiram possibilidades para o livre uso da língua de sinais e a criação de novos cursos e de novos e diferentes espaços de estudos linguísticos envolvendo a língua de sinais.

Com base nesses estudos, podemos afirmar que, além de proporcionar a comunicação efetiva entre os surdos, a língua de sinais possibilita a expressão de sentimentos, a composição de poesias, a discussão filosófica, pois se trata de um idioma completo. Porém, talvez, principalmente devido as suas características icônicas (uma representação da realidade, por ícones) e à forte influência da língua oral, tanto na estrutura gramatical quanto lexical, há muitas interpretações equivocadas sobre as Línguas de Sinais, em geral, e sobre a Libras, em particular.

Paralelos entre a Libras e a Língua Portuguesa

Os estudos que se seguiram ao trabalho pioneiro de Stokoe revelaram que as Línguas de Sinais eram verdadeiras línguas, preenchendo, em grande parte, os requisitos da Linguística daquele período para as línguas orais, como os níveis de articulação da linguagem: fonológico, semântico, morfológico e sintático. Em outras palavras, para poderem chegar à conclusão de que as Línguas de Sinais constituem-se como idioma, foram feitos muitos estudos, sustentados quase sempre na parte da Linguística que compara duas ou mais línguas, denominada Linguística Contrastiva, a qual é uma parte da Linguística Geral que estuda as similaridades e as diferenças estruturais entre duas línguas. Essa comparação é feita nos níveis fonológico, morfológico, sintático e semântico. Observe as explicações a seguir.

  • Fonológico: estuda os fonemas que são a menor unidade distintiva da palavra. Por exemplo, na palavra fala, a letra f representa o fonema  /f/  (fê), que se refere aos sons em uma língua oral.
  • Morfológico: estuda a forma das palavras, como elas são construídas. Nesse caso, a unidade mínima é o morfema, unidade mínima significativa. Por exemplo, em estud/ei; estud/amos e estud/ante, a identidade de significado das três formas ocorre devido ao morfema estud, que é igual nas três palavras.
  • Sintático: estuda como as palavras são organizadas em uma frase. Sabemos que as palavras são combinadas, segundo regras determinadas, para formar frases e orações. Por exemplo: eu estudei muito ontem.
  • Semântico: estuda o significado ou o sentido das palavras dentro de uma organização textual (e contextual).

A Libras também possui suas unidades mínimas distintivas, os quiremas, que, combinados, produzem unidades significativas, os sinais, os quais obedecem a regras para constituírem frases, que, também combinadas, produzem contextos. Utilizamos aqui, propositadamente, a palavra “contextos”, porque a Libras é uma língua falada (cuja escrita se faz por meio do sistema SingWrittig – Escrita de Sinais) e a palavra “texto” remete à produção escrita. Assim, ao serem estabelecidas comparações entre a Língua Portuguesa e a Libras, percebe-se uma série de diferenças, das quais destacamos:

  1. A língua de sinais é visual-espacial, e a Língua Portuguesa é oral-auditiva.
  2. A língua de sinais é baseada nas experiências visuais das comunidades surdas, mediante as interações culturais surdas, enquanto a Língua Portuguesa constitui-se baseada nos sons.
  3. A língua de sinais apresenta uma sintaxe espacial, incluindo os chamados classificadores. A Língua Portuguesa usa uma sintaxe linear, utilizando a descrição para captar o uso de classificadores.
  4. A língua de sinais utiliza a estrutura tópico-comentário, em que o objeto direto é posicionado à frente do sujeito. Por exemplo: “Você vai ao cinema?” Em Libras fica: “Cinema você ir?” Ou ainda, “Gato você tem?” Isso também ocorre em sentenças afirmativas e negativas, como “Carro eu tenho”.
  5. A língua de sinais utiliza a estrutura de foco, que significa destacar a parte mais importante da conversa, por meio de repetições sistemáticas. Esse processo não é comum em Língua Portuguesa.
  6. A língua de sinais utiliza as referências anafóricas, isto é, sobre quem se está falando, mostrando ou indicando pontos específicos no espaço, o que exclui as ambiguidades possíveis em Língua Portuguesa, ou seja, os apontamentos utilizados na língua de sinais, para indicar um referente, evitam ambiguidades.
  7. A língua de sinais não tem marcação de gênero, isto é, não há sinais diferentes para feminino e masculino. Em Língua Portuguesa, o gênero é marcado a ponto de ser redundante, como na frase “A mulher é professora”, na qual o feminino é utilizado duas vezes. Por essa razão, na transcrição de um sinal para a Língua Portuguesa, adotamos o símbolo @. Por exemplo, ao utilizarmos bonit@, estamos indicando tanto “bonito” quanto “bonita” e, também, o plural.
  8. A língua de sinais atribui um valor gramatical às expressões faciais, as quais não são essenciais em Língua Portuguesa. Nesse caso, elas podem ser substituídas pela prosódia, que significa a pronúncia correta das palavras, com acentuação ou intensidade adequadas.
  9. Algumas coisas ditas em língua de sinais não precisam do mesmo tipo de construção gramatical em Língua Portuguesa. Assim, às vezes, uma grande frase em Língua Portuguesa é necessária para representar poucas palavras em Libras e vice-versa.
  10. A escrita da língua de sinais, denominada SignWriting, não é alfabética.

Além disso, há muitas semelhanças entre as línguas orais e as Línguas de Sinais. Ao serem observadas as produções em línguas orais e de sinais, neste caso particular, entre a Língua Portuguesa e a Libras, percebe-se uma série de semelhanças, das quais destacamos:

  1. Arbitrariedade: as línguas orais são, majoritariamente, arbitrárias, pois não se depreende a palavra simplesmente por sua representatividade, mas é necessário conhecer o seu significado. A iconicidade encontra-se presente nas Línguas de Sinais, mais do que nas orais, mas a sua arbitrariedade continua a ser dominante. Embora, nas Línguas de Sinais, alguns sinais sejam totalmente icônicos, é impossível, como nas línguas orais, depreender o significado da grande maioria dos sinais apenas pela sua representação.
  2. Comunidade: as línguas orais são adquiridas por uma comunidade, como a língua materna, cujo desenvolvimento ocorre mediante uma comunidade de origem, passando pela família, pela escola e pelas associações. Todas as línguas orais têm variações linguísticas e todas as Línguas de Sinais possuem essas mesmas características.
  3. Sistema linguístico: as línguas orais são sistemas regidos por regras, assim como acontece com as Línguas de Sinais.
  4. Produtividade: as línguas orais possuem as características da produtividade e da recursividade, sendo possível que os falantes nativos produzam e compreendam um número infinito de enunciados, mesmo que nunca tenham sido produzidos antes. Isso também é possível com as línguas de sinais, pois há a criatividade e a produtividade em Libras, por exemplo, devido aos seus sinalizadores nativos, parecendo não haver limite criativo.
  5. Aspectos contrastivos: as línguas orais possuem aspectos contrastivos, isto é, as unidades fonológicas do sistema de determinada língua se estabelecem por oposições contrastivas, ou seja, há pares de palavras em que a substituição de uma unidade fonológica (uma letra) por outra altera o significado da palavra (por exemplo: parra e barra). Isso também acontece nas Línguas de Sinais, mas, em vez de uma unidade fonológica, um pequeno aspecto do sinal é alterado.
  6. Evolução e renovação: as línguas orais modificam-se, como no caso das palavras que caem em desuso e de outras que são adquiridas, a fim de aumentar o vocabulário e devido aos casos de mudança de significado das palavras. Esse fato também acontece nas Línguas de Sinais, a fim de responder às necessidades que a evolução sociocultural impõe.
  7. Aquisição: a aquisição de qualquer língua oral é natural, desde que haja um ambiente propício desde nascença. Na língua de sinais, esse processo ocorre da mesma forma. O surdo não tem que exercer esforço para aprender uma língua de sinais ou a necessidade de qualquer preparação especial.
  8. Funções da linguagem: as línguas orais podem ser analisadas de acordo com as suas  funções, o que também acontece com as Línguas de Sinais. As funções são: referencial, emotiva, conotativa, fática, metalinguística e poética.
  9. Processamento: embora utilizem modalidades de produção e percepção distintas, as línguas orais e de sinais são processadas na mesma zona do cérebro.

