Os microrganismos do solo possuem grande relação com o desenvolvimento das plantas, promovendo, a partir de diversas formas, efeitos benéficos e interagindo entre si contra os maléficos, desde as raízes até a parte aérea. Show
É importante o estudo da microbiota e seus diferentes efeitos sobre as plantas, mostrando uma necessidade de controle de patógenos e favorecimento de organismos benéficos, como os microrganismos promotores de crescimento de plantas (MPCP). Tais microrganismos podem atuar na aquisição de nutrientes e na liberação de fitormônios e substâncias voláteis que podem favorecer o crescimento e/ou resistência, acionando, assim, mecanismos por funcionar como sinalização celular e atuar, também, no controle de patógenos. Enquanto isso, as plantas fornecem um habitat (ou nicho) para que estes microrganismos possam adquirir água, nutrientes e fontes de energia como carbono e aminoácidos, além de metabólicos secundários. Deste modo, a evolução no conhecimento e na compreensão dos mecanismos de atuação dos MPCP é essencial para a redução de custos na lavoura e para uma agricultura ecologicamente amigável e economicamente sustentável. Mediação de nutrientesA natureza dos solos tropicais (intemperizados e com elevada presença de óxidos de ferro e alumínio) faz com que exista uma escassez de alguns nutrientes como o Nitrogênio (N) e Fósforo (P), devido à perda no perfil ou à fixação nos coloides do solo, exigindo altos gastos com adubação fosfatada e nitrogenada. Porém, em solos com escassez destes minerais, há certas interações que, mediadas por microrganismos, promovem uma maior eficiência de utilização; esses microrganismos apresentam potencial biotecnológico para utilização na agricultura em escala comercial. Alguns processos são exemplos de sucesso nas condições tropicais, como a fixação biológica de nitrogênio (FBN), enquanto outros apresentam um elevado potencial para os próximos anos como a solubilização e disponibilização de fósforo. As bactérias fixadoras de nitrogênio que são responsáveis pela conversão do N2 gasoso para formas nitrogenadas passíveis de absorção pela planta e também pelos microrganismos, são conhecidas por diazotróficas. Estas podem ser de vida livre, geralmente associadas às gramíneas (as mais conhecidas são do gênero Azospirillum), e também, simbióticas, interagindo com leguminosas (as mais conhecidas são do gênero Rhizobium), gerando melhor eficiência no uso de N, aumentando o rendimento em até 30%. Apesar disso, o resultado da inoculação desses tipos de bactérias é variável devido à grande diversidade de ambientes e de plantas, logo, essas interações não são muito bem compreendidas. No entanto, o ganho com a FBN por bactérias é indiscutível para o cultivo de soja, movimentando uma economia na ordem de milhões de reais para o Brasil. Leia mais em: Fixação Biológica de Nitrogênio Simbiótica Existe ainda, a possibilidade de utilização de microrganismos endofíticos, os quais fixam o N e o disponibilizam diretamente à planta, sendo os gêneros conhecidos com potencial para uso: Acetobacter, Azoarcus, Gluconacetobacter, Herbaspirillum, Methylobacterium, Klebsiella e Burkholderia. Além de agirem de forma individual, também podem potencializar a sua eficiência na associação de dois ou mais gêneros, o que já foi encontrado naturalmente em plantas cultivadas. O P está presente no solo, porém as quantidades que estão disponíveis às plantas são pequenas (variável de acordo com o tipo de solo), limitando o crescimento vegetal e, mesmo com a adição de fertilizante fosfatado, grande parte é rapidamente fixada, reduzindo a fração solúvel, diminuindo, assim, a absorção pelas raízes. Desta forma, mostra-se a importância dos microrganismos solubilizadores e mineralizadores de P para o ambiente. Os solubilizadores têm a capacidade de disponibilizar o P inorgânico através da solubilização de formas indisponíveis às plantas, já os mineralizadores possuem a capacidade de transformar formas orgânicas do nutriente em formas inorgânicas passíveis de absorção, ambos aumentando a eficiência de absorção do nutriente e reduzindo o custo de fertilização, favorecendo o desenvolvimento da planta. As bactérias e fungos realizam esse processo através da liberação de ácidos orgânicos, cátion H+ (alteração do pH do solo), exopolissacarídeos, sideróforos