Curiosidades sobre a primeira fase do Modernismo

Por Lígia Saba 

A Semana de Arte Moderna, também chamada de Semana de 22, ocorreu em São Paulo, entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal da cidade, e representa um dos principais marcos do movimento modernista no Brasil. O evento, que completa seu centenário no ano que vem, é considerado um dos principais na história da arte nacional. Nesse contexto, preparamos uma lista com 10 fatos e curiosidades para você conhecer um pouco mais sobre a Semana de 22. 

• Compartilhe essa notícia no Whatsapp• Compartilhe essa notícia no Telegram

10. Monteiro Lobato foi um forte opositor dos modernistas

LEIA TAMBÉM

• Vídeo: Em Brasília, 7 de Setembro começa com queima de fogos e churrasco• No dia da Independência, saiba o papel de Goiás na libertação do domínio português • Número de goianos endividados aumenta 7,40% em agosto de 2022

Em 1917, Anita Malfatti, recém-chegada da Europa, montou uma exposição com suas obras em São Paulo, considerada a primeira exposição modernista do Brasil. No dia 20 de dezembro, o escritor Monteiro Lobato publica um artigo no jornal O Estado de S. Paulo que criticava ferozmente a exposição de Malfatti, chamando as formas distorcidas e abstratas representadas nas obras modernistas de frutos de “cérebros transtornados por psicoses” e defendendo a arte clássica de época.

9. A Semana foi financiada pela oligarquia paulista

O apoio da elite paulista foi fundamental, na época, em pleno auge do período das oligarquias na República Velha, a oligarquia paulista tinha interesse em tornar São Paulo uma referência em criação cultural, posto que era ocupado pelo Rio de Janeiro. Além disso, o início da efervescência paulista passou a se contrapor ao conservadorismo carioca, que era bem mais tradicional no ramo das artes e, por isso mesmo, tinha um estilo mais consolidado e conservador. Assim, a Semana de Arte Moderna foi amplamente financiada pela elite cafeeira, que tomou a frente do evento de projeção nacional.

8. Sua duração na verdade foi de apenas três dias

A Semana de Arte Moderna, na verdade, durou apenas três dias, alternados, o evento esteve anunciado e programado para ocorrer entre os dias 11 e 18 de fevereiro, mas o Theatro foi aberto para as exposições nos dias 13, 15 e 17. Em cada dia, as apresentações foram divididas por tema: no dia 13, pintura e escultura; no dia 15, a literatura; e no dia 17, a música.

7. Não agradou o público 

As pinturas e esculturas, de formas estranhas, fizeram os visitantes se perguntarem se os quadros estavam pendurados da maneira certa. Os poemas modernistas eram declamados entre vaias e gritos da plateia. Conta-se, inclusive, que no último dia o músico Heitor Villa-Lobos entrou para sua apresentação calçando sapato em um pé e chinelos no outro, o que foi considerado um desrespeito pelo público presente.

6. Mais Vaias 

Durante a leitura do famoso poema “Os Sapos”, de Manuel Bandeira, o público presente no Teatro Municipal fez coro e atrapalhou a leitura, mostrando mais uma vez sua desaprovação como o movimento.

5. O único pernambucano da Semana de Arte Moderna

Divulgador das vanguardas europeias no Brasil, Vicente do Rêgo Monteiro (1899-1970) foi um precursor das ideias que nortearam a Semana de 22, com seu interesse nas lendas amazônicas e na produção de cerâmica marajoara desde a década anterior. Deixou oito obras para serem expostas na Semana de Arte Moderna, mas na época vivia em Paris.

4. A Escrava que não era Isaura

Durante a Semana de Arte Moderna, Mário de Andrade fez a apresentação do esboço de um texto que seria publicado na íntegra apenas em 1925, chamado A escrava que não era Isaura. No ensaio, ele defende um maior aprofundamento do verso livre, da síntese no uso das palavras e frases e defende uma maior valorização do que há de brasileiro na língua (características centrais que aparecem no movimento modernista).

3. Participaram da semana:

Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Yan de Almeida Prado, na Pintura e no Desenho; Victor Brecheret, Hildegardo Leão Velloso e Wilhelm Haarberg, na Escultura; Antonio Garcia Moya e Georg Przyrembel, na Arquitetura; Mário e Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Sérgio Milliet, Plínio Salgado, na Literatura; Villa-Lobos e Guiomar Novais, na Música.

2. Primeira-dama do Modernismo 

Um dos principais nomes do Movimento no Brasil, Tarsila do Amaral, não participou do evento, pois estava estudando na Europa.

1. Inspiração 

A Semana de Arte Moderna de 1922 foi inspirada no Cubismo, movimento artístico criado por Pablo Picasso e Georges Braque, no início do século XX, o qual representava objetos e pessoas, por meio de formas geométricas formadas por cubos, daí o nome.

O Modernismo foi criado no período compreendido entre 1922 a 1930 e teve início com o marco da Semana de Arte Moderna em fevereiro 1922, no teatro Municipal de São Paulo e pretendia fazer com que a população, de modo geral, tomasse consciência da realidade brasileira. Este movimento cultural foi idealizado e liderado por um grupo de artistas integrado pelos escritores Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia e pela pintora Anita Malfatti, além de contar com várias participações artísticas. É considerado um movimento não só artístico como também político e social, já que se opunha à política totalitária da época, bem como da contradição social entre os proletários e imigrantes e as oligarquias rurais. A Semana de Arte Moderna trouxe um rompimento, uma destruição das estruturas clássicas, acadêmicas, harmônicas, e por esse motivo tem caráter anárquico e destruidor. Mário de Andrade chamou a primeira fase do Modernismo de “fase da destruição”, já que é totalmente contraditória ao parnasianismo ou simbolismo das décadas anteriores. Os artistas têm em comum a busca pela origem, daí vem o nacionalismo e acarreta a volta às origens e valorização do índio brasileiro.