Os estudos de Stokoe (1968) mostraram que os sinais não eram apenas imagens, mas símbolos abstratos complexos, com uma complexa estrutura interior. O estudioso estabeleceu que cada sinal era composto por três parâmetros básicos: a configuração das mãos (CM); o movimento das mãos (M) e o ponto de articulação (PA) ou Locação (L), que é o lugar do espaço onde as mãos se movem.

A partir da década de 1970, foram aprofundados os estudos fonológicos sobre a língua de sinais Americana (ASL), que resultaram na descrição de um quarto parâmetro: a orientação (O). Ademais, é preciso salientar que um parâmetro básico ou primário compõe uma palavra (no caso das línguas orais) ou um sinal que, se for alterado, modifica o significado da palavra ou do sinal.

Esse contraste de dois itens lexicais com base em um único componente recebe, em linguística, o nome de “par mínimo”. Nas línguas orais, por exemplo, pata e rata se diferenciam significativamente pela alteração de um único fonema: a substituição do /p/ por /r/. No nível lexical, temos em LIBRAS pares mínimos como os sinais grátis e amarelo (que se opõem quanto à CM), churrascaria e provocar (diferenciados pelo M), ter e Alemanha (quanto à L) (GESSER, 2009, p. 15).

As unidades mínimas podem ser produzidas simultaneamente e a variação de uma delas pode alterar o significado do sinal. Além disso, elas não têm significado isoladamente e um sinal é constituído por mais de uma unidade mínima. Por exemplo, o sinal de “televisão” envolve, de modo simultâneo, configuração de mão, ponto de articulação, movimento e orientação de mão.

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

Televisão

A orientação das mãos (O)  é importantíssima e diferencia o significado em pares mínimos que possuem CM, M e PA iguais, como “ajudar” e “ser ajudado”; “eu perguntar” e “me perguntar”, “eu responder” e “responder para mim” etc. Além de ser utilizado na flexão de verbos, o parâmetro O é usado em marcações negativas, como “querer” e “não querer”; “gostar” e “não gostar” etc.

Ainda, alguns estudiosos consideram como parâmetros da língua de sinais os aspectos não manuais, as expressões faciais e corporais que são muito utilizadas pelos surdos para produzir informações linguísticas. No caso das Línguas de Sinais, as expressões faciais (movimento de cabeça, olhos, boca, sobrancelhas, bochechas) não servem apenas para complementar informações, pois são elementos gramaticais que compõem a estrutura da língua.

Quadros e Karnopp (2004) apresentam uma análise linguística da Língua Brasileira de Sinais e, de acordo com esse estudo, alguns dos aspectos fonológicos dessa língua estão expostos a seguir.

  • As Línguas de Sinais são visual-espaciais (ou espaço-visual), pois a informação linguística é recebida pelos olhos e produzida pelas mãos.
  • Os elementos mínimos constituintes da língua de sinais são processados simultaneamente, e não linearmente como ocorre na língua oral.
  • Os articuladores primários das Línguas de Sinais são as mãos, que se movimentam no espaço em frente ao corpo e articulam sinais em determinadas locações nesse espaço, mas os movimentos do corpo e da face também desempenham funções.
  • Um sinal pode ser articulado com uma ou duas mãos. No caso de uma mão, a articulação ocorre pela mão dominante.
  • Um mesmo sinal pode ser produzido pela mão esquerda ou direita.

Línguas de Sinais e Libras

Na seção 2 desta unidade, ao citarmos Gesser (2009), para retomar a discussão sobre a Libras ser uma língua, nossa intenção foi salientar o desconhecimento generalizado acerca dessa realidade linguística, tanto daqueles que convivem de perto com a surdez quanto da sociedade ouvinte em geral. Esse desconhecimento está expresso em textos de Gesser (2009), Reily (2004) e Pereira et al. (2011), quando esses autores abordam mitos e crenças sobre as línguas de sinais. Aqui, acrescentamos nossas reflexões, sustentadas nesses autores, e discutimos tais crenças, mitos ou, simplesmente, dúvidas que ainda pairam sobre a Libras.

          1. Os sinais são gestos?

Em função de suas características, os sinais podem parecer movimentos aleatórios de mãos e corpo, acompanhados por expressões faciais variadas, ou seja, seriam apenas “gestos”. De acordo com Pereira et al. (2001, p. 18), essa descrição para sinais seria equivalente a descrever uma língua oral como “ruídos” feitos com a boca. Além disso, os gestos são traços das línguas orais, acompanham essas línguas e favorecem a comunicação. Os sinais são produzidos combinando-se, simultaneamente, a configuração de mãos, o ponto de articulação ou localização, o movimento, a orientação das palmas das mãos e os componentes não manuais, que são os parâmetros constituintes da língua de sinais, conforme veremos na próxima unidade.

           2. A língua de sinais é icônica?

Grande parte dos sinais é icônica, isto é, os sinais são parecidos com o que representam, e isso poderia significar que a língua de sinais não seria arbitrária e resultante de convenção, como as línguas orais, nas quais não existe uma relação de semelhança entre a palavra e o conceito que ela representa. Apesar disso, não se pode afirmar que a língua de sinais seja icônica, pois, embora haja uma relação direta, quase transparente, entre um sinal e o conceito que ele representa, as modificações sofridas por eles ao longo do tempo e na combinação com outros sinais resultam em perda de iconicidade. Portanto, há a arbitrariedade.

          3. A língua de sinais tem gramática?

Essa questão tem origem no fato de que, antes das pesquisas pioneiras de Stokoe na década de 1960, corroboradas por Sacks (1990), a língua de sinais não era vista, nem mesmo por seus usuários, como uma língua verdadeira, com gramática própria. Com o reconhecimento linguístico efetivado por Stokoe, ficou comprovado que a língua de sinais possui tem gramática própria, um conjunto de regras partilhado por todos os seus usuários e que permite a expressão de qualquer ideia. No entanto, como a língua de sinais utiliza espaço e corpo, destacando as expressões faciais e, muitas vezes, adotando sinais icônicos, muitos a consideram mímica.

