Quais foram os principais fatores que determinaram o êxodo rural no Brasil

1De acordo com Delgado (2001) e Mueller e Martine (1997) o desenvolvimento do setor agropecuário brasileiro teve início após a Segunda Guerra Mundial em 1945, mas foi entre o período do pós-guerra até 1980 que a agropecuária brasileira teve seu maior desenvolvimento, pois neste período ocorre a grande reestruturação baseada nos princípios da Revolução Verde, pacote tecnológico que visa à utilização de fertilizantes, defensivos, corretivos do solo, sementes melhoradas, combustíveis e máquinas industriais. Este processo também é marcado pela grande intervenção estatal com a utilização de políticas de modernização, por exemplo, de crédito subsidiado, preços mínimos e assistência técnica.

2Junto com as mudanças técnicas, também ocorreram importantes mudanças no pensamento tanto de economistas quanto dos policy makers, no que diz respeito à importância da agricultura no desenvolvimento de um país. Nas décadas passadas, a agricultura era vista apenas como um ator coadjuvante no processo de desenvolvimento, onde a indústria era o motor deste processo. Hoje tanto a agricultura quanto a indústria, são setores importantes no desenvolvimento de uma região ou país.

3O debate sobre o desenvolvimento rural é crescente e oportuno, pois se percebe um aumento nos esforços em demonstrar as desigualdades locais, regionais e territoriais que se estabeleceram ao longo do tempo.

Neste sentido, o objetivo do presente estudo é analisar o desenvolvimento rural nas microrregiões brasileiras, inserido no contexto multidimensional do desenvolvimento rural. Os resultados deste estudo podem auxiliar os gestores públicos na adoção de políticas que promovam uma melhoria no bem-estar dos territórios rurais.

O presente trabalho segue a mesma linha de um estudo anterior dos autores – Stege e Parré (2011) – com alguns itens em comum, porém avança no sentido de explorar individualmente os principais fatores de desenvolvimento e apresentar sua distribuição espacial no território brasileiro.

Desenvolvimento rural: uma revisão bibliográfica

4Segundo a literatura especializada sobre o desenvolvimento rural, existe um consenso de que o conceito de desenvolvimento rural está em plena construção (Ploeg et al.,2000; Conterato, 2008). Até recentemente o referencial teórico que buscava explicar os processos de mudança social e as alterações nos padrões tecnológicos nas populações rurais e …“… suas implicações para as populações rurais em termos de qualidade vida” (Conterato, 2008, p. 46), girava em torno das teorias da modernização agrícola, alicerçada na “revolução verde”.

5De acordo com Navarro (2001, p.88) estas teorias preconizavam “… a intensificação tecnológica e a crescente absorção de insumos modernos pelos produtores, como parte de uma estratégia de aumento da produtividade e, como objetivo final, a elevação da renda dos produtores”.

6Para Ploeg et al., (2000), as teorias da modernização agrícola enfatizavam: a especialização, intensificação no uso de insumos, produção orientada pela lógica de mercado e aumento do grau de “commoditização”.

7Estas teorias são as primeiras noções de desenvolvimento rural, segundo Navarro (2001), e estão ligadas ao conceito de crescimento econômico, pois buscavam o crescimento econômico através do aumento da produtividade e renda.

8No fim da década de 1970, este paradigma entra em declínio devido às transformações que ocorrem na sociedade a partir dos processos de reestruturação econômica e institucional, e aos resultados insatisfatórios das propostas de desenvolvimento rural, implementadas em diferentes países, particularmente com relação à redução da pobreza rural (Ashley e Maxwell, 2001) que pouco se modificou.

9Devido a este declínio, os pesquisadores do desenvolvimento rural passaram a preconizar a necessidade de se repensar os enfoques até então utilizados como referências teóricas para definir o desenvolvimento rural (Navarro, 2001; Schneider, 2004), emergindo então, um novo enfoque a este conceito, enfoque baseado a partir da definição multidimensional do desenvolvimento econômico.