e enzimas (como as fosfatases e fitases). Leia mais em: Enzimas e seu papel no manejo do solo Os principais gêneros envolvidos neste processo são: Bacillus, Burkholderia, Bradyrhizobium, Enterobacter, Mesorhizobium, Paenibacillus, Pantoea, Pseudomonas, Rhizobium, Serratia, Penicillium e Aspergillus. A maioria destes microrganismos mostrou-se eficiente na solubilização e na mineralização de P em diversos trabalhos, aumentando o rendimento de grãos, massa seca e teor de P na planta, identificando genes responsáveis pelo processo e apresentando potencial para desenvolvimento de novas estirpes e produtos biológicos para o mercado. Leia mais em: Micorrizas Outra forma de aumentar a eficiência de absorção de P é através dos fungos micorrízicos arbusculares (FMA) que, por meio de uma relação simbiótica com a planta, recebem carboidratos enquanto aumentam a eficiência de absorção de nutrientes da planta. Esta maior eficiência deve-se pela maior exploração do solo e carreamento do P pelas das hifas fúngicas e pela associação com bactérias (chamadas de bactérias auxiliares de micorrizas do inglês – Mycorrhiza helper bacteria) que atuam na liberação de enzimas que solubilizam o fósforo. Além disso, a grande rede de hifas fúngicas estende-se do sistema radicular aumentando a resistência da planta a estresses ambientais, podendo resultar em um aumento de biomassa e produção vegetal. Os microrganismos mediadores de nutrientes favorecem a absorção destes, aumentando a eficiência do processo e beneficiando o desenvolvimento vegetal, o que reforça sua importância, além de grande potencial para aplicação em campo. Produção de fitormôniosOs hormônios produzidos pelos microrganismos são moléculas, como as auxinas, citocininas, giberelinas, ácido abscísico e etileno, que atuam com atividade hormonal (estrigolactonas e brassinosteroides), com ação direta (induzindo crescimento, alongamento celular, resistência a estresses abióticos, estimulando a reprodução e colonização de microrganismos positivos) ou indireta (como regulação da resposta imune da planta a agentes patogênicos e sinalização celular) sobre o desenvolvimento das plantas. Os fitormônios mais comuns pertencem ao grupo das auxinas, como o ácido indol-3-acético (AIA), e atuam na divisão celular, diferenciação de gemas radiculares e de tecidos vasculares, promoção de florescimento e no aumento da absorção de água e nutrientes (através da maior multiplicação de raízes e pelos radiculares). A via de biossíntese das auxinas é muito complexa e circundada por incertezas, mas sabe-se que as rizobactérias realizam este processo usando o triptofano, presente na rizosfera, como precursor, no entanto, ainda faltam mais elucidações. Os microrganismos conhecidos que produzem auxina pertencem às rizobactérias (como os gêneros Pseudomonas, Azospirillum, Bacillus, Burkholderia e Micrococcus) e aos fungos (como Glomus intraradices e Trichoderma harzianum). Os MPCP também são capazes de produzir citocininas, como a zeatina e a citocinina, que instigam a divisão celular, controlam o meristema da raiz, aumentam a multiplicação de pelos radiculares, reduzem a multiplicação de raízes laterais e aumentam as raízes primárias. Os organismos mais conhecidos responsáveis pela sua produção são dos gêneros: Arthrobacter, Azospirillum, Bradyrhizobium, Bacillus, Pseudomonas e Paenibacillus. Nas giberelinas, o composto mais difundido é o ácido giberélico, o qual atua na divisão e elongamento de células, estímulo a germinação de sementes, desenvolvimento do tubo polínico e na formação de flores. Sendo que as bactérias dos gêneros Azospirillum e Bacillus e determinadas espécies de fungo do gênero Trichoderma são capazes de produzir este composto. O ácido abscísico (ABA) é outro tipo de fitormônio, este atua na resposta a estresses (sejam eles bióticos ou abióticos), podendo inibir o florescimento ou impedir a germinação de sementes em condições inadequadas. Este é menos conhecido em relação à produção por MPCP, mas sabe-se que a inoculação de Azospirillum brasiliense pode levar ao aumento de ABA em determinadas plantas. O hormônio gasoso etileno está intimamente relacionado com o processo de senescência da planta, inibindo o alongamento da raiz e a translocação de auxina, assim como a queda de órgãos, maturação de frutos e