Ademais, como a língua de sinais não apresenta preposições, artigos, flexões e tem poucas conjunções, é considerada limitada, empobrecida, se comparada à língua oral. Essa opinião revela um total desconhecimento, porque, pelo uso do espaço, é possível expressar as mesmas relações que, por exemplo, as preposições na língua oral, ou seja, a língua de sinais utiliza recursos diferentes para expressar as mesmas ideias e também não tem limites para expressar quaisquer conceitos. Assim, como exposto anteriormente, a Libras tem gramática própria e se estrutura nos mesmos níveis das línguas orais: fonológico, morfológico, sintático e semântico.

          4. A língua de sinais é mímica?

Para demonstrar que a língua de sinais não é mímica, foram realizadas diversas pesquisas em que as pessoas usavam gestos para demonstrar algumas palavras, sem que tivessem conhecimento da língua de sinais. A principal constatação foi a utilização de mímicas muito mais detalhadas (porque pretendiam representar o objeto) do que os sinais. Isso porque “a pantomima quer fazer com que você veja ‘o objeto’, enquanto o sinal quer fazer com que você veja o símbolo convencionado para esse objeto” (GESSER, 2009, p. 21).

          5. A língua de sinais é o alfabeto digital?

Há outra constatação importante: a língua de sinais não é o alfabeto digital, o qual é um recurso utilizado pelos surdos sinalizadores para soletrar, manualmente, as palavras (soletração e datilologia). Assim, apesar de ter uma importante função na interação entre sinalizadores, o alfabeto digital não é uma língua, apenas um código para a representação manual das letras alfabéticas. Outro detalhe importante é que a soletração só é possível entre interlocutores alfabetizados. Ademais, o alfabeto digital da Libras não é o mesmo utilizado pelos surdos-cegos, que precisam pegar na mão do interlocutor para, nela, produzir o sinal.

          6. A língua de sinais é artificial?

Outro aspecto que abordamos e, para isso, recorremos a Vygotsky, é o fato de que a comunicação manual é inerente ao ser humano e já existia entre os hominídeos pré-históricos, sendo, portanto, natural, como exposto anteriormente. Dizemos que uma língua é artificial quando é construída por um grupo de indivíduos, com um objetivo específico, como o caso do Esperanto, língua criada pelo russo Ludwik Zamenhof, em 1887, com o objetivo de estabelecer uma comunicação internacional fácil. De maneira semelhante, foi criado o Gestuno, com a intenção de ser uma língua de sinais universal, apresentado pela primeira vez em 1951 no Congresso Mundial da Federação Mundial dos Surdos, mas que não conseguiu aceitação plena entre os surdos por ser inventada. Logo, a língua de sinais não é artificial.

          7. A língua de sinais é universal?

Com o histórico apresentado na segunda seção desta unidade, já demonstramos que a língua de sinais não é universal, pois existe diferença entre as Línguas de Sinais utilizadas em países diferentes. No caso do Brasil, a Língua Brasileira de Sinais é denominada Libras e, portanto, é brasileira, não podendo ser considerada uma língua estrangeira.

A Libras é uma língua nativa, de falantes nativos e brasileiros, utilizada em todo território nacional ao lado da língua oficial – o português – e ao lado de outras línguas também praticadas no país, como as diferentes línguas das comunidades indígenas. Assim, a Libras é a língua materna e constitutiva do falante surdo, estruturante do seu inconsciente e fundamental para a construção de suas subjetividade e identidade.

Estudos linguísticos desenvolvidos por pesquisadores brasileiros confirmam que a Libras é uma língua que, como qualquer outra, tem sintaxe, semântica, morfologia e gramática próprias. Desse modo, não se trata, absolutamente, de um conjunto de gestos, mímicas ou de português sinalizado. Já comentamos, mas é importante frisar que as Línguas de Sinais, por comprovação científica, cumprem todas as funções de uma língua natural e, mesmo assim, ainda sofrem preconceito e são desvalorizadas diante das línguas orais, visto que são consideradas uma derivação da gestualidade espontânea, como uma mescla de pantomima e sinais icônicos.

Além das características icônicas, alguns preconceitos a respeito das Línguas de Sinais fortalecem a ideia de uma língua de sinais única, ao considerarem que a comunicação por gestos é intuitiva e espontânea e, por conseguinte, a língua de sinais deveria ser igual para todos os surdos. Ora, primeiro, já demonstramos que gestos e sinais são coisas diferentes. Os gestos podem ser associados à mímica e, portanto, uma comunicação intuitiva. Os sinais, por sua vez, são símbolos, logo, arbitrários, porém convencionados pelos seus usuários.

Nesse sentido, existe uma diferença importante entre as Línguas de Sinais e as orais. Quando surdos de diferentes nacionalidades se encontram, mesmo um não conhecendo a língua de sinais do outro, são capazes de efetuar a comunicação com mais facilidade do que os ouvintes. De acordo com Felipe (2009, p. 20), isso se deve “à capacidade que as pessoas surdas têm em desenvolver e aproveitar gestos e pantomimas para a comunicação e estarem atentas às expressões faciais e corporais das pessoas”. Outra coisa que facilita essa comunicação é o fato de essas línguas terem muitos sinais que se assemelham às coisas representadas.

          8. As Línguas de Sinais são dependentes das línguas orais?

Os linguistas que estudaram as Línguas de Sinais de diferentes países concluíram que, embora haja semelhanças entre as Línguas de Sinais e as orais – os chamados “universais linguísticos” –, que permitem identificá-las como línguas, e não linguagens, como as utilizadas pelos animais, elas apresentam diferenças consideráveis entre si, as quais não dependem das línguas orais utilizadas nesses países.

Por exemplo, Brasil e Portugal têm a mesma língua oral oficial, o português, mas as Línguas de Sinais desses países são muito diferentes, e isso também acontece com os Estados Unidos e a Inglaterra. Desse modo, a língua de sinais não é subordinada à língua oral majoritária do país, ou seja, as Línguas de Sinais são, completamente, independentes das línguas orais dos países em que são produzidas. É possível, porém, que países diferentes usem a mesma língua de sinais, como é o caso dos Estados Unidos e do Canadá.

Da mesma forma que acontece com as línguas faladas oralmente, quando algumas possuem as mesmas raízes (por exemplo, português, espanhol e italiano), há correspondências entre as Línguas de Sinais de diferentes países. A Libras e a ASL representam essa explicação, pois são derivadas da LSF. Além disso, nelas, igualmente, existem variações, assim como há os regionalismos e os dialetos em línguas orais. Essas variações se devem às culturas diferentes e às influências diversas no sistema de ensino, por exemplo.