10Desta forma, o desenvolvimento rural é visto como um processo que envolve a dimensão econômica, dimensão sociocultural, dimensão político institucional e dimensão ambiental (Ploeg et al., 2000; Kageyama, 2004 e 2008; Conterato, 2008) e não apenas como um processo de crescimento econômico medido unicamente pelo produto ou renda per capita.

11O desenvolvimento rural é um conceito mais amplo, “… o qual está ancorado no tempo (trajetória de longo prazo), no espaço (o território e seus recursos) e nas estruturas sociais presentes em cada caso” (Kageyama, 2008, p. 58).

12Navarro (2001, p.88) define desenvolvimento rural como “uma ação previamente articulada que induz (ou pretende induzir) mudanças em um determinado ambiente rural”.

13A definição exata do termo “desenvolvimento rural” tem se alterado ao longo do tempo, porém, todas as definições destacam a melhoria do bem-estar das populações rurais como objeto principal desse desenvolvimento, onde as diferenças surgem das “estratégias escolhidas, na hierarquização dos processos (prioridades) e nas ênfases metodológicas” (Navarro, 2001, p.88).

14O debate a respeito da definição do desenvolvimento é praticamente inesgotável. Inúmeros fatores contribuem para o processo de desenvolvimento das áreas rurais, podendo destacar os seguintes elementos como os principais (Veiga, 2001): a) maior acesso a educação e a terra, com o intuito de elevar a renda e diminuir a pobreza; b) uma agricultura diversificada e um meio rural multi-facetado, proporcionam um maior desenvolvimento nas áreas rurais; c) uma maior concentração das atividades, devido as vantagens da proximidade; e, d) um conjunto de instituições bem alicerçadas, permitindo uma valorização do território, e promovendo o desenvolvimento rural.

15Para finalizar esta seção, após essa breve revisão sobre desenvolvimento rural, é possível definir quais os conceitos serão adotados neste estudo. Será utilizada a definição multidimensional do desenvolvimento rural, o qual é visto como um processo que envolve a dimensão social, demográfica, político institucional, econômica e ambiental. Com relação ao desenvolvimento rural no Brasil, a presente pesquisa se encontra no mesmo sentindo dos trabalhos de Melo e Parré (2007), Kageyama (2008) e Conterato (2008).

Metodologia

Índice De Desenvolvimento Rural

16Um indicador é um instrumento que possibilita medir aspectos de um determinado conceito, certa realidade, fenômeno ou um problema, e seu objetivo principal é “… traduzir de forma mensurável determinado aspecto de uma realidade dada (situação social) ou construída (ação de governo)” (Brasil, 2010, p. 4).

17Neste sentido, os trabalhos de Kageyama (2004 e 2008), Sepúlveda (2005), Melo e Parré (2007), Waquil et al. (2007) e Conterato (2008), propõem um indicador para unidades e focos diferentes. Sepúlveda (2005) propõe um Índice de Desenvolvimento Sustentável em nível territorial microrregional. Kageyama (2004) e Melo e Parré (2007), possuem como unidade de análise o rural municipal e elaboram um Índice de Desenvolvimento Rural para os municípios de São Paulo e Paraná, respectivamente. Waquil et al. (2007) desenvolveu um Indicador de Desenvolvimento Sustentável para quatro territórios rurais, definidos pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. Kageyama (2008) elabora um Índice de Desenvolvimento Rural para os estados brasileiros.

  • 1  Para mais detalhes a respeito do método da análise fatorial ver Johnson e Wichern (2002).

18A proposta do presente artigo é a construção de um Índice de Desenvolvimento Rural (IDR) sintético em nível territorial rural para as microrregiões brasileiras, cuja finalidade fundamenta-se na compreensão das desigualdades regionais do desenvolvimento rural. O método utilizado para a elaboração do IDR provém da estatística multivariada, para ser mais preciso, utiliza-se a técnica de análise fatorial1, devido ao caráter multidimensional do desenvolvimento rural.

19A partir da proposta de Melo e Parré (2007), elabora-se o IDR, através do cálculo da média ponderada dos fatores pertencentes a cada observação. Para seu cálculo é tomado o valor de cada fator, ponderando-se cada um deles pela sua variância. O cálculo do IBD é representado pela equação 1,

Quais foram os principais fatores que determinaram o êxodo rural no Brasil

20em que número de fatores; é a proporção da variância explicada por cada fator; e, são os escores fatoriais.

