Muitas pessoas guardam nas suas memórias de infância uma típica exortação materna —olha a postura, meu filho! Porém, para parte dessas crianças, alinhar os ombros, os quadris e se manter ereto era uma tarefa impossível. Isso porque o desalinho poderia ter como causa uma curvatura lateral anômala da coluna vertebral. A esse problema se dá o nome de escoliose. Show
A condição afeta de 2% a 3% da população em geral, e é mais prevalente entre as meninas, que ainda têm 8 vezes mais chances de a curvatura progredir, especialmente na adolescência. A situação poderá ser tão grave que a indicação cirúrgica será a única solução. Os dados são da Fundação Nacional para a Escoliose, dos Estados Unidos. RelacionadasEntre os médicos, o maior desafio dessa enfermidade é que, na maioria das vezes, não se conhece a causa de seu aparecimento. Apesar disso, nem toda escoliose é patológica, ou seja, pode ser definida como uma doença. Em muitos casos, a conduta médica pode ser apenas observar e acompanhar a evolução. Entenda o problemaA sua coluna foi projetada para estar alinhada ao seu próprio eixo. Quando ocorre uma rotação ou o desvio desse ponto observa-se uma curvatura, ou seja, a coluna pende para um lado, de forma que, quando a pessoa é observada de costas, há um desnivelamento dos ombros. A depender da extensão desse desnível ou a origem do problema, a escoliose será considerada patológica ou não. Possíveis causasEm 80% dos casos, a origem da escoliose é desconhecida e os médicos se referem a ela como idiopática. A escoliose é assim classificada:
Outras causas possíveis
E atenção: a escoliose não tem como causa carregar mochilas escolares ou objetos pesados apenas de um dos lados do corpo, ou mesmo práticas esportivas, postura incorreta ao dormir, e até ficar muito tempo em pé ou sentado. Contudo, isso não significa que não é preciso ter cuidado com a postura e o excesso de peso. A escoliose pode ser hereditária?De acordo com Fernando Herrero, professor da divisão de cirurgia de coluna do Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo), cerca de 3 em cada 10 pessoas com escoliose idiopática têm histórico familiar. "Os principais estudos sobre a origem da escoliose apontam para um componente hereditário, o que se confirma pela maior ocorrência dela entre irmãos gêmeos", diz o médico. "Além disso, aproximadamente 1 em cada 3 crianças, cujos pais tenham escoliose, desenvolverão o problema", completa. Como identificar os sintomasGeralmente, a escoliose leve não apresenta sintomas. De 20% a 30% das pessoas poderão sentir dor nas costas. No entanto, os sinais mais comuns são os indicados abaixo:
A hora certa de procurar um médicoNa maioria das vezes, a identificação da escoliose se dá por meio de triagem feita nas escolas pelos professores de educação física, ou mesmo em casa, quando os pais notam o desalinhamento do ombro ao vestir as crianças. Ao perceber algum dos sinais acima, procure um especialista. Qual é o médico mais indicado?Como, em geral, a escoliose pode ser notada já na infância, por vezes, o primeiro médico a examinar a criança será o pediatra ou o clínico geral. Contudo, ela deverá ser encaminhada para um ortopedista que terá melhores condições de avaliar o grau da angulação da escoliose, identificar a causa, se houver, além de seus possíveis desdobramentos, conforme o potencial de crescimento do paciente. Como é feito o diagnósticoEle é clínico, isto é, decorre do exame físico e de uma conversa com o médico. Este avaliará as possíveis alterações da coluna, o que inclui o chamado Teste de Adams que verifica a presença de gibosidade. Eduardo Murilo Novak, presidente da SBOT-PR (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia da Regional do Paraná), explica que é essencial que se faça uma radiografia da coluna. "O exame não só confirma o diagnóstico, como permite medir a angulação —a técnica se chama ângulo de Cobb— e ainda possibilita calcular o seu potencial agravamento. Quanto mais cedo fizermos o diagnóstico, mais fácil será a correção e controle do desvio", fala o especialista. Como é feito o tratamentoA gravidade da curva (ela é medida em graus) vai orientar o médico na decisão da melhor forma de tratamento. A idade é outro fator a influenciar a estratégia terapêutica. A depender da idade do paciente, o potencial crescimento orientará o caminho a