Dessa forma, caro(a) aluno(a), você deve se conscientizar de que não é possível falar em Libras e em português ao mesmo tempo, pois a Libras é “falada de boca fechada”. As pessoas ouvintes, fluentes em Libras, costumam misturar as duas línguas na comunicação com surdos e utilizam os sinais, mas com a estrutura da Língua Portuguesa. Normalmente, o surdo não compreende essa mistura de línguas, pois a construção de sentido depende da estrutura e, portanto, da fidelidade à gramática da língua de sinais.

          9. As Línguas de Sinais são exclusividade dos surdos?

Como você já sabe, as Línguas de Sinais não são exclusividade dos surdos. Como expõe Reily (2004), os ouvintes que apresentam distúrbios de fala deveriam se apropriar da língua de sinais. Afinal, em diferentes situações, sempre que existe necessidade, como no caso dos monges, dos mergulhadores ou dos índios americanos, o homem cria saídas para permitir a interação com o seu semelhante.

          10. O que é um tradutor intérprete de Libras e Língua Portuguesa?

É a pessoa que, sendo fluente em Língua Brasileira de Sinais e em Língua Portuguesa, tem a capacidade de verter, em tempo real (interpretação simultânea) ou com pequeno espaço de tempo (interpretação consecutiva), a Libras para o português ou ele para Libras. A tradução envolve a modalidade escrita de pelo menos uma das línguas envolvidas no processo.

A função de traduzir/interpretar é singular, haja vista que a atuação desse profissional leva-o a interagir com outros sujeitos e a manter relações interpessoais e profissionais, que envolvem pessoas com surdez e ouvintes, sem que esteja efetivamente envolvido nelas, pois sua função é, unicamente, mediar a comunicação. Assim, ao mediar a comunicação entre usuários e não usuários da Libras, o tradutor/intérprete deve observar preceitos éticos no desempenho de suas funções, entendendo que não pode interferir na relação estabelecida entre a pessoa com surdez e a ouvinte, por exemplo, a menos que seja solicitado.

Aspectos Linguísticos da Libras

A estrutura gramatical da Libras é organizada a partir de cinco parâmetros que estruturam sua formação nos diferentes níveis linguísticos: a configuração da(s) mão(s) – CM, movimento – M, ponto de articulação – PA, orientação das mãos – O, e componentes não manuais, que são as expressões faciais e corporais.

A configuração de mão (CM) tem sido coletada pelos pesquisadores em comunidades de surdos das principais capitais brasileiras, e se trata do ponto de partida da articulação do sinal, pois uma mesma CM possibilita a produção de vários sinais. Por exemplo, a CM em “L” está presente nos sinais de “televisão”, “trabalho”, “papel”, “educação”, dentre outros.

Ferreira-Brito (1995) propõe 46 configurações de mão. Atualmente, o dicionário digital de Língua Brasileira de Sinais, organizado pela Acessibilidade Brasil (disponível em: <www.acessobrasil.org.br/libras>. Acesso em: 24 out. 2018) apresenta 73 configurações. A seguir, há as configurações de mão mediante as cinco primeiras que compõem o alfabeto digital.

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

A Libras não se resume a escrever as palavras utilizando o alfabeto digital. A escrita datilológica só é utilizada para nomes próprios ou para palavras que ainda não têm um sinal ou que não podem ser facilmente representadas por um classificador icônico. Essa escrita é feita em Libras, letra por letra, da mesma forma que na Língua Portuguesa, mas soletrando, com a mão, o nome Maria (escrita ou fala); M-a-r-i-a (soletração), por exemplo.

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

É importante soletrar devagar, formando as palavras com nitidez. Entre as palavras soletradas, é melhor fazer uma pausa curta ou mover a mão direita para o lado esquerdo, como se estivesse empurrando a palavra já soletrada para o lado. Conforme afirma Reily (2004),

os nomes podem ser transmitidos por datilologia, quando o surdo está alfabetizado, mas a comunidade surda prefere a prática de atribuir um sinal que identifica cada pessoa. Esse sinal adjetiva características físicas da pessoa. Por isso, dois meninos chamados Jonatas, por exemplo, podem ter sinais diferentes um do outro, porque um tem uma covinha no queixo e o outro tem o cabelo encaracolado, também pode acontecer de dois alunos de nomes diferentes terem o sinal parecido (REILY, 2004, p. 132).

O movimento (M) é uma importante unidade mínima, pois, além de participar ativamente da produção do sinal, atribui graça, beleza e dinamismo a essa língua. Ao usarem a língua de sinais, as pessoas ouvintes, normalmente, fazem os sinais de maneira mais estática, porque, embora o movimento seja uma parte integrante dessa língua, ele é realizado com mais propriedade pelos surdos, que são visuais, mais fluentes em relação aos ouvintes e conhecem a língua profundamente.

Associar aspectos como o movimento e as expressões não manuais à produção do sinal não é algo simples para os ouvintes. Essa habilidade exige muita competência e fluência na língua, além de boa coordenação motora, domínio do movimento e orientação no espaço. Desse modo, para os ouvintes usuários da língua oral-auditiva, o domínio dessas habilidades é algo bem complexo. Como exposto, por serem seres visuais, os surdos adquirem essas habilidades com muito mais naturalidade e facilidade do que os ouvintes.

Então, para que haja movimento, é preciso haver espaço, logo, o movimento é indissociável do espaço. As variações do movimento servem para diferenciar itens lexicais, como nome e verbo, para indicar a direcionalidade do verbo. Por exemplo, o verbo “olhar” e “olhar para” indicam a variação em relação ao tempo dos verbos: “olhe para”, “olhe fixo”, “observe”, “olhe por um longo tempo”, “olhe várias vezes”. Assim, os movimentos se diferenciam pela direcionalidade, pelo tipo, pela maneira (tensão e velocidade) e pela frequência do sinal (movimentos simples ou repetidos).

Quanto à direcionalidade o movimento pode ser: unidirecional (proibir e mandar); bidirecional (discutir, julgamento) e multidirecional (incomodar, pesquisar).  Em relação ao tipo, os movimentos podem ser retilíneos (encontrar, estudar); helicoidal (macarrão, azeite); circular (brincar, preocupar), semicircular (surdo, coragem); sinuoso (Brasil, navio) e angular (raio, difícil).

Em relação à maneira, tensão e velocidade, por exemplo, o verbo “olhar”, pode ser sinalizado rapidamente, para dizer que a pessoa apenas avistou, ou longamente, significando que a pessoa olhou com atenção. No caso da frequência do sinal (movimentos simples ou repetidos), isso pode ser verificado na diferença entre o substantivo e o verbo, por exemplo, cadeira e sentar. Ademais, um sinal pode ser realizado sem movimento. Observe os exemplos.

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

  • Circular

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

  • Semicircular

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

  • Helicoidal

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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  • Unidirecional

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

  • Bidirecional

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

A orientação das mãos (OM) é a direção para a qual a palma da mão aponta na produção do sinal. É possível identificar seis tipos de orientações da palma da mão em Libras: para cima, para baixo, para o corpo, para frente, para a direita e para a esquerda. Também pode ocorrer a mudança de orientação durante a execução de um sinal, por exemplo, no sinal para montanha.