21A partir daí, interpola-se os resultados, considerando-se o maior valor como 100 e o menor como zero, obtendo o Índice de Desenvolvimento Rural (IDR) para cada microrregião.

22Foram considerados como grau de desenvolvimento extremamente alto (EA) aqueles que apresentaram resultados com três desvios-padrão acima da média; muito alto (MA) aqueles com resultados entre dois e três desvios-padrão acima da média; alto (A), aqueles com valores entre um e dois desvios-padrão acima da média; médio alto (MDA), os que apresentaram resultado entre a média e um desvio-padrão acima da média; médio baixo (MDB), aqueles com resultados no intervalo entre a média e um desvio-padrão abaixo da média; baixo (B), aqueles que tiveram resultados entre um e dois desvios-padrão abaixo da média; muito baixo (MB), os que tiveram resultados no intervalo entre dois e três desvios-padrão abaixo da média e, por último, extremamente baixo (EB), as microrregiões com resultados com três desvios-padrão abaixo da média

Descrição das variáveis

23A análise do desenvolvimento rural como um todo vai além do domínio da economia identificado pelo progresso econômico, engloba um conjunto de indicadores que interagem entre si, reunindo aspectos sociais, demográficos, políticos-institucionais, econômicos e ambientais, ou seja, trata-se de um fenômeno multidimensional. Utilizando estas cinco dimensões é possível encontrar variáveis que podem ser utilizadas para tentar explicar a “causa” do desenvolvimento.

24Com o objetivo de tentar mensurar o grau de desenvolvimento rural das microrregiões brasileiras através da criação de um índice sintético de desenvolvimento, o Quadro A em anexo, fornece as dimensões, variáveis e fonte dos dados utilizados na composição do índice.

25A escolha das variáveis não é puramente arbitrária. Cada uma retrata um aspecto importante ao desenvolvimento rural. As variáveis formarão um banco de dados englobando as 558 microrregiões do Brasil. A maioria das variáveis refere-se ao ano de 2008, mas há variáveis de 2006 e 2007. A metodologia adotada para obtenção do índice permite está prática.

26As variáveis de dimensão Social, X1 a X4, estão vinculadas direta ou indiretamente a qualidade de vida nos domicílios rurais e estão relacionadas com as condições de higiene e salubridade a qual deve afetar positivamente o desenvolvimento rural. A dimensão Demográfica representada pelas variáveis X5 e X6 contempla os aspectos demográficos mais gerais. Na dimensão Político-Institucional (variáveis X7 a X9), pretende-se demonstrar como a participação política, o grau de dependência institucional e a presença de escolas afetam o desenvolvimento rural das regiões. Com a dimensão Econômica representada pelas variáveis X10 a X17, pretende-se verificar o quanto a região é desenvolvida economicamente em seus aspectos mais tradicionais: diversificação, produtividade e renda. A dimensão Ambiental é representada pelas variáveis X18 a X22. Justifica-se o uso destas variáveis, pois elas demonstram as condições gerais de uso dos recursos naturais, suas implicações e consequências para as atividades econômicas e para a população, e se faz necessário à preservação ambiental para desenvolvimento.

Análise dos resultados

Interpretando os fatores

27O Índice de Desenvolvimento Rural tem como unidade de análise as 558 microrregiões do Brasil, utilizando a área rural definida pelo IBGE (2002). O uso desta unidade de análise permite a visualização das características de cada região, possibilitando verificar as especificidades e desigualdades de cada microrregião.

28Com base nas 22 variáveis, são extraídos os fatores através da análise fatorial pelo método dos componentes principais.