atuando em resposta a ataques de agentes patogênicos. Alguns dos MPCP, através da expressão da enzima 1-aminociclopropano-1-carboxilato (ACC desaminase), degradam o precursor de etileno ACC, o que reduz a produção do hormônio, assim como o efeito impeditivo do crescimento de raízes. Há também as estrigolactonas que são derivadas a partir de carotenóides. Estes auxiliam na estruturação da arquitetura do vegetal, controlando o crescimento tanto da parte aérea quanto radicular, além de funcionar como sinalizadoros para estímulos externos como luminosidade, nutrientes e temperatura, mensageiros para germinação, na interação Rhizobium-leguminosa e ramificação de hifas de FMA. A produção de fitormônios é uma importantíssima função dos microrganismos promotores de crescimento de plantas, porém, alguns genes responsáveis por esse processo ainda precisam ser descritos. Microrganismos como Controle BiológicoOs MPCP atuam direta (antibiose, parasitismo e competição) ou indiretamente (indução de resistência) contra patógenos danosos às plantas. A antibiose consiste na produção de substâncias derivadas do metabolismo com atividade anti-microbiana ou polipeptídeos de baixo peso molecular (antibióticos, bacterioricinas, sideróforos e enzimas hidrolíticas), que atuam diretamente sobre os patógenos de forma preventiva e/ou corretiva. Os principais organismos responsáveis por este processo são bactérias dos gêneros Pseudomonas e Bacillus e fungos do gênero Trichoderma. Apesar de não promover diretamente o crescimento de plantas, impedem os efeitos prejudiciais dos patógenos e influenciam outros MPCP, favorecendo a expressão de genes de promoção de crescimento. Os antibióticos funcionam como toxinas microbianas sob baixas concentrações, diminuindo o desenvolvimento de outros microrganismos ou matando-os. Alguns MPCP, como espécies de Bacillus (que controlam tanto bactérias gram-negativas, quanto gram-positivas e vários fungos fitopatogênicos), produzem um ou mais tipos de toxinas, atuando em diversos agentes patogênicos. Sendo as principais classes de substâncias antibióticas as fenazinas, 2,4-diacetilfloroglucinol (2,4-DAPG), pioluteorina, pirrolnitrina, glitoxina e biossurfactanteslipopepitídicos. As bacteriocinas consistem em proteínas ou peptídeos com ação sobre bactérias, fazendo poros nas membranas internas das células bacterianas, extravasando seu conteúdo celular, ou atuando sobre o metabolismo de DNA, RNA e proteína, causando, assim, a morte da célula em ambos os casos. Diferente dos antibióticos, essa substância age em estirpes próximas às estirpes produtoras, apresentando uma ação mais seletiva. As bacteriocinas são nomeadas a partir da sua espécie produtora, como as mais conhecidas: colicinas produzidas por Escherichia coli, piocinas de Streptococcus pyogenes, cloacinas de Enterobacter cloacae, marcescinas de Serratia marcescens e megacinas de Bacillus megaterium. Já os sideróforos possuem a aptidão para complexar íons de Fe, solubilizando-os e extraindo-os do solo e, posteriormente, alocando-os dentro das células de microrganismos que produziram o composto, podendo fornecer mais Fe as plantas e/ou inibir o desenvolvimento de agentes patogênicos na área com sideróforos mais fracos. Os mais conhecidos são os produzidos pelas Pseudomonoas, porém a correção do solo com Fe pode levar à inibição do processo de produção de sideróforos. As enzimas hidrolíticas (quitinases, proteinases, celulases, hemicelulases e DNAses), produzidas pelos MPCP, podem ser utilizadas como outro método de controle biológico, visto que agem na competição com outros microrganismos, hiperparasitismo e antibiose, sendo impossível a separação dos três efeitos. São produzidas em elevadas quantidades por alguns isolados de Lysobacter e Myxobacteria. Por fim, há os efeitos de indução de resistência sistêmica à planta causada pelos MPCP, realizando uma colonização do sistema radicular e instaurando uma relação mutualística com a planta. Dessa forma, os MPCP mantém uma relação entre ácido jasmônico e etileno, o que favorece a produção de enzimas (quitinases e glucanases), as quais destroem a parede celular de agentes patogênicos. Além disso, ampliam a formação de enzimas, como a fenilamina amônia-liase (promotoras de acúmulo de lignina em regiões infectadas) e as peroxidases (produzem e