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

Além disso, a orientação das mãos é importantíssima e diferencia o significado em pares mínimos que possuem CM, M e PA iguais, como ajudar e ser ajudado, eu perguntar e me perguntar, eu responder e responder para mim etc. Assim, além de ser utilizado na flexão de verbos, o parâmetro OM é empregado na marcação de negativas, como em querer e não querer, gostar e não gostar etc.

a) Gostar:

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

b) Aprender:

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

c) Desculpar:

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

Em relação à expressão facial, como você já sabe, a Libras conta com uma série de componentes não manuais, como a expressão facial e o movimento do corpo, que, muitas vezes, podem definir ou diferenciar significados entre os sinais. Esses componentes envolvem movimento da face, dos olhos, da cabeça e do tronco. A expressão facial e a corporal podem traduzir alegria, tristeza, raiva, amor, encantamento etc., atribuindo mais sentido à Libras e, em alguns casos, determinando o significado de um sinal. Observe os exemplos:

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

Os sinais são executados em Libras dentro de um espaço bem definido, denominado espaço de sinalização, que abrange a área delimitada pelos quadris e o topo da cabeça. É a manipulação dos sinais no espaço que estabelecem as relações gramaticais em Libras. A informação gramatical se apresenta simultaneamente ao sinal e é produzida por mecanismos espaciais que envolvem dois aspectos: a incorporação, usada, por exemplo, para expressar localização, número, pessoa, e o uso de sinais não manuais, como movimentos do corpo e expressões faciais.  

Expressão Facial ou Modulação não Manuais em Libras

São as componentes não manuais, particularmente, as expressões faciais que estabelecem a modulação em Libras, equivalente à entonação nas línguas orais. A Libras também usa modulações de olhar e expressões faciais e corporais para transmitir a intensidade do verbo apresentado e sua significação no contexto. Ainda, há as modulações de grau e de intensidade, pelas expressões faciais, que podem ser consideradas gramaticais. Essas marcações são denominadas “marcações não manuais”.

A sinalização é sempre acompanhada pela posição da cabeça, por movimentos da cabeça, pela postura do corpo e, principalmente, pela expressão facial. Esses componentes podem indicar alegria, tristeza, raiva, amor, encantamento, dentre outros sentimentos, dando mais sentido à Libras e, como você já sabe, determinando o significado de um sinal.

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

Observe os exemplos.

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

O olhar também faz parte das expressões faciais, particularmente na apontação. Por exemplo, aponta-se para o lado e o olho segue o dedo. Se a apontação é para cima, os olhos também se direcionam para cima. Observe:

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

Por sua vez, o ponto de Articulação (PA) é a segunda principal unidade mínima e refere-se ao lugar do corpo em que será realizado o sinal. Os sinais podem ser produzidos em quatro pontos de articulação: tronco, cabeça, mão e espaço neutro e subespaços (nariz, boca, olho etc.).

Muitos sinais envolvem um movimento indo de um ponto de articulação para outro, mas, mesmo assim, cada sinal tem apenas um ponto de articulação, mesmo que ocorra um movimento de direção. Se dois sinais têm configuração de mão e movimento iguais, mas pontos de articulação diferentes, eles são diferentes. Por exemplo, os sinais de “amar”, “ouvir”, “aprender” e “laranja” diferem-se entre si apenas pelo ponto de articulação.

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

Aspectos Morfológicos

A Morfologia se refere à maneira como as palavras são formadas em uma língua. Nesse sentido, a Libras tem um léxico e recursos que permitem a criação de novos sinais. Esses recursos são denominados derivação, composição e incorporação.

Na derivação, um novo sinal é obtido pelo enriquecimento do radical (raiz) com vários movimentos e contornos no espaço. A maneira mais comum de criação de novos sinais em Libras é realizar mudanças no movimento, para derivar verbos de substantivos e vice-versa.

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

Outra forma bastante usual de criar novos sinais é a composição, em que, como o próprio nome indica, dois ou mais sinais se combinam para criar um novo sinal. Observe os exemplos a seguir.

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

Da mesma forma que nas línguas orais, em que uma palavra é polissêmica, isto é, admite diferentes significados, existem sinais em Libras que também admitem diferentes significados. Portanto, o contexto em que esses sinais são usados estabelece as diferenças. Observe os seguintes exemplos:

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

Apesar de a Libras ser independente da Língua Portuguesa, alguns sinais são originários das iniciais da representação escrita de seus significados, demonstrando que, da mesma forma que nas línguas orais, em que uma língua influencia a criação de novas palavras (exemplo: deletar), a Libras é influenciada pela Língua Portuguesa.

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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Tipos de Frases em Libras

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

As sobrancelhas e o rosto são neutros.

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

A negativa pode ser feita de duas maneiras: com as sobrancelhas franzidas e a cabeça sendo balançada para os lados, como na Figura 1, ou com a cabeça parada, com as sobrancelhas franzidas e o dedo sendo balançado, representando “não”, como na Figura 2.

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

As sobrancelhas levantadas e a boca um pouco aberta.

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

  1. Sobrancelhas franzidas levemente, não como na frase imperativa, apenas de maneira séria. Por exemplo, em uma reunião, uma audiência ou entrevista, há algumas perguntas que combinam com essa face, por exemplo, “Sabe escrever um livro?”; “Em qual banco você sacou dinheiro?”; “Quer casar com minha filha e vai cuidar bem dela?”; “Vai trabalhar amanhã?”; “Vai vir comigo para casa agora?”; “Você assume a responsabilidade de seu trabalho?”.
  2. Cabeça levantada levemente, sobrancelhas arqueadas e boca um pouco aberta, para expressar o pronome interrogativo “quem”: “Quem é?”; “Quem vem?”; “Bolsa de quem?”; “Carro de quem?”.
  3. Sobrancelhas franzidas e curvadas com a boca em forma “semicircular”, para expressar a pergunta “cadê”: “Cadê a bola?”.
  4. Boca em “U” e as sobrancelhas neutras expressam “o que”, referindo-se a questões do tipo: “O que tem aí?”; “O que vai fazer?”; “O que tem dentro?”.
  5. Sobrancelhas levantadas e boca fechada, para perguntar “quer?” e fazer perguntas que questionam, por exemplo, o desejo de outra pessoa, e podem ser utilizadas em conversas cotidianas. Por exemplo, “Gosta de comer morango?”; “Vai viajar hoje?”; “Você é casad@?”; “Quer refrigerante?”; “Quer bolacha?”; “Você sabe cozinhar?”; “Você consegue dirigir um carro grande?”.
  6. Sobrancelhas franzidas e boca fechada expressam perguntas referentes a identidade pessoal, saudações cotidianas, locais, por meio de palavras como “onde”, “por que”, “para que”, “nome”, “idade” e “sinal”. Por exemplo, “Onde fica o Correio?”. Também é possível uma combinação das expressões em frases interrogativas e exclamativas, como em “Para que muita roupa (risos)?”.

Assim, o importante é utilizar a expressão adequada a cada pergunta no contexto das conversas cotidianas.