29Para verificar a adequabilidade da amostra, foram empregados os testes de Kaiser-Meyer-Olkim (KMO) e o teste de esfericidade de Bartlett. O valor obtido para o teste KMO foi de 0,67, e o resultado do teste de esfericidade de Bartlett mostrou-se significativo a 1% obtendo um valor de 7.048,69, com isto rejeitando-se a hipótese nula de que a matriz de correlação é uma matriz identidade. A partir do valor de ambos os testes realizados, permite-se concluir que a amostra utilizada é adequada ao procedimento da análise fatorial.

30A análise fatorial pelo método dos componentes principais possibilitou a extração de seis fatores com raiz característicamaior que um, sintetizando as informações contidas nas 22 variáveis analisadas, conforme observado pela Tabela 1.

31A contribuição dos 6 fatores para a explicação da variância total dos indicadores utilizados é significativa, de modo que a contribuição acumulada dos mesmos equivale a 65,66%. O uso de uma variância de 65,66% é justificado por Hair et al. (2009), pois segundo o autor obter uma variância acumulada de 60% é satisfatório nas ciências sociais.

Tabela 1: Raiz característica, percentual explicado por cada fator e variância acumulada

Fator

Raiz característica

Variância explicada pelo fator (%)

Variância

Acumulada (%)

Fator 1

3,47

15,77

15,77

Fator 2

2,98

13,54

29,31

Fator 3

2,35

10,68

39,99

Fator 4

1,98

9,00

48,99

Fator 5

1,87

8,51

57,50

Fator 6

1,80

8,16

65,66

Fonte: Resultados da pesquisa

32Após a rotação ortogonal dos fatores pelo método varimax, a Tabela 2 apresenta as cargas fatoriais, a unicidade e as comunalidades para os fatores considerados. Para sua interpretação, foram consideradas apenas as cargas fatoriais com valores superiores a 0,6 (valores em negrito), buscando evidenciar os indicadores mais fortemente associados a determinado fator.

Tabela 2: Cargas fatoriais, unicidade e comunalidade após a rotação ortogonal dos fatores

Variáveis

Fator 1

Fator 2

Fator 3

Fator 4

Fator 5

Fator 6

Unicidade

Comunalidade

X1

-0,059

0,823

0,016

-0,042

0,141

0,202

0,256

0,744

X2

-0,021

0,811

0,017

0,000

0,047

0,157

0,315

0,685

X3

0,008

0,673

-0,057

0,022

-0,243

-0,059

0,481

0,519

X4

0,194

0,867

-0,104

0,003

-0,120

-0,115

0,172

0,828

X5

-0,165

0,257

-0,063

-0,009

0,561

-0,064

0,584

0,416

X6

-0,161

-0,218

0,068

0,059

0,745

0,270

0,290

0,710

X7

0,046

0,269

-0,086

-0,158

0,038

0,485

0,657

0,343

X8

-0,546

-0,133

0,170

0,041

0,167

0,394

0,425

0,575

X9

-0,203

-0,223

-0,078

0,054

0,817

-0,129

0,215

0,785

X10

-0,141

0,048

-0,033

-0,966

-0,067

0,073

0,034

0,966

X11

0,190

0,030

0,033

0,959

0,019

-0,024

0,041

0,959

X12

0,862

0,042

0,033

0,120

-0,084

0,017

0,232

0,768

X13

0,854

0,070

0,019

0,093

-0,113

0,043

0,243

0,757

X14

0,819

-0,039

0,056

0,173

-0,173

0,207

0,222

0,778

X15

0,637

-0,052

-0,013

-0,026

-0,115

-0,064

0,573

0,427

X16

0,182

0,065

0,104

0,001

0,021

0,714

0,441

0,559

X17

0,512

0,044

0,110

0,154

0,038

0,322

0,595

0,405

X18

-0,033

-0,291

0,644

0,070

-0,145

0,215

0,428

0,572

X19

-0,109

-0,129

0,721

0,023

-0,184

-0,044

0,415

0,585

X20

0,047

0,045

0,752

0,005

0,069

0,091

0,417

0,583

X21

0,186

0,180

0,617

-0,065

0,139

-0,419

0,259

0,741

X22

0,193

0,177

0,611

0,070

0,248

-0,486

0,256

0,744

Fonte: Resultados da pesquisa

33Os valores encontrados para as comunalidades revelam que praticamente todas as variáveis têm sua variabilidade captada representada pelos seis fatores.

