Quais as principais medidas da política neoliberal dos anos 1980?

Introdução

  • 1 As políticas econômicas neoliberais foram reformas institucionais implementadas na América Latina e (...)
  • 2 Esta investigação é parte de uma pesquisa que resultou em minha tese de doutorado em Ciência Políti (...)

1Adécadade1990 naAméricaLatina,comseusrecém(re) estabelecidosregimesdemocráticos,foimarcadapela implementaçãoeconsolidaçãodepolíticas econômicas neoliberais1. Essas políticas foram justificadas como mecanismo de combate à criseeconômicadosanos 19802. Argumenta-se que essas reformas causaram,entreoutras consequências,oaumentododesemprego/subempregoe dapobreza naregião;quese visibilizarampelaextensãoeintensidade. Nesta perspectiva, o objetivo desse estudo é verificar, através de estatísticas descritiva e inferencial, pelo modelo de regressão, a relação entre a implementação de reformas econômicas e o aumento do desemprego e da pobreza no decênio de 1990 na América Latina, observando a força, a significância e o quanto o aumento das reformas impactou no crescimento de desempregados e pobres na região.

As bases teóricas: trabalho e pobreza

2A pesquisa fundamenta-se em duas categorias analíticas: trabalho e pobreza. No que se refere ao trabalho, a discussão perpassa pelo debate acerca de suas transformações no final do século XX. Nestaperspectiva,Robert Castel(1998)chamaaatençãoparaaameaçadefraturasocialocasionada peloprocessodeglobalizaçãoepelas políticaseconômicasneoliberais, através de uma “desmontagemno sistemadeproteções,desestabilizandoasociedade salarial,construídaesolidificadanodecorrerdoséculoXX. Na sociedadesalarial, analisada porCastel (2010), amaioriadossujeitossociaistem suainserçãosocialrelacionadaaolugar queocupanoespaçodotrabalho, nãoseresumindoàrenda,mas tambémseustatus,suaproteção eidentidade.Afragmentaçãodessasociedade, para o referido autor,éagrandequestão socialnaatualidade,porquenãoéapenasofimdoplenoemprego, étambémoaumentodainstabilidade doempregoeoreaparecimentodetrabalhadoressemtrabalho”. ParaCastel(2010), estemomentocaracteriza-seemtrêsimportanteseinquietantesquestõessociais:1)a desestabilizaçãodosestáveis;2)ainstalação daprecarização,comoumadasrespostas sociaisàexigênciadeflexibilidade,alternandoperíodosdeatividades,dedesemprego,de trabalhotemporário,inatividadeeajudasocial;e3)aexistênciadepessoas quepoderiamserchamadasdesobrantes, quenãosãointegradasnasociedade etalveztambémnãosejamporqueforaminvalidadaspelanovaconjunturaeconômica esocial.Nessecenário,odesemprego, conformeoautor, foi amanifestaçãomais visíveleoriscosocialmais gravenadinâmicadessaspolíticaseconômicas; poisteveumefeitodesestabilizadore dessocializante.

3Asociedadesalarialde Castelque começou a se fragmentarno final dos anos 1970, com mais intensidade entre as décadas de 1980 e 1990, foi adospaísesavançados,comsuasproteções eassalariamentouniversal.Empaísesem desenvolvimento,comoosdaAméricaLatina, aperversidadedastransformações foi aindamaior, poissedeunumasociedadefrágil,ondeaindanãoestavamgarantidasproteções sociaisatodos.Porisso,as políticasneoliberaisquandonãodesempregaramos trabalhadores,precarizaramaindamaisotrabalho.

4Numaperspectivadeanálisesemelhante à de RobertCastel,RicardoAntuneseGiovanni Alves(2004)observaramquenaAmérica Latinaoneoliberalismoeareestruturação produtivadaeradaacumulaçãoflexível, dotadadefortecaráterdestrutivo,acarretou, entretantosaspectosnefastos,ummonumental desempregoeumaenormeprecarizaçãodo trabalho.Deacordocomosautores,essalógicadosistemaprodutorde mercadoriasvemconvertendoaconcorrênciae abuscadaprodutividadenumprocesso destrutivoquetemgeradoumaimensa sociedadedosexcluídosedos precarizados.(Antunes e Alves,2004, p.36)

5ParaAntunes e Alves (2004), essasmudançasnocapitalismocontemporâneosãodeintensadestrutividade,porque eliminam aforçahumanaquetrabalha,destroçam osdireitossociais,brutalizamenormescontingentes dehomensemulheresquevivem dotrabalho,tornampredatóriaarelação produção-naturezacriandooque Antunes chamou demonumentalsociedadedodescartável”.Énesse sentidoque,conformeAntunes e Alves,desregulamentação, flexibilizaçãoeterceirizaçãosãoexpressõesdeumalógicasocietalondeocapital temumpoderimensoea forçahumanadetrabalhocontaenquantoparcelaparaareproduçãodeste mesmocapital.

6Trêsmovimentosreordenaramo mercadodetrabalho neste período estudado.Aglobalização causouodeslocamentoespacialdoemprego, afinanceirizaçãodiminuiuaquantidadede empregodevidoaoencolhimentodabase produtivaeareestruturaçãoprodutivaacarretouumnovomercadodetrabalhosegmentado eprecário.ParaDavidHarvey(1992), estenovomercadosurgiucomoresultado doqueelechamoudeacumulação flexível.

7Omercadodetrabalho informal,queéoespaçohistóricodotrabalhonaAméricaLatina,expandiu-se nos anos 1990 comoresultadodastransformaçõescapitalistas,adequando-se paracaptarasnovassituaçõesdotrabalhonaregião.Conformeasobservações deRogérioSilva(2003),ocircuito tradicionaldainformalidade,associadoatrabalhadores menosqualificados,combaixasrendae produtividade,esticou-separacomportarosex-assalariados, expulsosdomercadoformaloujovens recém-ingressosnapopulaçãoeconomicamenteativa.