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Figura

As sobrancelhas franzidas e o rosto representando “brava”.

Tipos de Negação

Há três tipos de negação: somente acrescentando um sinal para “não”; incorporando a negação e utilizando sinais diferentes. Por exemplo, “não + conhecer”: é preciso sinalizar “conhecer”, com a cabeça balançando, o que demonstra “não”.

Nas fotos a seguir, observe que o sinal para a negação é diferente do sinal afirmativo, pois já está incorporando a negação. É válido, salientar, porém, que são poucos os sinais em que a negação está incorporada.

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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Flexão de Gênero

A flexão de gênero, quando necessária, é marcada pelo sinal de masculino ou feminino antecedendo o substantivo. Já explicamos sobre a morfologia e os sinais compostos ou a composição de sinais, então, quando se faz a transcrição da Libras para a Língua Portuguesa, o símbolo @ significa que não há marcação de gênero, por isso, precisamos acrescentar primeiro o gênero, depois o sinal, por exemplo, “tio = homem^C na testa”. No caso de animais, também é preciso acrescentar a flexão de gênero, por exemplo, “égua = mulher^cavalo”.

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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Grau ou Advérbio de Intensidade

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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Tipo de Verbos

Em Libras, os verbos classificam-se em simples, ou sem concordância, direcional, ou com concordância, e espacial.

Os verbos simples ou sem concordância não se flexionam em pessoa e número e não incorporam afixos locativos, mas alguns apresentam flexão de aspecto. Todos os verbos ancorados no corpo são simples, porém há alguns que são feitos no espaço neutro. Exemplos dessa categoria são “precisar”, “pensar”, “conhecer”, “casar”, “aprender”, “saber”, “inventar” e “gostar” (UFSC, 2008, on-line).

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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Os verbos com concordância ou direcionais se flexionam em pessoa, número e aspecto, mas não incorporam afixos locativos. Exemplos dessa categoria são “dar”, “enviar”, “responder”, “perguntar”, “dizer” e “provocar”, que são subdivididos em concordância pura e reversa (backwards). Os verbos com concordância apresentam direcionalidade e orientação. A primeira está associada às relações semânticas (source/goal). A segunda, a orientação da mão voltada para o objeto da sentença, está associada à sintaxe (UFSC, 2008, on-line).

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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O verbo espacial tem as mesmas características que os verbos com concordância. São sinais de movimentos direcionais, flexionam-se em pessoa e, além dos objetos, incorporam advérbios de lugar como afixos (afixos locativos). Veja os exemplos a seguir.

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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Classificadores

Ainda no que se refere às categorias ou estruturas gramaticais da Libras, há os classificadores, os quais são auxiliares da língua de sinais, para determinar as especificidades e “dar vida” a uma ideia ou a um conceito ou signos visuais. Isso significa que o classificador representa a forma e o tamanho dos referentes, assim como características dos movimentos dos seres em um evento, tendo, pois, a função de descrever o referente dos nomes, adjetivos, advérbios de modo, verbos e locativos.

A denominação dos classificadores (CLs) como “auxiliares”, importantíssimos para as Línguas de Sinais, foi atribuída pela comunidade de linguistas, para fazer a comparação com as funções da língua falada ou oral e suas estruturas gramaticais. Para os pesquisadores surdos, essa estrutura gramatical da Libras ainda está à procura de uma definição adequada para nomeá-la, de acordo com as perspectivas viso-espaciais. Para as Línguas de Sinais, a descrição e a reprodução da forma, do movimento e da relação espacial do que se quer enunciar são fundamentais, pois tornam mais claro e compreensível o significado do que está sendo exposto. Essa é a principal função dos classificadores.

Em Libras, esses classificadores são formas representadas por configurações de mão, que podem aparecer junto de verbos de movimento e de localização, para classificar o sujeito ou o objeto que está ligado à ação do verbo. Além de, como já exposto, tornarem mais compreensível o significado do enunciado, os classificadores desempenham uma função descritiva e  podem detalhar som, tamanho, textura, paladar, tato, cheiro, formas em geral de objetos inanimados e seres animados etc.

Muitos classificadores são icônicos em seu significado, devido à semelhança entre a sua forma ou ao tamanho do objeto referido. Como os classificadores obedecem a regras de construção e são representados sempre por configurações de mãos específicas associadas a expressões faciais, corporais e à localização, ou seja, aos parâmetros da Libras, apesar de serem icônicos, não podem ser considerados mímica, como já exposto anteriormente. A seguir, há mais alguns exemplos. Observe-os.

Logomarca:

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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Corpo:

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Plural:

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Instrumental:

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Elemento:

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Específico:

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Descritivo:

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Classificador de sintaxe: o classificador descreve uma ação e o verbo “incorpora” o sujeito ou o objeto. Por exemplo, “gato X cachorro, morder”. O sinal para o verbo é igual, mas é preciso sinalizar qual é o animal que está mordendo. Isso também acontece com os verbos “andar” e “correr”. Observe os exemplos a seguir.

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

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No caso de “elefante andando e de porco andando”, por exemplo, por meio dos sinais, é possível perceber que há diferença entre os dois animais.

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Em relação ao verbo “beber”, é necessário incorporar o objeto utilizado, como no exemplo a seguir.

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No caso de  “andar”, incorpora-se a quantidade de pessoas que estão andando.

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Quanto a “escovar”, “pente”, “escova para roupa”, “escovar dentes”, os sinais são diferentes. Observe os exemplos a seguir.

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A seguir, a mais dois exemplos.

Comer:

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Lavar:

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Esses sinais são muito parecidos com o que estão representando, mas não são mímicas, porque há configuração de mãos, movimento, orientação, ponto de articulação e expressões não manuais. Assim, o classificador é uma representação da Libras que mostra detalhes específicos, permitindo a descrição de pessoas, animais e objetos, bem como a movimentação ou a localização. Os classificadores são muito importantes, pois ajudam a construir a estrutura sintática da Libras.

Marcação de Tempo Verbal

Os tempos verbais em Libras se resumem em presente, passado e futuro. Caso seja utilizado o tempo presente, ele pode ser enfatizado pelos sinais de “agora” ou “já”, seguidos do sinal do verbo desejado. Caso seja o tempo passado, utilizam-se os sinais de “ontem” ou “muito tempo atrás”, e o sinal do verbo. Por fim, caso seja o tempo “futuro”, sinaliza-se “amanhã” ou um “futuro mais distante”, em seguida, o sinal do verbo. A ordem pode ser invertida em qualquer um dos casos, sinalizando-se, primeiro, o verbo e, depois, o advérbio de tempo.

Além disso, a Língua Portuguesa possui derivações e a própria morfologia para deixar claro o tempo verbal e o pronome pessoal que está sendo utilizado. Em Libras, entretanto, precisamos de um sinal específico para o tempo verbal, outro para o pronome pessoal e outro para o verbo. Por exemplo:

Entender:

1- Eu

Entendi = passado.

Entendo = presente.

Entenderei = futuro.

2- Nós

Entendíamos = passado.

Entendemos = presente.

Entenderemos = futuro.