34Percebe-se que o Fator 1 está fortemente relacionado com as variáveis valor bruto da produção agropecuária pelo número de estabelecimentos agropecuários (X12), valor bruto da produção agropecuária pelo número de pessoas ocupadas nos estabelecimentos agropecuários (X13), valor bruto da produção agropecuária pelo número da população rural (X14) e pelo salário médio nominal da agropecuária (X15). O Fator 1 possui a maior variância explicada pelo fator, correspondendo com 15,77% do total da variância acumulada. Este fator está ligado a produtividade dos fatores de produção e a renda agrícola da microrregião.

35O Fator 2 está relacionado com a proporção dos domicílios rurais que possuem energia elétrica (X1), proporção dos domicílios rurais servido de água proveniente de uma rede geral de abastecimento (X2), proporção dos domicílios rurais que possuem sistema de esgoto (X3) e proporção dos domicílios rurais que possuem lixo coletado por serviço de empresa pública ou particular (X4). Observa-se que as variáveis determinantes estão ligadas a qualidade de vida nos domicílios rurais. O Fator 2 possui a segunda maior variância explicada pelo fator, correspondendo a 13,57% do total da variância acumulada.

36Já o Fator 3 possui uma relação forte com as variáveis X18 , X19, X20 , X21 e X22 que são: proporção dos municípios pertencentes as microrregiões que não possuíram poluição do recurso água, proporção dos municípios pertencentes as microrregiões que não possuíram contaminação do solo; proporção dos municípios pertencentes as microrregiões que não possuíram alterações que tenham prejudicado a paisagem, proporção dos municípios pertencentes as microrregiões que não possuíram a atividade agrícola prejudicada por problema ambiental, proporção dos municípios pertencentes as microrregiões que não possuíram a atividade pecuária prejudicada por problema ambiental, respectivamente e participa com 10,68% da variância total. Este fator está associado a preservação ambiental.

37O Fator 4 possui uma forte relação com a variável valor bruto da produção animal em relação ao valor bruto da produção agropecuária (X10) e valor bruto da produção vegetal em relação ao valor bruto da produção agropecuária (X11). O Fator 4 está diretamente relacionado ao tipo de produção do estabelecimento agropecuário, ou seja, a diversidade da atividade agropecuária, explicando 9% da variância total.

38Um aspecto interessante relacionado ao Fator 4, é que a variável X11 possui uma forte relação negativa com fator, enquanto a variável X12 possui uma forte relação positiva com o mesmo Fator. Analisando o resultado entre estas duas variáveis, observa-se que elas possuem correlação negativa quase que perfeita, evidenciando a especialização da produção em determinada microrregião. O sinal esperado da variável X10 encontra-se na direção oposta a hipótese inicial desta variável, isto ocorre, porque a variável X10 é complemento da variável X11, assim quando a variável X10 possui um valor elevado em uma determinada microrregião, a variável X11 terá um valor baixo, com isto entrando com sinal negativo no modelo.

39Por sua vez, o Fator 5 está estreitamente relacionado as variáveis X6 e X9 que são: o número de pessoas ocupadas em estabelecimento agropecuários e número de matrículas na áreas rural. Este Fator está relacionado ao número de pessoas que desenvolvem atividades próprias do meio rural e a educação. Observando a matriz de correlação se verifica que estas duas variáveis se correlacionam de forma positiva, ou seja, quanto maior o número de pessoas ocupadas em estabelecimento agropecuários, maior o número de matrículas nas áreas rural. Sua participação no total da variância é de 8,51%.

40Por fim, o Fator 6 possui uma única variável fortemente relacionada a ele, representada pela proporção dos estabelecimentos agropecuários que contraíram financiamento (X16). Este fator está relacionado ao papel do crédito no desenvolvimento rural e ele explica 8,16% da variância total. Valor de explicação pequeno no total, porém, de extrema importância por se tratar de apenas uma variável que está gerando este Fator.