8ParaMariaCristinaCacciamalli(2000),na dimensãodomercado,oprocessodeinformalidadenaAméricaLatinarevelou-sepor meiodadestruição,adaptaçãoeredefinição deumconjuntodeinstituições,regras enormasenvolvendoasrelaçõesentre asempresasparaorganizaraprodução esuadistribuição,osprocessosde produçãodotrabalho,asformasde inserçãonotrabalho,asrelaçõesde trabalhoeosconteúdosdessasocupações. Ainda, conformeCacciamalli,estascaracterísticasprovocaramdois fenômenos:1)areorganizaçãodotrabalho assalariadoeconsequenteaumentodavulnerabilidade nassituaçõesdetrabalhoe2) aumentodoempregoporcontaprópria eestratégiasdesobrevivência,associadasao setorinformal,geralmenteematividadesde baixaprodutividade,oquerevelauma precarizaçãodotrabalho.

  • 3 Privação ou negação do Estado em aplicar leis e ministrar a justiça.

9Nestecontexto detransformaçõesdomundodotrabalho, provocadaspelaspolíticaseconômicasneoliberais,houve umaumentosubstancialdonúmerode pobres. Nas observações de Sônia Leguizamón (2005), estas políticasrepresentaramumanova fasedapobrezanaAméricaLatina. A autora apontaalgumascausasdessapobrezamassiva queacarretarammudançasnomundodo trabalho:1)aimpossibilidadedegerar ingressospelaviadacondiçãoassalariada formalanteocrescenteusodo capitalintensivonaproduçãoenos processosdedesjurisdição3das relaçõesdetrabalho;2)areformadomercadodetrabalho,aflexibilização trabalhista,aseguridadesocial;3)a impossibilidadedeacessoaoutrosmeios desubsistênciaparagerarmeiospara areproduçãodavida;4)a reformadosregimesdeestadode bem-estare5)novasformasde discriminaçãoétnico-cultural.

10Nestesentido é que Sônia Leguizamón chamaaatençãoparaofato dequeapobreza deve ser analisadacomo umaconstruçãosocial,produtoderelações sociais. E, aomesmotempoemqueéproduzidapordeterminadasrelações,também reproduzdeterminadosfenômenossociaiscomoo desemprego,osubemprego,aprecariedadedo trabalhoedavida,retroalimentandoeste círculovicioso. Partindodaconcepçãodeque apobreza “[...]é,sobretudo,umarelação entrepessoas,umestadosociale,comotal,éuminventoda civilização,(Sahlins,1977apudGutiérrez,2007, p. 23),compreende-sequeaspolíticasneoliberais produziramereproduzirammaispobrezadurante asuaimplementaçãonaAméricaLatina, nadécadade1990.

11A pobrezaenquanto produçãosocialvaimuitoalémdaescassezderendamonetária.Elaabrange múltiplasdimensõeseestá,consequentemente,condicionada aomododeprodução,acumulaçãoedistribuiçãodocapital,dosrecursose desuaescassez. Nesse sentido,pobrezaé umaconstrução.Umfenômenoqueganhou visibilidadenosanos1990devidoà intensidadeeperversidadedasituaçãoem queseencontravammilhõesdepessoas nomundointeiro,inclusivenaAmérica Latina. Porém éumfenômenoantigoque ganhounovasformas, como oempobrecimentodosquenãoerampobresea recomposiçãosocialdosvínculossociaisfragmentação esegmentação,abordadosnasideias deRobertCastel.

12Emseusestudos sobreproduçãoereproduçãodapobreza, SôniaLeguizamón(2005)argumentaqueos fatoreseconômicosnocapitalismosãofundamentais paraseentenderestefenômeno.Conforme aautora,atensãoentrea lógicadocapital,obem-estare adialéticadosinteressescontraditóriosentreocapitaleotrabalhoexplicam grande parte da produçãodapobrezamassiva.Alémdesses processos,paraLeguizamón,estãotambémos sistemasdiscursivoscomovisõesdemundo quenaturalizamasrelaçõessociais,econômicaseculturais.

13O conceito de pobreza utilizado por Leguizamón refuta ateseliberal dequeestasituaçãofazparte doprocessodereestruturaçãoemodernização deumasociedade.Umconceitoquevaideencontroaomodocomo osorganismosinternacionaiseosEstados justificamestefenômenoetentamminimizá-lo controlando-oatravésdemedidasquantitativas, mensuradas pela rendaenecessidades mais básicas.

14Na década de 1990 a pobreza tornou-se um grande problema, quando ultrapassou asfronteirasdocontrolesocialna medidaemqueaspolíticasneoliberais foramsendoimplementadas. Por esta razão, Estado e organismos internacionais tomaram medidas paraconterosmaispobresentreospobres ecamuflar,emnúmeros,asituaçãorealdasconsequênciasneoliberais.Nocomeço dadécadade1990oBanco Mundialinstituiualinhadepobreza paramedir a quantidade de pobres nomundo. Na concepção dessa instituição era pobrequemrecebiaatédoisdólares pordia,eindigentequemse mantinhacomumdólar.

15Ainda na metadedosanos1990essamedida foi criticada e passou a ser complementadapelaideiadasnecessidadesbásicas, comoalimentação,educaçãoesaúde. E a concepção de necessidades básicas tornou-se umcolchãoamortecedorparaasreformas estruturaisqueoBancoMundialeoFundo Monetário Internacional (FMI)estavampromovendonospaíses subdesenvolvidos.(Leguizamón,2005, p. 251).

