Combine um momento adequado com o professor para compartilhar com os colegas

Combine um momento adequado com o professor para compartilhar com os colegas
Crédito: Getty Images

A observação da sala de aula é uma prática realizada pelo coordenador pedagógico para acompanhar o trabalho do professor e ajudá-lo a aprimorar a didática e outras dinâmicas docentes.

“Trata-se de uma estratégia formativa que pode favorecer a reflexão sobre a prática docente, o que é importante tanto para compreendê-la quanto para aprimorá-la”, afirma Paula Stella, professora do curso “A função do coordenador pedagógico na construção de uma escola integradora”, realizado pela Comunidade Educativa CEDAC.

A educadora diz que, além da observação ser uma forte aliada na hora da coordenação conversar com o professor sobre aspectos que já estão bem resolvidos em sala de aula e outros que precisam ser melhorados, as informações coletadas são matéria-prima para a capacitação da equipe docente. Mas, com a pandemia e os desafios do ensino a distância, como adaptar essa prática para o contexto remoto?

Planejamento e cultura de parceria
Assim como no presencial, o planejamento é o ponto de partida para bons resultados no formato digital. É fundamental, por exemplo, que o coordenador combine previamente com o professor quando a observação vai acontecer e o que será considerado. “É sempre interessante mostrar que a coordenação pedagógica é uma parceira do professor, que pode antecipar questões e buscar soluções para futuros problemas”, destaca Paula.

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Estabelecer uma relação de parceria, de acordo com a especialista, é crucial para enfrentar desafios e evitar eventuais desconfortos -- por exemplo, quando há o entendimento de que o intuito do coordenador é fiscalizar a aula. Se coordenador e professor já tinham algum nível de relacionamento antes da pandemia, lidar com as adversidades desse momento pode ser mais simples do que em uma relação que começa no ensino remoto. Em todo caso, o gestor deve se empenhar para mostrar à equipe que a cultura de parceria vale a pena.

Especificidades do modelo remoto
Esse tem sido o esforço empreendido por Jussimara de Souza Nascimento, coordenadora pedagógica da Educação Infantil ao Fundamental 2 na EMEIEF Boa Vista do Sul, em Marataízes (ES). Com a pandemia, a comunidade escolar, que já era bastante unida, precisou se organizar para se adaptar ao ensino a distância.

Para dar conta disso, Jussimara dividiu as demandas com a colega de coordenação e, juntas, contaram com o apoio da diretora da escola para replanejar 2020. Depois de um ano de ensino remoto, a escola conseguiu encontrar um ponto de equilíbrio com aulas no Zoom, Meet e WhatsApp, plataformas pelas quais Jussimara faz as observações das aulas, e também com materiais enviados aos alunos.

O acompanhamento realizado pela coordenadora é semanal e conta com a participação de toda a equipe. Os pontos que serão observados, como o tipo de aula que será dada, material usado e dinâmicas e estratégias pedagógicas utilizadas para atender a turma, são combinados previamente a partir das conversas com o grupo de professores. A ideia é que cada um possa se organizar e saber quais aspectos da aula passarão pelo crivo da coordenação.

Durante a observação no contexto remoto, Jussimara procura identificar se o professor usa didáticas adequadas para atender os alunos, se as explicações são claras, se ele não está dando aulas rápidas demais e, principalmente, se está havendo troca entre aluno e professor. A coordenadora observa, ainda, a postura do professor nos vídeos produzidos em casa.

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De acordo com Jussimara, toda a dinâmica da observação tem sido adaptada para o atual momento, o que difere bastante do contexto presencial, quando o acompanhamento incluía visitas à sala de aula e conversas com os alunos. Mesmo assim, a gestora tem se empenhado em participar dos 16 grupos de WhatsApp da escola, por onde algumas das aulas acontecem e, também, onde os professores ficam à disposição para tirar dúvidas dos estudantes. 

 “Fazer esse acompanhamento é uma forma de poder auxiliar o professor, que também vive um período difícil, e de saber o que está acontecendo no processo do ensino, pensando em uma educação de qualidade para o aluno. É um momento de conversar, promover trocas e fazer sugestões e melhorias”, pontua.

Apoio e trocas com os docentes
A coordenadora Tatiana Dias de Moura, responsável pelas turmas da Educação Infantil ao 5º ano na Escola Municipal Professora Ivone Nunes Ferreira, no Rio de Janeiro, conta que na instituição as aulas acontecem apenas pelo WhatsApp, ferramenta que a equipe tem mais familiaridade e pela qual acessa mais facilmente os alunos. Desse modo, cada professor tem um grupo com sua turma, que é, basicamente, a sua sala de aula virtual. O professor estipula o seu horário de atendimento com os alunos, que pode ser na parte da manhã ou da tarde.