41Assim, das 22 variáveis utilizadas, pôde-se sintetiza-las em 6 Fatores, são eles: Fator 1, produtividade dos fatores de produção e a renda agrícola da microrregião; Fator 2, qualidade de vida nos domicílios rurais; Fator 3, a preservação ambiental; Fator 4, diversidade da atividade agropecuária; Fator 5, número de pessoas que desenvolvem atividades próprias do meio rural e a educação; Fator 6, papel do crédito no desenvolvimento rural.

Análise do IDR

42A partir dos escores fatoriais para cada uma das 558 microrregiões e, de acordo com a metodologia, obteve-se como IDR médio 44,12 e um desvio padrão de 12,29, gerando os seguintes limites inferiores e superiores para a determinação da categoria do grau de desenvolvimento, o qual é fornecido pela Tabela 3.

Tabela 3: Categorias de Desenvolvimento Rural, intervalos do IDR e total de microrregiões pertencentes a cada grau do desenvolvimento rural

Categoria

Limite inferior

Limite superior

Total de

Microrregiões

Microrregiões (%)

EA

80,99

100

7

1,3

MA

68,70

80,99

8

1,4

A

56,41

68,70

56

10,0

MDA

44,12

56,41

202

36,2

MDB

31,83

44,12

208

37,3

B

19,54

31,83

67

12,2

MB

7,25

19,54

8

1,3

EB

0

7,25

2

0,3

Fonte: Resultados da pesquisa

43Analisando a Tabela 3, verifica-se que de acordo com a classificação sete microrregiões apresentaram grau de desenvolvimento extremamente alto (EA). Na segunda categoria, muito alto (MA), oito microrregiões se enquadram nesta categoria. Com grau alto (A) de desenvolvimento são observadas 56 microrregiões. Pela categoria médio alto (MDA), 202 microrregiões se destacam. Classificados com algum grau de desenvolvimento baixo (MDB, B, MB e EB) são observadas 285 microrregiões, representando 51,07% do total das microrregiões. Porém, apenas 12,7% das microrregiões possuem um grau de desenvolvimento acima da média.

44A Tabela 4 demonstra o grau de desenvolvimento das microrregiões para cada uma das grandes regiões brasileiras. Observando as unidades territoriais - microrregiões - verificam-se que as regiões Sul (com 94,7% das microrregiões acima da média) e Sudeste (com 51,2%) apresentam uma distribuição dos níveis de desenvolvimento rural superior às demais regiões do país.

Tabela 4: Grau de desenvolvimento rural para as grandes regiões

GD

Regiões

Brasil

Norte

Nordeste

Sudeste

Sul

Centro-Oeste

Micros

%

Micros

%

Micros

%

Micros

%

Micros

%

Micros

%

EA

0

0,0%

0

0,0%

3

1,9%

0

0,0%

4

7,7%

7

1,3%

MA

0

0,0%

2

1,1%

2

1,3%

2

2,1%

2

3,8%

8

1,4%

A

0

0,0%

5

2,7%

19

11,8%

29

30,9%

3

5,8%

56

10,0%

MDA

4

6,3%

72

38,3%

58

36,2%

58

61,7%

10

19,3%

202

36,2%

MDB

21

32,8%

93

49,4%

67

41,9%

5

5,3%

22

42,3%

208

37,3%

B

31

48,4%

15

8,0%

11

6,9%

0

0,0%

10

19,2%

67

12,0%

MB

7

10,9%

0

0,0%

0

0,0%

0

0,0%

1

1,9%

8

1,4%

EB

1

1,6%

1

0,5%

0

0,0%

0

0,0%

0

0,0%

2

0,4%

Total

64

100%

188

100%

160

100%

94

100%

52

100%

558

100%

Fonte: Resultados da pesquisa

45Uma vez calculado o IDR e definido em qual categoria cada microrregião se enquadra, pode-se plotar estes resultados em um mapa, podendo assim, observar como o IDR está distribuído espacialmente e de forma heterogênea no país, o qual está apresentado na Figura 1

Figura 1: Mapa da distribuição espacial do Índice de Desenvolvimento Rural para as microrregiões brasileiras.