16Apartirda dimensãodenecessidadesbásicas,oPrograma dasNaçõesUnidasparaoDesenvolvimento (PNUD)lançoutambémnadécadade1990oconceitodedesenvolvimentohumano, partindo daconcepçãodequeparamedir odesenvolvimentodapopulaçãosedeve consideraralémdadimensãoeconômica,características sociais,culturaisepolíticasqueinfluenciassem naqualidadedevidadoscidadãos. Desse modo, a pobreza passou a ser interpretada multidimensionalmentee,nessacompreensão,os programasfocalizadosdeassistênciasemergenciale básicaaospobrescomeçaramaentrar emvigor. Dessa forma, organizava-se o sistemadiscursivododesenvolvimentohumano,promovidopeloBancoMundial.Esteorganismointernacional, conforme Leguizamón,exime omercadodequalquertipode regulaçãoe ratificaqueosquenão conseguiramobtersucessodevementãoquerer ereceberapenasajudaparaas necessidadesbásicas.

17OsestudosdeSônia Leguizamón(2005)evidenciam uma posturacríticaa essavertenteatravésdeumaanálise dosdiscursosminimalistasdereduçãoda pobrezaque,naverdade,reproduzema desigualdade,eestratificamaindamaisas pessoas.ParaLeguizamón,essesdiscursosminimalistas sobreareduçãodapobreza,via desenvolvimentohumano,nãopromovempolíticas redistributivas.Baseiam-senoataqueàpobrezaatravésdepolíticasfocalizadas,compensatórias,por meiodaprovisãodemínimosbiológicos paraasobrevivência.Conformeaautora, criou-seumanovaartedegovernaresseproblema,que ela chamoudefocopolítica, promovidapororganismosinternacionaisnosanos1990.

18É nessa direção que Majid Rahnema (2005)classificaapobreza atual de pobrezamodernizada, geradadepoisdaRevoluçãoIndustrial, rompendocomasformaspréviasdofenômeno, pois se estabelecem necessidades pessoais que os indivíduos têm dificuldades materiais de satisfazê-las. E que, segundo o autor, é uma corrida sem fim, uma situação que torna as pessoas dependentes do mercado e das necessidades que o mesmo segue criando. É nesse sentido que Rahnema afirma que opoder discursivodasgrandesinstituiçõesreestruturaa vidadospobres e osdespotencializanamedidaemqueoaparatodiscursivodo desenvolvimentoesuaspráticasdefinemsuas vidas pelo que podem ou não consumir.

19A pobrezamodernizada,categorizadapor Rahnema,éoresultadodeum sistemadiscursivo.Eéconstantementereproduzida porperpetuadores,deacordocom ElseOyen(2002).Ouseja,por pessoas,instituições,situaçõesquediretaou indiretamentecontribuemparaa manutenção dofenômeno. Aidentificaçãodessesagentesganhouimportância nosestudossobreaproduçãoda pobreza,namedidaemquese observaqueessaproduçãofoiresultado daaçãodealguém,dealgum grupoouinstituição,oumesmodesastre natural.

20Alémdisso,apobrezatem umcomponenteque,senãoperpetuaopobrenomundodospobres,dificultaamobilidadesocial:aexclusão.Ser pobreéestarexclusoouincluso precariamentenasdiversasesferasdavida social. E essaexclusão, como apontaAtkinsone Hillo(apudNarayan,2000), é um processo dinâmico, visto que os indivíduos são excluídos não apenas pela privação de trabalho ou renda, mas também devido à falta de perspectivas de futuro e a preconceitos de cor, etnia, gênero, etc.

21A dinamicidade do processo de exclusão significa estar à margem das formas econômica, política e cultural de inserção na sociedade. Pois a exclusão econômica implica não inserção no mercado de trabalho, dificultando o acesso à propriedade, capital, educação, capacitação profissional. A exclusão política funda-se na dificuldade encontrada pelos segmentos pobres da população em manter uma organização mínima que lhes permita participar da tomada de decisões que afetam as suas condições de vida. E a exclusão cultural é a inexistência, precariedade ou ruptura das relações sociais primárias impedindo a geração ou preservação desses laços (OIT/ PNUD / IIEL apud Arriagada, 2000).

22Nesse sentido é que Castells(1999)chamaaatençãoparao fatodequeaperdapor estarexclusosocialmenteémuitomais doqueadorendimento. Ouseja, aperversidadedesseprocessonãose resumeapenas à privaçãodetrabalhoou renda. Elimina,marginaliza ouimpossibilitaaentradanas formasdeparticipaçãodasváriasesferas dasociedade.Porém,éaprivaçãodotrabalhoousuaprecariedadeque primeirosematerializaemexclusãosocial, desigualdadeepobreza.Ocomportamentodo mercadodetrabalho e a extensão e intensidade da pobreza, no decênio de1990, evidenciam essa dinamicidade da exclusão naregiãolatino-americana.

Resultados e Discussão

A estatística descrevendo a realidade: trabalho e pobrezanadécadade1990

23Como apontadoporRobertCastel(1998), éodesempregoamanifestaçãomaisvisíveldesseprocessodeacumulaçãocapitalista dofinaldoséculoXX,acompanhadopormaisduascaracterísticasdotrabalho, ainformalizaçãoeaprecarização.Foi, pois,nadécadade1990que, naAméricaLatina,estamanifestaçãovisibilizou-se comtamanhaintensidade,sendoacompanhadapelaexpansãodosetorinformaleda baixaqualidadedotrabalho.ParaMaria CristinaCacciamalieMariadeFátima Silva(2003),essatransformaçãonomercado detrabalhorefletiaosefeitosperversos daopçãopolíticaneoliberal,expressadapelas maiorestaxasdedesemprego,delonga ecurtaduração,pelainsegurançanas relaçõesdetrabalho,pelorebaixamentosalarialepeloprocessodeinformalização.A médiadataxadedesempregoabertonaAméricaLatinaduranteadécada de1990foide8,7%,com oscilaçõesparacimaeparabaixodurantetodoodecênio, como aponta o gráfico 1.

