4. sobre a ocorrência de abalos sismicos, o que é correto afirmar sobre o brasil?

Terremotos no Brasil são causados por falhas geológicas nas placas tectônicas EFE/Rolex Dela Pena

Durante muito tempo se acreditou que os terremotos eram ocasionados apenas devido a atividades vulcânicas e ao encontro de placas tectônicas. Como o Brasil não se encaixa em nenhum desses casos, pois está no centro da sul-americana, acreditava-se que o país nunca registraria esse tipo de evento.

No entanto, há registros de tremores de terra no país. Em 2020, a Rede Sismográfica Brasileira, forma por pesquisadores da UFRN, da USP, da UNB e do Observatório Nacional, verificou a ocorrência de 248 tremores no Brasil, com apenas três desses registrando mais de 4 graus na escala Richter. Entre 1900 e 2020, o país teve 2959 terremotos.

“A explicação geral é que há o entendimento de que mesmo no interior das placas, durante o processo de formação geológica, certas zonas que herdaram algumas cicatrizes. Ou seja, são regiões imperfeitas e que às vezes quebram e formam as falhas geológicas”, destaca Aderson Farias do Nascimento, professor e coordenador do LabSis (Laboratório Sismológico) da UFRN (Universidade Federal da Rio Grande do Norte).

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O especialista ressalta que as placas observadas na atualidade são resultados de processos de sobreposição que duraram milhões de anos. Como nem sempre há um encaixe perfeito dessas estruturas, são originadas as rachaduras que causam os terremotos no Brasil.

“Não temos muita facilidade para estudar as atividades sísmicas que acontecem no interior das placas, uma vez que as falhas não são tão evidentes como os encontros dessas diferentes estruturas. Esse é um dos fatores que levaram as pessoas a demorarem para acreditar na existência dessas rachaduras e no seu potencial de gerar tremores”, explica.

O professor da UFRN afirma que a grande maioria dos tremores sentidos no país têm uma intensidade muito baixa e por conta disso os laboratórios sismológicos brasileiros muitas vezes nem conseguem registrar essas atividades.

Em contraponto, alguns terremotos com maior magnitude já ocorreram no território brasileiro. O maior deles aconteceu em 1955, no estado do Mato Grosso, na Serra do Trombador. O abalo atingiu 6.6 graus de magnitude na escala Richter.

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“Em 1955 o Mato Grosso era bem diferente do que a gente conhece hoje, não era uma área tão populosa e urbanizada. Por conta disso, o terremoto não causou danos materiais e mortes na região”, enfatiza o geofísico da UFRN.

O segundo maior terremoto brasileiro também aconteceu em 1955, mas em Vitória, no Espírito Santo. A atividade sísmica teve 6.3 graus na escala Richter e também não houve o registro de danos na região.

No mês de julho deste ano, uma série de tremores foram registrados no Rio Grande do Norte. De acordo com Aderson farias, nenhum deles ultrapassou os 4 graus de magnitude e os especialistas ainda estudam as causas dessa sequência de cerca de 20 terremotos.

“Uma das hipóteses que a gente trabalha é a de uma extensão da Falha de Samambaia, que atravessa o município de João Câmara. A outra é que, no processo de abertura do continente foram criadas fraturas no sentido leste-oeste, e pode ser que essas imperfeições estejam sendo reativadas próximas ao continente.”

Os abalos sísmicos que acontecem ao redor do mundo são medidos pelas escalas Richter e Mercalli. Cada uma delas analisa essas atividades de pontos de vista diferentes. A escala Richter é conhecida entre os geofísicos e sismólogos por fazer a medição da magnitude dos terremotos a partir do hipocentro, ponto exato do tremor no subsolo, e do epicentro, região onde a atividade sísmica é sentida com maior intensidade na superfície terrestre.

Nesta medição, as magnitudes vão de 2, que são os tremores sentidos apenas pelos laboratórios sismológicos, até 9, quando os terremotos causam a destruição total na região de ocorrência.

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Por sua vez, a escala de Mercalli é utilizada para medir as atividades sísmicas com um olhar qualitativo. Ou seja, os especialistas a utilizam para classificar o nível de destruição de determinado tremor em relação à percepção humana.

A medição ocorre em números romanos, sendo que I (imperceptível) refere-se aos terremotos registrados apenas por sismólogos e VI (bastante forte) diz respeito a danos em habitações e queda de chaminés.

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Há também a classificação em níveis alarmantes, que vai desde VII (muito forte), com o registro de estragos em construções mais simples e forte percepção de motoristas de automóveis, até XII, um cenário de destruição total que até hoje nunca foi observado no mundo.

“É graças à escala de Mercalli que a gente consegue estimar a magnitude de eventos que aconteceram há séculos atrás, umas vez que são medidos os efeitos que eles causaram na região”, destaca Aderson Farias.

*Estagiário do R7 sob supervisão de Pablo Marques

Por muito tempo, acreditou-se que o Brasil estivesse a salvo dos terremotos por não estar sobre as bordas das placas tectônicas - o movimento dessas placas estão entre as principais causas dos terremotos.