Quais foram os principais fatores que determinaram o êxodo rural no Brasil

Fonte: Resultados da pesquisa

Distribuição espacial dos fatores que compõem o IDR

46Após a análise do IDR, torna-se relevante verificar o comportamento dos fatores gerados, tendo como base os escorres fatoriais calculados para as 558 microrregiões, uma vez que os escores fatoriais definem os fatores de desenvolvimento rural para cada uma das microrregiões analisadas. Quanto maior for o valor do escorre fatorial, maior será o desvio-padrão, e maior a influência do fator na microrregião.

47Como os escorres fatoriais são variáveis de média zero e desvio-padrão igual a um, pôde-se elaborar uma classificação dos escorres fatoriais de acordo com seus desvios-padrão, onde escorres fatorais que apresentaram resultados com três desvios-padrão acima da média são classificados como extremamente alto (EA), muito alto (MA) aqueles com resultados entre dois e três desvios-padrão acima da média; alto (A), aqueles com valores entre um e dois desvios-padrão acima da média; médio alto (MDA), os que apresentaram resultado entre a média e um desvio-padrão acima da média; baixo (MDB), aqueles com resultados no intervalo entre a média e um desvio-padrão abaixo da média; muito baixo (MB), os que tiveram resultados no intervalo entre um e dois desvios-padrão abaixo da média e, por último, extremamente baixo (EB), os escorres fatoriais com resultados com três desvios-padrão abaixo da média.

48A Tabela 5 demonstra o número de microrregiões de acordo com a classificação dos escorres fatorais para cada fator. Examinando a Tabela 5, verifica-se que todos os fatores apresentaram escorres fatoriais acima e abaixo da média, ou seja, apresentaram valores positivos e negativos em todas as microrregiões.

Tabela 5: Total de microrregiões de acordo com a classificação dos escorres fatorais para cada fator

Classificação dos

escorres fatoriais

Fator 1

Fator 2

Fator 3

Fator 4

Fator 5

Fator 6

EB

0

1

5

5

0

1

MB

0

15

16

23

1

11

B

32

79

62

62

64

59

MDB

323

173

168

147

264

219

MDA

148

205

224

245

152

195

A

33

73

79

76

53

53

MA

11

12

4

0

19

18

EA

11

0

0

0

5

2

Fonte: Resultados da pesquisa

49A partir da classificação dos escorres fatoriais, analisa-se os Fatores 1, 2 e 3, pois os mesmos explicam 39,99% da variância acumulada.

50O Fator 1 (produtividade dos fatores de produção e a renda agrícola da microrregião) apresentou 203 microrregiões com escorres fatorais acima da média e 355 microrregiões com escorres fatoriais abaixo da média. A Figura 2, demostra a distribuição espacial dos escorres fatoriais para o Fator 1 de acordo com as suas classificações.

Figura 2: Distribuição espacial dos escorres fatoriais do Fator 1

Quais foram os principais fatores que determinaram o êxodo rural no Brasil

Fonte: Resultados da pesquisa

51Verificando a Figura 2, percebe-se que as microrregiões da região Sul e Centro Oeste e as microrregiões no estado de São Paulo, apresentaram uma maior concentração de escorres fatoriais acima da média (classificações MDA, A, MA e EA). O valor das váriaveis que compõem o fator em questão encontram-se bem acima do valor médio brasileiro, demonstrando uma alta produtividade dos fatores de produção, bem como uma elevada renda per capita rural, o que por sua vez, demonstra o grande dinamismo rural destas microrregiões, com relação ao Fator 1.

52Por sua vez, o Fator 2 (qualidade de vida nos domicílios rurais), apresentou uma distribuição mais homogênea, possuindo 290 microrregiões com escorres fatoriais acima da média e 268 microrregiões com escorres fatoriais abaixo da média. A distribuição espacial dos escorres fatoriais pode ser observado pela Figura 3.