Gráfico 1: Taxa de desemprego aberto na América Latina/ 1990-1999

Quais as principais medidas da política neoliberal dos anos 1980?

Fonte: Elaboraçãoprópria apartirdedadosdoPanorama Laboral/OIT2000.

24O crescimento da taxa de desemprego, ainda que com algumas quedas durante o decênio, evidencia a pressão das reformas econômicas, impactando diretamente no mercado de trabalho. Ao final dos anos 1990 quase 11% dos trabalhadores latino-americanos estavam desempregados.

25E foram os grupos de renda mais baixa que sentiram os efeitos das reformas neoliberais com mais intensidade.Observandoataxade desempregoentreosestratosderenda dapopulaçãolatino-americana,porquintis,podemos identificarqueentreosmaispobres houvemaiortaxadedesempregodurante dodecêniode1990,comoapresenta o gráfico 2.

Gráfico 2: Taxa de desemprego por quintil de renda na América Latina/ 1990-1999

Quais as principais medidas da política neoliberal dos anos 1980?

Fonte:Elaboraçãoprópriaapartirde dadosdoPanoramaLaboral/OIT2000.

26Os dadossãomaisumaevidênciada grandedesigualdadeentrericosepobres naAméricaLatina,mastambémumademonstraçãodequeasconsequênciasdas políticasneoliberais, atingiram, em graus variados, todos os estratos de renda.Aofinal dadécada de 1990astaxasdedesemprego nosestratospraticamenteduplicaramemrelaçãoaocomeçodo decênio estudado, como pode ser observado no gráfico 2. Mas ainda o peso maior recaiu sobre a população mais pobre. Aporcentagemde desempregadosnoprimeiroquintilchegoua 24,6%.Nosegundoquintilessataxa duplicou,ouseja,18,1%daspessoas quecompunhamesteestratoderenda estavamdesempregadas.Noterceiroquintil14,6% daspessoasestavamsememprego.No quartoquintilregistrou-seumataxade 13%dedesempregadose,porfim, noquintoquintilataxade desempregoquasetriplicou(11,5%).

27Ocrescimentododesempregopodeserobservadotambém nadiferençaentreataxade participaçãoedeocupaçãoda População Economicamente Ativa (PEA) em1990e1999, confirmando queo crescimentodomercadodetrabalhofoi insuficienteparaabsorverapopulaçãoapta atrabalhar.Em1990,55,6%da populaçãonaAméricaLatinaparticipavada PEA.Em1999eram59,4%, aopassoqueataxade ocupadossemantevepraticamenteinalteradaentre ocomeçoeofimdo decênio,permanecendoemcercade50%. Edessesocupados,amaioriase encontravanosetorinformal.

28No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) diferencia o setor formal do informal pela organização da produção e não pela ilegalidade. O setor formal da economia é então o locus de acumulação de capital e de grandes inovações de caráter tecnológico, onde se tem a figura do trabalhador padrão: o assalariado com carteira assinada e proteção social. Já o setor informal se divide em dois grandes grupos. 1) formas de organização mercantis simples sem assalariamento permanente: trabalhadores por conta própria subordinados, os pequenos vendedores de serviços, as empresas familiares e o serviço doméstico. Ainda dentro dessa forma de inserção no mercado informal, é importante ressaltar que no interior da categoria vendedores de serviços estariam os indivíduos autônomos, como os engraxates, biscateiros, vendedores ambulantes/camelôs que, ao contrário dos trabalhadores por conta própria subordinados, não estão submetidos a um só capital e não dispõem em geral de bons equipamentos de trabalho e nem de reserva de mercado. 2) quase empresas capitalistas: utilizam trabalho assalariado de forma permanente, mas não se enquadram como empresas tipicamente capitalistas porque seus proprietários participam da execução das atividades de produção e também por não ser a taxa de lucro a variável mais importante de seu funcionamento. Neste grupo há empresas com equipamentos e instalações próprios e estão em atividades em que há facilidade de entrada no mercado. Nas atividades informais estão ocupados tanto trabalhadores com habilidades e qualificação quanto trabalhadores desqualificados com renda muito baixa para o padrão social mínimo de vida.

29Deacordocomrelatório da Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (CEPAL, 2000),decada 20milhõesdeempregoscriadosnadécadade1990,18milhõescorrespondiam aosetorinformal.Dentrodestesetor, eramasmicroempresasasquemaisempregavam.OsdadosdeKleineTokman,(apudGurrierieSáinz,2003) corroboram o relatório daCEPAL.Segundoosautores, dedezempregoscriadosentre1990e1999noveeramdosetor deserviços,edestes70%em atividadesdebaixaprodutividade. A estruturado emprego urbano na América Latina concentrou-se no setor informal, que durante a década de 1990 apresentou crescimento, como pode ser verificado no quadro 1.

Quadro 1: Estruturadoempregourbanolatino-americanoanos 1990/1995/1999

SetorInformal

SetorFormal

Ano

Total

Trab.Indep.

Doméstico

Microempresa

Total

Setorpúblico

Setorprivado

1990

51.2

25.9

5.8

19.5

48,8

17.3

31.5

1995

52.9

27.4

7.9

17.6

47.1

15.4

31.7

1999

53.4

28.1

6.7

18.6

46.6

15.2

31.6

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CEPAL/2000.