A primeira fase modernista também é marcada pelos manifestos nacionalistas: do Pau-Brasil, da Antropofagia, do Verde-Amarelismo e o da Escola da Anta. Podemos destacá-los da seguinte forma:

• Manifesto Pau-Brasil: escrito por Oswald de Andrade, publicado no jornal “Correio da Manhã”, em 18 de março de 1924, apresentou uma proposta de literatura vinculada à realidade brasileira e às características culturais do povo brasileiro, com a intenção de causar um sentimento nacionalista, uma retomada de consciência nacional.

• Antropofagia: publicado entre os meses de maio de 1928 e fevereiro de 1929, sob direção de Antônio de Alcântara Machado, surgiu como nova etapa do nacionalismo “Pau-Brasil” e resposta ao “Verde-Amarelismo”. Sua origem se dá a partir de uma tela feita por Tarsila do Amaral, em janeiro de 1928, batizada de Abaporu ( aba= homem e poru = que come). Assinado por Oswald de Andrade, tinha, como diz Antônio Cândido, “uma atitude brasileira de devoração ritual dos valores europeus, a fim de superar a civilização patriarcal e capitalista, com suas normas rígidas no plano social e os seus recalques impostos, no plano psicológico”

• Verde-Amarelismo: este movimento surgiu como resposta ao “nacionalismo afrancesado” do Pau-Brasil, em 1926, apresentado, principalmente, por Oswald de Andrade, liderado por Plínio Salgado. O principal objetivo era o de propor um nacionalismo puro, primitivo, sem qualquer tipo de influência.

• Anta: parte do movimento Verde-Amarelismo, representa a proposta do nacionalismo primitivo elegendo como símbolo nacional a “anta”, além de vangloriar a língua indígena “tupi”.

Através das características desses manifestos, temos por análise a identificação de duas posturas nacionalistas distintas: de um lado o nacionalismo consciente, crítico da realidade brasileira, e de outro um nacionalismo ufanista, utópico, exacerbado.

Os principais escritores da primeira fase do Modernismo são: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Antônio de Alcântara Machado.

Trecho do Manifesto Antropófago – Oswald de Andrade

“Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de senador do Império. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses.”

Após a primeira Semana da Arte Moderna, teve início a primeira fase modernista, que começou em 1922 e foi até 1930.
O Brasil vivia os últimos anos da República Velha e a economia mundial entrou em crise por causa da queda da Bolsa de Valores de Nova Iorque. Além disso, o Brasil passou por diversas revoltas sociais que culminou na Revolução de 1930 e na ascensão de Getúlio Vargas.

Nos anos compreendidos da primeira fase modernista, os imigrantes vinham ao Brasil para substituir a mão-de-obra dos ex-escravos e também para ocupar os postos de trabalho nas indústrias, que davam lugar às importações ocorridas a partir da Primeira Guerra Mundial. Contudo, os produtos importados continuavam vindo pelo porto de Santos e eram consumidos, em geral, pela população de São Paulo com maior poder aquisitivo, como os funcionários públicos.

As oligarquias rurais brasileiras dividiam as bases de poder de acordo com o estado ou região: Minas Gerais ocupava a maioria das cadeiras na Câmara dos Deputados e, portanto, decidia quanto à aprovação de projetos; o Sul possuía a força militar do país; já no Nordeste estava concentrada a produção cafeeira, enquanto São Paulo era o pólo de desenvolvimento industrial. Os latifundiários eram praticamente senhores feudais que tinham até mesmo jagunços, pistoleiros que trabalhavam para que nenhuma determinação dos “coronéis” fosse descumprida.

A Primeira Guerra Mundial trouxe instabilidade na economia mundial e somado a isso, o Brasil estava em um clima de revoltas e mobilizações radicais, inclusive foi criado o Partido Comunista Brasileiro que, como o próprio nome já diz, adotou uma filosofia partidária contrária a que se firmava: a do capitalismo. Foi quando no Rio de Janeiro aconteceu a Revolta do Forte de Copacabana, em 1922, e em São Paulo a Revolta de 1924, com o objetivo de destituir Artur Bernardes da Presidência, cujo governo foi marcado por censura à imprensa. Alguns meses depois, no Rio Grande do Sul, o capitão Luís Carlos Prestes liderou gaúchos que enfrentaram alguns combates em prol dos ideais comunistas, logo após se juntaram a tenentes paulistas, e assim a chamada Coluna Prestes foi formada.

O objetivo da Coluna Prestes era ir contra as oligarquias. Em 1929, a Bolsa de Valores de Nova Iorque causou falência a milhares de burgueses no mundo todo, inclusive no Brasil. A burguesia brasileira encontrava-se envolta nas tradições culturais francesas, na “Belle Époque”, todo produto francês era bom e refinado.

Em meio às contradições sociais e políticas, um grupo de artistas, em São Paulo, promoveu um evento que foi um marco na literatura brasileira, bem como o começo da primeira fase do Modernismo: a Semana da Arte Moderna, que contradizia, através das obras artísticas expostas, o refinamento e padronização do então academicismo europeu literário.