Qual é a relação entre a expansão da produção do café e o desenvolvimento das ferrovias?

Autores

  • Pedro Geraldo Tosi Faculdade de História, Direito e Serviço Social da Universidade Estadual Paulista
  • Rogério Naques Faleiros Departamento de Economia do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas da Universidade Federal do Espírito Santo

Palavras-chave:

Cafeicultura. Ferrovias. CMEF. Produção de alimentos. São Paulo

Resumo

Não obstante o peso decisivo das receitas geradas pelo café para os balanços financeiros das ferrovias paulistas entre 1888 e 1917, e a centralidade da atividade cafeeira na economia paulista de então, discute-se neste artigo a especialização relativa ao nível da produção verificada em São Paulo e a questão dos fretes das ferrovias neste cenário. Parte-se da ideia de que a cafeicultura, em seu desenvolvimento, demandava a diversificação de culturas agrícolas, pois as unidades básicas de produção – as fazendas de café – não se caracterizavam unicamente pela monocultura, sendo que os nexos entre uma produção voltada à exportação e outra voltada ao mercado interno davam-se nas relações de trabalho estabelecidas entre contratantes e contratados, e nas formas pelas quais os fazendeiros expropriavam aqueles que se subordinavam aos seus interesses. Verifica-se no caso estudado o aumento simultâneo das quantidades de café e de alimentos transportadas e transacionadas pela Cia. Mogiana nos marcos da periodização proposta; porém, percebe-se estreita dependência em relação à receita gerada pelo transporte de café. Aponta-se, ainda, a especialização absoluta ao nível do crédito e da circulação (transportes) que caracterizavam este complexo econômico.

Abstract

Notwithstanding the decisive weight of values generated by coffee for the financial statements of the São Paulo’s railroads between 1888 and 1917, and to the importance of the coffee in this economy, we argues in this article about the relative specialization in agriculturist production verified in São Paulo’s lands and the question of the freights of the railroads in this conditions. Our idea is that coffee activity, in its development, demanded the diversification of agricultural cultures, therefore the basic units of production – the coffee farms – were not characterized solely by the cultivation of coffee, being that the nexuses between a production come back to the exportation and another come back to the internal market were given in the relations of work established between employers and employees, and in the forms by which the farmers expropriated its subordinate. The simultaneous increase of the amounts of coffee is verified in the studied case and of foods carried and done business for the Cia. Mogiana in landmarks of the period proposal; however, narrow dependence in relation to the values generated for the coffee transport is perceived. It is pointed, still, the absolute specialization to the level of the credit and the circulation (transports) that characterized this economic complex.

Keywords: Coffee economy; Railroads; CMEF; Food production; São Paulo.

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Biografia do Autor

Pedro Geraldo Tosi, Faculdade de História, Direito e Serviço Social da Universidade Estadual Paulista

cursou graduação em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas - SP (1980) e estudou Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (1976-1981), obteve grau de mestre em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1992) e doutorado em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de Campinas (1998). Cursou Pós Doutorado em Pedagogia na Université Paris-Nord (2002). Atualmente é professor assistente doutor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho exercendo suas funções na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, câmpus de Franca, instituição a partir da qual exerceu funções de Chefia de Departamento e Coordenação do Curso de Graduação em História, além de ter participado em comissões técnicas, científicas, acadêmicas e de gestão - lecionou disciplinas relacionadas à economia e à metodologia da pesquisa nos cursos de Serviço Social, Relações Internacionais e Direito. Registra, também, considerável elenco de participação em órgãos colegiados da Universidade. 

Rogério Naques Faleiros, Departamento de Economia do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas da Universidade Federal do Espírito Santo

Possui Graduação (Bacharelado e Licenciatura) em História pela Universidade Estadual Paulista (1999), Mestrado em História Econômica (2002) e Doutorado (2007) em Economia Aplicada (área de concentração em História Econômica), ambos pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente é Professor Adjunto IV do Departamento de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e do Programa de Pós-Graduação em Política Social, exercendo também o cargo de Diretor do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas CCJE-UFES (2013-2017).

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Qual é a relação entre a expansão da produção de café e o desenvolvimento das ferrovias?

O objetivo de construção das ferrovias era agilizar o escoamento da produção de café, diminuindo o tempo de transporte entre os locais de produção e os portos de onde a mercadoria era exportada. As ferrovias eram uma das condições gerais de produção necessárias ao crescimento econômico do país.

Qual a relação entre o café e as ferrovias?

Com o café atingindo regiões cada vez mais distantes do litoral, o que era possível graças à abundância de terras de solo ainda virgem, as ferrovias surgiram para auxiliar a produção cafeeira já existente, tornando o transporte mais rápido, seguro e barato da produção com destino ao porto de Santos.

Que relação pode ser observada entre as construções das ferrovias e a expansão da produção de café no século 19?

Através da construção de ferrovias o café podia ser transportado para todas as partes do país, sendo assim várias regiões que não produziam café poderiam consumi-lo.

Qual é o papel da ferrovia no desenvolvimento do ciclo do café no estado de São Paulo?

A FERROVIA EM SÃO PAULO A ferrovia representava então, nova oportunidade de inversão para o capital cafeeiro, ao mesmo tempo em que provocava uma redução nos custos dos transportes. Surgiu então, como parte do complexo cafeeiro, contribuindo para a realização do sistema de produção exportador.