O domínio da língua portuguesa é determinante para a seleção no mercado de trabalho, mas as empresas têm encontrado dificuldades em recrutar profissionais que preencham esse pré-requisito. O uso de jargões corporativos que outros funcionários não entendem e até erros gramaticais básicos, como a grafia incorreta das palavras e a falta de coesão entre as frases, comprometem a comunicação e expõem profissionais desde o nível operacional até os cargos de gestão. Em tempos em que a troca de
informações on-line virou rotina, torna-se essencial prestar atenção ao uso correto da norma culta. Vale, inclusive, participar de cursos de reciclagem para atualizar os conhecimentos. ;As pessoas têm de ser mais atentas, pois nós falamos de uma maneira muito espontânea e natural, mas, com a língua escrita e a língua falada formal, há a necessidade de ter mais cuidado;, alerta. Para a especialista, é somente por meio da leitura que se desenvolve essa habilidade. Ela sugere que os trabalhadores busquem jornais de grande circulação, revistas semanais e obras literárias, meios que usam a língua em sua possibilidade plena. Lucília lembra ainda, que, sem o domínio do português, fica mais difícil aprender outro idioma. A servidora pública Maria Abadia Silva, 49 anos, trabalha com a elaboração de pareceres e faz um curso de português para atualizar os conhecimentos. ;A redação oficial tem de estar impecável, por isso, acho importante me reciclar;, diz. Ela possui três graduações no currículo e fala inglês. Mesmo assim, acredita que, por causa da evolução da língua, o aprendizado precisa ser constante. O principal objetivo da servidora é dominar o Novo Acor do Ortográfico da Língua Portuguesa. Colega de Maria Abadia no curso, Jonas Ricardo Rossi Cardoso, 24 anos, atua
em uma área que costuma ser lembrada por concentrar profissionais pouco capacitados na leitura e na escrita. Ele é bancário e trabalha com informática. O jovem relata que, ao longo da graduação, não teve aulas de língua portuguesa, já que o conteúdo não constava do currículo. Esse é um dos motivos que o fez buscar a reciclagem. Jonas conta que alguns amigos não compreendem sua motivação para ter voltado a estudar. ;O pessoal pergunta qual a razão de eu fazer essas aulas se já trabalho;, conta.
Mesmo assim, ele aposta na qualificação contínua. ;Também acho que só um curso não resolve, não vai ensinar para a gente o que deveríamos ter aprendido ao longo de oito, nove anos de escola;, finaliza. De acordo com o professor Filemon, uma das principais falhas na hora de redigir textos está na supressão dos conectivos, sobretudo quando se trata de mensagens menos formais, como e-mails. ;A linguagem da internet leva a isso. No Twitter, por exemplo, você tem uma quantidade máxima de caracteres;, assinala. No ambiente profissional, no entanto, não há espaço para esse tipo de erro. Isso não significa que o texto precisa ser erudito ou complexo, deve apenas seguir o padrão formal da língua ;O melhor é que seja simples.; Escrever errado pode, inclusive, prejudicar o profissional em uma possível promoção. Ler muito ; o que inclui gramáticas e o dicionário ; e buscar cursos de português são as dicas para driblar o problema. Dad Squarisi ressalta que redigir bem não é questão de talento, nem dom divino, depende de treino. ;Um bom texto é aquele que dá o recado: eu digo o que tenho que dizer e a pessoa entende o que eu quero que ela entenda. Para isso, tem que ser claro, preciso, conciso e sedutor, para a que a pessoa embarque no meu texto;, conclui. A consultora Sueli Aznar, da empresa especializada em gestão de carreira e talentos Right Management, alerta que as deficiências no domínio da língua afetam não só os funcionários que ocupam níveis operacionais, mas também os gestores. Segundo ela, esses erros podem ser vistos nas entrevistas de emprego e em apresentações. ;Quando ele (o executivo) quer expressar uma posição mais estratégica, é mais difícil;, indica. O uso de termos em inglês que podem ser substituídos por expressões no idioma natal também é um problema, pois mostra a incapacidade de fazer relações com as palavras em português e o profissional corre o risco de parecer arrogante. ;Na verdade, isso mostra que ele não se apropriou perfeitamente do conceito;, afirma. Novas regras Palavra de especialista Falhas no ensino Silvia Colello, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e autora do livro A escola que (não) ensina a escrever. |