30Nocomeçodadécada de1990,51,2%dosempregosurbanos latino-americanosconcentravam-seno setor informal. E destes,25,9%estavam em trabalhoindependente,ouochamadopor contaprópria,quesecaracterizava, segundo a CEPAL,por serviçosdebaixasqualidadeeremuneração; comovendedoresambulanteseprestadoresde serviços.5.8%eramtrabalhosdomésticosrealizados emsuaessênciapormulherese 19,5%empregosemmicroempresa.Aofinal dadécadaainformalidadelaboralcontinuava apresentandocrescimento.Cercade53%dos trabalhadoreslatino-americanoseraminformais,distribuídos emtrabalhoindependente(28,1%),doméstico(6,7%) eemmicroempresas(18,6%).

31Em contrapartida, o setor formal comportava, no começo dos anos 1990, 48,8%dostrabalhadoreslatino-americanos, que se concentravam emempregospúblicos (17,3%)e em empresas privadas(31,5%). Ao final do decênio, ataxadeempregoformal apresentava uma queda de 2,2 pontos percentuais (46,6%).Dadosque corroboramaafirmaçãodeCacciamalie Silva(2003),dequeasreformas daslegislaçõestrabalhistasocorridasnospaíses latino-americanos,especialmentenadécadade1990, compuseramereforçaramapolíticamacroeconômica neoliberalrepercutindonomercadodetrabalho,pormeiodetrabalhadorescontratadossem registro,aexpansãodotrabalhopor contaprópriaeaextensãode ocupaçãoempequenosnegóciosenocomércioderua.

32Aprecariedadedo empregoé outra consequência marcante daspolíticas econômicasneoliberaisepodesermedida atravésdeváriosindicadorescomoremuneração,horas detrabalho,estratoprodutivo/anosde estudo,seguridadesocial.Osaláriomínimo éumforteindicativodessaprecariedade eduranteadécadade1990 manteve-seemtornode30%menor doqueovalordereferência, quesãocemdólaresamericanos,padrão estipuladopororganismosinternacionaiscomoaCEPALea Organização Internacional do Trabalho (OIT).Outrofatorde precariedadeintensificadocomaspolíticasneoliberais foi oaumentodetrabalhadorescomumamaiorescolaridadenosetorinformal. Houve umaumentodaporcentagemdetrabalhadores, com seis a nove anos de estudo,comparando1990(36,9%)e1999 (46,4%);etambémna faixademaisde10anos,naqualno iníciododecêniohavia19,9%de trabalhadorescomessaescolaridadeempregadosem trabalhosinformaiseem1999eram25,6%.Estesdadosrefletema precariedadenotrabalhonamedidaem quepessoasqualificadasnãosãoinseridas nomercadodetrabalhoformale são,deumjeitooude outro,absorvidaspelomercadoinformal.

33Essaabsorçãopodeseraindamais precárianomomentoemqueo empregotambéméescassonosetor informal eporissoashorastrabalhadas tendemadiminuir,obrigandootrabalhador afazerbicosparacomplementarosalário. E salário baixo é um fator de peso na previdência social, evidenciando dificuldade e até mesmo impossibilidade de pagá-la. O quadro 2 apresentaaporcentagemdetrabalhadores com algumtipode cobertura previdenciáriana décadade1990.

Quadro 2: Mercado de trabalho por coberturada previdênciasocialnaAméricaLatina anos 1990-1999

Mercado de trabalho

%detrabalhadores - previdência social

1990

1999

sim

não

ñ declarou

sim

não

ñ declarou

Formal

75.2

24.6

0.2

67.2

32.6

0.2

Informal

19.7

77.3

3.0

16.6

81.0

2.4

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do PanoramaLaboraldaOIT/2000

34No quadro 2 pode-se observar umarealidademuitocomumnaAmérica Latina,queseintensificouduranteos anos1990afaltade previdência ao trabalhadorlatino-americano,evidenciandomaisumfator deprecarizaçãodotrabalhopordois motivos:nãoterobenefício ou perdê-lo. Comrelaçãoaosformais,quegeralmente têmobenefíciofornecidopelasempresas quetrabalham,sejampúblicasouprivadas, houve uma queda de 8.1% entre os anos 1990(75,2%) e 1999 (67,1%). Issodevidoàflexibilizaçãotrabalhista queretiroudostrabalhadoresmuitosdireitos, entreelesodaproteçãosocial. Quantoaostrabalhadoresinformais,a previdência social semprefoibenefíciodeumaminoria quepodiapagarporele.Ente 1990 (19,7%)e1999 (16,6%) caiu a porcentagem de contribuintes.Muito dessedecréscimodeveu-seàquedado poderaquisitivodosalário. Ao final da década de 1990, 81% dos trabalhadores no setor informal não eram assegurados por nenhum tipo de sistema de previdenciário.

35Ocenárioapresentadoatravésdosdados sobretrabalhoevidenciouaumentododesemprego,dainformalidadeeconsequenteprecarização do trabalhonos anos1990.Característicasqueretroalimentarama pobrezaeatornaram ainda maisprofunda eextensanodecênioestudado.

36Na AméricaLatinaapobrezaéum fenômenosocialantigo,porémastransformaçõesdocapitalismonofinaldoséculo XXaintensificaram.Aspolíticaseconômicas decunhoneoliberal,implementadasdeforma abrupta,emumcurtoperíodode tempoenumespaçomarcadopela desigualdade,resultaramemmaispobrezacontrariando oconsensodosorganismosinternacionaisde queasreformaseconômicasjuntamentecom aglobalizaçãotrariammaisempregoe reduziriamapobrezanaregião.