Figura 3: Distribuição espacial dos escorres fatoriais para o Fator 2

Quais foram os principais fatores que determinaram o êxodo rural no Brasil

Fonte: Resultados da pesquisa

53As microrregiões com escorres fatoriais acima da média concentram se nas regiões Sul, Sudeste, e no litoral da região Nordeste. Estas microrregiões possuem valores elevados para as variáveis: proporção dos domicílios rurais que possuem energia elétrica (X1), proporção dos domicílios rurais servido de água proveniente de uma rede geral de abastecimento (X2), proporção dos domicílios rurais que possuem sistema de esgoto (X3) e proporção dos domicílios rurais que possuem lixo coletado por serviço de empresa pública ou particular (X4), ao contrário das microrregiões da região Norte e interior do Nordeste, as quais apresentaram valores abaixo da média brasileira, tornando os escorres fatoriais negativos. Os valores negativos demonstram as péssimas condições de higiene e salubridade destas áreas rurais.

54Já o Fator 3 (preservação ambiental), apresentou 55% das suas microrregiões com escorres fatoriais acima da média e 45% das microrregiões com escorres fatoriais abaixo da média.

Figura 4: Distribuição espacial dos escorres fatoriais para o Fator 3

Quais foram os principais fatores que determinaram o êxodo rural no Brasil

Fonte: Resultados da pesquisa

55Analisando a Figura 4, percebe-se que a região Norte possui uma maior quantidade de microrregiões com escorres fatoriais abaixo da média, ocasionados por problemas ambientais, como por exemplo, contaminação do solo e desmatamento.

Considerações finais

56O presente artigo buscou verificar os determinantes do desenvolvimento rural no Brasil, utilizando a visão multidimensional do desenvolvimento rural. Como ponto de partida foi elaborado um indicador sintético para o desenvolvimento rural, o Índice de Desenvolvimento Rural, para as microrregiões do Brasil. O indicador foi capaz de identificar as intensas diferenças territoriais bem como classificar as microrregiões quanto ao seu grau de desenvolvimento de rural.

57Pela observação em conjunto, permite-se a conclusão de que o processo de desenvolvimento rural vai além da análise do crescimento econômico medido pelo produto e renda per capita, pois foram encontrados determinantes relacionados a qualidade de vida nos domicílios rurais, a preservação ambiental, a diversidade da atividade agropecuária, ao número de pessoas que desenvolvem atividades próprias do meio rural, a educação e o papel do crédito no desenvolvimento rural.

58Os resultados desta pesquisa não esgotam os debates sobre o tema, uma vez que a própria definição de desenvolvimento rural é complexa. Mas os resultados mostram-se importantes, pois ao se conhecer o estado de desenvolvimento em que se encontra uma região, facilita-se a adoção de estratégias mais eficazes, com isto promovendo o desenvolvimento das regiões como um todo.

Quais foram os principais fatores que determinavam o êxodo rural no Brasil?

Os principais fatores que causam essa força repulsiva são:.
concentração fundiária: pouca disponibilidade de terras produtivas para os mais pobres. ... .
baixos salários: a renda das pessoas que trabalham no campo, principalmente em propriedades de terceiros e em grandes latifúndios, tende a ser muito baixa;.

Quais são os principais fatores do êxodo rural?

Resposta: 4° Os principais fatores responsáveis pela queda do êxodo rural no Brasil são: a quantidade já escassa de trabalhadores rurais no país, exceto o Nordeste, que ainda possui uma relativa reserva de migrantes; e os investimentos, mesmo que tímidos, para os pequenos produtores e agricultores familiares.

Quais foram os principais fatores que favoreceram o êxodo das áreas rurais contribuindo para o crescimento econômico e industrial das cidades?

Aplicação de tecnologia na agricultura, que liberou a mão de obra no campo, e a expectativa de melhores condições de vida nas cidades foram fatores que favorecem o êxodo das áreas rurais, contribuindo para o crescimento econômico e industrial das cidades.

Quais foram os fatores que determinaram o processo de urbanização no Brasil?

- O aumento da população nas grandes cidades está associado ao êxodo rural, ou seja, ao fato de a população deixar a zona rural para dirigir-se aos centros urbanos. - O processo de urbanização ocorre segundo fatores atrativos, como a industrialização, e fatores repulsivos, como a modernização do campo.