Em Libras fica assim:

1- Nós

Nós entender já.

Nós entender sim.

Nós ir entender.

2- Eu

Eu entender antes.

Eu ainda entender.

Eu futuro entender.

Então, precisamos sinalizar duas palavras ou mais, pois é impossível sinalizar apenas o verbo com a derivação, como em Língua Portuguesa. Observe outros exemplos:

Mamãe comprar mercado já ontem.

Mamãe comprar mercado amanhã.

Mamãe comprar vivo mercado.

O sinal de “vivo”, ou “vida”, acompanhando o sinal de um verbo, indica o gerúndio. Desse modo, “Mamãe comprar vivo mercado” significa “Mamãe está comprando no mercado”.

Sinais para passado:

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Sinais do tempo presente:

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Sinais para futuro:

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Aspectos Sintáticos

A sintaxe da Libras não pode ser estudada tendo como base a da Língua Portuguesa, porque tem gramática diferenciada, independente da língua oral. A ordem dos sinais na construção de um enunciado obedece a regras próprias, que refletem a forma de o surdo processar suas ideias, com base em sua percepção visual-espacial da realidade.

Em relação à ordem da frase em Libras, embora a construção SVO (sujeito – verbo – objeto) seja predominante, de acordo com Quadros e Karnopp (2004), a ordem “tópico comentário” ou OSV parece ser a mais comum, principalmente entre os surdos menos oralizados. Também é possível encontrar construções como SOV e OSV.

Os advérbios temporais e de frequência não podem interromper uma relação entre o verbo e o objeto, sendo que os temporais podem aparecer antes ou depois da oração. Por exemplo, “João comprar carro amanhã” ou “Amanhã João comprar carro”. Os advérbios de frequência, por sua vez, podem aparecer antes ou depois do complemento, como em “Eu bebo leite algumas vezes” ou “Eu, algumas vezes, bebo leite”. Assim, encerramos nosso estudo a respeito dos aspectos linguísticos da Libras.

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

SAIBA MAIS

O reconhecimento da potencialidade da Libras para exprimir conhecimentos das mais variadas naturezas tem se consolidado de tal forma que já existe uma revista científica virtual em Libras. Esse tipo de publicação tem a dupla função de garantir a autoria de textos científicos produzidos por surdos, que, para serem apresentados na forma escrita, precisam de revisão de ouvintes, e de contribuir com a constituição de um corpus de conhecimento em Libras, acessível aos surdos. Para conhecer algumas produções em formato de videorregistro, acesse o site da Universidade Federal de Santa Catarina, disponível em: http://bit.ly/32hrtmi.

Indicação de leitura

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Para complementar seus estudos sobre o tema, indicamos livros como “Que palavra que te falta? Linguística, educação e surdez”, de Regina Maria de Souza, publicado em 1998, pela editora Martins Fontes, de São Paulo. Embora não seja um livro sobre a história da educação dos surdos, esse livro é imprescindível para a compreensão do papel da língua de sinais na constituição do surdo como sujeito, permitindo avaliar melhor a “tragédia” que significou para os surdos a proibição do uso dessa língua e o que significa esse resgate que vivenciamos atualmente. O livro apresenta, ainda, no Capítulo V, um resgate histórico a respeito das pesquisas sobre Línguas de Sinais.

O segundo livro que podemos indicar é “Libras: conhecimento além dos sinais”, de Maria Cristina da Cunha Pereira, Daniel Choi, Maria Inês da S. Vieira,  Priscilla Roberta Gaspar e Ricardo Nakasato. Esse material foi publicado pela editora Pearson, de São Paulo, em 2011.

Os pontos de articulação (PA) são representados na estrutura dos recursos inerentes

Dentre esses autores, duas são ouvintes. Maria Cristina é professora titular da PUC/SP, doutora em Linguística. Por sua vez, Maria Inês é mestre em Educação, na área de distúrbios da comunicação, e tradutora-intérprete de nível superior em LIBRAS, certificada pelo PROLIBRAS. Os demais autores são surdos, professores de Libras, com graduação em Letras/Libras pela UFSC. O livro, composto por poucas páginas e com um texto fluente e agradável, deveria ser leitura obrigatória para todos aqueles que pretendem se aproximar do mundo dos surdos. Enfatizando aspectos fonológicos, morfológicos e sintáticos da Libras, o livro apresenta, ainda, a síntese histórica da educação de surdos e as discussões sobre cultura e identidades surdas, além de tecer comentários sobre legislação e proposta inclusiva.

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REFLITA

“Ainda hoje, muitos ouvintes tentam diminuir os surdos para que vivam isolados e tendo de assumir a cultura ouvinte, como se esta fosse uma cultura única; ser “normal” para a sociedade significa ouvir e falar oralmente. Os ouvintes não prestam atenção aos surdos que se comunicam por meio da Libras. Consequentemente, não acreditam que os surdos sejam capazes de estudar em faculdade ou realizar mestrado e doutorado, por exemplo. Os sujeitos ouvintes veem os sujeitos surdos com curiosidade e, às vezes, zombam por eles serem diferentes” (STROBEL, 2008, p. 22). E você? O que pensa a respeito dos surdos?

Considerações Finais

O caminho que trilhamos nesta unidade começou com a contextualização do tema. Desse modo, discutimos as relações entre pensamento e linguagem, ressaltando que o importante para o ser humano não a língua que se usa, mas ter uma língua. Esperamos que, com esta unidade, tenhamos demonstrado a importância da língua de sinais, nesse caso, da Libras, para o desenvolvimento cognitivo e social dos surdos, além de possibilitado a desconstrução de crenças e preconceitos a respeito dos surdos e da surdez.

Nesse sentido, como você já sabe, além de favorecer o desenvolvimento cognitivo e social do aluno, como em sua produção escrita, a utilização da Libras evidencia que é falsa a ideia de que fazer uso de sinais poderia ser um fator complicador para a aprendizagem da língua oral. Assim, concordamos com Gesser (2009, p. 59), quando o autor afirma que muitas das barreiras erguidas contra as Línguas de Sinais ainda são decorrentes da forte influência da filosofia oralista na educação de surdos.

Muitos pesquisadores, entretanto, “[...] têm abolido a visão exposta, ao afirmarem justamente o inverso: é o não uso da língua de sinais que atrapalha o desenvolvimento e a aprendizagem de outras línguas pelo surdo”. Essa visão dos pesquisadores preconiza o uso da Libras não apenas como apoio no aprendizado da Língua Portuguesa, afinal, é mais fácil se aprender uma segunda língua apoiando-se em uma língua já adquirida, mas e, no nosso entender, principalmente, em função de que a língua de sinais, ao ser incorporada pelo surdo, favorece o desenvolvimento cognitivo desse sujeito.

Gesser (2009, p. 59) vai mais além, ao considerar que “[...] a relação do indivíduo surdo profundo com a língua oral é de outra ordem (dado que não ouvem!), a incorporação da língua de sinais é imprescindível para assegurar condições mais propícias nas relações intra e interpessoais” e, ainda segundo a autora, na mesma página, seriam essas relações intra e interpessoais que “[...] constituem o funcionamento das esferas cognitivas, afetivas e sociais dos seres humanos”.