37Nos paíseslatino-americanosdurantetodaadécada de1990foipossívelvisualizarduas importantescaracterísticasdapobreza,analisando-acomo umaquestãoderendimento:1)extensão, ouseja,aquantidadedepobres existentecomoproporçãototaldapopulação e2)intensidade: distância que separa a renda domiciliar per capita média dos indivíduos pobres do valor da linha da pobreza, medida em termos da porcentagem do valor dessa linha.Osdadosreferentesaessasduascaracterísticassãorelativosàlinha depobrezautilizadapelaCEPAL, que representa uma quantidade mínima de renda que permite a um domicílio – em um determinado tempo e local – dispor de recursos suficientes que satisfaçam todas as necessidades de seus membros. (Mattei, 2012, p.6)

38Aprimeiracaracterísticapode serobservadaatravésdaevoluçãoda pobrezanaregião,evidenciadapelocrescimentodonúmerodepobreseindigentes, principalmentenadécadade1990. O gráfico 3 apresenta essaevoluçãoeosdados apontam o motivo pelo qual a pobrezatornou-seumagrandepreocupaçãosocial.

Gráfico 3: Evolução % da pobreza e da indigência na América Latina - 1980/1986/ 1990/1994/1997/1999

Quais as principais medidas da política neoliberal dos anos 1980?

Fonte:Elaboraçãoprópriaapartirde dadosestatísticosdaCEPAL(2000)www.cepal.org

39Os dados apresentam grandeporcentagemdepobresna AméricaLatinaentreasdécadasde1980e1999,atingindomaisde 40%dapopulaçãolatino-americanaduranteestesdoisdecênios.Percentualmente,1990foio anocommaiorextensãodapobrezaedaindigência,registrando48,3%e 22,5%respectivamente.Apartirde1994 ospercentuaisdepobrezacaíram,registrando naqueleanoumataxade45,7%, em199743,5%efinalizandoa décadacom43,9%dapopulaçãolatino-americana soboestigmadapobreza.Porém os números absolutosrefletemumaconstanteascensão donúmerodepobresentreos anosde1980e1999.Segundo dadosdaCEPAL,em1980havia 135milhõesdepobres,em1990 chegou-seaopatamardos200milhões eem1999foramregistradas211 milhõesdepessoasvivendoemsituação depobreza.Comrelaçãoàindigência, osnúmerosabsolutostambémcresceram.Em 1980,os18,6%deindigentesse traduziamem62,4milhõesdepessoas. Em1990os22,5%representavam93,4 milhõesdelatino-americanoseaofinal de1999os18,5%deindigentes naregiãosignificavam89,4milhõesde pessoasvivendosobasituaçãodeindigência.

40A intensidade dapobreza,ouseja, oquão distante as pessoas em situação de pobreza estão do valor fixado como limiar de risco,étambém umoutrobomindicadorparase visualizaragravidadedasituaçãodos pobresnaAméricaLatina. O gráfico 4 apresentadados queevidenciamocrescimentodessabrecha entrearendadospobrese aslinhasdepobreza e indigência naAmérica Latina (mensuradas em dólar), nocomeçoe aofinal dadécadade1990.

Gráfico 4: Taxa de intensidade de pobreza e indigência (em renda dospobres comparada à linha de pobreza)naAméricaLatina1990/1999. Valor da linha de pobreza: 1990 – $ 66,00 1999- $ 84,00. Valor da linha de indigência:1990 – $ 33,00 1999- $ 42,00

Quais as principais medidas da política neoliberal dos anos 1980?

Fonte:Elaboraçãoprópriaapartir dedadosestatísticosdaCEPAL(2000) www.cepal.org

41O gráfico 4 ilustra a intensidade dapobrezanaAmérica Latinanoperíodoestudado.Em1990, os 48% de pobres latino-americanos estavam heterogeneamente distribuídos abaixo da linha da pobreza com uma renda média per capita 19% abaixo do valorda linhadepobreza, que, no período, equivalia a 66 dólares, conforme mensuração da CEPAL.Em1999 essegaphaviaampliadopara21,3% demonstrandoumadistânciaaindamaiorno déficitderendadospobrescom relaçãoaovalordalinhade pobreza, mensurada em 84 dólares. Em 1990, a renda das pessoas em situação de indigência era 7,8% menor do que a linha de indigência proposta pela CEPAL. Ao final do decênio a amplitude era maior, registrando 9,3% abaixo do valor estipulado pela instituição referida, 42 dólares.

42Oquadro 3 apresenta umpanoramadaincidênciadapobreza emalgumascategoriasprofissionaisdurantea décadade1990.

Quadro 3: Incidênciada pobreza,emporcentagem,emalgumascategorias profissionaisnaAméricaLatinaem1990/1994/1997/1999

Ano

% Assalariados pobres

setor público

% Assalariados pobres do setor privado

(não profissionais e não técnicos)

% Trab. pobresporcontaprópria/

não qualificados

Emp. médio porte

MicroEmpresa

Empregadodoméstico

Indústriaconstrução

Comércioeserviços

1990

21.7

33.7

40.9

35.5

39.0

33.6

1994

20.1

27.7

38.9

32.8

36.2

29.5

1997

18.4

28.0

36.4

32.6

34.4

29.6

1999

16.0

27.9

41.0

31.0

36.0

30.6

Fonte:Elaboraçãoprópriaapartirde dadosdoPanoramaSocialdaAmérica LatinaCEPAL/2000-01

43Oquadro 3 evidencia que no serviçopúblicoaporcentagemde pobresdiminuiuduranteosanos1990, masonúmerodeempregospúblicostambémsofreuretração devidoàsprivatizações. Amédiadetrabalhadorespobresneste setorficouemtornode19% durantedodecênio.Quantoaosassalariados dosetorprivado,nastrêscategorias apresentadas, a pobreza teve maior incidência em trabalhadores de microempresa, com uma média de 39,3%, durante a década de 1990. 29% dos trabalhadores de empresas de médio porte foram considerados pobres no mesmo período e 33% de empregados domésticos foram classificados em situação de pobreza. A percentagem de pobres, durante a década, também foi elevada entre os trabalhadores autônomos, tanto da construção civil (36,4%) como do setor de comércio e serviços (31%).