No entanto, sabe-se que os tremores podem ocorrer inclusive nas regiões denominadas "intraplacas", como é o caso brasileiro, situado no interior da Placa Sul-Americana. Nessas regiões, os tremores são mais suaves, menos intensos e dificilmente atingem 4,5 graus de magnitude.

Os tremores que ocorrem em nosso país decorrem da existência de falhas (pequenas rachaduras) causadas pelo desgaste da placa tectônica ou são reflexos de terremotos com epicentro em outros países da América Latina.

Ou seja, no Brasil os abalos sísmicos têm características diferentes dos terremotos que ocorrem, por exemplo, no Japão e nos Estados Unidos.

Nesses locais, existe o encontro de duas ou mais placas tectônicas - e as falhas existentes entre elas são, normalmente, os locais onde acontecem os terremotos mais intensos.

Embora a sismicidade ou atividade sísmica brasileira seja menos freqüente e bem menos intensa, não deixa de ser significativa e nem deve ser desprezada, pois em nosso país já ocorreram vários tremores com magnitude acima de 5,0 na Escala Richter, indicando que o risco sísmico não pode ser simplesmente ignorado.

Escala Richter

A primeira Escala Richter apontou o grau zero para o menor terremoto passível de medição pelos instrumentos existentes à época. Atualmente, a sofisticação dos equipamentos tornou possível a detecção de tremores ainda menores do que os associados ao grau zero, e tem ocorrido a medição de terremotos de graus negativos.

Teoricamente, a Escala Richter não possui limite. De acordo com o Centro de Pesquisas Geológicas dos Estados Unidos, aconteceram três terremotos com magnitude maior do que nove na Escala Richter desde que a medição começou a ser feita. De acordo com outras fontes, como a Enciclopédia Britânica, tal marca nunca foi alcançada.

Regiões brasileiras e abalos sísmicos

No Brasil, os tremores de terra só começaram a ser detectados com precisão a partir de 1968, quando houve a instalação de uma rede mundial de sismologia. Brasília foi escolhida para sediar o arranjo sismográfico da América do Sul. Há, atualmente, 40 estações sismográficas em todo o país, sendo que o aparelho mais potente é o mantido pela Universidade de Brasília.

Há relatos de abalos sísmicos no Brasil desde o início do século 20. Segundo informações do "Mapa tectônico do Brasil", criado pela Universidade Federal de Minas Gerais, em nosso país existem 48 falhas, nas quais se concentram as ocorrências de terremotos.

Ainda segundo dados levantados a partir da análise de mapas topográficos e geológicos, as regiões que apresentam o maior número de falhas são o Sudeste e o Nordeste, seguidas pelo Norte e Centro-Oeste, e, por último, o Sul.

O Nordeste é a região que mais sofre com abalos sísmicos. O segundo ponto de maior índice de abalos sísmicos no Brasil é o Acre. No entanto, mesmo quem mora em outras regiões não deve se sentir imune a esse fenômeno natural.

Embora grande parte dos sismos brasileiros seja de pequena magnitude (4,5 graus na Escala Richter), a história tem mostrado que, mesmo em "regiões tranquilas" podem acontecer grandes terremotos. Apesar de não ser alarmante, o nível de sismicidade brasileira precisa ser considerado em determinados projetos de engenharia, como centrais nucleares, grandes barragens e outras construções de grande porte, principalmente nas construções situadas nas áreas de maior risco.

Alguns tremores de terra registrados no Brasil

O maior terremoto que o país já teve ocorreu há mais de 50 anos, na Serra do Tombador, no Mato Grosso: atingiu 6,6 graus na Escala Richter. Mas há outros registros:

  • Mogi-Guaçu, São Paulo, 1922: 5,1 graus
  • Tubarão, Santa Catarina, 1939: 5,5 graus
  • Litoral de Vitória, Espírito Santo, 1955: 6,3 graus
  • Manaus, Amazonas, 1963: 5,1 graus
  • Noroeste do Mato Grosso do Sul, 1964: 5,4 graus
  • Pacajus, Ceará, 1980: 5,2 graus
  • Codajás, Amazonas, 1983: 5,5 graus
  • João Câmara, Rio Grande do Norte, 1986: 5,1 graus
  • João Câmara, Rio Grande do Norte, 1989: 5,0 graus
  • Plataforma, Rio Grande do Sul, 1990: 5,0 graus
  • Porto Gaúcho, Mato Grosso, 1998: 5,2 graus
  • Estado de Pernambuco: entre 2001 e 2005 foram registrados 1,5 mil tremores de terra de baixo impacto
  • Divisa entre Acre e Amazonas, 2007, 6,1 graus
  • Itacarambi, Minas Gerais, 09/12/2007: 4,9 graus (é o primeiro tremor da história do Brasil que provocou 1 morte, 5 feridos e varias casas destruídas).

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