Esperamos, portanto, com esta unidade, termos convencido você, caro(a) aluno(a), acerca da importância da Libras para a educação e para a vida do surdo. Assim, finalizando esta primeira unidade, destacamos alguns aspectos das línguas de sinais, de maneira geral, e da Libras, em particular, a seguir.

  • A língua de sinais é tão natural e tão complexa quanto as línguas orais, dispondo de recursos expressivos suficientes para permitir que seus usuários se expressem sobre qualquer assunto, em qualquer situação, domínio do conhecimento e esfera de atividade.
  • A Libras é uma língua adaptada à capacidade de expressão dos surdos brasileiros, devendo, portanto, ser conhecida pelo menos em seus aspectos fundamentais pelos professores.
  • A Libras é uma língua com gramática própria e com condições de proporcionar a comunicação efetiva entre os surdos, incluindo a expressão de sentimentos, a composição de poesias, a discussão filosófica, enfim, é um idioma completo.
  • As línguas de sinais não são iguais em todo o mundo.
  • As línguas de sinais, por comprovação científica, cumprem todas as funções de uma língua natural, mas ainda sofrem preconceito e são desvalorizadas diante das línguas orais, sendo consideradas uma derivação da gestualidade espontânea, como uma mescla de pantomima e sinais icônicos.
  • A língua de sinais não é subordinada à língua oral majoritária de um país, pois é, completamente, independente das línguas orais dos países onde é produzida.
  • Não é possível falar em Libras e em português ao mesmo tempo, pois a Libras é “falada de boca fechada”.

Por fim, sugerimos que, sempre que possível, você tente falar em Libras com seus colegas e estude em casa.

Atividade

A apontação em Libras faz parte da língua. Apontar é algo muito comum em Libras, diferente do português, no qual o ato de apontar pode ser considerado falta de educação. Nesse sentido, analise as afirmativas acerca da função da apontação em Libras e assinale a alternativa correta.

I. Serve para indicar localização.

II. Serve para estabelecer pontos no espaço.

III. Serve para estabelecer os tipos de frases.

IV. Serve para indicar as pessoas do discurso.

As afirmativas I e II estão corretas.

Alternativa incorreta, pois a alternativa IV também está correta.

As afirmativas II e III estão corretas.

Alternativa Incorreta, pois a alternativa III está incorreta pois os tipos de frases são estabelecidos pelas expressões faciais

As afirmativas I, II e IV estão corretas.

A alternativa está correta, pois a alternativa I é a principal função da apontação, a alternativa II porque os pontos no espaço assumem a função de referentes em uma conversa e a alternativa IV pois as pessoas em um discurso são substituídas pelos referentes marcados no espaço, pontos no espaço.

As afirmativas I, III e IV estão corretas.

A alternativa está incorreta, pois a alternativa III está correta pois os tipos de frases são estabelecidos pelas expressões faciais

Todas as afirmativas estão corretas.

Alternativa Incorreta, pois a alternativa III está incorreta pois os tipos de frases são estabelecidos pelas expressões faciais

Atividade

Leia com atenção e assinale a alternativa correta. Um classificador (Cl) é uma forma que estabelece um tipo de concordância em uma língua. Nas línguas orais, os classificadores são morfemas gramaticais que são afixados aos morfemas lexicais para especificar aquilo a que a palavra se refere, como a classe a que pertence, o gênero, a forma, o tamanho etc. Em Libras, a principal função dos classificadores é:

Alternativa incorreta, pois essa é a função do classificador em Língua Portuguesa

tornar mais claro e compreensível o que se quer falar.

Alternativa correta, pois essa é a função dos classificadores em Libras e, por isso, eles são tão importantes

proporcionar a flexão de gênero.

Alternativa correta pois esta é a função do classificador na Língua Portuguesa

evidenciar que são os únicos sinais associados às expressões faciais.

Alternativa incorreta, pois as expressões faciais enquadram-se nos componentes não manuais e constituem um dos parâmetros da Libras, estando, portanto, associadas a todos os sinais

Os tempos verbais têm sinais específicos que acompanham os verbos, para indicar presente, passado, futuro e o gerúndio

Atividade

Leia as afirmativas e assinale a alternativa correta.

I. A Libras é utilizada em todo o território nacional.

II. A Libras é universal.

III. A Libras é uma língua como qualquer outra.

IV. A Libras é uma língua visomotora.

As afirmativas I e II estão corretas.

Alternativa incorreta, pois a a alternativa II está incorreta pois a Libras é a Língua Brasileira de Sinais, ou seja, a língua do surdo brasileiro. Cada país tem sua própria língua de sinais.

As afirmativas II e III estão corretas.

Alternativa incorreta, pois a alternativa IV também está correta.

As afirmativas I, II e IV estão corretas.

Alternativa incorreta, pois a a alternativa II está incorreta pois a Libras é a Língua Brasileira de Sinais, ou seja, a língua do surdo brasileiro. Cada país tem sua própria língua de sinais.

As afirmativas I, III e IV estão corretas.

Alternativa correta, I pois a Libras é a Língua Brasileira de Sinais, língua do surdo brasileiro, III pois a Libras é um idioma completo, com sintaxe e léxico próprios e IV pois a Libras tem como canal emissor as mãos se movimentando no espaço e, como canal receptor, a visão/os olhos

Todas as afirmativas estão corretas.

Alternativa incorreta, pois a a alternativa II está incorreta pois a Libras é a Língua Brasileira de Sinais, ou seja, a língua do surdo brasileiro. Cada país tem sua própria língua de sinais.

Unidade Concluída

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Quais são os pontos de articulação em Libras?

2 - Ponto ou local de articulação Este parâmetro indica onde o sinal pode ser realizado. Ele é delimitado pela extensão máxima dos braços do emissor e ocorre tocado em alguma parte do corpo ou no espaço neutro, que é a região do meio do corpo até à cabeça ou para frente do emissor.

Quais são os parâmetros da Língua Brasileira de Sinais?

Atualmente, as pesquisas apontam a existência de cinco componentes dos sinais, os chamados Parâmetros das LS: a configuração de mão, o ponto de articulação, o movimento, a orientação e as expressões não-manuais.

Qual das alternativas corresponde a seguinte explicação um dos itens mais importantes da Libras e a expressão dos movimentos da face dos olhos da cabeça ou do tronco?

Qual das alternativas corresponde a seguinte explicação: “um dos itens mais importantes da Libras é a expressão dos movimentos da face, dos olhos, da cabeça ou do tronco; é isso que dá sentido ao sinal”.

Quanto aos parâmetros da Libras Assinale a alternativa correta?

Pergunta 2 0,2 em 0,2 pontos Sobre os parâmetros da Libras, assinale a alternativa correta: Resposta Selecionada: c. São unidades mínimas distintivas que formam os sinais. São cinco parâmetros composto por configuração de mão, ponto de articulação, movimento, orientação de mão e expressão não-manual.