44Os dados mostram a incidência da pobreza nas diversas categorias de trabalhadores, desmistificando a ideia de que o trabalho por si retira as pessoas dessa condição. Estas informações sugerem que o estudo do trabalho, para melhor compreendê-lo como um fator de diminuição da pobreza, deve partir de elementos como salários dignos, respeito a horas de trabalho e qualificação do trabalhador, entre outros.

A estatística verificando relações: reforma econômica, desemprego e pobreza

45Com a estatística descritiva apresentamos o perfil do trabalho e da pobreza na América Latina, nos anos 1990, sugerindo uma relação com as reformas econômicas, implementadas no mesmo período, já que o aumento dosproblemassociaisfoiatribuídoem grandeparteàsorientaçõeseconômicasde caráterneoliberalseguidaspelosgovernoslatino-americanos, durantetodoodecênio. Os dados do quadro 4 apontam nessa direção ao evidenciarem a evolução das reformas, juntamente com o crescimento do índice de desemprego e do número de pobres.

Quadro 4: Evoluçãodasreformaseconômicas,desemprego epobreza* naAméricaLatina/ anos 1990

Índice-taxa

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

Reformaeconômica

0.72

0.74

0.76

0.77

0.78

0.79

0.81

0.82

0.82

0.82

Desemprego

5.8

7.5

8.1

8.2

8.3

10

9.9

9.3

10.3

11.0

Pobreza*

200

200.96

202.58

204

205.97

207.30

208.54

209.23

210.34

211

* Pobreza foi observada a partir do valor absoluto de pobres na América Latina, em milhões.

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CEPAL (2000) e PNUD (2004).

  • 4 O objetivo da análise de regressão é prever uma única variável dependente a partir do conhecimento (...)
  • 5 É um software de análise estatística.

46O índicedereformaeconômicada AméricaLatinaparaadécadade 1990,desenvolvidopelaCEPAL,evidenciaa evoluçãodasreformasnaregião. Este índice foi elaborado a partirdecincocomponentes:políticasde comérciointernacional,políticasimpositivas,políticas financeiras,privatizaçõesecontasdecapitais, e varia de0a1.Ozero indicaafaltadereformase umacompletaaplicação das orientações neoliberais.Os dadosdemonstramquearegiãolatino-americana concretizou muitasorientaçõesdoConsensodeWashington. Em1990,seregistravaum índicede0,72.Aofinalda década o índice erade0,82. Paralelamente, odesemprego eapobrezatambémaumentaram sugerindo uma relação de causa-efeito entre a reforma e estes indicadores sociais. Para se verificarestapossívelrelaçãoe suasignificânciautilizou-seomodelode regressãolinearsimples4,rodado noprogramaestatístico PASW185(Predictive Analytics Software). Com relação ao modelo de regressão linear foram observados todos os pressupostos. Foram analisados três aspectos: 1) o quanto a variação da variável independente explica a variação da variável dependente; 2) a significância desse movimento e 3) a estimação da equação de regressão, que prevê o valor da variável resposta (desemprego e pobreza) a partir do valor da variável explicativa (reforma econômica).

47Verificou-se tanto a relação entre reforma econômica (variável explicativa) e desemprego (variável resposta) como entre reforma econômica e pobreza (variável resposta). E constatou-se que os aumentos do desemprego e da pobreza na América Latina podem ser explicados pelo aumento das reformas econômicas. A seguir, são apresentadas algumas estatísticas importantes que comprovam a relação.

48A primeira estatística de interesse, no modelo de regressão, é o coeficiente de determinação (R2), que é uma medida de aderência dos dados em torno da reta de regressão e é usualmente interpretada como a proporção da variância na variável dependente explicada pela variação das variáveis independentes (Figueiredo Filho et al., 2011). A estatística apontou que 85% da variação do desemprego pode ser explicada pela variação da reforma econômica. Além disso, a associação entre as variáveis é positiva. Ou seja, à medida que aumenta o índice de reforma eleva-se a taxa de desemprego. O gráfico 5 evidencia a distribuição positiva em torno da reta.

Gráfico 5: Dispersão das variáveis reforma econômica e desemprego

Quais as principais medidas da política neoliberal dos anos 1980?

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CEPAL (2000) e PNUD (2004)

49Este mesmo comportamento pode ser verificado na relação entre reforma econômica e pobreza. A estatística aponta que 95% da variação do aumento da pobreza pode ser explicada pela variação do aumento da reforma econômica. A distribuição dos pontos em torno da reta no gráfico 6 evidencia que a relação é diretamente proporcional, além de ser forte.

Gráfico 6: Dispersão das variáveis reforma econômica e pobreza

Quais as principais medidas da política neoliberal dos anos 1980?

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da CEPAL (2000 e PNUD (2004)

50Outra estatística importante é a análise de variância (ANOVA), que testa a significância da regressão, estudando o comportando das variações no modelo. Esta análise apresenta como ponto principal o teste F; que tem como objetivo verificar se há ou não regressão linear entre as variáveis e a significância do modelo através do p-valor. O teste F (51,8) foi significativo a p =0.000 para a análise entre reforma econômica e desemprego. O teste F (172,4) também apresentou significância a p=0.000 para reforma econômica e pobreza.