direcionam espécies reativas de oxigênio contra microrganismos). Ainda, por meio do ácido jasmônico, a planta é capaz de acumular substâncias repelentes, antinutritivas e tóxicas, as quais auxiliarão na sua defesa contra ataques futuros. Atualemente, os microrganismos mais conhecidos que apresentam essa capacidade são dos gêneros Pseudomonas, Bacillus, Serratia e Trichoderma. Nesse cenário, é importante ressaltar que esse método é extremamente específico, alterando a sua eficiência e seu mecanismo de ação de acordo com a planta e o microrganismo, sendo que, muitas vezes, um mesmo microrganismo não apresenta efeito significativo em plantas próximas filogeneticamente. Leia mais em: Fungos no controle biológico Deste modo, os diferentes métodos e mecanismos de controle biológico devem ser estudados para compreender definitivamente as interações entre cada microrganismo e plantas hospedeiras, visando um controle eficiente, sustentável e viável economicamente. ConclusãoVisto os diversos tipos de interação entre os microrganismos promotores de crescimento de plantas e as diferentes espécies vegetais, observa-se o grande potencial de utilização deste nicho para a agricultura, exigindo maiores estudos e experimentos para utilizar com eficiência as interações em favor do crescimento vegetal. Na medida em que as relações vão sendo estabelecidas e melhor compreendidas, pode-se criar mais produtos comerciais para utilização, em larga escala, tanto de produtos únicos, como de produtos com diferentes microrganismos e métodos de controle biológico, aumentando, portanto, o equilíbrio no ambiente, a qualidade e duração do controle. Referências bibliográficasFigueiredo, Márcia do Vale Barreto; Burity, Hélio Almeida; Oliveira, José de Paula; Santos, Carolina Etienne de Rosália e Silva; Stamford, Newton Pereira (ed.). Biotecnologia aplicada à agricultura: textos de apoio e protocolos experimentais. Pernambuco: Embrapa, 2010. 761 p. Disponível em: http://www.bashanfoundation.org/contributions/Figueiredo-M/marciaestrategia.pdf. Acesso em: 01 nov. 2020. Gomes, Eliane Aparecida;Silva, Ubiana de Cássia;Paiva, Christiane Abreu de Oliveira;Lana, Ubiraci Gomes de Paula;Marriel, Ivanildo Evódio;Santos, Vera Lúcia dos. Microrganismos Promotores do Crescimento de Plantas. Sete lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2016. Disponível em <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/161283/1/doc-208.pdf>. Acessado em 01 de Nov. 2020. Graças, Jonathas Pereira; Ribeiro, Camila; Coelho, Fabiane Aparecida Artioli; Carvalho, Marcia Eugenia Amaral; Castro, Paulo Roberto de Camargo e. Microrganismos estimulantes na agricultura. Piracicaba: Série Produtor Rural – nº 59, 2015. Disponível em <https://www.esalq.usp.br/biblioteca/file/2142/download?token=3PADiAVN#:~:text=Estes%20s%C3%A3o%20classificados%20como%3A%20bact%C3%A9rias,biol%C3%B3gico%2C%20fungos%20micoparas%C3%ADticos%20e%20protozo%C3%A1rios.>. Acessado em 01 de Nov. 2020. GUIMARÃES, Valdeir F. et. al.. (2018). Bactérias Promotoras de Crescimento. In CIÊNCIAS AGRÁRIAS: ética do cuidado, legislação e tecnologia na agropecuária (Issue March, p. 212). O que são microrganismos promotores de crescimento em plantas?Bactérias promotoras de crescimento de plantas são bactérias que podem aumentar o crescimento das plantas e protegê-las de doenças e estresses abióticos por meio de uma ampla variedade de mecanismos; aqueles que estabelecem associações estreitas com plantas, como os endófitos, podem ter mais sucesso na promoção do ...
Qual era o tipo de microrganismo capaz de inibir o crescimento bacteriano?BACTERIOSTÁTICO – inibe o desenvolvimento bacteriano, porém uma vez que o agente é removido, o crescimento pode ser retomado.
Como os microrganismos agem nas plantas?Os cientistas explicaram que os microrganismos desempenham importantes papéis para a manutenção do ecossistema, e têm capacidade de promover o crescimento de plantas, seja pela produção de hormônios vegetais, disponibilização de nutrientes e até mesmo inibição de fitopatógenos, os agentes causadores de doenças em ...
Quais são os meios de crescimento de microrganismos?Além dos nutrientes, existem condições ambientais para o crescimento microbiano, como temperatura, pH, umidade, presença ou não de oxigênio (condição aeróbia e anaeróbia), entre outros.
|