seguir. Quando a alteração é pequena (menos que 20 graus), e o crescimento já chegou no seu limite, a indicação é o acompanhamento semestral para observar eventual piora. A radiografia deve ser feita uma vez a cada ano. Já nos casos graves, quando a curvatura é de 25 a 50 graus (e até acima desses limites), a cirurgia é a única forma de corrigir a escoliose. A intervenção é conhecida como artrodese da coluna e pode até ser feita em mais de uma fase, com abertura da parte da frente e de trás do tronco para a introdução de hastes e parafusos que garantam o alinhamento da coluna. Usar colete é sempre necessário?O colete será a solução nos casos em que se deseja evitar a progressão da escoliose. Ele é utilizado na presença das seguintes características:
Se eu fizer só fisioterapia vai resolver?"Grandes curvaturas podem causar dor, diferença no tamanho das pernas e alteração na forma de caminhar, além de desencadear problemas respiratórios, cardiovasculares e até digestivos", esclarece Hildemberg Santiago, professor adjunto do curso de fisioterapia do ISB-UFAM (Instituto de Saúde e Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas). Portanto, a fisioterapia é aliada ao orientar práticas de realinhamento postural, o que melhora a respiração e o equilíbrio. Apesar disso, todos os especialistas consultados nesta matéria advertem: há pouca evidência científica sobre os benefícios da fisioterapia para interromper o avanço da escoliose, em especial durante o período de crescimento. Importante saber que após essa fase do desenvolvimento é raro que a escoliose progrida rapidamente. Antes de aderir a qualquer tipo de tratamento que promete corrigir a escoliose, "colocar a coluna no lugar" por meio de massagem ou tração etc, sem o uso do colete, consulte um médico de sua confiança. O que acontece se você não tratar a escoliose?Caso o tratamento não seja realizado ou ele ocorra de forma inadequada, a consequência é a progressão da curva da coluna. A idade e a gravidade dela são os dois fatores que determinam a possibilidade de progressão da escoliose. Por exemplo, crianças menores de 10 anos de idade, com curvas acima de 35 graus, provavelmente irão piorar sem o devido tratamento, principalmente se forem meninas. Dá para prevenir?Não é possível evitar que a escoliose apareça. Mas dá para prevenir a progressão da curvatura. Daí a importância do diagnóstico precoce. Quanto mais cedo for o diagnóstico, maiores serão as chances de ter um bom resultado. Fontes: Eduardo Murilo Novak, presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia da Regional do Paraná, e professor dos cursos de Medicina da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Fernando Herrero, docente da divisão de cirurgia de coluna do Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo) e cirurgião de coluna do Grupo de Ortopedia do Hospital Sírio Libânes - Unidade de Brasília; Hildemberg Santiago, professor adjunto do curso de Fisioterapia do ISB da UFAM (Instituto de Saúde e Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas). Revisão técnica: Eduardo Murilo Novak. Referências: NSF (National Scoliosis Foundation); Romano M, Minozzi S ET alli. Exercises for adolescent idiopathic scoliosis: a Cochrane systematic review. Spine. 2013; Hildberg Agostinho da Rocha Santiago. A influência da escoliose idiopática do adolescente e do seu tratamento cirúrgico sobre o equilíbrio semi-estático. Dissert. Mestrado. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. 2015. O que acontece se não tratar a escoliose?Nos casos em que a angulação da escoliose é muito grande, ou seja, mais de 50 graus, pode acontecer uma compressão desses órgãos, dificultando a expansão e comprometendo a capacidade pulmonar.
Quem tem escoliose sente muita dor?O paciente poderá sentir: Dores musculares, de intensidade leve ou alta, a depender de cada caso; Sensação de fadiga nas costas, especialmente após um período prolongado na posição sentada ou em pé; Fatores psicológicos.
O que faz a escoliose piorar?O que pode piorar a escoliose? A falta de tratamento adequado pode ser crucial para a piora da escoliose. Nesse sentido, o portador tem grandes chances de ter muita dor nas costas, no pescoço, na lombar e comprometimento do nervo ciático, provocando dores que vão para as pernas.
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