No horário combinado, as crianças, em casa, aguardam para começar a aula. O professor grava vídeos e áudios com o conteúdo do dia ou posta vídeos do YouTube para explicar as atividades. A aula dura, em média, 1h30, por dia, período em que as crianças podem interagir entre elas e com o professor. É nesse momento que a coordenadora coloca em prática a observação e acompanha as interações na “sala de aula virtual”. Mesmo após a aula online, o educador segue à disposição para atender as crianças no privado, já que muitas vezes, por dificuldades de acesso, elas não podem estar na aula.

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Uma vez por semana, Tatiana se reúne com os professores para ouvi-los, saber como foi a semana de aula, se tiveram dificuldades e como está a participação das crianças. Ela aproveita o momento com a equipe para dar orientações, fazer observações que viu em alguns grupos e compartilhar o que achou interessante para que outros professores possam se inspirar também. “Nessa troca, vão surgindo novas ideias, e a gente planeja a semana seguinte de aula considerando as particularidades de cada turma”, explica.

Recentemente, a coordenadora observou, por exemplo, que os alunos de uma turma de 2º ano estavam em níveis diferentes de aprendizagem, com crianças ainda na fase inicial de alfabetização e outras que já liam fluentemente. “A partir disso, sugeri que a professora responsável fizesse um trabalho de tutoria, dividindo a turma em pequenos grupos de acordo com esses níveis”, lembra.

Além da aula no horário pré-estabelecido, a professora reservou um tempo para atender grupos específicos, em outro momento, a fim de auxiliar os alunos que estavam no início do processo de alfabetização. “Temos percebido o efeito positivo, e essa é uma ação que está acontecendo a partir de uma observação que fiz em uma aula remota”, reforça.

A gestora reconhece as limitações da observação de aula feita por Whatsapp, que se restringe às interações entre professores e alunos, mas destaca a importância dessa proximidade com os docentes, para que se sintam mais confiantes e seguros. “Muitos estão tendo que se reinventar, e a função do coordenador pedagógico é passar essa segurança”.

Ponto de vista do professor
Ao sentir esse suporte no dia a dia, a professora de alfabetização Jacira Monteiro, que faz parte da equipe de Tatiana, destaca a importância de poder contar com o apoio da coordenação pedagógica, principalmente durante o contexto remoto.

Ela conta que, no ano passado, realizou um show de talentos com a turma do 1º ano pelo WhatsApp, com o apoio da coordenadora e contribuições que ela tinha feito com base em observações de aula. “Quando eu apresento uma ideia, ela vai ‘frutificando’ esse pensamento. Por exemplo, quando falei do show de talentos, ela já idealizou um palco, um cenário montado pelo aluno e responsável, figurinos, e anunciou a possibilidade para os demais professores. E na hora da apresentação, ela estava lá dando a maior força”, recorda Jacira.

“Toda semana nos reunimos para fazer o planejamento e isso, com certeza, melhora a nossa prática pedagógica. O trabalho na nossa escola tem sido participativo, todos falam e todos são ouvidos. Eu me sinto muito privilegiada e amparada por saber que posso contar com a coordenação sempre que precisar”, afirma Jacira.

Dicas práticas de observação de sala de aula durante o ensino remoto

Veja alguns cuidados e procedimentos que o coordenador pode adotar para aproveitar ao máximo esse recurso

  1. Combine previamente com o professor o que será observado e quando a observação irá acontecer. O planejamento é fundamental não só para coletar informações, mas também para reforçar uma cultura de parceria entre coordenador e docente.
  2. Apresente-se, mas não interfira na aula. Muitas vezes, a presença do coordenador pode instigar a curiosidade dos estudantes. Por isso, vale explicar o motivo de estar ali. Se a aula acontecer por aplicativos como Zoom e Meet, é preferível ficar com câmera e microfone desligados.
  3. Tenha um conhecimento preliminar. Caso seja o primeiro contato com a turma, participe de atividades anteriores à observação para conhecer os alunos e saber como é o funcionamento do grupo.
  4. Quando possível, grave a aula. Aplicativos como Zoom e Meet têm recursos de gravação, o que pode ajudar a recuperar as informações e os pontos a serem analisados com o professor. Vale lembrar que, para fazer isso, é preciso sempre contar com o consentimento do docente.
  5. Preste atenção nos registros escritos. O coordenador pode encontrar no chat desses aplicativos dúvidas, respostas e comentários, que podem dar pistas do que está dando certo e do que precisa ser melhorado.
  6. Dê devolutivas. Assim que possível, compartilhe com o educador o que foi observado e marque uma conversa para ouvi-lo, considerando os aspectos positivos, o que precisa ser melhorado e as possibilidades de formação.