51Por fim, a análise dos coeficientes de regressão estimados que permitem a elaboração do modelo probabilístico. Interessante, neste caso, observar o coeficiente associado à variável independente, representado pelo símbolo β, coeficiente α referente à constante do modelo, e a relação teoricamente esperada. Para a relação reforma econômica e desemprego os coeficientes de regressão estimados foram de β= 40,6 e α= -22,9. O valor positivo do coeficiente β é mais uma evidência da relação diretamente proporcional e confirmação da hipótese. Ou seja, quanto maior o índice de reforma econômica maior será o índice de desemprego. E o valor de β indica que o desemprego aumenta 40,6 pontos para cada ponto de aumento no índice de reforma econômica.

52Para a relação reforma econômica e pobreza os coeficientes de regressão estimados foram de β=1,104E8 e α= 1,192E8. O sinal positivo de β também indica que o coeficiente apresenta a direção teoricamente esperada de que o aumento de reforma econômica acarreta em aumento no número de pobres. Substituindo estes dados na equação de regressão é possível estimar os índices de desemprego e pobreza.

Quais as principais medidas da política neoliberal dos anos 1980?

53Onde:

54y = variáveldependente

55α =coeficientedaconstante-valor esperadodavariáveldependentequandotodas asvariáveisindependentesassumemvalorigual azero

56β= coeficientedavariável explicativaassociadaaoevento

57x= variável independente

58Os resultadospreditosnasequaçõesseaproximamdosresultadosobservados,demonstrando ainfluênciaeacausalidadeda variávelindependentenavariaçãodasvariáveisdependentes.Conformeaequaçãoderegressão, odesempregonoanode1999 sobumíndicedereformaeconômicade0.82seriadeemmédia 10,39%,conformeomodelo.Conformedados da CEPAL,odesempregonoreferidoano foide11% paraavariável pobrezatambémverifica-seessatendência.Segundo aequação,comumíndicede reformaeconômicade0.82haveriauma médiade209milhõesdepobres naAméricaLatinaem1999.De acordocomaCEPAL,noreferido anoforamregistrados211milhõesde pobresnaregião.

Algumas Considerações

59Em suas reflexões sobre o neoliberalismo na América Latina, David Ibarra (2011, p. 240) observa que “acomodação neoliberal alterou a ordem interna dos países”, alterando a distribuição de ingressos, as oportunidades de progresso, as metas de geração de emprego, e alargando a distância entre pobres e ricos. Segundo o autor, são escassos os avanços em corrigir a desigualdade e a pobreza se torna endêmica.

60Essas constatações normativas de Ibarra vão ao encontro das constatações empíricas deste estudo, apresentadas através das estatísticas descritiva e inferencial. Noqueserefereaomundodotrabalho,pode-se observar,a partirdosdadosapresentados,queo número de postos de trabalho naAméricaLatina,duranteoperíodo neoliberal,diminuiu, os empregostornaram-semaisprecários einformais. E a pobreza, quenãoéum fenômenosocialnovonaregião,expandiu-se com rapidez naqueledecêniode1990.Razãopela qualosresultadosdesteartigodão consistência ao argumento de queapobrezaéumfenômenoproduzidoereproduzidoporrelações humanasemumdeterminadoespaçoetempo.

61Osdadostambémnospermitiram verificarumarelaçãosimétricaentreas reformaseconômicasneoliberaisedesemprego e pobreza;de modoquepodemosafirmarqueos aumentosdodesempregoedapobreza naAméricaLatina,nadécadade 1990,estãofortementerelacionadosàimplementação depolíticaseconômicasneoliberais. O modelo de regressão apresentou a causalidade. E esta relação, diretamente proporcional, mostrou-sebastantevisível, atravésdaabertura comercial,entradadeinvestimentosestrangeirosna região,privatizações,disciplinafiscal, ao mesmo tempo em que as taxas de desemprego/subemprego epobrezaaumentavam,colocandoemevidência afragilidadesocialdessasreformas.

62Nesse sentido, ceder à utopia neoliberal trouxe a uma boa parte da população latino-americana desemprego e pobreza. O fosso social, resultante dessas políticas, estendeu e intensificou-se. A virada ao século XXI ficou marcada na América Latina pelo contingente de desempregados e pobres, advindos, em boa parte, do ajuste estrutural. Nessa direção, evidenciar as consequências é um modo de questionar e refletir sobre a implementação e o impacto de políticas que acarretam mínimo benefício à coletividade.

Quais são as principais medidas propostas pelo neoliberalismo?

Neoliberalismo Econômico.
Privatização de empresas estatais..
Livre circulação de capitais internacionais..
Abertura econômica para a entrada de empresas multinacionais..
Adoção de medidas contra o protecionismo econômico..
Redução de impostos e tributos cobrados indiscriminadamente..

Quais as medidas defendidas pelos neoliberais na América durante os 80 e 90?

Os neoliberais, de uma forma geral, pregam que para uma sociedade ter progresso econômico, é preciso que o Estado não interfira na economia, o chamado “Estado Mínimo”. Eles defendem a privatização das empresas estatais, o fim das políticas sociais, o incentivo à competitividade internacional, entre outras coisas.

Quais são as principais características da política neoliberal?

Transferência de serviços públicos ao setor privado; Redução dos encargos e direitos sociais como um todo; A abertura da economia para a entrada de empresas multinacionais; Defesa dos princípios econômicos do capitalismo e também ênfase na globalização.

Que medidas foram tomadas nos países onde o neoliberalismo?

As principais características dessas medidas foram a redução dos investimentos na área social, ou seja, no que se refere à educação, saúde e previdência social. Ao mesmo tempo, adotou-se como prática também a privatização das empresas estatais, o que se aliou a uma perde de poder dos sindicatos.