A Greve dos 300 mil não apenas alcançou seu objetivo financeiro, que era o reajuste salarial de 32%, como também criou condições para o surgimento de entidades intersindicais, formou lideranças operárias e pressionou o presidente Getúlio Vargas a nomear um ministro do trabalho comprometido com a melhoria das condições de vida dos trabalhadores: João Goulart. Rede Brasil Atual Em março de 1953 a maior parte dos trabalhadores paulistas realizou uma greve geral contra a carestia, que ficou conhecida como Greve dos 300 mil. O estopim da greve foi o alto custo de vida, que, conforme dados da Fundação Entretanto, seus
desdobramentos foram mais políticos do que financeiros, e a Desde o início, o movimento demonstrou-se preocupado não apenas com o Comandada pelo Partido Comunista Brasileiro, contando também com filiados do PSB, PTB, PSP e PSD, a Greve dos 300 mil se iniciou com a assembleia geral dos tecelões, em 10 de março de 1953, e teve a gradativa adesão de outras categorias, como metalúrgicos de São Paulo, madeireiros, gráficos e vidreiros. Como naquela época os Sindicatos estavam atrelados à estrutura corporativista A partir desses comitês foi formado, no vigésimo dia de paralisação, o Comitê Intersindical de Greve, reunindo as categorias e estabelecendo um acordo pelo qual a greve só terminaria quando houvesse condições gerais que atingissem a todos, evitando possíveis divisionismos forjados pela Justiça do Trabalho do Estado. Apesar de cerca de 400 grevistas terem perdido seus empregos ao voltarem aos Em primeiro lugar – o aumento salarial de 32% foi alcançado. Em segundo lugar – deste processo surgiu um senso de
unidade intersindical Em terceiro lugar –
a greve formou lideranças sindicais, como os metalúrgicos E, em quarto lugar – a pressão dos grevistas levou o presidente da República, Jango concedeu o aumento de 100%, como exigia a classe trabalhadora, e devido à forte reação por parte dos empresários e da imprensa foi forçado a renunciar ao cargo em 23 de fevereiro de 1954. Mas o reajuste já estava
feito e o decreto do novo salário mínimo foi assinado por Getúlio Vargas no dia 1º de maio de 1954, o Dia do Trabalhador. Mestre em Ciências Sociais (PUC-Rio, 2015) Ouça este artigo: A história das greves está relacionada com a classe trabalhadora assalariada que surgiu durante a Revolução Industrial. As greves eram eventos raros no século XIX, principalmente porque eram ilegais. Foi no século XX, especialmente em momentos de crise econômica, que as greves começaram a fazer parte do repertório de ações coletivas da classe trabalhadora. As principais demandas das greves são: melhores condições de trabalho, melhores salários, e o tempo de trabalho. A luta maior por trás dessas exigências é a disputa entre trabalhadores e empresários sobre o poder do trabalho, ou seja, o controle que os trabalhadores possuem ou não sobre seu próprio trabalho. A intensificação da ocorrência de greves no Ocidente aconteceu após sua legalização. Isso exigiu dos trabalhadores que eles se organizassem para realizar as greves, monitorar a incidência e pensar melhores estratégias para que elas alcançassem os efeitos desejados. Os sindicatos foram os principais responsáveis por sua organização, bem como por guardar informações e estatísticas sobre elas em todo o mundo. Também por isso, os sindicatos fazem parte da história das greves. Os Estados Unidos e a Inglaterra são os países com o maior índice de greves registradas no século XIX e início do XX, principalmente devido ao grau de industrialização desses países. Foi também no século XX que grandes crises econômicas aconteceram, como a Quebra de 1929 e o período entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Nos anos próximos a estes grandes eventos as greves se intensificaram, como por exemplo a Greve Geral de Seattle, em 1919. Pode-se dizer que após os anos 1950, com a expansão da industrialização por quase todo o mundo, incluindo os países subdesenvolvidos, as greves tornaram-se comuns e rotinizadas, no sentido de possuírem métodos de organização e negociação semelhantes. Nos dias atuais, as greves continuam acontecendo, mas muita coisa mudou desde a Revolução Industrial. Desde os anos 1980, com a globalização, a financeirização do capital, o novo modelo de produção industrial – fragmentado por todo o mundo –, a nova divisão internacional do trabalho, o surgimento de novas tecnologias de produção, dentre outros fatores, ficou mais complexo compreender a relação entre trabalho, produção e lucro (SILVER, 2003). No Brasil, durante as primeiras décadas do século XX, as greves começaram a existir com frequência. O processo de industrialização tinha começado e os trabalhadores não tinham leis que os protegessem. A fim de evitar revoltas maiores, o ex-presidente Getúlio Vargas, em 1937, concedeu direitos trabalhistas. Finalmente, o direito de greve é garantido por lei em muitos países, como no Brasil, até os dias atuais. Esta é considerada, ainda, uma das principais estratégias da classe trabalhadora para forçar os empresários, os governantes e demais grupos dominantes para reconhecerem direitos, melhores condições de trabalho e salário. Atualmente uma das principais causas relacionadas às greves em todo mundo diz respeito à terceirização, redução dos direitos trabalhistas e reformas para aumentar o tempo de trabalho. Revisão Bibliográfia: TILLY, C. From mobilization to revolution. New York, Random House, 1978. SILVER, B. J. Forces of Labor: workers movements and globalization since 1870. New York, Cambridge University Press, 2003. Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/sociologia/historia-das-greves/ |